alei de
vossa razão humana, com a qual construísteis vossa ciência e afirmei a
relatividade desse instrumento de pesquisa e de sua insuficiência como meio para
conquistar o conhecimento do Absoluto.
Agora conduzo-vos lentamente, cada vez mais próximo do centro da questão. O
estudo que vos exponho representa novo princípio para vossa ciência e filosofia,
novo para vosso pensamento. O momento psicológico, que a humanidade atravessa
hoje, requer a ajuda dessa revelação. Não vos assusteis com essa palavra:
revelação não é apenas aquela da qual nasceram as religiões, mas também qualquer
contato da alma humana com o pensamento íntimo que existe na criação, contato
que revela ao homem um novo mistério do ser. Como está hoje — vós o sabeis — a
psicologia humana não tem amanhã; ela o busca ansiosamente, mas por si só não
sabe achá-lo. Espera algo, confusamente, sem saber o que poderá nascer, de onde
e como; mas espera por necessidade íntima, por imperioso instinto, porque este
constitui a lei da vida; permanece na expectativa de ouvir algo e se limita a
avaliar as vozes, as verdadeiras e as falsas, afim de escolher aquela que
corresponderá a seu infalível instinto; descendo das profundidades do infinito,
será a única a fazê-la tremer. Esperam-na, sobretudo, os homens de pensamento
que estão à frente do movimento intelectual; esperam-na os homens de ação, que
estão à frente do movimento político e econômico do mundo. A mente humana
procura um conceito que a abale, conceito profundo e mais poderosamente sentido,
que a oriente para a iminente nova civilização do terceiro milênio.
Alguns dos conceitos de que dispondes são
insuficientes, outros esgotados, outros tão cobertos de incrustações humanas,
que por estas ficam esmagados. A ciência, tão enceguecida de orgulho
desde que nasceu, demonstrou-se impotente diante dos últimos "porquês" e, com a
pretensão de generalizar partindo de poucos princípios, os mais baixos,
prejudicou-vos, abaixando-vos, fazendo-vos retroceder para aquela matéria, a
única que estudava. As filosofias são produtos individuais, elevando a
sistema aquela indiscutível premissa que é o próprio Eu: embora sendo intuições,
são intuições parciais, visões pessoais que só interessam ao grupo dos afins. O
bom senso é instrumento imediato para as finalidades materiais da vida e não
pode superá-las; então não pode bastar. As religiões, tantas e, erro
imperdoável, todas lutando entre si, exclusivistas na posse da Verdade e isto em
nome do próprio Deus, aplicando-se não a procurar a ponte que as una, mas a
cavar o abismo que as divida. Anseiam invadir o mundo todo, ao invés de se
coordenarem no nível que lhes compete, em vista da profundidade da revelação
recebida. Infelizmente, recobriram de humanidade a originária Centelha Divina.
Devo definir desde logo meu pensamento,
para não ser mal interpretado e posto na mira dos ansiosos de destruição e
agressividade humana. Não venho para combater nenhuma religião, mas para
coordená-las todas, como a outras aproximações diferentes da Verdade, UMA e não
múltipla, como quereríeis. No entanto, coloco no mais alto posto da terra a
revelação e a religião de Cristo, porque é a mais completa e perfeita dentre
todas. Esclarecido este conceito, prossigo e verifico o fato inegável de que
nenhuma de vossas crenças hoje levanta, abala e verdadeiramente arrasta as
massas.
Diante das grandes paixões que
outrora moviam os povos, hoje o espírito se encontra adormecido no ceticismo; de
tal forma caiu no vazio, que não tem força para rebelar-se, nem sombra de
interesse, ainda que para negar; tornou-se um nada recoberto por sorridente
máscara; desceu ao último degrau, está na última fase de esgotamento: a
indiferença. Esse é o quadro de vosso mundo espiritual. Infelizmente, o que vos
guia de fato na vida real é bem outra coisa: é o egoísmo, são vossas baixas
paixões, em que acreditais cegamente. Mas a isto não podeis chamar uma
orientação, um princípio capaz de dirigir-vos a objetivos mais elevados. Se isto
constitui um princípio, trata-se de um princípio de desagregação e de ruína;
para isso, com efeito, corre o mundo em grande velocidade.
Então, não é por acaso que vos chega minha
palavra. Ela vem não para destruir as verdades que possuís, mas para repeti-las
de forma mais persuasiva, mais evidente, mais adaptada às novas necessidades da
mente humana. Vossa psicologia não é a mesma de vossos pais e as formas
adequadas para eles, não são para vós; sois inteligências que saíram da
minoridade; vossa mente habituou-se a olhar por si e hoje pode suportar visões
mais vastas; pede, quer saber e tem direito de saber mais. Por vossa maturação,
podeis hoje ver e resolver diretamente problemas que mal eram suspeitados por
vossos avós. Além disso, vossos problemas individuais e coletivos se tornaram
por demais complexos e delicados, para que possam ser suficientes os anunciados
sumários das verdades conhecidas. No atual período de grandes maturações, vós, a
cada momento, superais vossas idéias, com uma velocidade sem precedentes para
vós. Pondo de parte os imaturos e mentirosos, existe grande número de honestos
que precisam saber mais e com maior precisão. Enfim, dispondes hoje, com os
meios mecânicos, fornecidos pela ciência, com os segredos que tendes sabido
arrancar à natureza, de muito maior potência de ação que no passado; potência
que requer de vós, que a manejais, uma sabedoria muito maior, a fim de que essa
potência não se torne manejada com a mentalidade pueril e selvagem dos séculos
passados, não em vosso engrandecimento, mas em vossa destruição. Então, é
chegada a hora de dizer minha palavra.