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A FIGURA DE CRISTO
A evolução do conceito de Cristo por Pietro Ubaldi

Jorge Damas Martins
Jdamas@antares.com.br
Rio de Janeiro – Brasil

A vida é um aprofundar da forma na substância. É um eterno vir –a –ser. Tudo está em movimento com a finalidade de uma maior maturação. O físico gera a vida, esta concebe o psíquico, que dilatando-se cada vez mais, num transformismo constante da substância, manifesta-se em consciência.

     É natural, então, que ao dilatarmos a consciência rumo à superconsciência, os conceitos que surgiam ante nossa visão mental se ampliem em direção à uma realidade mais profunda.

     Isto aconteceu com Ubaldi, porque acontece com todos ( I Pe. 2:2 ), principalmente com relação ao tema central de sua Obra: CRISTO.

     Vejamos este amadurecer do pensamento do Apóstolo Redivivo para o final do 2o milênio, em relação a Cristo:

     "No capítulo XIV – ' A Essência de Cristo' do volume 'Deus e Universo' ( 10o ), escrevi na Itália em 1952 e publiquei no Brasil em 1954, estas palavras: 'Sinto que nessas páginas se aproxima a visão do conceito da essência do Cristo numa primeira aproximação, prelúdio de uma compreensão mais profunda que alcançará seu ápice no último volume (24o ), coroamento de toda a obra'. Ao concluir o referido capítulo eu afirmei: 'Encerro esta visão sobre a essência do Cristo, primeiro esboço de visões maiores'. Tinha consciência assim desde aquela época, que minha compreensão do assunto constituía-se num fenômeno em evolução" ( "Cristo", págs. 37/8, cap.III, 2a. ed. FUNDÁPU ).

     Ubaldi neste seu último livro, de suprema racionalidade, coloca o Cristo como irmão nosso na substância e na dor–resgate. Na substância, porque procedemos do Sistema; na dor–resgate, porque Ele, também, se rebelou originariamente, não podendo, antes do devido pagamento voltar à aquela dimensão.

     É uma visão diferente esta de Ubaldi. É o "Cristo da Contestação" ( pág.22 ) , não o da "lenda" ( pág.55 ). É um conceito que pode "escandalizar o misoneísmo dos conservadores" ( pág.53 ). Sua Paixão toma um novo significado: "não é lícito para o homem – porque injusto e imoral – pretender fazer-se redimir pelo sacrifício de Cristo" (pág. 40 ).

     Qual é então a necessidade do seu sofrimento? E Ubaldi responde segundo sua sintonia com a Lei: Antes de tudo REPARAÇÃO. "É chegada a hora de ver em Cristo não apenas seu amor e sacrifício, que outrora tanto nos confortava, mas, antes, e, sobretudo, um exemplo de justiça que nos induza ao seu cumprimento e não a evadirmo-nos dela" ( pág.42/3 ). "A paixão de Cristo é, então, devido a um último assalto do anti- sistema contra um elemento que lhe foge para reingressar no Sistema, ao mesmo tempo em que constitue a libertação deste ser em relação ao AS, assim como seu triunfo no S" ( pág.60 ).

     A pergunta que se faz após esta introdução é: O que falam as Escrituras e outras revelações sobre a queda dos anjos no geral e a de Cristo no particular, examinadas por Ubaldi?

1) A QUEDA DOS ANJOS:

     Pietro Ubaldi estuda o fenômeno da queda ou involução, com a consequente evolução de retorno a perfeição originária, nas incomparáveis obras: "Deus e Universo", " O Sistema" e "Queda e Salvação"

     a) "E disse-lhes ( Jesus ): 'Eu via o adversário( satanás em hebraico ou diabo no grego ) caindo do céu, como relâmpago" ( Lc.10:18 ). Então ocorreu uma expulsão do céu? Como ocorreu? Quem é o adversário? A queda dos anjos de P. Ubaldi explica!

     b) "Como caístes do céu, ó estrela da manhã, Lúcifer, filha da alva! Como fostes lançados por terra?" ( Is.14:12 ).
     Os espíritos que cairam tinham a luminosidade comparada à das estrelas? Eram perfeitos relativamente a função que exerciam? Para onde foram lançados? A queda dos anjos de P. Ubaldi explica!

     c) "... Deus não poupou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o julgamento" ( 2Pe. 2:4 ). O que é inferno? Onde fica? Como a dor corrige o ser rebelde? Como é o julgamento dos espíritos caídos? A queda dos anjos de P. Ubaldi explica!

     d) "Houve uma peleja no Céu ... pelejaram satanás com os seus anjos ... todavia não prevaleceram nem mais se achou no Céu o lugar deles ... foram atirados por terra ..." ( Ap.12:4 e 7:9 ). Então houve uma revolta? Esta revolta foi consciente? Qual o remédio previsto pela Oniciência da Lei para a reparação da culpa? A queda dos anjos de P. Ubaldi explica!

     e) "E os anjos que não conservaram a sua posição original, mas abandonaram a sua moradia correta, Ele reservou com laços eternos, em profunda escuridão, para o julgamento do grande dia" ( Judas 1:6 ).
     Qual era a posição originária de cada Espírito? Todos estavam no mesmo nível? Havia uma hierarquia de função e de conhecimento? Como e onde a moradia deles? A queda dos anjos de P. Ubaldi explica!

     f) "Qual dos dois, o mundo espírita ou o mundo corpóreo, é o principal, na ordem das coisas? O mundo espírita, que preexiste e sobrevive a tudo" ( "O Livro dos Espíritos" – perg. 85 )
     "O mundo corporal poderia deixar de existir, ou nunca ter existido, sem que isso alterasse a essência do mundo espírita? Decerto ..." ( "O Livro dos Espíritos" – perg. 86 )
     Poderia só existir o Mundo Espiritual? É o mundo material consequência da revolta dos Espíritos? O mundo material terminará com o fim da evolução? A queda dos anjos de P. Ubaldi explica!

     g) "Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes ..." ( "O Livro dos Espíritos – perg. 115 ) Se Deus é a Inteligência Suprema, como explicar a frase acima com a afirmação escriturística de que fomos criados "a imagem e semelhança de Deus"? ( Gen. 1:26 ). Como conciliar a Consciência Divina com a inconsciência dos Espíritos formados por Ele? A queda dos anjos de P. Ubaldi explica!

     h) "O vosso mundo, que, na fase de sua formação saiu do estado de incandescência dos fluidos impuros ... ao completar-se esta grande obra de purificação da terra " ( Os Quatro Evangelhos" de J.-B. Roustaing, tomo I, págs.335/6 ) Se o mineral ( terra ) não tem consciência e, por conseguinte, livre-arbítrio para se transviar, como explicar que sua origem é impura? Quem o fez? Por que o fez impuro? A queda dos anjos de P.Ubaldi explica!

     i) "O espírito que se prepara nos diversos reinos inferiores ( mineral, vegetal e animal ) ... se desenvolve, nasce, se educa" ( Os Quatro Evangelhos", tomo I, pág.316 ). A palavra educar provém do latim, educare, e comunica a noção de levar para fora, fazer sair, extrair e tirar de dentro. Se o Espírito foi criado simples e ignorante origináriamente, o que é que ele vai tirar de dentro de si? Pode o menor gerar o maior? A queda dos anjos de P.Ubaldi explica!

     1) O CASO CRISTO:

     a) Segundo Allan Kardec, Cristo é o nosso "modelo" ( "O Livro dos Espíritos" perg. 625); logo, é bom ressaltar que para falar do caso particular de Jesus, é oportuno vê-lo como exemplo de conquista evolutiva, e não fazer de sua queda passada vidraça. Por isso, afirmou Pietro Ubaldi que quando Jesus esteve entre nós, há dois mil anos, já havia alcançado a perfeição relativa a sua função originária: "Cristo já era do Sistema" ( "O Cristo"- 2ªed. FUNDÁPU, pág.92 ).

     b) Segundo a obra "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing, no I vol., págs. 118/9, Jesus evolveu através dos reinos mineral, vegetal e animal. Após atingir o estado de consciência foi sempre obediente à Lei, marchando sem falir para a perfeição sideral ( Sistema ), sem passar pela "queda do homem" ( ver "O Livro dos Espíritos", perg. 262 ) Segundo a "queda dos anjos" apresentada racionalmente por Ubaldi, o Espírito que não se rebelou no Sistema não passa pelos reinos inferiores – mineral, vegetal e animal ( anti-sistema ). Só os filhos da revolta é que conhecem esta escalada evolutiva. A queda do Cristo apresentada por Ubaldi, se encaixa com a afirmação da revelação da Revelação, dada a Roustaing.

     c) Os Evangelistas assistidos pelos Apóstolos e Moisés, ainda revelam na obra "Os Quatro Evangelhos" que Jesus passou pela fase da inocência e da ignorância, da infância e da instrução sempre dócil ( I vol., pág.302 ). Estas fases da evolução ocorrem, segundo esta obra, imediatamente após a reconquista da consciência racional, responsável e livre. Ora, para Ubaldi estas fases são consequências da escalada evolutiva, filha da queda.

     d) Emmanuel, através da psicografia de F. C. Xavier, no livro "O Consolador", perg.243, ed. FEB afirma que "... Jesus Cristo, fundamento de toda verdade neste mundo, cuja evolução se verificou em linha reta para Deus ...". Ora, para Ubaldi, a evolução é consequência da involução; ou melhor, só evolui aquele que desceu involutivamente. A evolução é uma saída da inconsciência adquirida pela queda para a plenitude originária perdida. Assim, a colocação de Emmanuel de que Jesus "subiu em linha reta" ( evolução ) requer a sua complementação, involução. É urgente ressaltar que "linha reta" significa caminho de retidão ou sem falha, como afirmou o mestre: "Quem me arguirá de erro?" ( Jo. 8: 46 )

     e) "Por ventura não deveria o Cristo sofrer tudo isso para entrar na sua substância?" ( Lucas 24:26 ). As traduções correntes escrevem glória no lugar de substância; porém, no original grego a palavra é doxa, que pode ser traduzida por uma ou outra. No entanto, como admitir um Espírito de perfeição crística pedindo e anunciando sua entrada na glória? É incompatível com sua humildade. O que temos é que Jesus anuncia readiquirir a substância originária após os sofrimentos na escalada evolutiva.

     f) "Cristo que nos dias de sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas com veemente clamor e lágrimas àquele que o podia salvar da morte; e foi atendido por causa de seu temor piedoso. Embora fosse filho aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu; e, depois de ter se aperfeiçoado, tornou-se responsável pela salvação eterna de todos os que lhe obedecem, recebendo, por isso, de Deus o título de Sumo Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedec" ( Paulo – Hebreus 5: 7-10 )
     Cristo aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu? Cristo foi desobediente a Lei? Tinha carma a solver? Como explicar as suas lágrimas, clamor e temor piedoso! Ele se aperfeiçoou? A obra "O Cristo" de P. Ubaldi explica!

     g) "Pai, dá-me a substância que eu tinha antes do mundo ser" ( Jo. 17:5 ). Aqui também a palavra para substância é doxa e não glória. E mundo significa o anti-sistema. Assim o Cristo intercede ao Pai para ser transubstanciado naquela substância originária que possuia no Sistema. Continua Jesus: Saí do Pai ( Sistema ) e vim ao mundo ( anti- sistema )" – Jo. 16:20. Este "saí", no original grego, significa ir do centro para a perifeira, do âmago para a superfície. O prof. Carlos Pastorino esclarece que é semelhante ao vapor que sai da água, conservando, porém, a mesma substância. E querendo definitivamente explicar sua vitória sobre a evolução afirma inconteste: "Eu venci o mundo" (anti-sistema) – Jo. 16:33.

     h) No Apocalipse vemos o Cristo revelar para João evangelista em espírito: "Eu sou o Alfa e o Ômega" ( 1:8). Uma interpretação segundo o pensamento de P. Ubaldi, seria: Eu sou origináriamente do Sistema (Alfa) e readiquiri novamente este estado ( Ômega), após sofrer tudo que havia de sofrer, através da evolução. Nesta tônica continua o mestre no Apocalipse: "estive morto (anti-sistema), mas eis que estou vivo eternamente (Sistema)" – 1:18.

     i) "Meu Deus, Meu Deus por que me desamparaste?". Ë uma pergunta didática esta de Jesus. Ë lógico que o Senhor já conhecia a resposta; pois, imediatamente afirma: "Consumatum est!". "Na tuas mãos entrego o Espírito". No entanto, o que significa este "desamparo"? Deus que é amor não desampara seus filhos. É apenas um intervalo de tempo em que a Lei espera a aceitação livre e espontânea do ser, que sozinho, precisa afirmar, com a força do testemunho, a total vontade de integrar-se na ordem do Sistema originário; como, espontâneo e sozinho, decidiu afastar-se da Casa Paterna em busca da "terra estranha" do anti-sistema.

     Assim, temos muita coisa para meditar e, só com um estudo, no mínimo uma leitura dos 24 volumes de P. Ubaldi, é que podemos melhor entender a figura do Cristo, na visão deste que é a grande antena psíquica do século XX.

Jorge Damas Martins
Jdamas@antares.com.br
Rio de Janeiro – Brasil

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