A Grande Síntese

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A GRANDE SÍNTESE

Autor: Pietro Ubaldi

Capítulo 40

ASPECTOS MENORES DA LEI

    Por esses princípios de trindade e dualidade, o universo é um trinômio e um binômio ao mesmo tempo. Esses, como vimos, encontram unidade no monismo de suas equivalências. O todo é concomitantemente, unidade, dualidade e trindade.

    Ao lado desses aspectos principais da Lei, temos outros menores, em que a unidade ainda se subdivide e se diferencia. As faces do poliedro são infinitas, a Lei é verdadeiramente inexaurível. Pensai que código deve guiar o funcionamento de um universo tão vasto, tão complexo, regulado com tanta perfeição.

    Vimos o princípio das unidades coletivas, ao qual corresponde, no aspecto dinâmico, o dos ciclos múltiplos e, no aspecto conceptual, o das leis múltiplas: organismo de formas, organismos de forças, organismo de leis. Também em seu aspecto conceptual, o universo é um organismo. Como vimos que a Lei se decompõe em princípios menores, aqui ela se recompõe em maiores. Princípio de divisibilidade e recomposição, que reencontrais com evidência na possibilidade universal de análise e síntese, desde a química, até a filosofia. Princípio de reunificação, no qual se equilibra o princípio da subdivisão.

    Um princípio que guia a forma, na ascensão evolutiva, oposto ao das unidades coletivas e da recomposição, é o da diferenciação, pelo qual a evolução ocorre passando do indistinto ao distinto, do genérico ao específico, ao particular, do homogêneo ao diferenciado. Essa tendência à multiplicação dos tipos, à subdivisão da unidade, encontra seu contra-impulso compensador, com o qual se reconstrói o equilíbrio, na tendência à reorganização e reunificação, provocada pelo princípio das unidades coletivas. Essa reorganização implica uma progressão constante em complexidade. Essas leis são forças-tendências que constituem como que um instinto, uma necessidade do devenir e de ser, segundo esse mesmo princípio. Muitas vezes elas se acasalam pelos contrários, balanceando-se assim em perfeito equilíbrio.

    Outro princípio, que a lei de evolução implica, é o da relatividade. Já que só o relativo pode evoluir, a evolução só é possível num mundo sucessivo finito, progressivamente perfectível, como é o vosso.

    O princípio do mínimo esforço regula a economia da evolução, evitando dispêndio inútil de forças.

    O princípio de causalidade garante a concatenação no desenvolvimento fenomênico, já que o efeito deriva da causa (antecedente e conseqüente), ele liga em rígida conexão os momentos sucessivos do devenir. Essa lei assinala o ritmo de vosso destino.

    Paralelo ao princípio de causalidade está o da ação e reação. Observai esse dualismo ativo-reativo nos fenômenos sociais, que não progridem em linha reta, mas por caminhos tortuosos de impulsos e contra- impulsos, recordando-vos o percurso dos rios. Não há dúvida de que eles avançam em correnteza que oscila entre as duas margens do bem e do mal. Cada posição, cada conquista, cada afirmação é levada até as últimas conseqüências, até o abuso; o homem, totalmente inconsciente, não sabe parar senão quando a lei de reação levanta um dique. Mas também a reação chega depois até o abuso, até onde a própria lei constrói novo contradique e repele o impulso. O homem, absolutamente ignaro e passivo diante da Lei, é totalmente incompetente para dirigir-se a si mesmo. Acreditais que sejam os governos e os parlamentos que guiam os povos? Não. Eles constituem apenas um expoente. Mesmo nos períodos de anarquia, a história caminha por si, sabiamente guiadas pelas forças ocultas contidas na Lei. O homem é sempre "constrangido", para sua salvação, num ritmo que ele não sabe compreender e, por isso, chama de fatalidade. Por exemplo: a história da França desde Luís XIV até a Revolução e Napoleão, abuso não se corrige senão com outro abuso. Dissesteis que a riqueza é um furto, mas somente para roubá-la; sois virtuosos apenas para perseguir os outros em nome da virtude. Assim recaís sempre sob o peso das conseqüências de vossas ações e jamais quebrais o ciclo dos erros. De abuso em abuso, move-se a correnteza e homem algum existe sem culpa; mesmo onde acredita dominar e vencer é apenas um autômato no seio da Lei que, a cada volta, lhe diz: basta! Esse o perigo que ameaça vossa civilização mecânica. Ai de vós, se abusardes de vosso poder, abandonando-vos aos instintos das épocas passadas. Se, dispondo de tais meios de destruição, não renovardes vossa psicologia, estais perdidos.

    Muitas vezes no organismo das leis, algumas se tocam, completam-se e uma continua a outra, mutuamente. Por isso, do princípio de causalidade passa-se ao de continuidade, pelo qual a derivação conseqüente está ainda mais estreitamente ligada à sua causa, por continuidade: "natura nom facit saltus".

    Contíguo é o princípio de analogia ou de afinidade, que já notamos e aplicamos na estequiogênese, pelo qual, todos os princípios se assemelham no fundo comum do monismo ou unidade de princípio universal; também as coisas têm caracteres em comum, que permitem o reagrupamento em unidades coletivas. Só são possíveis contatos, permutas e fusão entre afins e, neste caso, a afinidade corresponde ao princípio do menor esforço. Vedes um exemplo na formação de vosso pensamento: o desenvolvimento conceptual de menor resistência é o que procede por associação de idéias. O pensamento é vibração e transmite-se por onda. Esta excita apenas as vibrações das ondas afins. O que desperta uma idéia em vossa consciência ou memória é precisamente a presença da onda da idéia afim. Quando não conseguis recordar, a idéia está latente, potencial em vossa consciência: é simples capacidade, disposição para responder, tal como um instrumento musical que ninguém toca. Nesse estado, a idéia está em repouso, não vibra, não a sentis, está fora daquele estado de vibração a que chamais consciência. Uma vibração afim, por tipo e comprimento de onda, desperta-a espontaneamente, ao passo que uma idéia diferente e longínqua, embora lógica e sistematicamente próxima, não poderá jamais ressuscitá-la.

    O princípio geral de ordem distingue-se, tanto quanto o princípio de dualidade e, torna-se lei de simetria, lei de compensação, lei de reciprocidade e, quando em movimento, torna-se ritmo. O universo funciona todo por meio de ritmos, desde os fenômenos astronômicos aos psíquicos, dos fenômenos químicos aos sociais. Rítmico é o devenir, periódico é o transformismo em todos os campos e a evolução que distingue as formas é diferenciação também de ritmos. O princípio de ordem é princípio de equilíbrio. Vede como no universo não só tudo está em seu lugar, mas se equilibra espontaneamente. Observai como num mundo tão complexo, existe um lugar para vosso esforço, proporcional às vossas forças. O acaso não pode produzir esses equilíbrios. E é essa proporcionalidade que, se não vos garante o ócio, garante- vos a vida; se a vós impõe um esforço adequado, assegura-vos o indispensável. As posições, belas ou feias, que ocupais, não são eternas, pois, também a duração do esforço e do repouso é medida e proporcionada. Nessas leis encontrareis a razão de tantos fenômenos que vos tocam tão de perto.

    Outros princípios, como o da indestrutibilidade da Substância e do transformismo universal estão implicitamente contidos na lei de evolução e são imediata consequência dela - já falamos disso - como também o são o princípio de auto-elaboração, o princípio do desenvolvimento cíclico, o princípio da extrinsecação do latente, segundo a mecânica da semente e do fruto, o princípio da inércia que garante sua estabilidade (o misoneísmo do fenômeno, resistência da trajetória a qualquer desvio), o princípio de finalidade que lhe estabelece a meta. Outros representam aspectos secundários da grande lei, e cada palavra com que a descrevemos pode constituir um seu princípio particular. O princípio único pulveriza-se nos pormenores, nas condições mais diversas de atuação, em todas as combinações possíveis. Poder-se-ia acrescentar um princípio de adaptação e de elasticidade, pelo qual o princípio sabe modelar-se em infinitos matizes nos casos particulares; e um princípio de difusão e repercussão, pelo qual cada vibração, assim como cada mudança, encontra um ouvido que a escuta, um eco que a repete, uma resposta que a completa. Até o infinito, a série dos princípios é apenas a descrição dos infinitos momentos e aspectos do universo. Esses princípios surgirão espontaneamente à luz, à proporção que continuarmos.

    A finalidade desta exposição de princípios não é apenas descritiva: possui um significado mais profundo, o de traçar, para vós, as leis dos fenômenos. Fixado o princípio, estabelecido que em muitos casos ele corresponde à realidade, não somente poderá ele ser estendido, pela lei de analogia, a todos os fenômenos, mas mesmo quando só pudermos ver um segmento de um fenômeno em seu transformismo, podereis também completá-lo, defini-lo e descrevê-lo nos trechos em que escapa à observação direta. Individuando e agrupando os fenômenos em leis e princípios, ser-vos-á muito mais fácil segui-los em toda a sua extensão e assim escalar até o desconhecido. Por exemplo, se o princípio de dualidade vos diz que cada unidade é um par de partes inversas e complementares, podeis facilmente deduzir daí - se esse princípio é encontrado em toda parte - que vosso mundo, visível e sensório, pode ser completado, em sua segunda metade, por um inverso mundo invisível, mesmo que este escape a vossos sentidos. Se o princípio da indestrutibilidade da Substância e do transformismo universal vos afirma que nada se cria e nada se destrói em sentido absoluto, mas tudo se transforma no relativo, isto quer dizer que a criação é condição de destruição, e destruição é condição de criação; que no binômio, os dois momentos são inseparáveis; que nenhum dos dois pode ser isolado do seu inverso, que o completa.

    Disto derivam, com férrea concatenação lógica, estas conseqüências: o que nasce tem que morrer, o que morre tem de renascer; é absurda, em qualquer caso, uma criação ex-novo, mesmo na gênese da personalidade humana, pois, esse fato derrubaria todo o ritmo semelhante ao que verificais nos outros fenômenos; se existe um ciclo de vida e de morte em todos os fenômenos, sem que estes confundam a linha do próprio devenir e percam a própria individualidade, é absurdo acreditar que o fenômeno máximo em vosso mundo, o da personalidade humana, deva fazer exceção nesse aspecto, confundir-se e desaparecer, só porque ele vos escapa no invisível; ou então, que tenha de tomar outra direção e não a do retorno cíclico, base da evolução. Não importa que não o toqueis diretamente com vossas mãos. Impõem-vos essas conclusões a lei de equilíbrio, o princípio de dualidade, de indestrutibilidade, de transformismo e de analogia, combinados em conjunto; eles existem como leis dos fenômenos e podem ser, objetivamente, controlados. As outras leis concorrem e convalidam, completando o conceito. Elas são um organismo e, tocando uma, tocais mais ou menos todas e as encontrais em toda a parte ligadas entre si. Assim, a lei de causalidade manifesta-se neste caso, regulando os efeitos de vossas ações e concatenando-as todas, naquela linha progressiva bem definida de transformismo, a que chamais vosso destino. Essa lei proporciona o efeito à causa, excluindo qualquer possibilidade de derivação daquilo que é eterno, por obra de uma quantidade temporal. Aí está implícita a lei de continuidade que, combinada com a precedente, garante-vos que é absurdo o aparecimento brusco de um fenômeno, sem uma longa maturação, não importando se esta é subterrânea ou invisível. Um tão complexo organismo de leis, como vo-las descrevi, arremessa imediatamente ao absurdo qualquer violação dos princípios, eliminando-a por impossibilidade lógica. Só há lugar para desordem no particular, mas é desordem aparente, condição de uma ordem maior. Na grande máquina do universo, nada pode escapar aos princípios que lhe regulam o perfeito funcionamento. Sem dúvida que a vós, mergulhados no mundo dos efeitos, no imediato contato com o relativo e o particular, o universo pode parecer confusão caótica e inextricável. No entanto, vede que tudo sobrevive, entre tanta destruição; que apesar de tantos movimentos em todas as direções e do diferenciar-se do princípio único em tantos momentos diferentes, o ritmo é reconstruído perfeito, graças aos três grandes princípios de unidade, de ordem e de equilíbrio. Ensinei-vos o caminho da síntese, e quanto mais alto subirdes, mais evidente sentireis o monismo no todo; e, no processo genético, a estrutura de um conceito; no universo, tudo se harmoniza num concerto imenso de todas as criaturas, de todas as atividades, de todos os princípios.

    Não vos isoleis em vosso pequeno eu, naquele separatismo que vos limita e vos aprisiona. Compreendei essa unidade, lançai-vos nessa unidade, fundi-vos nessa unidade e vos tornareis imensos. Acima do estridor do contraste e da luta, ouvireis cantar um imenso ritmo majestoso. Assim como a força de gravitação liga indissoluvelmente as unidades físicas que giram nos espaços, assim a unidade de conceito diretivo liga todos os fenômenos numa indissolúvel solidariedade, tornando todos os seres irmãos entre si. Este universo, tão instável e, no entanto, sempre equilibrado; tão diferenciado no particular e, contudo, tão compacto no conjunto; tão rígido em seus princípios, mas elástico; tão resistente a qualquer desvio, mas sensibilíssimo, é uma grande harmonia e uma grande sinfonia, onde miríades de notas diferentes, desde o roncar do trovão até os cataclismos estelares, do turbilhão atômico ao canto da vida e da alma, harmonizam-se num único hino que diz: Deus.