á dissemos tanto, descrevendo a grande Lei, e ainda estamos na superfície. Na
Lei existe infinita profundidade, e quanto mais a mente penetra, mais encontra aspectos íntimos e
particulares. A Lei possui tantos volumes, tantos capítulos, tantos artigos, tantas palavras, tantas
letras; subdivide-se ao infinito no particular que mais vos golpeia, porque está mais próximo de vós,
naquele mundo de efeitos em que trabalhosamente procurais os princípios cada vez mais altos da síntese. No
tratado precedente contemplamos a Lei na grandiosidade de seu conjunto. Agora tentemos aproximar-nos do seu
aspecto de pormenor, observando-lhe mais de perto outro capítulo.
Em sua universalidade, o princípio do todo é: organismo
em seu
aspecto estático, evolução em seu aspecto dinâmico (devenir), monismo em seu aspecto
conceptual. Assim
poderia definir-se o universo: uma unidade orgânica em evolução. Este princípio unitário, orgânico,
evolutivo é a nota fundamental do monismo: a ordem. Esta é a característica dominante da Lei.
Esta
unidade de princípio diferencia-se em infinitos pormenores de princípios. Num primeiro momento,
é
trindade e dualidade.
Vimos como um dos princípios basilares da Lei, segundo a qual
as individuações reagrupam-se em unidades
coletivas, é o da "trindade" da Substância. Corresponde a um princípio de "equilíbrio"
superior
(ordem); é um sistema mais completo, em que o ser, que se diferencia por evolução e se distingue
dos
afins, reorganiza-se reencontrando a unidade. Vemos esse princípio em toda a parte e muitas vezes
tivemos que notar-lhe a presença. Trina é a Divindade em Sua lei; trifásica é a criação de qualquer
universo; tríplice é seu aspecto; tridimensional é o espaço e o seu sistema-consciência, e também os
demais sistemas dimensionais que os precedem e sucedem. Trino é o homem em seus princípios (isto é, um
corpo físico, um dinamismo que o move, uma inteligência que dirige e regula esse movimento); um
microcosmo feito à imagem e semelhança de Deus. O universo se individua por unidades trinas. Na série
das unidades coletivas, no processo de recomposição unitária com que o todo compensa e equilibra o
processo separatista de diferenciação evolutiva, o primeiro múltiplo verdadeiro de um é três; ao passo
que, como veremos, o submúltiplo de um está no dois, no sentido de que o uno é trino e constitui ao
mesmo tempo uma dupla metade. A humanidade sentiu, por intuição, este princípio da trindade e as
revelações o transmitiram a ela; e o encontrais não apenas nos fenômenos, mas em toda parte do
pensamento humano, em suas religiões, como que impresso em seu espírito. Encontrais esse princípio na
trindade egípcia de Osíris, Ísis, Horus; na trindade indiana de Brahma, Avidya, Mahat; na trindade
cristã de Pai, Filho, Espírito. Também o encontrais na consciência religiosa dos três estados da alma:
inferno, purgatório, paraíso, tão perfeitamente interpretado em seu equilíbrio na visão dantesca.
Vedes como os conceitos desta minha revelação não são novos no
mundo, como coincidem com os das
revelações precedentes, como aqui se completam e se amplificam. Apenas exponho à vossa maturidade
intelectual, com demonstração evidente e exatidão científica, o que não podia ser dito a mentes
primitivas senão sob formas de imagens e sob o véu do mistério. Dou-vos, desta forma, a fusão perfeita
de fé e ciência, de intuição e razão. Com a ciência demonstro e convalido o mistério; explico a nua
afirmação das revelações e com o conhecimento, imponho-vos o dever de uma vida mais elevada. Realizo a
fusão das duas metades do pensamento humano, até agora divididas e inimigas, entre o oriente sintético,
simbólico e sonhador, e o ocidente analítico e realista. Dou continuação à vossa ciência do último
século, não me opondo a ela, mas completando-a com o espiritualismo. Supero, sem destruí-la, essa
ciência que, por ter-se dirigido exclusivamente à matéria, só podia ser visão unilateral daquele
pequeno campo, ignorando e negando todo o resto. Não combato, mas a defino como fase superada, embora
necessária para alcançar o atual momento, em que ainda urge avançar para as mais profundas realidades
do espírito. Afirmo, em complementação e em continuação da precedente, abandonando os tristes e loucos
antagonismos de outrora, uma nova ciência que, de acordo com todas as crenças e todas as religiões,
leve-vos imensamente mais adiante.
Ao lado do princípio da trindade existe outro, que lembramos
ao ilustrar o conceito monístico do universo, para estudar a gênese e a constituição das formas
dinâmicas. É dado pela "lei da dualidade". Esta considera não o reordenar-se da unidade em
sistemas
coletivos superiores, mas sua íntima composição. Acima da unidade está o 3, em seu interior está o 2.
Isto no sentido de que a individuação não é jamais uma unidade simples, mas sempre um dualismo que, em
seu aspecto estático, divide a unidade em duas partes, do ser e do não-ser, em duas metades inversas e
complementares, contrárias e no entanto recíprocas, antagônicas mas necessárias. Em seu aspecto
dinâmico é um contraste entre dois impulsos opostos, que se movem e se balanceiam em um equilíbrio
instável, que continuamente se desloca e se renova. É um ciclo feito de semiciclos, que se perseguem e
se completam. É uma pulsação íntima, segundo a qual a evolução avança. Este dualismo é o binário, guia
e canaliza o movimento, sobre o qual avança a grande marcha do transformismo evolutivo; tanto que, sob
esse aspecto, concebe-se uma cosmogonia dualista. O monismo é dualista em seu íntimo devenir. Esse é
seu ritmo interior; essas as duas margens da estrada, ao longo da qual avança o fenômeno, não retilíneo
mas sempre oscilando sobre si mesmo. Dupla é a respiração de todo fenômeno: fase de inspiração e de
expiração; dupla sua pulsação: centrífuga e centrípeta; duplo seu movimento no avançar e retroceder. A
evolução é realizada por esta íntima oscilação e, por força dessa oscilação, progride. O devenir é
conseguido por esse íntimo contraste. O movimento ascensional é a resultante desse jogo de impulsos e
contra-impulsos entre duas margens invioláveis, de onde o movimento volta sempre sobre si mesmo. O
fenômeno caminha pelo escorar-se mutuamente dessas duas forças-metades que o determinam. O movimento
genético da evolução é constituído por essa íntima vibração, que transmuda o ser em outra forma.
Essa lei de dualidade a encontrais em toda parte. Cada unidade
é dupla e se move entre dois extremos, que são seus dois pólos. Os sinais + e - estão em toda parte e o
binômio reconstrói a unidade, que sempre vos aparece como um par: dia-noite, trabalho-repouso, branco-
negro, alto-baixo, esquerdo-direito, frente-atrás, direito-avesso, externo-interno, ativo-passivo,
belo-feio, bom-mau, grande-pequeno, Norte-Sul, macho-fêmea, ação-reação, atração-repulsão, condensação-
rarefação, criação-destruição, causa-efeito, liberdade-escravidão, riqueza-pobreza, saúde-doença,
amor-ódio, paz-guerra, conhecimento-ignorância, alegria-dor, paraíso-inferno, bem-mal, luz-trevas,
verdade-erro, análise-síntese, espírito-matéria, vida-morte, absoluto-relativo, princípio-fim. Cada
adjetivo, cada coisa possui seu contrário; cada modo de ser oscila entre duas qualidades opostas. Cada
unidade é uma balança entre esses dois extremos e equilibra-se neste seu íntimo princípio de
contradição. Os extremos tocam-se e se reúnem. As diferentes condições em que o princípio do dualismo
se move, produziram todas as formas e combinações possíveis, mas elas equivalem-se como princípio
único. A unidade é um par. O universo é monismo em seu conjunto, dualismo no particular: uma dualidade
que contém o princípio de contradição e de fusão ao mesmo tempo; que divide e reúne e, a cada forma do
ser, dá uma estrutura simétrica (princípio de simetria); dá ao desenvolvimento de cada fenômeno uma
perfeita correspondência de forças equilibradas. Também o dualismo corresponde a um princípio de
"equilíbrio", é o momento do princípio de "ordem", fundamental na Lei. O que define a unidade em sua
íntima estrutura é sua construção interior; o que garante a estabilidade do devenir fenomênico e torna
inviolável sua trajetória, não é apenas o princípio de inércia, mas esse desenvolvimento de forças
antitéticas que, no entanto, atraem-se e mantém aquele devenir unido e compacto. É um ir-e-vir, mas em
campo fechado, cujos limites não se pode ultrapassar. Se não fora o movimento equilibrado por esse
contínuo retorno sobre si mesmo, o universo se teria deslocado há muito, todo ele numa só direção e
teria perdido seu equilíbrio. Ao invés, a evolução é uma íntima auto-elaboração, um amadurecimento,
devido a um movimento que, regressando sobre seus passos e fechando-se sempre sobre si mesmo, como uma
respiração, muda a forma e externamente permanece imóvel, além dos limites dela; a cada movimento um
ritmo que muda o fenômeno, sem poder sair dele, invadindo e alterando os ritmos de outros fenômenos.
Este princípio de antítese e de simetria, que sem cessar divide e reúne, reúne e divide, podemos chamá-
lo monismo dualista e dualismo monista. O positivo vai + e volta -;
o negativo vai - e volta +, em
constante inversão de sinal e de valor. Combinai e multiplicai este princípio com o das unidades
coletivas e vereis como o universo está todo unido num indissolúvel abraço.
Agora, podeis compreender como o mais complexo princípio e
equilíbrio da trindade derivam desse simples princípio e equilíbrio da dualidade. Porque a ida e volta
dos dois sinais não é estéril: do novo encontro nasce o novo termo, o terceiro da trindade,
termo que
representa a continuação do fenômeno, e regressará, por sua vez, ao termo contrário, a fim de gerar
novo termo, assim por diante. Aqui reencontrais, nesses sinais opostos, o conceito das subidas e
descidas da linha quebrada do diagrama da fig. 2. As primeiras, positivas; as segundas, negativas.
Representam, diante da trajetória maior assinalada pela faixa ascensional, limitada pelos vértices e
mínimos das criações sucessivas, o ritmo interior do fenômeno. Desse ritmo, nasce sempre novo termo;
nova fase completa-se a cada oscilação positivo-negativa, da qual toda criação se compõe; a fase máxima
torna-se, depois, fase média, finalmente, fase mínima, isto é, o germe ou base do fenômeno: não mais
ponto de chegada, mas ponto de partida. Assim, no diagrama da fig. 4, os períodos positivos de
desenvolvimento da espiral alternam-se com períodos negativos de envolvimento; desta sua oscilação
interna, positivo-negativa, evolutiva-involutiva, forma-se e progride a maior espiral da evolução do
fenômeno. Assim, por exemplo, partindo da ação e da experimentação (fase positiva de atividade), até a
assimilação de valores (fase negativa de passividade), emerge aquela criação de qualidades e
capacidades, da qual nasce, no campo da vida, e se desenvolve, a consciência. Por isso, a dor alterna-
se com a alegria mas é condição, como elemento de experiência e de progresso, de uma alegria cada vez
maior; a morte alterna-se com a vida, como condição de desenvolvimento da consciência e, com isso, de
uma vida mais alta; também as revelações das religiões instruem o homem, mas o homem as analisa e
assimila, amadurecendo para receber outras cada vez mais completas. Assim, por análise e síntese,
síntese e análise, progride a ciência. Fé e ciência, intuição e razão, oriente e ocidente, completam-
se, como termos complementares, como duas metades do pensamento humano. Vedes como sempre se completam
os conceitos precedentes, ao voltarmos a eles. Vedes como no princípio da dualidade estão o segredo e o
mecanismo íntimo das novas criações.
Nisto encontrais uma razão mais profunda da fase de
involução, que representa a dissolução dos
universos. Este é um processo de neutralização da fase positiva da criação, um processo de degradação
do fenômeno, uma decomposição do organismo em seus centros menores. Mas não é destruição, porque essas
unidades menores são logo retomadas em círculo e reorganizadas em novas unidades. O regresso involutivo
expresso pelo envolvimento da espiral, ou descida da linha quebrada, representa o período de inércia,
negativo, que se contrapõe ao período de atividade, positivo, da criação. Na fase de inércia o fenômeno
fecha-se em si mesmo, passivo; seu dinamismo detém-se, o esforço criativo diminui; a tensão da subida e
do transformismo, cansado, recai sobre si mesmo. Cada fenômeno possui seu cansaço, exaustão do impulso
concentrado no germe, em que o período precedente de atividade se inverte. O regresso ao ponto de
partida é indispensável: o efeito reúne-se à causa, a forma ao seu germe. Atividade e inércia são o
duplo ritmo de períodos inversos, por meio do qual se desenvolve o fenômeno. Assim, o fenômeno oscila
da semente ao fruto, do fruto à semente, que são dois extremos, positivo e negativo, de seu devenir. O
+ e o - são apenas posições do fenômeno. A semente (+
) é o estado de latência que contém tudo
potencialmente; o fruto (-) é o resultado de exaustão do ciclo, a posição em que
ocorreu a
manifestação; o princípio contido no germe exteriorizou-se na definição da forma do ser.
Alguns atribuíram valor de lei máxima a essa dualidade e nela
viram o princípio genético dos fenômenos.
E, generalizando o conceito de acasalamento, viram no choque das massas siderais o sistema "normal" de
gênese estelar. Não é assim. Na verdade, os sistemas planetários são constituídos por um centro
positivo, o sol, em redor do qual giram os planetas, de sinal negativo; no átomo, o núcleo é positivo,
em torno dele giram os elétrons negativos; essa tendência à inversão do sinal guia as correntes
dinâmicas para a concentração no núcleo das nebulosas. Mas, a lei maior é a evolução e em seu interior
se move a lei menor de dualidade. O choque é apenas um sistema genético excepcional e particular, ao
passo que o sistema-tipo é a maturação evolutiva.
A criação vos parece, por causa desse princípio de dualidade,
um cruzamento e uma contradição de termos alternados, orientada, ritmada e periódica. Esse princípio é
a base de seu constante equilíbrio. Assim explicais a distinção da força de gravitação, em suas
direções de atração e repulsão, de acordo com o sinal, a simpatia universal entre os contrários e a
antipatia entre os semelhantes. O todo é metade afirmação, metade negação. Nessa inversão contínua
renova-se sempre a ação e a criação. A energia vital do ar é bipolar: Nitrogênio e Oxigênio. Do mesmo
modo na decomposição da água (eletrólise), o Oxigênio migra para o polo positivo e o Hidrogênio para o
negativo. A reação representada pela equação 2H2O = O2 + 2H2 na
fase
análise, inverte-se na equação
2H2 + O2 = 2H2O na fase síntese. Em suas duas metades
+
e -, síntese e análise, o ciclo fica completo.
A rotação das esferas celestes, a oscilação da onda dinâmica por sucessão de duas semi-ondas, tudo é
devido a essa alternância de períodos inversos. Esta íntima estrutura da lei de equilíbrio, pela qual o
mal alterna-se com o bem, a dor com a alegria, a pobreza com a riqueza, sobem e descem, os homens e as
civilizações, e tudo se condiciona reciprocamente. Ouvi essa íntima música do universo, observai essa
constante polarização que dirige o ser e o orienta como uma agulha imantada. Essa troca perpétua ressoa
de harmonias, como um cântico universal.
Olhai: a matéria, derivada por involução da forma originária
dinâmica, alcança, através de estados de sucessiva condensação, gasosos, líquidos e sólidos, um máximo
de concentração e de inércia num mínimo volume. A energia que daí renasce vai para um máximo de
expansão e de atividade; de fato, difundir-se e mover-se são as primeiras características da energia.
Assim, matéria e energia invertem seus sinais. Olhai ainda: as plantas decompõem o ácido carbônico
composto pelo animal, assimilam seus produtos de refugo e, ao contrário, ocorre com o oxigênio. Os
órgãos vegetais são uma inversão dos órgãos animais e realizam uma respiração invertida. Deste
princípio de equilíbrio nascem as maravilhosas figuras simétricas dos flocos de neve, como as das
flores do campo; nascem as simetrias das formas dos cristais, das formas da vida, dos corpos
planetários estelares e de suas elipses. Por essa mesma lei, a morte é condição de renascimento e o
nascimento é condição de morte. Não existe mais fecunda forja de vida que essa morte, de cujas ruínas a
vida jamais cessa de ressurgir cada vez mais bela. O princípio condiciona o fim, mas o fim gera o
princípio. Eis o limite do finito, do relativo - de que sois feitos - constrangido a girar sempre sobre
si mesmo a nascer e morrer; constrangido, para existir, a perseguir o infinito num movimento que jamais
conhece o repouso.
O universo é uma inexaurível vontade de amar, de criar, de
afirmar, em luta com um princípio oposto da inércia, feito de ódio, de destruição, de negação. O
primeiro é positivo e ativo, o segundo é negativo e rebelde. Deus e diabo são os dois sinais (+
e -) do
dualismo. É luta, mas é equilíbrio; é antagonismo, mas é criação porque, pelo choque e pelo contraste,
nasce uma criação, um amor e uma afirmação cada vez mais vasta. O bem serve-se do mal para progredir,
compreende o mal e o constrange a seus fins. No bem está o futuro da evolução e o mal é o oposto, em
que se apoia o bem para subir. A instabilidade das coisas não é uma condenação, mas uma escada de
progresso. Não fujais do movimento no Nirvana, mas lançai-vos no vórtice, para que ele vos leve cada
vez mais alto. Cristo ensinou-vos a vencer a morte e, transformando-a em instrumento de ascensão, a
superar a dor. Lutai corajosamente, sabei sofrer e vencer; cada minuto vos levará mais para o alto,
para Deus.