Como vedes, minha meta é bem mais alta
que o mero
conhecimento ou a solução de problemas com intuito intelectual e, muito menos, utilitário. Esta minha
palavra não é mera afirmação cultural, é apenas um meio. Não venho para alardear sabedoria, mas para
lançar um movimento mundial de renovação substancial de todos os princípios que hoje regem vossa vida e
vossa psicologia.
Não mais guerra, mas paz; não mais antagonismos e egoísmos
individuais e coletivos, destruidores de trabalho e de energias, mas colaboração; não mais ódios, mas
amor. Cumpra cada um o seu dever e a necessidade de luta cairá por si. Só a retidão produz equilíbrio
estável nas construções humanas, ao passo que a mentira representa um fundamental desequilíbrio,
irremediável vício de origem que destrói tudo. A justiça suprimirá o gigantesco esforço da luta, que
sobre vós pesa como uma condenação. O amor, que só existe no mundo em oásis fechados, isolado no
deserto do egoísmo, precisa sair do âmbito fechado desses círculos e invadir todas as formas de
manifestação humana. Muitas vezes, exatamente onde o homem trabalha, falta esse cimento que une, essa
potência de coesão que amortece os choques e ajuda o esforço, impedindo que tanto trabalho se perca em
agressividades demolidoras. Num homem superiormente consciente, os fins da seleção do melhor podem ser
conseguidos, de preferência aos caminhos da luta desapiedada, pelos caminhos da compreensão. Existe uma
nova virilidade mais poderosa para o homem: a que supera a fraqueza da mentira, a maldade do egoísmo, a
baixeza da luta agressiva.
A inversão de vossas atuais leis biológicas e sociais é
completa. A antítese é fundamental. O pressuposto da má-fé e o sistema da desconfiança invadem, hoje, a
substância de todos os vossos atos. Esse princípio tem de ser derrubado. O sistema das leis formais e
exteriores já deu todo o seu rendimento. É necessário passar ao sistema das leis substanciais
interiores, que não funcionam por coação e repressão a posteriori, mas por convicção e prevenção; que
agem, não depois da ação, tarde demais no campo das consequências e dos fatos, mas antes na raiz da
ação, no campo das causas e das motivações. As leis substanciais interiores vão escritas nas almas, com
a educação que plasma o homem.
Em vosso século a luta não é mais de corpos, mas de nervos e
de inteligência. A luta também evolui e já atingiu formas mais espirituais. Os tempos são maduros, pelo
desenvolvimento dos meios científicos e pelo desenvolvimento das inteligências. Profetas e pensadores
foram obrigados, muitas vezes, a não dizer ou a velar a verdade diante da multidão, sempre pronta para
adulterar tudo, para reduzir tudo aos termos da própria psicologia, impondo esta como norma coletiva.
Mas, o mundo hoje, em sua racionalidade, impôs-se como dever o aceitar tudo o que se demonstra lógico e
racional. Colocou-se na posição de quem pode e deve compreender. Por outro lado, os meios ofensivos
alcançaram uma potência jamais verificada na história e não se podem guiar mais pela psicologia feroz e
pueril do passado. A humanidade está na encruzilhada, e não há mais possibilidade de fugas: ou
compreender, ou exterminar-se. Este não constitui um problema abstrato e teórico, mas social,
individual e concreto; problema de vida ou de morte.
Minha meta é a compreensão de uma lei mais alta, lei de amor e
de colaboração, que a todos una num grande organismo, animado por nova consciência universal unitária.
Realmente não se trata de mais uma nova sabedoria, pois repito a Boa Nova, que já foi ditada há
milênios aos homens de boa vontade; torno a repeti-la toda, idêntica na substância, todavia mais
ampliada, no mais vasto gesto de vossa mente mais amadurecida, para que finalmente vos agite, inflame-
vos e vos salve. Eis nossa meta: a palavra eterna, o alimento que sacia, a solução de todos os
problemas, a síntese máxima.
Chegarei ao Evangelho de Cristo pelos caminhos da ciência, ou
seja, chegarei ao Evangelho pelos caminhos do materialismo, a fim de fundir os dois pretensos inimigos:
a ciência e a fé. Isto para mostrar-vos que não existe caminho que não leve ao Evangelho, para impô-lo
a todos os seres racionais, tornando-o obrigatório, como o é qualquer processo lógico. Ele é a nova lei
super-humana, a superação biológica imposta pela evolução da humanidade neste momento histórico, quando
está para surgir a nova civilização do terceiro milênio. Chegou a hora em que estes conceitos,
esquecidos e não compreendidos, pregados mas não vividos, tenham que explodir por potência própria, no
momento decisivo da vida do mundo, fora do âmbito fechado das religiões, na vida em que o interesse
luta, a dor sangra, a paixão transtorna.
O evangelho não é um absurdo psicológico, social, científico.
Não é negação, mas afirmação de humanidade mais elevada, no nível divino.
A coisa simples e tremenda que o homem de hoje tem de fazer,
na encruzilhada dos milênios, é colocar a alma nua diante de Deus e examinar a si mesmo com grande
sinceridade e coragem. Se vós, almas sedentas de ação exterior, de movimento e de sensação, não sabeis
ouvir no silêncio a voz das grandes coisas que falam de Deus, e quereis explodir desta íntima vida do
espírito para vossa exterior realidade humana, e agir, gritar, conquistar e vencer, ainda que com o
braço e a ação, pois bem, eu vos digo:
"Levantai-vos e caminhai para vosso inimigo mais acerbo, para
aquele que mais vos traiu e maltratou e, em nome de Deus, perdoai-lhe e abraçai-o; ide àquele que mais
vos roubou e perdoai-lhe a dívida e, mais ainda, dai-lhe tudo o que possuís; chegai àquele que vos
insultou e dizei-lhe, em nome de Deus: eu te amo como a mim mesmo, porque és meu irmão".
Dir-me-eis: "Isto é absurdo, é loucura, é ruinoso. É
impossível, na Terra, esta deposição de armas!"
Eu vos digo: "Sereis homens novos somente quando
usardes
métodos novos. De outra forma jamais saireis do ciclo das velhas condenações, que punirão
eternamente a
sociedade por suas próprias culpas. Pela mesma razão que houve uma vítima na Cruz, hoje a humanidade
tem de saber oferecer-se a si mesma, para esta sua nova, profunda e definitiva redenção. Sem holocausto
jamais haverá redenção. Aí, nesse mundo louco que se arma, com perspectivas cada vez mais desastrosas
contra si mesmo, com meios já tão tremendos em vista dos hodiernos progressos científicos, que uma
conflagração não deixará homem nem civilização salvos sobre a Terra, aí, onde o homem age assim, só
existe uma defesa extrema: o abandono de todas as armas". Mais tarde veremos como.
Dizeis-me: "Temos o dever da vida".
Eu vos digo: "Quando, com espírito puro, proferis: Em nome
de
Deus, a terra estremece porque as forças do universo movimentam-se. Quando sois verdadeiramente
justos
e quando, inocentes, sois atingidos pela violência, que usurpa a vitória de um momento, o infinito
precipita-se a vossos pés para gritar-vos vitória e elevar-vos para o alto como triunfadores, na
eternidade, fora do ínfimo átimo do tempo em que o inimigo venceu.
Eis o que peço à alma do mundo. Sua alma coletiva, una e livre
como uma só alma, pode escolher; de sua escolha dependerá o futuro. Um incêndio tem de alastrar-se, tão
forte que derreta todo o gelo de ódio e de egoísmo que vos divide, vos torna famintos, vos atormenta. O
mundo, de um hemisfério ao outro, escuta-me e minha voz conclama todos os homens de boa vontade. O novo
reino é o esperado Reino de Deus, uma construção imensa que deve realizar-se não nas formas humanas,
mas no coração dos homens; criação antes de tudo interior, que se opera ao tornar-vos melhores.
Se não
compreenderdes, a marcha do progresso do mundo demorará milênios.
Este repouso que desejei no meio da jornada, esta mudança de
argumento e de estilo, depois da fria análise científica, esta explosão de paixão é para que eu seja
compreendido e "sentido" por todos. Desejei esta pausa para que este Tratado, complexo para os simples,
supérfluo para os puros de espírito que já compreenderam, recorde à ciência que ela não nasceu somente
para mostrar-se orgulhosamente, mas que tem a responsabilidade moral de guiar as consciências; recorde
à ciência que dela falo e a supero com uma finalidade bem mais alta que a do simples conhecimento e
utilidade que a impele. Uma finalidade que a ciência ignorou muitas vezes: a ascensão do homem para os
mais altos destinos.
10 - V. o
volume A Nova Civilização do Terceiro Milênio. (42.1)