udo isto não
constitui simples afirmação. Enquanto lentamente construo em vossas mentes este edifício conceptual,
gradualmente o transmito ao mundo, para que a ele corresponda uma compreensão gradativa; na atmosfera das
forças do planeta, imperceptíveis a vós, amadurecem as causas dos eventos decisivos e tremendos;
determinam-se movimentos; canalizam-se correntes dinâmicas; acentuam-se atrações e repulsões, donde depois
se exteriorizarão os fenômenos, desde as convulsões físicas às morais, da morte à vida de povos e
civilizações. Mesmo exteriormente, diante dos olhos do historiador e do pensador, apresenta-se o mundo
maduro para renovações profundas.
No entanto, poucas são as mentes, que dirigem o mundo nos
campos mais diversos, que têm o
pressentimento da iminência dos tempos novos. A ciência, mais esmagada que sustentada pela imensa massa
de material de observação que acumulou, está sempre aguardando sínteses, perdida no dédalo infinito das
análises. As religiões adormecem no indiferentismo. O mundo é navio que vaga sem timoneiro, sem um
princípio unificador que o dirija; as forças construtivas pulverizam-se em pormenores de interesses
particulares e de pequenos jogos egoísticos e, ao invés de coordenar-se num esforço orgânico, eliminam-
se e anulam-se. A psicologia corrente contém o germe da desagregação.
A alma humana, entre uma ciência utilitária de comodidades e
uma religião de conveniência, arrasta-se
terra a terra numa atmosfera de apatia, perdida, sem meta. O presumido dinamismo de vosso tempo é
apenas uma corrida louca, toda exterior. Para onde correis, se ignorais os mais altos objetivos da
vida? Para que serve correr e chegar, se o homem dilacera-se a si mesmo na pessoa de seu irmão e faz,
tantas vezes, da Terra abençoada por Deus um inferno ridículo e macabro? Ou correis apenas para
atordoar-vos, para não vos sentirdes a vós mesmos, para fugirdes da voz de vossa alma sem paz, porque
está sem meta? Esta não é, antes de tudo, a fuga do silêncio e da solidão, em que a alma fala e indaga
as grandes perguntas? É medo, medo de ficar sozinhos, de interrogar-vos, de sentir-vos sós diante dos
últimos problemas que ninguém sabe resolver e que a alma, mesmo assim, quer saber; medo dos grandes
problemas do silêncio, onde se ouvem gritar as culpas; medo do profundo, em que reside o dever, a
verdade, Deus. Ao som desta voz solene, preferis a paralisia psicológica e o tormento da agonia da
alma. A cada momento renovais o esforço de lançar-vos para fora de vós mesmos, no mundo, em busca do
infinito, embora ele aí esteja, dentro de vós. Perdesteis a simplicidade dos grandes pensamentos que
repousam. O infinito que está pleno deles transbordante de alimento substancial, parece-vos um báratro
abissal, tenebroso, sobre o qual temeis debruçar-vos.
O homem esqueceu, num dédalo de complicações, a beleza e a paz
das grandes verdades primordiais. No
entanto, o homem as conhecia há muito tempo, por comunicação direta, através da revelação, primeiro
método intuitivo e sintético do saber humano, pai do método dedutivo. O princípio único, do qual se
deduziam as verdades menores, descia do alto. Depois, à força de deduzir, o homem afastou-se de tal
maneira da fonte primeira, que lhe negou até a existência. A dedução, uma vez perdida a ligação com a
fonte, não teve mais sentido. O homem recaiu sobre a Terra, sem asas e sem vista; na Terra bateu sua
cabeça para que o fenômeno lhe falasse, fornecesse-lhe, a ele, última poeira das centelhas caídas da
luz única, com sua pequena luz, um átimo da verdade infinita e eterna. E a ciência, lamentavelmente,
acumulou com paciência as mínimas luzes, acreditando que, com a pequena concha da razão humana, poderia
esvaziar o oceano; acreditando que podia reconstruir o poder fulgurante do sol, somando e combinando
vagas fosforescências. Mas as portas permaneceram fechadas e ainda continuam fechadas.
Mas a lei de Deus prossegue no mesmo passo, acima das
tempestades humanas e, nos grandes momentos,
salva sozinha o equilíbrio. Hoje, como nos tempos antigos das primeiras revelações, segura de novo o
homem pela mão e lhe mostra o caminho. Diante dos acontecimentos supremos, os extremos da história se
tocam e a intuição reabre hoje, aos humildes, as portas da verdade. Nos grandes momentos só a mão de
Deus vos guia a todos, e ela está hoje em ação, como no tempo das maiores criações. Felizes aqueles que
sabem, rapidamente, pelas vias da fé, atingir a meta! O mais amplo saber é sempre coisa pobre diante do
sincero e humilde ato de fé de uma alma pura. E a ciência racional, debatendo-se em vão para sair do
claustro da racionalidade por ela mesma construído, agora a limita, porque toda a construção, como
efeito, não pode superar em sua massa a potência dos meios empregados. A ciência racional, que hoje se
debate impotente aos pés de um mistério cada vez mais vasto, encontra-se estupefata diante de uma
revolução completa de métodos e de formas de pesquisa; vê-se permeada, sem ao menos percebê-lo - ela
que acreditava guiar, era guiada pelas forças da evolução espiritual do mundo - por um quid novo para
ela, super-racional, um fator que lhe escapa, porque supera seus meios lógicos, é mais sutil e, no
entanto, mais poderoso que seus meios objetivos; a racionalidade, único deus do mundo durante um
século, abate-se desanimada diante da explosão estranha e envolvente da alma humana que se modifica, e
penetra por novos caminhos os fenômenos e intui diretamente o infinito como realidade imediata.
O homem refará a grande descoberta de que um supremo
pensamento desce do Alto. Na pesquisa fenomênica,
a ciência, desalentada, verá entrar imponderável elemento novo, antes relegado ao hipotético e ao
absurdo, ou seja, bondade e retidão, os valores morais que fazem a pureza e a potência do instrumento
psíquico, que se comunica por sintonia e afinidade. Assim como, no templo, a música dos sons, ao
saturar o ambiente de harmonias acústicas, prepara o espírito para a comunicação espiritual da oração,
também a harmonia dos sentimentos e dos conceitos, atraindo as harmonias mais vastas, tornará o
espírito apto às mais altas compreensões. A inspiração criadora substituirá, como meio normal, a lenta
pesquisa racional. E a ciência verá sua racionalidade posta de lado como meio menor, já insuficiente
diante dos novos problemas formidáveis, que só a visão direta pode enfrentar e resolver. Os componentes
da super-humanidade - do cientista ao artista, do mártir ao herói, do gênio ao santo, até agora
incompreendidos em sua função biológica de seres ancorados num nível mais alto que o da normalidade
medíocre - dar-se-ão as mãos no mesmo trabalho, realizando sob mil aspectos e enfrentando de mil lados,
no mesmo trabalho de iluminar e guiar o mundo. O super-homem, cidadão do tão esperado Reino de Deus,
normalizará sua função coletiva, deixando à razão dos menores, dos retardados, dos últimos a chegar no
caminho evolutivo, o trabalho mecânico da análise das grandes visões intuitivas, para fixá-las e
demonstrá-las à míope normalidade. A maturação desta super-humanidade será a maior criação biológica de
vossa evolução e representa a passagem para uma lei de vida superior, que vai da força à justiça, da
violência à bondade, da ignorância à consciência, do egoísmo destruidor ao amor construtivo do
Evangelho. Esta é a superação da fase animal e humana, a mais alta vivida em vosso planeta, em que
culmina o esforço preparado nos milhões de milênios, em que a evolução ascende da matéria à energia, à
vida, ao espírito, toca os mais altos cimos, de onde vos lançareis ao encontro do infinito.