A Grande Síntese

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A GRANDE SÍNTESE

Autor: Pietro Ubaldi

Capítulo 32

GÊNESE DO UNIVERSO ESTELAR - AS NEBULOSAS - ASTROQUÍMICA E ESPECTROSCOPIA

     Retomemos agora alguns conceitos já ventilados e continuemos seu desenvolvimento. Desse modo, completaremos a exposição sumária dos princípios e tornaremos a observá-los na realidade fenomênica; observaremos os fatos sempre sob novos aspectos.

    Retomarei por um momento a fase g em seu aspecto estático, descrevendo-vos a construção do universo físico: uma pausa no campo astronômico, para daí tomar impulso para conceitos mais profundos. Dir-vos-ei coisas que não podia expor antes de amadurecer tantos conceitos. Esta minha exposição cíclica progressiva que adoto, corresponde à maturação de vossa psique e à necessidade de expor-vos gradualmente a grande visão, a fim de que a assimileis, ao invés de perder-vos. Cada conceito, se não for esboçado antes, numa primeira fase apenas em suas linhas fundamentais, arriscaria perder sua unidade em infinitas ramificações colaterais. Cada conceito estende-se como uma esfera, em todas as direções, enquanto vossa consciência só pode perceber um de cada vez. Por brevidade, temos que escolher os principais. Minha consciência volumétrica - isto é, de terceira dimensão - num plano superior à vossa, de superfície (segunda dimensão), como vos explicarei, vejo por síntese, ao passo que vós vedes por análise. O finito, de que sois feitos, justifica esses retornos, a que sois obrigados, para examinar sucessivamente a realidade em seus aspectos, que nós vemos em síntese, a fim de penetrar, por degraus, além da forma que está na superfície e recobre a essência que está na profundidade.

    O estudo do aspecto dinâmico da fase g mostrou-vos na estequiogênese, o nascimento, a evolução e a morte da matéria. Caiu, desse modo, vosso dogma científico da indestrutibilidade da matéria. Compreendidos os conceitos de nascimento da matéria, por concentração dinâmica; de sua evolução química; de sua morte por desagregação atômica (radioatividade); vejamos, agora, como se comporta essa matéria na realidade do universo astronômico, nos imensos amontoados de estrelas.

    Um exemplo no campo físico poderia ser trazido como ilustração do princípio do desenvolvimento cíclico dos fenômenos, com a volta ao ponto de partida, mas com progressivo deslocamento do sistema: é o que encontrais na trajetória traçada pelo caminho da Terra nos espaços. Girando em redor do sol num plano, com os outros planetas, em sua mesma direção - enquanto o sol, por translação, afasta-se das regiões de Sírius para as de Vega da Lira e para a constelação de Hércules - a Terra descreve exatamente uma trajetória que, mesmo retornando sempre sobre si mesma, jamais volta ao mesmo ponto de partida no espaço. Isso acontece porque o movimento solar de translação faz desenvolver-se a elipse planetária, não num plano, mas em espiral, de acordo com a direção do deslocamento do sol.

    Entretanto, observemos mais de perto um fenômeno muito mais amplo: a construção de vosso universo estelar. Já acenamos a isso a propósito do desenvolvimento do vórtice das nebulosas. Esse simples aceno merece mais profundo exame, agora que completamos o estudo da espiral. Vosso universo estelar é constituído pela Via Láctea; no plano físico, é a exata expressão do princípio da espiral. Muitas dúvidas vos atormentaram e muitas hipóteses aventasteis, para explicar a construção e a origem dessa faixa estelar que envolve os dois hemisférios de vossa visão celeste. Não formulo hipóteses, mas vos transmito, como o vejo, o estado dos fatos e vos indicarei de que modo, em parte, podereis controlá-los.

    A matéria, pela lei das unidades coletivas, se vos apresenta em amontoados geológicos e siderais. Todo o vosso universo físico é constituído pela Via Láctea, um sistema completo e limitado, a cujo diâmetro podeis dar o valor de cerca de meio milhão de anos-luz. O sol, com a corte de seus planetas, está situado no sistema. A via Láctea é, exatamente, um vórtice sideral em evolução.

    Demonstraremos esta afirmação. O grande vórtice da Via Láctea é dado pelo seu devenir - pela lei dos ciclos múltiplos - por vórtices siderais menores, que vedes e conheceis, e nos quais podeis encontrar o caso maior. Os telescópios vos põem sob os olhos várias nebulosas, as da constelação da Balança, de Andrômeda; a nebulosa em espiral da constelação do Cão, nebulosa regular, em que a linha da espiral está claramente visível. O vórtice estelar é, por vezes, como neste caso, orientado de maneira a apresentar- se de frente, às vezes obliquamente, aparecendo como um oval achatado, em perspectiva, como na nebulosa de Andrômeda; às vezes de perfil, em sua espessura. Neste caso, assume o aspecto da seção de uma lente e as espirais, ao sobreporem-se, ficam ocultas ao olhar. Vosso sistema solar foi uma nebulosa, que agora chegou à maturidade; os planetas, cuja verdadeira órbita é uma espiral com deslocamentos mínimos, recairiam no sol, se não se desagregassem pela radioatividade. A via Láctea é apenas imensa nebulosa espiralóide, em processo de maturação. Vosso sistema solar, como as citadas nebulosas, faz parte dela. No âmbito da espiral maior, desenvolvem-se as espirais siderais menores. Podeis representar a Via Láctea como imenso vórtice, semelhante, embora maior, ao da nebulosa da constelação do Cão. O sistema solar está imerso na espessura do vórtice que, portanto, só aparece visível em sua seção; mas como seção, vos envolve nos dois hemisférios e por isso aparece uma faixa em todo o redor.

    Eis os fatos que vos demonstram essa afirmação: é no plano equatorial da Via Láctea que se comprimem os amontoados das estrelas, enquanto nos pólos a matéria está em estado de rarefação; as estrelas multiplicam-se à proporção que vos avizinhais da Via Láctea. O sistema solar está situado mais para o centro da espiral, centro que lhe fica de lado, no plano de achatamento e do desenvolvimento do vórtice. A distribuição diferente das massas siderais, em vosso céu, é causada exatamente pela visão que conseguis, quer na maior seção horizontal, quer na menor seção da direção vertical, do esferóide achatado, que representa o volume do sistema espiralóide galático.

    Mas há fatos mais convincentes. A espectroscopia permite estabelecer uma espécie de astroquímica, que vos informa a respeito da composição das várias estrelas. Com a análise das radiações estelares, também podeis estabelecer sua temperatura, porque à proporção que esta aumenta, vedes aparecer no espectro as várias cores, do vermelho ao violeta, que é o último a aparecer. O ultravioleta revela as temperaturas mais altas. Quanto mais o espectro se estende nessa área, mais quente é a estrela observada. Então o espectro vos revela, concomitantemente, a constituição química e a temperatura. Baseando-vos nestes critérios, torna-se possível uma classificação das estrelas, quanto ao tipo, e uma graduação delas também em relação a seu grau de condensação, daí sua idade no processo evolutivo. Uma primeira série de estrelas é composta de gases incandescentes, como o hidrogênio, o hélio e o nebúlio (que ainda desconheceis). Deste último são as estrelas mais quentes. A matéria está no estado gasoso, a massa estelar é uma nebulosa ainda no seu início. Estas são as estrelas mais jovens, de cor prevalentemente azul, e representam a fase inicial da evolução sideral do vórtice galáctico. Essas estrelas estão todas situadas nas vizinhanças imediatas da Via Láctea. Continua a gradação e abrange estrelas de hélio sempre quentes e jovens, sempre próximas da Via Láctea; depois as estrelas de hidrogênio, em que se acentua o hidrogênio e o hélio, tende a desaparecer. Embora nas proximidades da Via Láctea, elas começam a espalhar-se pelo céu. Menos jovens, mais avançadas evolutivamente que as precedentes, em via de condensação, emanam luz branca. A essa série de estrelas brancas (a que pertence Sírius) segue-se a das estrelas de luz amarela, nas quais os metais substituem os gases, mas sempre em temperaturas elevadíssimas, embora inferiores às precedentes. Estas estão espalhadas ainda mais uniformemente pelo firmamento e se acham em processo de solidificação. Entre elas situa-se vosso sol. Ele encontra- se entre as estrelas que estão envelhecendo, esperando a morte por extinção. Suas manchas já as anunciam e tornar-se-ão cada vez mais extensas e estáveis, até o fim. A última série é a das estrelas vermelhas , com a temperatura que chega a um resfriamento avançado, nas quais os gases desaparecem para dar lugar aos metais: são as estrelas mais velhas, distribuídas quase uniformemente pelo espaço.

    Entretanto, outros fatos há para observar e que se desenvolvem paralelamente aos quatro já observados: constituição química, temperatura, condensação, idade. As estrelas afastam-se da Via Láctea à proporção que envelhecem. Bastaria isto, para demonstrar que na Via Láctea está o centro genético do sistema, pois é exatamente nela que encontrais as estrelas em sua primeira fase de evolução. As vermelhas, as mais velhas, encontram-se afastadas das regiões mais jovens da Via Láctea. Em outras palavras: existe um processo paralelo de maturação da matéria e de afastamento do centro, porque as mutações químicas, o resfriamento, a condensação e o envelhecimento significam evolução, esta corresponde a um processo de abertura do sistema, que vai do centro à periferia.

    Acrescentemos outro fato: as velocidades siderais, partindo de uma velocidade nula para as nebulosas irregulares, aumentam gradualmente nas estrelas de hélio, de hidrogênio, amarelas, vermelhas, planetárias. Isso vos diz que as estrelas, durante o processo de evolução assinalado pelo tempo, projetam-se do centro para a periferia. Acrescentai a isto tudo o exemplo do tipo de desenvolvimento em espiral, visível nas nebulosas menores, que reproduzem, em proporções mais reduzidas, o sistema maior, e tereis um acúmulo de fatos convergentes para o mesmo princípio, que afirmei ser a base da construção orgânica de vosso universo estelar.