proximemo-nos ainda mais da questão
a ser desenvolvida. Eram indispensáveis essas premissas para vos conduzir até
aqui. Observai meu modo de proceder ao expor meu pensamento. Avanço seguindo uma
espiral que gradualmente aperta suas volutas concêntricas e, se passo de novo
pela mesma ordem de idéias, toco o raio que parte do centro num ponto cada vez
mais próximo dele. Guio vosso pensamento para esse centro. Nesta exposição parto
da periferia e vou para o interior; da matéria, que é a realidade de vossos
sentidos, para o espírito, que contém uma realidade mais verdadeira e mais
elevada; vou da superfície ao âmago, da multiplicidade fenomênica ao Princípio
único que a rege. Por isso denominei este tratado de A Grande Síntese. Estou no outro pólo do ser, no extremo
oposto àquele em que estais; vós, seres racionais, sois análise; eu, intuitivo
(contemplação, visão), sou síntese. Mas desço agora à vossa psicologia racional
de análise, tomo-a como ponto de partida, a fim de levar-vos à síntese como
ponto de chegada. Parto da forma para explicar-vos o impulso obscuro e
palpitante, o motor que a anima, tenazmente aprofundando o mistério. Penetro,
sintetizo e aperto num monismo absoluto, os imensos pormenores do mundo
fenomênico, incomensuravelmente vasto, se o multiplicais pelo infinito do tempo
e do espaço; canalizo a multiplicidade dos efeitos - dos quais a ciência com
imenso esforço vislumbrou algumas leis - nos caminhos convergentes que conduzem
ao Princípio Único. Farei desse mundo que pode parecer caótico a vossas mentes,
um organismo completo e perfeito. A complexidade que vos desanima será
reconduzida e reduzida a um conceito central, único e simples, a uma lei única
que dirige tudo.
A isto podeis chamar
de monismo. Atentai mais aos conceitos que às palavras. Por vezes a
ciência acreditou ter descoberto e criado um conceito novo, só porque inventou
uma palavra. E o conceito é este: como do politeísmo passasteis ao
monoteísmo, isto é, à fé num só Deus (mas sempre antropomórfico, pois
realiza uma criação fora de si), agora passais ao monismo, isto é, ao
conceito de um Deus que É a criação. Lede mais, antes de julgar. Farei
que lampeje em vossas mentes um Deus ainda maior que tudo o que pudesteis
conceber. Do politeísmo, ao monoteísmo e ao monismo, dilata-se vossa concepção
de Divindade. Este tratado, pois, é o hino de Sua glória.
Sinto já esta síntese suprema num lampejo
de luz e de alegria. Quero conduzir-vos, a vós também, a essa meta, por meio de
estudo do funcionamento orgânico do Universo. Este Tratado vos aparecerá assim
como uma progressão de conceitos, uma ascensão contínua por aproximações
graduais e sucessivas. Poderá também parecer-vos uma viagem do espírito; é
verdadeiramente a grande viagem da alma que regressa ao seu Princípio; da
criatura que regressa a Seu Criador. Cada novo horizonte, que a razão e a
ciência vos mostraram, era apenas uma janela aberta para um horizonte ainda mais
longínquo, sem jamais atingir o fim; Eu, porém, indicar-vos-ei o último termo,
que está no fundo de vós mesmos, onde a alma repousa. Subiremos das ramificações
dos últimos efeitos, progredindo da periferia para o centro, ao tronco da Causa
Primeira que se multiplicou nesses efeitos.
A realidade, em vosso mundo, está
fracionada por barreiras de espaço e de tempo; a unidade aparece como que
pulverizada no particular; vemos o infinito fragmentar-se, dividir-se,
corromper-se no finito, o eterno no caduco, o absoluto no relativo. Mas,
percorreremos o caminho inverso a essa descida e reencontraremos aquele
infinito, que jamais a razão poderia dar-vos, porque a análise humana não pode
percorrer a série dos efeitos através de todo o espaço, por toda a eternidade, e
não dispõe daquele infinito, pelo qual seria mister multiplicar o finito para
obter a visão do Absoluto.
A finalidade
desta viagem é dar ao homem nova consciência cósmica. Uma consciência que o faça
sentir-se não apenas indestrutível e eterno, membro de uma humanidade que abarca
todos os seres do universo, mas também representa uma força e desempenha um
papel importante no funcionamento orgânico do próprio universo. Viveis para
conquistar uma consciência cada vez mais ampla. O homem, rei da vida no planeta
Terra, conquistou uma consciência individual própria, que constitui prêmio e
vitória. Agora está construindo outra mais vasta: a consciência coletiva que o
organiza em unidades nacionais e se fundirá numa unidade espiritual ainda mais
vasta, a humanidade. Eu, porém, lanço a semente de uma consciência universal, a
única que vos pode dar a visão de todos os vossos deveres e direitos e poderá,
perfeitamente, guiar todas as vossas ações, além de solucionar todos os vossos
porquês. Partindo de vosso cognoscível científico humano, esse caminho também
atingirá conclusões de ordem prática, individual e social. A exposição das leis
da vida tem como objetivo ensinar-vos normas mais completas de comportamento.
Sabendo olhar no abismo de vosso destino, sabereis agir cada vez com mais
elevação.
Eis traçada a estrada que
percorreremos. E a seguiremos não apenas para saber, mas também para agir
depois. Quando se fizer luz na mente, o coração se acenderá de paixão, para
marchar seguindo a mente que viu.
Ascensão é a idéia dominante. Deus é o centro. Este Tratado é mais que uma
grande síntese científica e filosófica: é uma revolução introduzida em vosso
sistema de pesquisa, nova direção dada ao pensamento humano, para que, após este
impulso, possa canalizar novo caminho de conquistas; é uma revolução que não
arrasa nem nega, implantando arbítrio e desordem, mas afirma e cria, guiando-vos
a uma ordem e equilíbrio cada vez mais completo e complexo, para uma lei cada
vez mais forte e mais justa. Pois bem, para ajudar a nascer em vós esta nova
consciência que está por surgir à luz, para estimular esta vossa transformação
que está iminente, imposta pela evolução, da fase humana à fase super-humana, eu
vos ensino novo método de pesquisa, praticado por via da intuição. Indico-vos a
possibilidade de nova ciência conquistada com o sistema dos místicos, no qual os
fenômenos são penetrados por meio de nova sensibilidade, abrindo as portas da
alma, além das dos sentidos, da alma da qual vos terei ensinado todos os
recursos insuspeitados e meios de percepção direta. Desse modo, os fenômenos não
serão mais vistos nem ouvidos, nem tocados por um Eu qualquer, mas sentidos por
um ser que se transformou em delicadíssimo instrumento de percepção, porque
sensitivamente evoluído, nervosamente refinado e, sobretudo, moralmente
aperfeiçoado. Ciência nova, conduzida pelos caminhos do amor e da elevação
espiritual, é a ciência do super-homem, que está para nascer e fundará a nova
civilização do terceiro milênio. (5)
5 - Este conceito de nova civilização, várias vezes
repetido nesta obra, desenvolveu-se, mais tarde, no volume: A Nova
Civilização do Terceiro Milênio.