ais uma
pausa em nossa longa caminhada; repouso para a áspera tensão de vosso pensamento e orientação no vasto mar
do conhecimento que vos exponho, de maneira que vossa meta esteja sempre presente.
Não digais: felizes os que podem viver sem saber e sem
perguntar. Dizei antes: felizes aqueles cujo espírito jamais se sacia de conhecimento e de bem, que
lutam e sofrem por uma conquista cada vez mais alta. Lamentai os satisfeitos da vida, os inertes, os
apagados; o tempo deles é apenas ritmo de vida física e transcorre sem criações. Eles recusam o esforço
destas elevadas compreensões que vos ofereço e não existe luz no amanhã para o espírito que adormece.
Meu olhar novamente pousa em vosso mundo, saturado de
inconsciência e de dor, de erudição e de
agnosticismos, de luta e de loucura: turbilhões de paixões, provas tremendas, tormentos cobertos de
sorrisos. Grande e trágico é o quadro de vossos destinos, porque ouço aquele grito desesperado que
prorrompe da alma e que escondeis, porque, no fundo do riso dos gozadores, ouço o respiro dos
agonizantes em desespero.
Alma, alma, centelha divina, que nenhuma de vossas loucuras
jamais poderá destruir e está sempre pronta a ressurgir cada vez mais bela de cada dor! Potência que
jamais se cansa de ser e de criar, só tu verdadeiramente vives. Nenhuma conquista de pensamento,
nenhuma afirmação humana poderá jamais extinguir tua sede de infinito. Vossa ciência, muitas vezes mera
presunção de palavras eruditas, e vossa civilização exterior e mecânica esqueceram que isto é o centro
da vida, a causa primária dos fenômenos mais próximos de vós e intrínsecos. A alma tem suas
necessidades e seus direitos. Não se pode matá-la, não se pode atordoá-la para fazê-la calar. Não ouvis
seu grito desesperado, que se ergue entre vossas vicissitudes individuais e sociais? Sua vida,
negligenciada, pesa em vosso destino e o arruina. Vossa alma sofre, e sequer sabeis encontrá-la
novamente; certos abismos vos desanimam e as águas fecham-se tranqüilamente num sorriso aparente por
cima do báratro tremendo. Que acontecerá lá embaixo, no mistério das causas profundas, que desejaríeis
ignorar e afastar da consciência? Alguma coisa palpita e treme nas trevas profundas. Cada alma esconde
dentro de si uma sombra secreta que não ousa olhar, mas que jamais poderá esconder de si mesma: uma
sombra sempre pronta a ressurgir, logo que uma hora de paz diminua a tensão da corrida louca com que
quereis distrair-vos. A alma não se sacia, embalando o corpo em comodidades supérfluas e dispendiosas,
acariciando os olhos com um brilho apenas externo. Na satisfação dos sentidos, alguma coisa sofre
igualmente no íntimo e agoniza numa angústia profunda. Resta um vazio dentro de vós, em que apenas uma
voz, perdida e desconsolada, eleva-se inquieta para perguntar: e depois?
Então vos falo. Falo num tom de paixão, para as almas prontas
e ardentes; em tom de sabedoria para quem é mais apto a responder às vibrações intelectivas. A todos
falo, porque quero sacudir e unir todos em uma fé mais alta, numa verdade mais profunda. Aqui,
dirigindo-me à mente, convoco todos à colheita: químicos e filósofos, teólogos e médicos, astrônomos e
matemáticos, juristas e sociólogos, economistas e pensadores, os sábios em todos os campos do
cognoscível humano, a cada um falo sua própria linguagem; convoco à colheita as mentes mais elevadas,
que dirigem o pensamento humano, para compreenderem esta Síntese e saberem, finalmente alcançar,
com
ela, um pensamento unitário que resolva tudo e o diga à mente e ao coração, para os supremos fins da
vida.
Esta pausa é para dizer-vos que, no fundo deste árido tratado
científico, arde uma paixão imensa de bem; esta paixão é a centelha que anima toda essa ciência que vos
exponho. Quem não sentir essa centelha, que se comunica diretamente de alma para alma, e lançar a este
escrito um olhar simplesmente curioso, ou ávido de aprender somente, não ficará nutrido.
A pena que escreve e segue meu pensamento, gostaria de
precipitar-se para as conclusões. Mas o caminho tem de ser percorrido todo; o edifício é vasto e o
trabalho tem de ser executado por inteiro, para que a construção seja sólida e possa resistir aos
golpes do tempo e dos céticos. Nesta pausa que vos concedo, deixo a alegria das antecipações, o
pressentimento das conclusões e o repouso da visão de conjunto. O próprio tratado assim se valoriza,
ilumina-se com uma luz mais alta que a pura erudição ou os fins utilitários; ilumina-se com um
significado que, muitas vezes, a ciência não possui. Só com essa nobreza de objetivos e com essa pureza
de intenções, se tem o direito de olhar de frente os maiores mistérios do ser e de enfrentar os
problemas que dizem respeito à vida e à morte.