A Grande Síntese

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A GRANDE SÍNTESE

Autor: Pietro Ubaldi

Capítulo 46

ESTUDO DA FASE b: ENERGIA

    Ao observar o devenir das formas dinâmicas, vamos delinear, agora, também, as características das individuações típicas e no devenir encontraremos o conceito e a Lei que as governa. Os três aspectos: estático, dinâmico e conceptual da fase b poderão, dessa forma, fundir-se numa única exposição e isso tornará nosso passo mais ágil e veloz.

    A transformação da matéria em energia não é mais, para vós, apenas uma hipótese. Sabeis calcular a quantidade de energia atômica armazenada na matéria. A massa de um grama, considerada no zero absoluto, contém 22 bilhões de calorias. Sabeis que o sol está em estado de completa desagregação atômica, pela radioatividade, o que significa saída de elétrons (energia, transformação de g em b ); estes são lançados à Terra, junto com todas as demais formas de energia. Esses centros dinâmicos lançados pelo sol ricocheteiam, penetram ou se combinam na atmosfera elétrica que circunda o vosso planeta, produzindo vários fenômenos, cujas causas não saberíeis explicar de outra maneira, como por exemplo, o da luz difusa no céu noturno. O feixe de radiações dinâmicas que o sol vos envia é o mais volumoso, complexo e rico. O fato de que os raios solares, caindo numa superfície negra de um metro quadrado, exercem sobre este uma pressão de quatro décimos de miligrama, mostra-vos, além de sua constituição eletrônica, que a radiação-luz se conjuga também com impulsos ativos-reativos de ordem gravífica. Verificais, nos fenômenos de radioatividade, que a dissociação espontânea da matéria implica num enorme desenvolvimento de calor, devido, justamente, à emissão (a partir do sistema planetário atômico) das partículas periféricas. E calculasteis: mv2/2 (em que m = massa, e v = velocidade), a energia cinética de cada partícula; 1,78 x 109 cm/s, a velocidade média de uma partícula.

    Para bem compreender a transmutação da matéria nas formas dinâmicas, é mister conhecer bem sua natureza cinética. Isto não é fato novo para vós, porque o vórtice eletrônico vos diz exatamente a mesma coisa. Sabeis que cada espécie de átomo caracteriza-se por um espectro de emissão produzido por um comprimento de onda determinado com exatidão. Essa emissão espectroscópica acompanha constantemente o átomo de cada elemento, como seu equivalente dinâmico, provando sua regular e constante estrutura cinética. Somente esta pode explicar-vos os movimentos brownianos, que tão bem conheceis. Vimos que a matéria é um dinamismo incessante e que sua rigidez é toda aparente, devida à extrema velocidade que a anima totalmente; sabeis que a massa de um corpo aumenta com sua velocidade no espaço. Um jato de água velocíssimo oferece à penetração de um corpo a resistência de um sólido. Quando a massa de um gás, como o ar, multiplica-se pela velocidade, ela adquire as propriedades da massa de um sólido. A pista sólida que sustenta o avião, sólido suspenso num gás, é sua velocidade em relação ao ar e este, sozinho, se lançado como ciclone, derruba casas. Trata- se de relação. Com efeito, quanto mais veloz é o avião, menor podem ser as suas asas. Sabeis que esquentar um corpo significa transmitir-lhe nova energia, isto é, imprimir-lhe nova velocidade íntima. A análise espectral vos fornece a luz equivalente dos corpos, tão exatamente, que se torna possível, por meio dessa emanação dinâmica, a individuação à distância na astroquímica. É inútil correrdes atrás de vossos sentidos e da ilusão tátil da solidez, tão fundamental para vós, porque é a primeira sensação fundamental da vida terrestre. A solidez é apenas a soma de movimentos velocíssimos. Que vos não iluda a constância das sensações, pois é devida apenas à constância dos processos íntimos fenomênicos no âmbito da Lei eterna. Vossos sentidos não sabem perceber sensações diferentes que se sucedam com extrema rapidez.

    A matéria é pura energia. Em sua íntima estrutura atômica, ela é um edifício de forças. Matéria, no sentido de um corpo sólido, compacto, impenetrável, não existe. Trata-se apenas de resistências, de reações; o que chamais de solidez, é somente a sensação que constantemente vos dá aquela força, que se opõe ao impulso e ao tato. É a velocidade que enche as imensas extensões dos espaços vazios, em que se agitam as mínimas unidades. É a velocidade que forma a massa, a estabilidade, a coesão da matéria. Observai como movimentos rotatórios rapidíssimos conferem ao giroscópio, durante o movimento, um equilíbrio autônomo estável. Velocidade é esta força que se opõe ao destacar-se das partículas da matéria e as mantém unidas, até que outra contrária não a supere. Mesmo quando decompondes a matéria naqueles que vos parecem os últimos elementos, não mais vos encontrais diante de uma partícula sólida, compacta, indivisível. O átomo é um vórtice, vórtice é o elétron e o núcleo; vórtices são os planetas e satélites contidos no sistema solar, assim até o infinito. Quando imaginais a mínima partícula animada de velocidade, ela não é nunca um corpo, no sentido comum que imaginais, mas é sempre um vórtice imaterial de velocidade. A decomposição dos vórtices, em que giram unidades vorticosas menores, estende-se até o infinito. De modo que, na substância não existe matéria, no sentido que lhe dais, mas só existe movimento. A diferença entre matéria e energia é dada apenas pela direção diferente desse movimento: rotatório, fechado em si mesmo, na matéria; ondulatório, com ciclo aberto e lançado ao espaço, para energia.

    No princípio havia o movimento e o movimento concentrou-se na matéria; da matéria nasceu a energia e da energia emergirá o espírito.

    O movimento concêntrico do sistema planetário atômico contém em germe a gênese e o desenvolvimento das formas de b. Tanto quanto a química orgânica diferencia-se da inorgânica por suas fórmulas abertas comunicantes em equilíbrio instável (efeito e não causa da vida), assim se passa da forma matéria à forma energia, pela expansão do sistema cinético fechado de g para o sistema cinético aberto de b. Isto porque a substância da evolução é a extrinsecação de um movimento que se concentra por involução e se expande por evolução, atingindo, através das duas fases dessa sua respiração, uma extrinsecação cada vez maior.

    Há dois fatos, portanto, a se ligar: o movimento circular íntimo do sistema atômico de g (matéria) e o movimento ondulatório próprio de b (energia). Para compreender o ponto de passagem de g a b é indispensável reduzir as duas fases ao seu denominador comum ou unidade de medida: o movimento, cuja forma individua, diferentemente, a substância em seus vários estágios. Esses são, vistos em sua essência, os dois termos que têm de ser conjugados. De um lado o sistema atômico. Vimos que é composto de um ou mais elétrons que giram em torno de um núcleo central; o que dá a individuação atômica é o número dos elétrons que giram em torno do núcleo (num espaço imenso, em relação a seu volume). O sistema atômico é de natureza esférica. Se a rotação fosse num plano, não teríamos o volume. De outro lado temos a característica fundamental própria de todas as formas de energia: a de transmitir-se por ondas esféricas. Já notamos na gênese da gravitação, o princípio da transmissão esférica da onda, demonstrado pelo decréscimo da ação, em razão do quadrado da distância. Esta lei é apenas uma conseqüência das propriedades geométricas dos corpos esféricos, e é produzida pelo fato das superfícies de esferas concêntricas serem proporcionais ao quadrado de seus raios. Todas as vezes, pois, que encontrais essa lei do quadrado da distância, podeis concluir com segurança que se trata de transmissão por ondas esféricas. Isso é facilmente controlável por meio de qualquer fonte de luz e de som. Como vedes, a natureza circular dos dois movimentos é constante, própria tanto da unidade atômica quanto da transmissão dinâmica.

    Pormenorizemos com mais rigor. O movimento rotatório do sistema atômico não é simplesmente circular: mais precisamente, ele é espiralóide. Vimos, no estudo da trajetória típica dos movimentos fenomênicos (fig. 4 e fig. 5), que esta é a linha de seu devenir. Toda evolução contém este princípio de dilatação, de desenvolvimento, de passagem em realização, de um estado latente, de fase potencial que atinge a fase cinética: esta é uma tendência constante no universo. Neste caso significa transformação do movimento de rotação, em movimento de translação.

    Primeira afirmação, portanto, explica-vos a íntima gênese de b, que é um sistema atômico, de natureza espiralóide (compreendendo a espiral como seção de uma esfera em processo de dilatação). Por causa dessa forma e de sua íntima estrutura, o átomo é o centro normal de emanações dinâmicas; é o germe natural (aquilo que a semente é na vida, e devido ao mesmo princípio de expansão) das formas de energia.

    Segunda afirmação mais complexa: disse-vos que o núcleo, centro de rotação eletrônica, não é o último termo. Acrescento agora: o núcleo é um sistema planetário da mesma natureza e forma que o sistema atômico, dentro do qual se encontra, composto e decomponível até o infinito, em semelhantes sistemas menores interiores. Acrescento mais: o núcleo é a semente ou germe da matéria. Das 92 espécies de átomos, o hidrogênio é o mais simples, por ser composto de um núcleo e de um só elétron, que lhe gira em torno. Ele é quimicamente indecomponível. Tirai aquele único elétron ao núcleo e tereis o éter, a substância-mãe do hidrogênio. Então o éter é composto apenas de núcleos sem elétrons; a passagem do éter ao H e, sucessivamente, a todos os corpos da série estequiogenética ocorre pela abertura progressiva do sistema espiralóide. No princípio, na passagem do éter ao H, temos a abertura do sistema do núcleo, com saída de um só elétron, depois, de dois, três, até 92. Tal como o sol no sistema solar, o núcleo é o pai prolífico de todos os seus satélites, nos quais se dá e se multiplica, por um princípio geral que encontrareis na reprodução por cisão. Por esse princípio, cada organismo, seja núcleo ou átomo, quando cresce demais, enriquecendo-se em seu desenvolvimento por evolução, cinde-se em dois. Assim, também a matéria produz filhos. As combinações químicas que produzis são, afinal, apenas combinações de sistemas, de trajetórias, de movimentos planetários. Então, uma molécula é uma verdadeira família de indivíduos atômicos, unidos pelas relações da ação e reação, por vínculos mais ou menos estáveis, que podem romper-se e diversamente renovar-se. Sabeis com que exatidão rigorosa essas combinações, essas parentelas, estreitam-se. Uma lei férrea e exata rege constantemente o equilíbrio das relações, que vós representasteis com as fórmulas químicas. Mas a verdadeira base da teoria atômica, cuja essência ainda não vos foi demonstrada, já vos disse agora, ou seja, a dos sistemas planetários atômicos que, reunindo-se nas moléculas dos corpos, combinam seus movimentos com toda a corte de seus satélites. Vedes que a verdadeira química, que se baseia toda na arquitetura íntima do átomo e deste deduz as propriedades dos corpos, é, no fundo, geometria, aritmética e mecânica astronômica, e pode reduzir-se a um cálculo de forças. Daí nenhuma maravilha se de uma tal matéria toda constituída de movimento e de energia puder, depois, espontaneamente, nascer b .

    Assim como involução é concentração, a evolução é o processo inverso, de expansão. Chegando a matéria à sua última forma, última da série estequiogenética (o Urânio, com um sistema planetário de 92 elétrons) dizeis: a matéria desagrega-se por radioatividade. À ordem de formação sucessiva dos elementos, vemos corresponder o aumento de peso atômico. Esse aumento, aqui, atinge seu máximo, é produzido pela passagem da energia de sua forma potencial, como está no núcleo, à sua forma cinética, como está nos diversos sistemas atômicos cada vez mais complexos. (A emissão de cada novo elétron do núcleo implica sempre acréscimo de nova órbita e esta, à proporção que nos aproximamos da periferia, torna-se cada vez mais veloz). Como vedes, o peso atômico é mais que um simples índice do grau de condensação: prende-se à lei pela qual a massa de um corpo é função de sua velocidade e ao fato de que, solidez e constituição da matéria estão todas em função da velocidade que anima suas partes componentes.

    Já notasteis que a desagregação pela radioatividade é desintegração atômica, isto é, novo deslocamento de equilíbrio do edifício atômico; por isso, deste partem emanações de caráter dinâmico. Chegando a esse ponto de sua evolução, o sistema máximo de g apenas continua seu movimento de natureza espiralóide, seguindo sempre uma direção expansional que a encontramos em toda parte, desde o sistema espiralóide galáctico até a trajetória típica dos movimentos fenomênicos. Em outras palavras, a espiral continua abrindo-se até o ponto em que os elétrons não voltam mais a girar em torno do núcleo como satélites, mas, como os cometas, lançam-se aos espaços com trajetórias independentes. Chegando à máxima órbita periférica, em que é máxima a velocidade de translação, aí rompe-se o equilíbrio de atração-repulsão até agora estável e os elétrons, não podendo mais manter-se na órbita precedente, projetam-se como bólidos para fora do sistema, impelidos por impulsos dirigidos para novos equilíbrios. Praticamente cada elétron circula com velocidade angular uniforme em sua órbita, que pode considerar-se como circular, pois, a abertura espiralóide apresenta deslocamentos mínimos. No âmbito das forças da astronomia atômica, para cada órbita há equilíbrio entre a atração do elétron pelo núcleo e a força centrífuga devida à massa do elétron e sua rotação, que tende a lançá-lo à periferia. Compreendeis: se a velocidade de rotação das partículas periféricas for de tal ordem que o impulso centrífugo supere a força de atração que as mantém em órbita, tangencialmente, elas fogem para o espaço. Quando digo elétron, não digo matéria em vosso conceito sensório, mas entendo outro turbilhão dinâmico (cuja massa é dada pela íntima velocidade do sistema) que assume características de matéria somente enquanto está todo vibrante de íntima velocidade, em seu sistema circular fechado. Chegando ao último grupo da série estequiogenética, o dos corpos radioativos, g inicia sua transformação em b, por progressiva expulsão de elétrons (cometas). Lógico que aí vai corresponder a uma perda de massa. As qualidades radioativas, em outros termos, tornam-se cada vez mais evidentes, com tendência sempre mais acentuada à desagregação espontânea e à formação de individuações químicas sempre mais instáveis, isto é, cujo sistema de forças desloca-se sempre mais rapidamente à busca de novos equilíbrios.

    Expus-vos, assim, a íntima estrutura do fenômeno, a razão do aparecimento da radioatividade no limite extremo da série estequiogenética, e os motivos da instabilidade dos corpos radioativos e da desagregação da matéria. Lembrai-vos de que, neste momento decisivo do universo, como ele muda da fase g à fase b, também muda sua dimensão, como vimos, de espaço para tempo; a terceira dimensão espacial do volume completa-se, portanto, na nova dimensão temporal, unidade característica de medida da nova forma de movimento, não mais circular, mas ondulatório.