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ANÁLISE DA FISIONOMIA DE UBALDI, EFETUADA POR ELE MESMO.

Colaboração de José Eduardo Simões


Ubaldi no ano de 1968

O pintor Hansjörg Waldhauser efetuou um retrato pintado de Ubaldi que, pelo seu tamanho, não pode ser reproduzido aqui. Porém, encontramos uma foto sua que, apesar da diferença de época, nos parece extremamente similar ao quadro exposto no Memorial Pietro Ubaldi em Brasília.


     A s idéias que dominam na vida de um homem ficam impressas no rosto. Assim, o rosto de um homem maduro, que já viveu a sua vida, exprime, em síntese, a sua biografia.
     O que nos diz então este retrato?
O corpo humano pode dividir-se em três planos:
     1) A parte inferior, dos pés até o ventre, que representa a animalidade;
     2) A parte média, do peito e coração, que representa o sentimento;
     3) A cabeça e o cérebro, que representam a alma ou personalidade.

     O rosto humano, do mesmo modo, pode também dividir-se em três planos correspondentes àqueles, que são, de baixo para cima:
     1) O maxilar ou queixada e a boca, que exprimem a animalidade voraz e egoísta, a cobiça ávida de devorar e possuir;
     2) Os olhos que exprimem o sentimento do coração. Eles podem tomar parte na vida em relação com o lado inferior do rosto, e indicar: astúcia, avidez, egoísmo e sensualidade do animal no nível sexual. Ou, então, os olhos podem tomar parte na vida em relação com o lado superior, e exprimir o poder do pensamento e a bondade, como sensualidade sublimada no nível do amor espiritual;
     3) A testa, que exprime o poder e o domínio do pensamento e do espírito.

     Com a evolução, o centro da vida desloca-se dos pés ao plano da cabeça (como no homem, a vida, que primitivamente era quadrúpede, levantou a cabeça para o alto), e, do plano da boca e da queixada, ao plano da testa ou cérebro.

     Podemos agora compreender a significação deste retrato, que resume em síntese, a biografia do indivíduo, e traduz a idéia central da sua vida. Ela foi um impulso para subir à espiritualidade, deslocando o centro da vida do nível da boca e da queixada ao da testa.

     O indivíduo, na sua juventude encontrou todas as portas fechadas para a expansão neste nível. Em lugar de reagir, como teria feito a maioria, com o suicídio, a criminalidade, o desespero ou a loucura, reagiu, deslocando para o plano espiritual o centro de sua vida. Fugiu da prisão do corpo pelo teto. Fenômeno biológico que, na hora do amadurecimento, espera a todos, e que poderia resolver em bem, tantos casos que parecem sem saída.

      Assim, este retrato, não é somente uma biografia em síntese, mas representa também uma revolta e uma evolução - a maior possível, porque é revolução biológica.

      Eis, então, o que nos diz este retrato: a história de uma revolta e de uma vitória biológica escrita num rosto, a revolta contra a animalidade do homem e a vitória da espiritualidade.

     1) Assim, a parte inferior, isto é, a boca e a queixada, estão contraídas, enfraquecidas, morrendo na derrota, tristes na sua agonia. É a animalidade vencida. Esta boca exprime a amargura engolida durante toda a vida, suportando, com amor, as maldades e a cobiça dos outros.

     2) Os olhos exprimem o sentimento do coração. Neles a tristeza de não ter encontrado amor no nível comum, está compensada pela alegria de ter sabido transformá-lo em espiritualidade, e de ter encontrado aí alegrias maiores. Assim, eles falam de uma grande bondade e de um amor universal, despojado de egoísmo e sensualidade, de um amor iluminado pelo pensamento e sublimado na espiritualidade.

     3) A testa exprime o peso enorme do pensamento, que se tornou vencedor, porque ali transferiu todo o centro da vida do indivíduo. Parece que o rosto, como a vida dele, ficam esmagados pelo peso deste pensamento. Neste caso, o centro da vida transferiu-se da parte inferior para a testa, para além da qual está o cérebro, órgão físico da alma. É a vitória da espiritualidade.

     As linhas profundas indicam a grande luta vivida que se imprimiram na carne, moldando-a conforme a idéia interiormente vivida. Este retrato exprime uma drama biológico vivido e vencido. No conjunto, o retrato traduz também o grande cansaço da luta vivida, mas está reanimado pela alegria de tê-la vencido, porque, se na parte inferior a vida está morrendo tristemente, na parte superior ela está plenamente ressuscitando.

     Dizemos isto, não para tributar homenagens ao indivíduo, que gosta de outras coisas, mas para dar um exemplo que explique as suas teorias, por ele mesmo vividas, um exemplo para esclarecer o fenômeno que está hoje esperando ser vivido por toda a humanidade.
Quisemos, assim, apresentar este retrato, não como o retrato de um homem, mas de um drama da vida. E fizemos isto, porque este drama pode interessar a todos, porque, mais cedo ou mais tarde, todos precisam de vivê-lo no caminho irresistível da evolução.

     O pintor Hansjörg Waldhauser, de Viena, que está agora no Brasil, procurou interpretar, neste retrato, também o drama da humanidade.

Pietro Ubaldi
Santos, outubro de 1956


 
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