| O Universo não é Infinito Gilson Teixeira Freire gilson@imh.com.br Os
capítulos 33 a 38 da Grande Síntese nos atordoam com seus elevados conceitos de tempo, espaço e
evolução das dimensões. Os leitores menos atentos preferem passar por eles sem o esforço de compreendê-los,
desperdiçando o alcance precioso de suas informações. Afinal, não temos, habitualmente, habilidade para
acomodar raciocínios pertinentes à teoria da Relatividade de Einstein, que nos fala da curvatura do espaço,
da elasticidade do tempo e outros conceitos que parecem muito distantes de nossa realidade imediata. São
informações ainda muito avançadas para nós e inacessíveis à nossa formal maneira de pensar e de ver o mundo.
Por isso nos surpreendemos com a antecipação da Grande Síntese, que já discorria sobre eles de forma
clara, numa época, em 1932, em que ainda eram incipientes e muito distantes do conhecimento comum. Hoje, no
entanto, esses conceitos se popularizaram e com a ajuda de artigos em revista e livros escritos para o
público leigo, a Relatividade ganhou lugar no pensamento vulgar, deixando os restritos ambientes acadêmicos
das Universidades. Ao compreendê-los, um pouco que seja, eis-nos maravilhados com os brilhantes e modernos
conceitos desenvolvidos em A Grande Síntese, que tão antecipadamente já os esclarecia de forma tão
surpreendente. Isso nos atesta que o pensamento orientador da mensagem de Ubaldi procedia de esferas
elevadíssimas, muito distantes de nosso acanhado mundo. De todas as informações contidas nos
referidos capítulos, uma delas nos atordoa de modo muito especial, aquela em que a Grande Síntese nos
afirma categoricamente que o espaço tem um fim. Podemos ler no capítulo 33: "No sentido espacial, vosso
universo estelar, considerado isoladamente, é sistema finito; é imenso, mas pode ser medido, e tudo que se
pode medir é finito". E mais adiante: "Vosso universo é finito como vórtice sideral". E no
capítulo 35: "Se me perguntais onde termina o espaço, eu vos respondo: num ponto em que o "onde" se
transforma no "quando". Então o
espaço que nos rodeia não é infinito? Como pode ser isso? A impossibilidade de imaginarmos o que vem depois
de qualquer barreira que se coloque no espaço, deixa-nos completamente atordoados e incapacitados de aceitar
tal possibilidade. A mentalidade reinante em nosso mundo, ainda afeita ao pensamento concreto, só pode
considerar isso coisa de loucos, daquelas espécies de loucuras benignas que acometem os que se dedicam em
demasia aos estudos. E o conselho de Festo, dirigido a Paulo de Tarso, diante do rei Agripas, parece ainda
perfeitamente aplicável a esta circunstância: "Estás louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar".
(Atos, 26). No entanto, não faz
muito tempo, nos deparamos, no noticiário, com uma revelação exótica. Um artigo publicado na revista Veja,
de 08 de julho de 1999, dizia resumidamente: "graças a telescópios capazes de enxergar estrelas 1 bilhão de
vezes menos brilhante do que as descobertas pela arcaica luneta de Galileu, estão nascendo entre os
cientistas novas idéias, tão revolucionárias quanto as que outrora poderiam ter levado à fogueira o gênio
italiano. Ao contrário do que se pensava, o Universo pode não ser infinito" (as marcas são nossas).
Perscrutando distâncias incomensuráveis, além de 13-14 bilhões de anos-luz, onde estão os quasares, deparam-
se os astrônomos com um vazio assustador. Nada há além. Os limites do inconcebível parecem estar ali bem
diante de seus atônitos olhos. Começam a se dar conta de que estamos fechados num espaço finito. Se de fato
esse fosse infinito e existisse de toda a eternidade, encontrariam, expostos às suas observações, novas
multidões de corpos celestes. Não teriam tido todo o infinito do tempo passado para nos enviar suas imagens
luminosas? Portanto só lhes cabe a paradoxal e exótica conclusão: o espaço termina, o universo tem fim! Isso
quer dizer então que as antecipadas afirmativas da Grande Síntese não eram coisas de loucos e
realmente correspondem à realidade.
Tentemos compreender um pouco isso, com a ajuda de Ubaldi. Antes, porém, vamos percorrer um pouco da
História e conhecer o que se pensava em tempos passados sobre este controvertido tema. Na Grécia antiga se
dizia que, se alguém caminhasse muito longe, chegaria à borda do mundo. Arquitas, um filósofo pitagórico que
viveu no século IV a.C., questionava, no entanto, o que aconteceria se na borda do mundo alguém atirasse uma
lança. Para onde ela iria? Este questionamento, conhecido como "desafio de Arquitas", atravessou os
séculos e não pode ser respondido com certeza por nenhum pensador da antiguidade. Os atomistas,
representados por Demócrito, acreditavam que o universo era infinito e a lança de Arquitas poderia ser
atirada indefinidamente. Lucrécio, pensador e poeta romano, também afirmou que sua lança, onde quer que
caísse, poderia ser atirada novamente, pois o universo era infinito em todas as direções. Esses pensadores
ensaiaram as primeiras noções de infinito que hoje são naturais em nossas concepções. O pensamento do mundo
antigo, no entanto, necessitava de limites e o infinito parecia não corresponder às suas expectativas. A
idéia de universo que prevaleceu então foi a de Aristóteles, corroborada mais tarde por Ptolomeu, em que o
cosmos, com a Terra no seu centro, era limitado e contido pelas esferas celestes, aquelas que estavam além
das esferas que sustentavam as estrelas. Nelas habitavam os deuses, sendo confeccionada de quinta essência -
aquela essência desconhecida que não era nem a água, nem a terra, nem o fogo ou o ar, os quatros elementos
conhecidos e que formavam o mundo dos mortais. O universo aristotélico foi perfeitamente admitido pelo
pensamento cristão, pois nele a divindade encontrava o "Seu lugar", comodamente estabelecido, além das
esferas das estrelas. Deus tinha o "Seu justo trono" lá no "céu", de onde podia comandar a Sua criação. O
universo era uma obra estática, pronta e em perfeito acordo com as revelações sagradas da tradição cristã.
Embora Aristarco de Samos já houvesse estabelecido as bases do sistema heliocêntrico no século II a.C.,
somente no renascimento pôde Copérnico, com suas criteriosas observações, comprová-lo, encontrando porém
enormes resistências em destituir o geocentrismo, o que quase levou Galileu à fogueira da Inquisição, não
tivesse este capitulado no último minuto, proferindo o seu famoso "Eppur si muove" (no entanto, ela
se move). Foi preciso que Giordano
Bruno sacrificasse sua vida para nos fornecer a idéia de infinito. Por ter afirmado que o universo não tinha
fim, que as estrelas eram outros sóis como o nosso e a que Terra não era o centro da criação, foi ele
queimado na fogueira com todos os requintes da inquisição. Mas a verdade logo prevalecia e com Kepler estava
definitivamente enterrado o universo geocêntrico do mundo antigo. A astronomia pós-Galileu estendeu a
dimensão espacial até o infinito e as esferas celestes se romperam pela fragilidade em que se sustentavam.
Deus perdeu o "Seu trono" no espaço. Nas mentes afeitas a uma realidade concreta, incapazes de imaginar o
que extrapolasse as dimensões físicas, não havia mais lugar para a divindade, e a Astronomia se separou
definitivamente da Teologia. O universo newtoniano, chamado de clássico, estabelece-se sem fronteiras até o
infinito, abrangendo a eternidade. Embora Newton se mostrasse aficionado pela crença em um Deus criador e
mantenedor do Universo, ele não convenceu o pensamento contemporâneo da necessidade de se acreditar Nele
para explicar a Criação. As gerações seguintes simplesmente O eliminaram, substituindo-O por leis e
princípios que, embora exatos e responsáveis por equilíbrios e ordens, foram tidos como obras do acaso.
Estava assim estabelecido o pensamento que nos sustentou na jornada do infinito até aqui, apoiado no mais
perfeito racionalismo materialista.
Com a comprovação de que a Terra era redonda, o desafio de Arquitas pode em parte ser respondido. A
sua lança poderia ser atirada indefinidamente, pois o mundo não tem bordas. Sua superfície esférica é
ilimitada e por ela poderemos caminhar indefinidamente e em todas as direções. Podemos assim concluir que,
embora limitada, a superfície de nosso orbe é infinita, pois não tem limites em seu plano de manifestação.
Eis uma informação que, conquanto esteja correta, não é perfeitamente coerente, pois a sua infinitude está
contida apenas em uma de suas dimensões, a dimensão do plano. Na dimensão volumétrica, a Terra é um finito,
pois encontra seu término no limite com o espaço ao seu derredor. Naturalmente compreendemos que, se a lança
de Arquitas for atirada com força suficiente para sair da estratosfera, entrará em órbita e girará
eternamente em volta do globo terrestre. E se for atirada com maior força ainda, capaz de vencer a
gravitação do planeta, se dirigirá para o espaço interestelar e intergaláctico. E então, até onde irá? Até o
infinito? Sua viagem jamais terminará? Eis então que o desafio de Arquitas não está totalmente
respondido, encontrando-se ainda bem atualizado com nossos questionamentos modernos. Heinrich Olbers, um médico e astrônomo
alemão, que viveu no século XIX, lançou um outro desafio ao pensamento contemporâneo. Sua indagação,
semelhante à de Arquitas, ficou conhecido como paradoxo de Olbers ou paradoxo da noite escura,
que não encontrou solução na física clássica. O paradoxo de Olbers nos diz que, considerando-se que o
Universo é infinito e existe de toda a eternidade, infinitas luzes, de infinitas estrelas, teriam tido todo
o tempo possível, no passado, para chegarem até a Terra e, neste caso, a noite não seria escura, mas
completamente iluminada pelas suas luzes. Por que não é assim? O Universo não é infinito nem existe de toda
eternidade? Ninguém pôde responder ao paradoxo de Olbers. Einstein com suas novas concepções da
gravitação universal, encurvou o espaço e o tempo, fundiu-os em uma mesma dimensão, remodelando o Universo,
que passou a ser uma unidade elástica, arqueada sobre si mesmo, capaz de mudar o próprio comportamento de
suas leis, dependendo das relações de velocidades entre os seus diversos fenômenos. E logo a seguir, quase
no mesmo instante que Ubaldi dava forma à mensagem de "Sua Voz", que afirmava: "vosso universo físico
move-se todo em velocidade vertiginosa, em relação a outros longínquos universos", Hubble estava
fotografando suas distantes galáxias e se intrigava com o desvio para o infravermelho de suas luzes,
compreendendo mais tarde que isto se devia ao efeito Doppler - todas estavam se afastando a grandes
velocidades. Descobriu assim que o nosso universo está em vertiginosa expansão. A teoria do Big-Bang surgiu
como uma tentativa de se explicar então a gênese cósmica, diante do fato inquestionável. Compreendeu-se,
enfim, que o Universo foi criado um dia e não existe de toda a eternidade, embora não se saiba de onde ele
tenha vindo. Entendeu-se ainda que o espaço e o tempo não existem de todo o sempre, mas que surgiram com a
expansão do universo físico, após o Big-Bang, e que continuam a se expandir. O infinito e o eterno
encontraram certos limites em nossa mente, mas continuam a nos ameaçar com a impossibilidade de se lhes
estabelecerem barreiras. Amadurecemos um pouco na escola das reencarnações sucessivas, mas ainda somos
incapazes de extrapolar os limites dimensionais de nossa acanhada realidade conceptual. O desafio de
Arquitas e o paradoxo de Olbers ainda nos incomodam e nos instigam a razão, que não é potente o bastante
para solucioná-los. Na Grande
Síntese encontramos subsídios para enfrentar o desafio do infinito. Aproximemo-nos de seus elevados
conceitos para compreendê-lo, dentro do que nos permite hoje nossa acanhada razão. Para isso "Sua voz" nos
prepara com as noções de Unidades coletivas e a Evolução das dimensões. Ela nos esclarece que
o Universo, desde as diminutas unidades subatômicas até as galáxias e seus aglomerados, está estruturado em
base ao princípio de unidades coletivas, onde uma unidade é feita de unidades menores, sendo parte
constitutiva de outras unidades maiores. Habitamos uma unidade imensa, incomensurável e aparentemente sem
limites, mas que pode ser contida e dominada pela nossa mente, nos diz a Grande Síntese. De fato,
facilmente podemos enxergar, na tela de nossa imaginação, estas estruturas dinâmicas e progressivas,
sustentando todo o cosmos; as partículas subatômicas constituindo a unidade atômica, que por sua vez formam
sociedades de moléculas, que estruturam organismos diminutos e que são sustentáculos de outros ainda
maiores; as organelas reunidas nas células, permitindo a confecção de seres mais complexos; as espécies
reunidas em famílias e as famílias em sociedades; as sociedades organizando humanidades; as humanidades
povoando mundos; os mundos orbitando em sistemas solares; as estrelas reunidas em constelações, no seio de
gigantescas galáxias. Estas, por sua vez, são poderosos núcleos atrativos e geradores de sóis, que reúnem em
torno de si cerca de 100 milhões a 200 bilhões de estrelas. Mesmo sendo tão imensas, elas, por sua vez,
agrupam-se em aglomerados contendo de 20 a 30 galáxias, aglomerados que ainda se reúnem em superaglomerados,
verdadeiros arquipélagos galácticos imensos, contendo milhares de galáxias. E se contam aos milhares os
superaglomerados! Embora incomensuráveis, podemos divisá-los bailando no fundo negro do cosmos. Mas será que as unidades coletivas terminam
nos superaglomerados? E toda essa imensidão seria apenas um ínfimo componente de um outro universo ainda
muito maior? Onde se deterá esta organização de unidades coletivas? Qual o limite para o infinito? Onde
estancarmos essa viagem da imaginação? Podemos caminhar do mundo subatômico ao astronômico, mas não podemos
sair das fronteiras de nosso universo físico. Nossa razão é inadequada para estabelecer-lhe limites, pois o
que virá depois, ou o que vem antes dele nos escapa totalmente à compreensão. Nossa mente se perde nestes
intricados redemoinhos feitos de infinito e de eternidade. Sem conseguir impor-lhes barreiras, nos deixamos
simplesmente extasiar, inebriados e aturdidos pela visão do incomensurável. Um sentimento de admiração e
pequenez nos invade a alma, diante da inquestionável potência da criação. Deixemos que a Grande Síntese
continue a nos esclarecer com sua sabedoria. Com ela compreendemos que cada nível de manifestação da
substância, em cada unidade coletiva, ou seja, cada criação, possui, além de suas peculiares formas de
apresentação, seu ambiente conceptual e suas medidas próprias, a que chamamos de dimensões. Ao mudar
de nível, muda-se também este ambiente e suas medidas dimensionais. Portanto, as dimensões evoluem
juntamente com a evolução da substância e colocam limites em cada plano de sua manifestação. As unidades
coletivas não são, portanto, unidades estanques mas também não progridem infinita e linearmente em ambas as
direções. Elas desaparecem em um nível para ressurgir em outro, de modo que, aos nossos olhos não podemos
identificar a sua perfeita continuidade. Deste modo cada universo é limitado e fechado dentro de um campo
conceptual de manifestação, sendo portanto uma unidade finita. As barreiras do transformismo impõem
limites à progressão linear do infinito, de modo que este não vai além de todos os limites, encontrando
fronteiras que somente podem ser ultrapassadas pela evolução. Eis os limites do Universo. Eles são
conceptuais e não espaciais ou temporais. Assim, compreendemos a interessante lei dos limites
dimensionais, formulada pela Grande Síntese, lei esta que, em outras palavras, poderia ser assim
anunciada: as dimensões não são unidades absolutas, mas limitadas ao universo em que se manifestam e se
transmutam em outras unidades dimensionais, à medida que a substância, evoluindo, faz evoluir o universo de
suas manifestações. As dimensões,
portanto, assim como as unidades da criação, não são medidas estanques, mas elásticas e mutáveis, sendo
fechadas apenas em cada nível em que se expressem. As dimensões são evolutivas e sucessivas, uma idéia
estupenda, trazida pelo brilhantismo da Grande Síntese. Reta, superfície e volume são as medidas da
matéria, mas somente enquanto existe a expansão do espaço. Tempo é a medida do transformismo da substância,
impulsionada pela energia, mas unicamente no período da existência de sua trajetória evolutiva. A
consciência é a dimensão do ser, mas apenas enquanto este se expressa sob o império da razão. Uma vez que a
substância extrapola, por lei de evolução, o plano em que se manifesta, ela supera também suas próprias
medidas, passando a viver em outras dimensões. Cada unidade coletiva é movida por um
impetuoso anseio rumo à sua próxima realização. Por isso nosso universo físico está em expansão, nos diz a
Grande Síntese, "movendo-se em vertiginosa velocidade, rumo a outros universos longínquos a fim de fazer
parte deles". Ao atingir um plano subseqüente, desaparece naquele em que existia, para prosseguir em
outra unidade dimensional. Portanto, a evolução não é uma progressão contínua, mas consiste em saltos
dimensionais à medida que a substância muda de nível conceptual. Assim, vemos a matéria desaparecer aos
nossos olhos, para se manifestar em outro nível, o energético, imperceptível para aquela. Como energia, a
substância supera as dimensões espaciais e vai além, desaparece, mas para buscar o nível dimensional
superior, que é o da consciência. Eis a dimensão em que vivemos, outra realidade além das dimensões da
matéria e da energia, com suas medidas conceptuais próprias. Mas com a evolução passaremos à um próximo
nível dimensional, que Ubaldi chama de Super-consciência, onde a intuição, e não a estreita razão, dominará
nossa forma de ver o mundo. A
Grande Síntese nos diz: "no sentido espacial, vosso universo estelar, considerado isoladamente, é um
sistema finito; é imenso, mas pode ser medido, e tudo que se pode medir é finito. Para se compreender isso é
preciso transformar a física em metafísica". Para se entender isso é preciso sair das acanhadas medidas
de nosso mundo. O limite do espaço não está no plano físico, mas no ponto em que o vórtice físico se
converte no vórtice dinâmico (g ® b). Neste ponto a
dimensão volume se move no espaço, gerando a trajetória e, com ela, a medida do seu transformismo, que é o
tempo. Este, enquanto exista, é ilimitado, assim como o espaço, onde se manifeste, não tem fim. Mas estas
duas dimensões são fechadas dentro de seu universo de manifestação e não são as medidas do eterno. A
eternidade não é uma sucessão ilimitada do tempo, mas simplesmente a sua ausência. O infinito não é uma
sucessão sem fim do espaço, mas apenas a sua não existência. Nossas acanhadas mentes não podem ainda
conceber com clareza a existência de uma realidade onde não exista o tempo e o espaço, pois tais
possibilidades pertencem à um outro plano que ainda não conquistamos. A finitude do tempo e do espaço somente
poderá ser compreendida, se conseguirmos imaginar que a nossa realidade pode ser comparada à superfície de
uma esfera, que não tem limites em sua extensão, e por ela poderemos caminhar infinitamente no tempo e no
espaço, mas estaremos sempre fechados e contidos nela mesma. A dificuldade de compreendermos esta realidade
consiste no fato de que a esfera que habitamos não é bidimensional como é a superfície de uma bola, mas sim,
tridimensional, e não conseguimos vislumbrar uma esfera tridimensional. Mas aprendemos, com Einstein, que
habitamos um universo curvo e fechado em si mesmo na dimensão espaço e tempo. Portanto, enquanto existirmos
no tempo e no espaço, observaremos estas unidades como infinitas e estaremos encerrados em seus limites, mas
estes deixarão de existir assim que ultrapassarmos as suas barreiras, impulsionados pela evolução. Assim como a superfície da Terra que nos
prende em sua dimensão, essa bolha de espaço que habitamos nos cerceia, impondo-nos suas barreiras, que são
fechadas, curvas e relativas. Por isso em nosso cosmos, a curva é o caminho mais curto entre dois pontos, e
a geodésica é nossa trajetória natural onde a reta é uma utopia. Por isso a luz, após irradiar-se de um
ponto, retornará a ele, depois de 200 bilhões de anos, como se calcula. Eis a medida de nosso universo. Nossa dimensão volumétrica, embora
fechada e curva, não está estanque, pois o espaço está em contínua expansão. Nosso Universo é, assim, uma
bolha de espaço que se infla em vertiginosa velocidade, fazendo inflar todo o cosmos. Uma expansão, no
entanto, que não se dirige ao infinito e que encontrará um fim - à medida que se expande ela se transforma e
evolui, superando assim seus próprios limites. Esses limites se transmutarão e serão absorvidos pelo
universo que lhe é superior e contíguo - o reino do absoluto. Irá desaparecer, mas para continuar existindo
em outra realidade dimensional, em outro nível de criação. Suas medidas dimensionais serão superadas e
desaparecerão, mas apenas aos olhos daqueles que não puderem acompanhá-lo. O relativo será absorvido pelo
absoluto e viveremos em outra realidade. Eis porque tudo que vive no relativo teve um princípio e terá um
fim. Podemos identificar o fim do universo material e o término de suas dimensões, com o "fim dos tempos",
preconizado por Jesus. Esta expressão, encontrada ainda no Apocalipse, não se refere portanto ao fim de um
período, dentro da realidade atual, como se entendeu em outras épocas, mas sim ao término, pela superação
evolutiva, da dimensão temporal, quando o ser, migrando para outro universo, passará a viver dentro de outra
realidade, onde as medidas do relativo não mais existirão. Este verdadeiramente é o "reino de Deus", o reino
do absoluto. Com a morte da matéria,
desaparecerá a sua dimensão, o espaço. Da mesma forma, com a absorção do nível energia transubstanciada em
espírito, o tempo deixará de medir o transformismo evolutivo e também se extinguirá, quando então o ser
migrará definitivamente para o universo superdimensional. Podemos, dessa forma, considerar o nascimento e a
morte do espaço e do tempo. Tudo que nasce deve morrer, tudo que existe no relativo teve um princípio e terá
um fim. O espaço e o tempo tiveram um início e por isso terão um fim. O espaço não é infinito! O tempo é
eterno somente enquanto existe. Surpreendente! Eis uma revelação consoladora. Se eles têm limites, estes
poderão ser ultrapassados e não estaremos eternamente presos nele. De fato, um espaço ilimitado e um tempo
eterno, embora sejam conceitos naturalmente aceitos pela nossa mentalidade atual, são um absurdo do ponto de
vista da divindade. Eles pressupõem a eternidade do universo físico e suas dimensões, o que não seria
conveniente para o espírito ao atingir o plano da perfeição. O plano do perfeito, que é o Absoluto, de fato
não poderia estar confeccionado nas mesmas dimensões que habitamos, com graves prejuízos para a sua
arquitetura conceptual. Eis uma informação que nos alenta e está contida nas obras subseqüentes de Ubaldi.
Dessa forma podemos compreender
quando a Grande Síntese nos afirma: "o espaço termina onde o "onde" se transforma em quando".
O espaço, o "onde", como dimensão da matéria, termina onde esta se transmuta em energia, unidade
medida pelo tempo, o "quando". E o tempo termina onde o "quando" se transforma no "como", onde o ser,
despertando plenamente sua consciência, interroga a criação e esta lhe responde integralmente, elevando-o à
realidade do Absoluto, onde o tempo morre, o presente é permanente, não mais flui, sem passado e sem futuro.
Com o desdobramento da revelação
ubaldiana, nas obras subseqüentes, principalmente em Deus e Universo, podemos avançar um pouco mais
nosso estudo, compreendendo que nosso universo físico, chamado ANTI-SISTEMA, é fruto de uma fuga de um
Universo perfeito, superior, chamado SISTEMA. Essa fuga, cujas razões não cambem aqui maior detalhamento,
ocasionou uma contração das dimensões originais da criação, uma retirada de poderosas forças, que a ciência
convencionou chamar de "Big-Crush" (grande concentração). Essa concentração de forcas fez convergir toda a
fabulosa potência da criação em um ponto de nulidade, chamado pela Física de "singularidade". Não somente as
forças originais se concentraram, mas também as dimensões anteriormente existentes. Com o ricochete dessas
forças, nasceu o Big-Bang, as forças contidas explodiram, formando não só a matéria, mas as suas dimensões
conhecidas, ou seja, nasceram assim o espaço e o tempo, dimensões distorcidas da realidade absoluta da
criação original. À medida que o universo se expande, o espaço também se dilata, de modo que a melhor
maneira de imaginarmos este espaço é visualizá-lo como um balão enchendo-se. Habitamos a superfície deste
balão que, no entanto, é tridimensional e não de duas dimensões, como anteriormente afirmamos. O tempo surge
como o registro do transformismo e da caminhada a que a substância é submetida nesse plano de manifestações
relativas. Compreendemos, dessa forma, que espaço e tempo tiveram uma origem e terão um fim, como disse a Grande Síntese. E poderemos reconhecer, talvez de um modo mais fácil, que nosso universo não se expande
ao infinito, pois, sendo uma contração do Sistema, nele está contido e limitado. Podemos reconhecer ainda
que a sua expansão não se dará infinitamente, nem será sucedida de nova contração, como perquire a ciência
moderna, mas será reabsorvida pelo Sistema. E, finalmente, podemos então considerar que nosso universo
termina onde ele se limita com o Sistema, e que o espaço, com sua infinitude, e o tempo, com sua eternidade,
estão fechados, condicionados a um momento irreal da existência da substância e fadados a desaparecerem.
Vosso universo é finito como vórtice sideral, nos diz a Grande Síntese. Com a revelação ubaldiana, nossas idéias
de Universo e de infinito encontram novas modificações. De certa forma, resgatamos o universo aristotélico,
pois encontramo-nos novamente com um "lugar" para a esfera divindade: não mais um lugar físico, mas
superdimensional. Situamo-lo nas fronteiras dimensionais do Anti-sistema. Poderemos, assim, considerar que o
Reino Divino está além do nosso universo e começa onde terminam as suas medidas de espaço e tempo. Esse
Reino divino, o universo do Absoluto, restringe e limita a nossa realidade, reduzindo-a ao espaço de suas
dimensões contraídas. Poderíamos de certo modo entender esta nova conformação da Criação, imaginando uma
imensa esfera, o Sistema, contendo uma outra menor e fechada dentro de seus limites, o Anti-sistema, pois
aprendemos, com Ubaldi, que nada pode existir fora da criação, ou seja, fora de Deus. Estas duas esferas, no
entanto, não participam do mesmo ambiente dimensional e, embora se interpenetrem, aparentam estar separadas
pelo infinito. Uma maneira acanhada de acomodarmos esta idéia em nossa parca imaginação seria ainda
compararmos esta conformação com a realidade virtual criada pelos computadores modernos. Sabemos que, com
auxílio se óculos especiais, um computador poderoso pode criar um ambiente em três dimensões ao nosso redor,
dando-nos a ilusão de que se trata de algo real. Com ajuda de luvas especiais, podemos tocar os objetos
virtuais deste mundo irreal, e o computador nos dará a sensação correspondente de firmeza e consistência,
proporcionando-nos ainda maior realidade para estas miragens feitas de impulsos digitais. Esta realidade
virtual é uma dimensão irreal criada dentro de nossa realidade e pode ser infinita, se o computador que a
sustenta puder confeccionar sempre novos ambientes para a nossa exploração. Seus limites não podem ser
estabelecidos pelas nossas medidas, pois seu ambiente conceptual é outro bem distinto de nossa realidade.
Embora infinito, este ambiente artificial está contido, fechada pelas limitações do computador que o
sustenta. Um simples corte da energia que alimenta o computador a fará desfazer-se subitamente, retirando-
nos do sonho de realismo. O Anti-sistema, o ambiente dimensional em que vivemos, pode ser comparado com uma
realidade virtual. Uma parte dos seres se retirou da dimensão real, vestiu suas essências espirituais com um
escafandro, feito de matéria e energia, o qual chamamos de corpo, para mergulhar nesta realidade exótica e
irreal. Confeccionaram um computador especial, chamado de cérebro, que converte os impulsos desta realidade
ilusória em sensações reais para o espírito, conferindo-lhe uma existência quase perfeita. Vestes dotadas de
sensores, que chamamos de pele, nos colocam em íntimo contato com este exótico mundo, que na verdade não
existe. É feito de ilusão, de partículas que não existem, de velocidades que constroem a ilusão de massa e
compacidade. Eis o que é nossa vida, nosso universo, nossa matéria, nosso ambiente dimensional, restrito e
reduzido, dentro da dimensão real da criação. Eis a enorme ilusão, que o hinduísmo chama de "grande maia".
Embora ele nos alimente com a idéia de infinito e de eternidade, estas medidas são obras do mesmo irrealismo
que nos sustenta, pois estamos fechados e contidos pelo realismo do Sistema, assim como a realidade virtual
está contida pela nossa realidade. É o Sistema a única realidade que o sustenta e fornece a energia para a
"brincadeira de irrealismo", digamos assim. O pensamento divino interfere nele em forma de leis e
princípios, organizando-o, orientando os seus seres para saírem dele, retornando ao mundo real, onde fomos
criados, o reino do Absoluto. Munidos
destes novos conceitos estaremos mais bem preparados para enfrentar o desafio do infinito. A lança de
Arquitas retornaria ao seu ponto de partida, depois de 200 bilhões de anos. Mas, como entendemos ainda que a
curvatura do universo não é perfeitamente fechada, mas se abre por imposição da lei do devenir, gerando uma
espiral aberta, onde deveria existir uma esfera, o ponto não se fechará nele mesmo. A caminhada é aberta e
feita de transformismo evolutivo. A substância constitutiva da lança evoluirá e se transubstanciará sendo
reabsorvida pelo universo contíguo e superior ao nosso. A lança então terminará sua viagem em outro Universo
dimensional. O paradoxo de Olbers
pode ser facilmente solucionado, ao compreendermos que universo teve um princípio e não existe de toda
eternidade. Que o espaço é uma bolha que se expande, que igualmente teve sua origem e tem seu limite. Ao
dirigirmos nosso olhar para os rincões mais longínquos do Cosmos, estamos apenas divisando o seu passado,
mirando imagens arqueológicas trazidas por uma luz cuja fonte não mais existe. É apenas uma imagem residual,
deixada para trás no cone do tempo, feita pela irradiação da luz, e que não corresponde mais à realidade
atual do cosmos. Traz notícias de um espaço que já morreu, para dar lugar ao nosso espaço atual em constante
dilatação, e contém registros do passado da criação, fixados em um tempo e um espaço finitos. O infinito e o eterno nos atordoam. Mas a
Grande Síntese nos indica o caminho para sairmos de suas limitadas barreiras. Esse caminho consiste na
superação de nossas acanhadas dimensões e para isso basta alimentarmos nossos espíritos de humildade e
bondade genuínas, deixando para trás os vícios seculares do egoísmo, que nos limita as consciências nos
restritos círculos da matéria e da energia. Este exercício, preconizado por todos os gênios do passado, a
quem chamamos de santos, irá munir-nos das asas do amor e da sabedoria, a fim de alçarmos o vôo do infinito.
Ultrapassando as barreiras de nosso universo, viveremos, enfim, o conúbio com a realidade do Absoluto. Eis o
convite máximo e a motivação maior Daquela Voz que se dignou a nos dirigir novamente a Sua palavra
, doce e esclarecedora, unicamente para nos levar de volta aos páramos celestiais dos quais proviemos.
Belo Horizonte, Fevereiro de 2001 Gilson Teixeira Freire
gilson@imh.com.br
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