s idéias que dominam na vida de um homem ficam impressas no rosto. Assim, o rosto de
um homem maduro, que já viveu a sua vida, exprime, em síntese, a sua
biografia.
O que nos diz então este retrato?
O corpo humano pode
dividir-se em três planos:
1) A parte inferior, dos pés até o ventre, que
representa a animalidade;
2) A parte média, do peito e coração, que
representa o sentimento;
3) A cabeça e o cérebro, que representam a alma
ou personalidade. O rosto humano, do mesmo modo, pode também
dividir-se em três planos correspondentes àqueles, que são, de baixo para cima:
1) O maxilar ou queixada e a boca, que exprimem a animalidade voraz e
egoísta, a cobiça ávida de devorar e possuir;
2) Os olhos que exprimem o
sentimento do coração. Eles podem tomar parte na vida em relação com o lado inferior do rosto, e indicar:
astúcia, avidez, egoísmo e sensualidade do animal no nível sexual. Ou, então, os olhos podem tomar parte na
vida em relação com o lado superior, e exprimir o poder do pensamento e a bondade, como sensualidade
sublimada no nível do amor espiritual;
3) A testa, que exprime o poder e o
domínio do pensamento e do espírito.
Com a evolução, o centro
da vida desloca-se dos pés ao plano da cabeça (como no homem, a vida, que primitivamente era quadrúpede,
levantou a cabeça para o alto), e, do plano da boca e da queixada, ao plano da testa ou cérebro.
Podemos agora compreender a significação deste retrato, que resume em
síntese, a biografia do indivíduo, e traduz a idéia central da sua vida. Ela foi um impulso para subir à
espiritualidade, deslocando o centro da vida do nível da boca e da queixada ao da testa.
O indivíduo, na sua juventude encontrou todas as portas fechadas
para a expansão neste nível. Em lugar de reagir, como teria feito a maioria, com o suicídio, a
criminalidade, o desespero ou a loucura, reagiu, deslocando para o plano espiritual o centro de sua vida.
Fugiu da prisão do corpo pelo teto. Fenômeno biológico que, na hora do amadurecimento, espera a todos, e que
poderia resolver em bem, tantos casos que parecem sem saída.
Assim, este retrato, não é somente uma biografia em síntese, mas representa também uma revolta e uma
evolução - a maior possível, porque é revolução biológica.
Eis, então, o que nos diz este retrato: a história de uma revolta e de uma vitória biológica escrita num
rosto, a revolta contra a animalidade do homem e a vitória da espiritualidade.
1) Assim, a parte inferior, isto é, a boca e a queixada, estão
contraídas, enfraquecidas, morrendo na derrota, tristes na sua agonia. É a animalidade vencida. Esta boca
exprime a amargura engolida durante toda a vida, suportando, com amor, as maldades e a cobiça dos outros.
2) Os olhos exprimem o sentimento do coração. Neles a tristeza
de não ter encontrado amor no nível comum, está compensada pela alegria de ter sabido transformá-lo em
espiritualidade, e de ter encontrado aí alegrias maiores. Assim, eles falam de uma grande bondade e de um
amor universal, despojado de egoísmo e sensualidade, de um amor iluminado pelo pensamento e sublimado na
espiritualidade.
3) A testa exprime o peso enorme do
pensamento, que se tornou vencedor, porque ali transferiu todo o centro da vida do indivíduo. Parece que o
rosto, como a vida dele, ficam esmagados pelo peso deste pensamento. Neste caso, o centro da vida
transferiu-se da parte inferior para a testa, para além da qual está o cérebro, órgão físico da alma. É a
vitória da espiritualidade.
As linhas profundas indicam a
grande luta vivida que se imprimiram na carne, moldando-a conforme a idéia interiormente vivida. Este
retrato exprime uma drama biológico vivido e vencido. No conjunto, o retrato traduz também o grande cansaço
da luta vivida, mas está reanimado pela alegria de tê-la vencido, porque, se na parte inferior a vida está
morrendo tristemente, na parte superior ela está plenamente ressuscitando.
Dizemos isto, não para tributar homenagens ao indivíduo, que
gosta de outras coisas, mas para dar um exemplo que explique as suas teorias, por ele mesmo vividas, um
exemplo para esclarecer o fenômeno que está hoje esperando ser vivido por toda a humanidade.
Quisemos,
assim, apresentar este retrato, não como o retrato de um homem, mas de um drama da vida. E fizemos isto,
porque este drama pode interessar a todos, porque, mais cedo ou mais tarde, todos precisam de vivê-lo no
caminho irresistível da evolução.
O pintor Hansjörg
Waldhauser, de Viena, que está agora no Brasil, procurou interpretar, neste retrato, também o drama da
humanidade.
Pietro Ubaldi
Santos, outubro de 1956