O Conceito de
Infinito na Filosofia Monista
Pedro Orlando Ribeiro
Quando se pensa em infinito nos vem primeiramente
à mente a idéia de extensão espacial. Nossa mente segue os padrões estabelecidos
pela nossa experiência sensorial. Os sentidos humanos se desenvolveram e evoluíram na
interação com a chamada "realidade material" (repare que a expressão está
entre aspas). Esta "realidade material" é constituída pelo que chamamos de
matéria, cujas características principais são a solidez e a impenetrabilidade que nos
dizem que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Poderíamos acrescentar
que um corpo só pode ocupar o lugar de outro se movermos este último para outro ponto do
espaço. Apareceu aqui outro conceito sobrepondo a idéia de espaço: o movimento!
A idéia de movimento nos leva ao conceito de tempo. Se pensarmos
não isoladamente em termos espaciais mas em conjunto com o conceito de tempo vemos que o axioma:
"dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço" é relativo. É
necessário então dizer: "dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no
espaço ao mesmo tempo"para que aafirmação torne-se mais
verdadeira.
Nossa concepção de impenetrabilidade
mudou. Mudou porque mudaram os nossos parâmetros. Agora vemos este axioma sob o foco de duas luzes
diferentes: o espaço e o tempo. Mas há um terceiro foco que talvez o leitor não tenha
percebido, para compreender qual seja este terceiro termo, basta verificar o que mudou na nossa idéia
inicial da impenetrabilidade da matéria. Evidentemente mudou o nosso CONCEITO, ou seja, mudou o nosso
conhecimento sobre um fenômeno. Assim, fica fácil compreender que este terceiro termo é
a consciência que temos do fenômeno. Sem o fator consciência não existiria os
outros dois: tempo e espaço.
Do que dissemos acima se pode
inferir que existe uma hierarquia entre os três termos: espaço, tempo e consciê
ncia. A consciência supera o tempo (podemos pensar em termos de passado, presente e futuro) e este
supera o espaço (pelo movimento). Poderíamos ir mais além afirmando que houve um
evolução conceitual. Da idéia de espaço chegamos ao tempo e deste a
consciência.
Assim, podemos dizer que nossa mente ao encarar
um fenômeno o faz sobre estes três fundamentos: espaço, tempo e
consciência. Estes fundamentos são as dimensões que governam o nosso
universo. A conclusão é obvia: o nosso universo é tridimensional. É
constituído não só pela matéria mas também pela energia e pelo
pensamento. Este universo está em contínuo transformismo, isto é, em
evolução. Esta evolução se dá não só no sentido material
mas sobretudo nos conceitos com que a encaramos. Exemplo: hoje já se concluiu que a solidez, pedra de
toque da matéria, não passa de uma ilusão de nossos sentidos. O novo parâmetro,
aceito hoje, para definir a matéria é o cinético, ou seja, a energia. Vê-se assim
a passagem da dimensão espaço para a dimensão tempo na nossa concepção do
que seja a matéria. Mas, a coisa não pára aí, segundo a visão da
filosofia monista de Ubaldi a energia também não passa de uma involução de uma
dimensão ainda maior: o pensamento. Da aparente solidez absoluta da matéria chegamos a uma
expressão meramente conceitual, daí a razão porque colocamos a expressão "
realidade material" entre aspas.
O que demonstramos acima nos
mostra que não podemos encarar o universo somente do ponto de vista material, como o faz hoje a
ciência moderna. O conceito de espaço infinito só existe dentro deste restrito modo de
ver as coisas. Se olharmos para o universo sob o ponto de vista da evolução das
dimensões podemos superar os limites estabelecidos por uma dada dimensão. Desta forma
podemos superar a nossa incapacidade de percorrer materialmente o infinito do espaço através
da nossa compreensão do que seja o universo físico. Pode-se percorrer o espaço de
"outra forma", isto é, mentalmente. Como seres materiais somos limitados pelo determinismo
da matéria, mas como seres espirituais superamos estes limites. É preciso entender que esta
superação se dá em forma qualitativa através da conquista de uma consciê
ncia cada vez mais ampla e não simplesmente suplantando estes limites em direção
espacial.
Ao superarmos a dimensão espacial pelo
conhecimento surge uma nova concepção de infinito. O que é ilimitado para uma dada
dimensão não o é para a dimensão superior. A dimensão que marca um
determinado estado do ser (matéria, energia, pensamento) tem caráter de infinitude para este
nível evolutivo. Assim, o que passa a ser infinito na dimensão consciência é o
conhecimento e não o espaço.
Como cada universo
é trifásico, a substância dos fenômenos do nosso universo se apresenta em
três aspectos: "1º como formas; 2º como fases; 3º como princípio ou lei. Esses
três aspectos são as três dimensões da trindade da substância. Unidade
trina, a três dimensões.(P. Ubaldi – A Grande Síntese)". O homem
também, como o nosso Universo, é formado de três elementos: matéria, energia e
espírito, assim, a sua unidade trina faz com que ele enxergue de maneira ambígua a natureza
dos fenômenos. Pela sua natureza material ele sente a infinitude do espaço e pela sua natureza
espiritual supera conceitualmente este limite. A fase matéria do ser humano como já
está praticamente estabilizada e não está mais em formação, marca
profundamente com seus instintos atávicos a nossa maneira de sentir, pensar e conceber. O nosso
consciente é produto novíssimo da evolução e ainda está em fase inicial
de formação e, portanto, ainda não totalmente livre dos limites materiais. É por
isso que não podemos percorrer materialmente a infinitude dos espaço mas podemos em
contrapartida compreendê-lo, embora ainda de maneira imperfeita.
Com a evolução do consciente racional para um consciente intuitivo sintético
estes limites desaparecerão definitivamente. Destarte, surgirão outros limites compatí
veis com esta nova dimensão: a intuitivo-sintética, que marca outro universo, que també
m é trino e supera evolutivamente o nosso. Existem infinitos universos porque infinita é a
evolução e infinito é Deus. É lógico que agora para o leitor a palavra
infinito, sob a visão Ubaldiana, tem uma conotação diferente para cada nível
evolutivo. Conclui-se assim que a verdade não é o que se vê mas como se vê.