A Grande Síntese

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A GRANDE SÍNTESE

Autor: Pietro Ubaldi

Capítulo 44

SUPERAÇÕES BIOLÓGICAS

    Tudo isto não constitui simples afirmação. Enquanto lentamente construo em vossas mentes este edifício conceptual, gradualmente o transmito ao mundo, para que a ele corresponda uma compreensão gradativa; na atmosfera das forças do planeta, imperceptíveis a vós, amadurecem as causas dos eventos decisivos e tremendos; determinam-se movimentos; canalizam-se correntes dinâmicas; acentuam-se atrações e repulsões, donde depois se exteriorizarão os fenômenos, desde as convulsões físicas às morais, da morte à vida de povos e civilizações. Mesmo exteriormente, diante dos olhos do historiador e do pensador, apresenta-se o mundo maduro para renovações profundas.

    No entanto, poucas são as mentes, que dirigem o mundo nos campos mais diversos, que têm o pressentimento da iminência dos tempos novos. A ciência, mais esmagada que sustentada pela imensa massa de material de observação que acumulou, está sempre aguardando sínteses, perdida no dédalo infinito das análises. As religiões adormecem no indiferentismo. O mundo é navio que vaga sem timoneiro, sem um princípio unificador que o dirija; as forças construtivas pulverizam-se em pormenores de interesses particulares e de pequenos jogos egoísticos e, ao invés de coordenar-se num esforço orgânico, eliminam- se e anulam-se. A psicologia corrente contém o germe da desagregação.

    A alma humana, entre uma ciência utilitária de comodidades e uma religião de conveniência, arrasta-se terra a terra numa atmosfera de apatia, perdida, sem meta. O presumido dinamismo de vosso tempo é apenas uma corrida louca, toda exterior. Para onde correis, se ignorais os mais altos objetivos da vida? Para que serve correr e chegar, se o homem dilacera-se a si mesmo na pessoa de seu irmão e faz, tantas vezes, da Terra abençoada por Deus um inferno ridículo e macabro? Ou correis apenas para atordoar-vos, para não vos sentirdes a vós mesmos, para fugirdes da voz de vossa alma sem paz, porque está sem meta? Esta não é, antes de tudo, a fuga do silêncio e da solidão, em que a alma fala e indaga as grandes perguntas? É medo, medo de ficar sozinhos, de interrogar-vos, de sentir-vos sós diante dos últimos problemas que ninguém sabe resolver e que a alma, mesmo assim, quer saber; medo dos grandes problemas do silêncio, onde se ouvem gritar as culpas; medo do profundo, em que reside o dever, a verdade, Deus. Ao som desta voz solene, preferis a paralisia psicológica e o tormento da agonia da alma. A cada momento renovais o esforço de lançar-vos para fora de vós mesmos, no mundo, em busca do infinito, embora ele aí esteja, dentro de vós. Perdesteis a simplicidade dos grandes pensamentos que repousam. O infinito que está pleno deles transbordante de alimento substancial, parece-vos um báratro abissal, tenebroso, sobre o qual temeis debruçar-vos.

    O homem esqueceu, num dédalo de complicações, a beleza e a paz das grandes verdades primordiais. No entanto, o homem as conhecia há muito tempo, por comunicação direta, através da revelação, primeiro método intuitivo e sintético do saber humano, pai do método dedutivo. O princípio único, do qual se deduziam as verdades menores, descia do alto. Depois, à força de deduzir, o homem afastou-se de tal maneira da fonte primeira, que lhe negou até a existência. A dedução, uma vez perdida a ligação com a fonte, não teve mais sentido. O homem recaiu sobre a Terra, sem asas e sem vista; na Terra bateu sua cabeça para que o fenômeno lhe falasse, fornecesse-lhe, a ele, última poeira das centelhas caídas da luz única, com sua pequena luz, um átimo da verdade infinita e eterna. E a ciência, lamentavelmente, acumulou com paciência as mínimas luzes, acreditando que, com a pequena concha da razão humana, poderia esvaziar o oceano; acreditando que podia reconstruir o poder fulgurante do sol, somando e combinando vagas fosforescências. Mas as portas permaneceram fechadas e ainda continuam fechadas.

    Mas a lei de Deus prossegue no mesmo passo, acima das tempestades humanas e, nos grandes momentos, salva sozinha o equilíbrio. Hoje, como nos tempos antigos das primeiras revelações, segura de novo o homem pela mão e lhe mostra o caminho. Diante dos acontecimentos supremos, os extremos da história se tocam e a intuição reabre hoje, aos humildes, as portas da verdade. Nos grandes momentos só a mão de Deus vos guia a todos, e ela está hoje em ação, como no tempo das maiores criações. Felizes aqueles que sabem, rapidamente, pelas vias da fé, atingir a meta! O mais amplo saber é sempre coisa pobre diante do sincero e humilde ato de fé de uma alma pura. E a ciência racional, debatendo-se em vão para sair do claustro da racionalidade por ela mesma construído, agora a limita, porque toda a construção, como efeito, não pode superar em sua massa a potência dos meios empregados. A ciência racional, que hoje se debate impotente aos pés de um mistério cada vez mais vasto, encontra-se estupefata diante de uma revolução completa de métodos e de formas de pesquisa; vê-se permeada, sem ao menos percebê-lo - ela que acreditava guiar, era guiada pelas forças da evolução espiritual do mundo - por um quid novo para ela, super-racional, um fator que lhe escapa, porque supera seus meios lógicos, é mais sutil e, no entanto, mais poderoso que seus meios objetivos; a racionalidade, único deus do mundo durante um século, abate-se desanimada diante da explosão estranha e envolvente da alma humana que se modifica, e penetra por novos caminhos os fenômenos e intui diretamente o infinito como realidade imediata.

    O homem refará a grande descoberta de que um supremo pensamento desce do Alto. Na pesquisa fenomênica, a ciência, desalentada, verá entrar imponderável elemento novo, antes relegado ao hipotético e ao absurdo, ou seja, bondade e retidão, os valores morais que fazem a pureza e a potência do instrumento psíquico, que se comunica por sintonia e afinidade. Assim como, no templo, a música dos sons, ao saturar o ambiente de harmonias acústicas, prepara o espírito para a comunicação espiritual da oração, também a harmonia dos sentimentos e dos conceitos, atraindo as harmonias mais vastas, tornará o espírito apto às mais altas compreensões. A inspiração criadora substituirá, como meio normal, a lenta pesquisa racional. E a ciência verá sua racionalidade posta de lado como meio menor, já insuficiente diante dos novos problemas formidáveis, que só a visão direta pode enfrentar e resolver. Os componentes da super-humanidade - do cientista ao artista, do mártir ao herói, do gênio ao santo, até agora incompreendidos em sua função biológica de seres ancorados num nível mais alto que o da normalidade medíocre - dar-se-ão as mãos no mesmo trabalho, realizando sob mil aspectos e enfrentando de mil lados, no mesmo trabalho de iluminar e guiar o mundo. O super-homem, cidadão do tão esperado Reino de Deus, normalizará sua função coletiva, deixando à razão dos menores, dos retardados, dos últimos a chegar no caminho evolutivo, o trabalho mecânico da análise das grandes visões intuitivas, para fixá-las e demonstrá-las à míope normalidade. A maturação desta super-humanidade será a maior criação biológica de vossa evolução e representa a passagem para uma lei de vida superior, que vai da força à justiça, da violência à bondade, da ignorância à consciência, do egoísmo destruidor ao amor construtivo do Evangelho. Esta é a superação da fase animal e humana, a mais alta vivida em vosso planeta, em que culmina o esforço preparado nos milhões de milênios, em que a evolução ascende da matéria à energia, à vida, ao espírito, toca os mais altos cimos, de onde vos lançareis ao encontro do infinito.