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A GRANDE SÍNTESE
Autor: Pietro Ubaldi
Capítulo 26ESTUDO DA TRAJETÓRIA
TÍPICA DOS MOVIMENTOS FENOMÊNICOS |
É indispensável, todavia, em primeiro lugar, aprofundar ainda mais o
estudo e passar da simples exposição descritiva dos movimentos fenomênicos, ao
campo dos íntimos porquês. Cada fase, antes de estabilizar-se em definitiva
assimilação ao sistema, é percorrida três vezes, progredindo, e depois duas
vezes, regredindo; isto significa ser vivida cinco vezes, em direções opostas.
A razão desse retorno cíclico de duas fases involutivas sobre três
evolutivas, é exigida pelo fato de que o voltar a existir, três vezes repetidas,
no nível de cada fase, é a primeira condição para a sua assimilação profunda no
ser que em si mesmo a fixa. Trata-se de uma vida tríplice, em três posições
diferentes, que o ser tem de viver em cada degrau, a fim de poder dominá-lo
definitivamente. Nas duas fases de regresso, o passado volta, o ser resume,
relembra e revive. Assim, o que é novo fundamenta-se em bases novamente
consolidadas. O conceito fundamental que existe na idéia de trindade é um
princípio de ordem e de equilíbrio. Outro significado dessa descida: ela
representa a desintegração do velho material de construção, para nova
construção, germe de potencialidade maior, porque só esse núcleo mais poderoso
pode alcançar culminâncias mais altas, exatamente como faríeis se quisésseis, em
lugar de velha casa de dois pavimentos, construir outra de seis. Só através
desse processo de íntima destruição e reconstrução, o fenômeno elabora-se e
amadurece; só através desse retorno sobre si mesmo, dessa compressão pelo
vórtice, dessa fase de concentração, o impulso é fecundado para ascensões
maiores. Esse refazer-se desde o início, voltando sobre o próprio caminho, é um
concentrar-se do fenômeno sobre si mesmo, a fim de explodir com maior força.
Para avançar, primeiro é preciso retroceder, demolir o que está velho, depois
reconstruir, sempre partindo do princípio, colocando em alicerces mais sólidos
as bases de um organismo novo de maior potencialidade e destinado a um maior
desenvolvimento. Pois na lei tudo avança por continuidade, ("natura non facit
saltus" - "a natureza não dá saltos"), e cada progresso tem que ser
profundamente amadurecido.
Compreendereis ainda melhor, ao passar dos conceitos abstratos à
exemplificação de casos concretos. Verificareis como vossa realidade
corresponde aos princípios expostos acima. Essa necessidade de refazer-se desde
o início, reaproximando-se das origens do fenômeno é universal. Para reedificar,
é preciso destruir. O ciclo, proporcionado pela espiral que se abre e se fecha,
é a linha da transformação de todas as formas do ser. Se, por vezes, parece-vos
não ocorrer assim, é porque só tendes sob os olhos fragmentos de fenômenos. A
unidade do princípio permite-nos descobrir exemplos nos campos mais díspares.
No universo da matéria,
g, encontrais a linha da
espiral no
desenvolvimento das nebulosas. Aí a matéria é um vórtice centrífugo de expansão,
projeta-se no espaço, numa poeira sideral, precisamente formando uma espiral,
que apresenta sua própria juventude, madureza e velhice; isto é, atinge um
máximo de abertura espacial provocada pelo impulso que o vórtice, germe do
fenômeno, imprimiu-lhe, máximo que não pode superar. Depois disso, retrocede. O
ciclo torna a fechar-se sobre si mesmo porque, enquanto a espiral se abre,
partindo do nível g, ocorre
aquela íntima elaboração da matéria de que falamos na série estequiogenética,
pela qual a matéria se desagrega e g volta a b. Como
vimos,
a energia se canaliza por sua vez em correntes, que determinam um vórtice
centrípeto, concentração dinâmica (período involutivo do ciclo) num núcleo (de
novo g), que constituirá o
germe
de um vórtice inverso centrífugo (período evolutivo do ciclo), isto é, de nova
expansão sideral. Mas desta vez, b, novamente reconstituída, assumirá os mais altos caminhos da vida e
da
consciência, enquanto nos confins de vosso universo, onde
b ainda não amadureceu, vê-la-eis dobrar-se sobre
si
mesma para g, assim por
diante.
No campo da
vida
, a abertura da espiral não é um vórtice físico nem espacial: é dinâmico.
Centro, expansão, limites e retornos são de caráter exclusivamente dinâmico.
Nunca perguntastes por que tudo tem de nascer de uma semente? Por que o
desenvolvimento subsequente não pode ultrapassar determinados limites? Por que a
decadência da velhice que vai chegando em todas as coisas? Também a vida é um
ciclo, com a sua fase evolutiva e involutiva, e o inexorável retorno ao ponto de
partida. Que vem a ser esta mecânica que reconduz tudo ao estado de germe, esse
processo da natureza por meio de contínuos regressos ao estado de semente, se
não a expressão mais evidente da lei de evolução e involução cíclica? Na
semente, o fenômeno da vida torna a fechar-se em si mesmo, num núcleo que é o
centro de nova expansão. Assim por pulsações alternadas da fase de germe à fase
de maturidade, procede ininterruptamente a vida. Essa íntima lei do fenômeno,
momento da lei universal, estabelece os limites da forma completa, depois a
destrói e reconcentra toda a sua potencialidade num germe. Este, de modo
inexplicável, não produz o mais vindo do menos, mas simplesmente restitui o que
está nele incluso por involução. Sem este inexorável retorno sobre si mesmo, que
está na lei dos ciclos, a forma teria que progredir ao infinito ou então,
decaindo, jamais ressurgiria para retomar, dentro de pouco tempo, em direção
oposta, o mesmo caminho. Se os limites podem deslocar-se e os máximos elevar-se,
isto não diz respeito ao ciclo inviolável das vidas individuais, mas ao
desenvolvimento em que elas estão concorrendo, do ciclo maior de evolução e
involução da espécie, sujeito a essa mesma lei. Uma vez mais, o progresso só avança por
meio de contínuos retornos a um ponto de partida que, gradualmente, desloca-se
para frente. Dessa forma, o progresso das espécies orgânicas não é retilíneo,
tal como viu a mente de Darwin, mas alterna-se em constantes retornos
involutivos. Semelhante a esse caso, que as leis da vida vos oferecem, toda a
criação é feita e funciona por meio de germes, à qual se segue um
desenvolvimento, à semelhança de quem para construir um edifício cada vez mais
alto, tem que refazer os alicerces, a fim de estabelecer bases cada vez mais
sólidas. Vedes que cada existência é filha de uma semente, cada fenômeno está
potencialmente contido num germe. Reencontrais essa lei até mesmo na evolução e
involução dos universos, que são por ela levados a refazerem-se sempre, desde
sua fase inicial, que pode ser -y, -x, g
, b,
a etc., à fase-germe em que
estão inclusas e concentradas, por involução, todas as potencialidades que se
desenvolverão na evolução geradora das fases superiores. Cada fase é percorrida,
isto é, vivida, uma vez que completou a assimilação, retorna à anterior como
fase ou germe de evolução de novas fases, sempre mais altas. Tudo sobe mediante
contínuos retornos sobre si mesmo, do máximo ao mínimo. Tudo funciona por
germes. Olhai em torno de vós. Cada
fato nasce por abertura de um ciclo: começa, expande-se até um máximo, depois
retorna sobre si mesmo. Tudo procede assim. Qualquer coisa que queirais fazer,
tereis de abrir um ciclo que depois fechará. A semente de vossos atos está no
vosso pensamento; cada ação vos proporciona uma semente mais complexa, capaz
de produzir outra ação ainda mais complexa. Tal como a semente produz o fruto e
o fruto produz a semente, o pensamento produz a ação e a ação produz o
pensamento. O princípio da semente, como o encontrais na natureza, é o princípio
universal de expansão e contração dos ciclos. Encontrais em vossa própria vida humana
outro aspecto. Os primeiros anos de vossa existência resumem, primeiro
organicamente e depois psicologicamente (vede como a fase
a sucede à fase b), todas as vossas vidas orgânicas e psíquicas do passado. A
cada
nova retomada de um ciclo de vida, vosso ser tem que refazer-se desde o início,
embora reassumindo por breve período, a fim de levar o ciclo da nova evolução a
um ponto máximo, gradualmente mais adiantado. Assim b, em sua fase mais alta - a fase da vida humana - também
é
dada pelo abrir-se e fechar-se da espiral, através da qual progride todo o
sistema. Vosso atual nível de vida
orgânica mais alto toca a fase a, prepara-vos para a criação do espírito. Assim vemos repetir-se
a
lei cíclica também no campo da consciência, individual e coletiva. No
primeiro caso, o processo genético de vossa consciência atua seguindo a mesma
linha de desenvolvimento traçada no processo genético do cosmo, isto é, espiral
dupla e inversa. Sua abertura é a ação, que explode irresistível, como o
maior instinto da vida e a manifestação mais evidente da lei, nas consciências
jovens, inespertas, que tentam o desconhecido. A ação é o primeiro grau de a, contíguo a
b. Com efeito, está cheio de energia e vazio de
experiência e sabedoria. A vida humana é uma série de provas, de tentativas, de
experiências. Mas nem por isso digais: "vanitas vanitatum" ( "vaidade das
vaidades" ). Se nada se cria (em sentido absoluto), também nada se destrói.
Vossos atos, vossas experiências, vossas reações ao ambiente, fixam-se em
automatismos psíquicos, tornam-se hábitos, e depois serão instintos e idéias
inatas. Assim, a vida orgânica desgasta-se, mas é construção de consciência; o
ciclo dinâmico exaure-se, mas de seu exaurir nasce e desenvolve-se a fase a, até um máximo, dado pela
potencialidade da consciência, tal como existia no início do ciclo. Mas aqui a
expansão da espiral e seus limites de desenvolvimento são de caráter psíquico.
Mudam o nível e a matéria, mas tudo repete a mesma lei. Aqui o vórtice diz
respeito ao universo espiritual da consciência, mas o princípio de seu movimento
é idêntico . Chegando ao seu máximo, o ciclo se cansa e envelhece, volta a seu
ponto de origem, para b, e a
espiral se fecha. O ponto máximo de vossa vida psíquica custa a chegar e, por
vezes, só aparece no fim, muito depois da juventude do viço físico, última
delicada flor da alma. Depois a consciência dobra-se sobre si mesma, vem a
reflexão, o fruto da experiência é absorvido e assimilado, chega a maturidade do
espírito num corpo decadente. Poucos, só os evoluídos, chegam rápido; muitos
chegam tarde; alguns, os mais novos na vida psíquica, nunca chegam. Assim o
ciclo, esgotado seu impulso - que é proporcional à potência de explosão
concentrada no germe da personalidade - retorna sobre si mesmo. A consciência
refaz-se sobre o passado, reconcentra-se, reentra em si mesma, fecha-se à ação e
à experiência: tudo assimilou. É o caminho da descida, que preludia novo impulso
de ação em nova vida, novo aparecimento no mundo de provas, mais ampla
experiência, uma retomada do ciclo precedente, mas em nível mais alto, porque
seu ponto de partida foi mais alto. Com essa nova descida,
b torna-se mais fecunda e, da fase intermediária,
torna-se base e semente do desenvolvimento de mais vasta série de ciclos que, em
virtude das construções espirituais realizadas, com que os germes tornam-se mais
potentes, atingirão a fase +x e seguintes. No campo das consciências coletivas
encontrais, nas leis cíclicas, a razão do desenvolvimento e da decadência
periódica das civilizações. Também aqui ocorre o mesmo fenômeno. Cada
civilização, depois de uma juventude conquistadora e expansionista, atinge um
máximo de maturidade, que não pode ultrapassar. Uma fatalidade que parece
condenar os povos e, em dado momento, diz: "Basta"! É apenas a expressão da lei
dos ciclos. Cada civilização constitui um produto espiritual coletivo: é a
criação de uma alma mais vasta que a individual; deriva de um germe que
potencialmente a continha toda e a levará até um máximo, além do qual não há
expansão; e a maturidade só pode resultar em putrefação e decadência. Como todos
os fenômenos, também este se esgota, se cansa, envelhece, decai e morre. Para
avançar novamente, é indispensável percorrer o ritmo involutivo, a fim de
recomeçar desde o início, partindo de novo germe que sintetize o máximo
anteriormente atingido: novo ciclo de civilização, que poderá alcançar, por sua
vez, um máximo ainda mais elevado, assim por diante. Todo o sistema dos ciclos
de civilizações caminha, desse modo, lentamente, por máximos sucessivos, com
alternativas de florescimentos, decadências e mortes, renascimentos e recomeços.
É nesse curso cíclico do fenômeno que encontrais a razão da ascensão contínua
das classes mais baixas da sociedade. É o desenvolvimento da linha da
evolução que sempre impele para frente as camadas inferiores dos povos. Sem este
conceito, não poderíeis explicar como elas constituem uma reserva inexaurível de
valores desconhecidos, de que tudo consegue nascer. O povo é a semente das
sociedades futuras; as aristocracias de toda espécie são suas sentinelas
avançadas, a flor que, terminado seu desenvolvimento, deve curvar e morrer. As
classes sociais inferiores só têm uma única aspiração: subir, atingir o nível
das mais altas, para imitar, por sua vez, também seus vícios e erros que, no
entanto, condenavam, e cair afinal na mesma conjurada estrada de cansaço e de
ignomínia, logo que hajam superado a maturidade do ciclo. Dessa forma, por
turnos e por ciclos, subindo ou descendo, como vencedores ou como vencidos,
todos vivem a mesma lei: indivíduos, famílias, classes sociais, povos,
humanidade. Mas a cada volta, o ciclo torna-se cada vez mais amplo, o organismo
torna-se cada vez mais complexo. A história vos mostra que a primeira e mais
simples das emersões progressivas foi dada pelos ciclos individuais; depois
pelos ciclos familiares, depois investem contra classes sociais inteiras, contra
povos e nações, enfim, como agora, contra a humanidade. O ciclo torna-se cada
vez maior, as grandes massas fundem-se nele, até o tempo presente, em que a
humanidade se torna um só povo; é chegada a hora de retomar o ciclo mais vasto
de nova civilização. Assim, em g, b
, a, em
qualquer
parte, realiza-se o princípio da lei que vos descrevi. A espiral abre-se e
fecha-se, seguindo períodos inversos de expansão e contração, volta sempre pelo
caminho percorrido, para através dessa concentração de forças, tomar impulso
para maiores expansões. Tudo é cíclico, tudo vai e vem, progride e regride, mas
só retrocede para progredir mais. E, se repete, resume e repousa, isto
representa apenas uma retomada de forças, um deter-se para avançar mais para o
alto. Esta é a evolução em seu íntimo mecanismo; a evolução que contém o
significado mais profundo do universo. A verdade de minhas palavras está escrita
em vosso mais poderoso instinto e aspiração, que é a de subir, sem medida; subir
eternamente. | |