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METODOLOGIA DA INTUIÇÃO EMPREGADA POR PIETRO UBALDI EM SUA OBRA

Palestra proferida por Ferdinando Ruzante Netto, no I Congresso Pietro Ubaldi, realizado em agosto de 1996 na cidade de Brasilia.

Tendo iniciado a escrever os seus livros com 45 anos, Pietro Ubaldi nos transmitiu nos 24 livros que escreveu, até a sua morte aos 85 anos, conceitos que formam um sistema filosófico-teológico-científico com características peculiares e distintas, entre tantas filosofias que têm surgido no decorrer dos tempos.

Usando métodos de pesquisa em si mesmo elaborados e, apurados através de maturação espiritual, estudo e atribulações que a vida material o cercou, alcançou um grau de super-racionalidade, tornando-o apto a adquirir conhecimentos que poucas mentes chegaram a registrar.

Ubaldi nos apresenta a sua Obra segundo um encadeamento lógico de temas nos quais o caráter filosófico-científico é dominante, culminando, como um gnóstico dos tempos modernos, com a solução do problema teológico. A seqüência com que a Obra foi escrita, pressupõe ter existido um plano pré-existente, pré-elaborado, o qual foi seguido a risca, com determinação e obediência, a médio e longo prazo, levando- nos a considerar Ubaldi como o maior estudioso da própria Obra.

A leitura que ele mesmo fazia de um livro que tivesse acabado de escrever, obrigava-o a iniciar o seguinte, a fim de explicar conceitos que não ficavam claros para si mesmo, muitas vezes repetindo exaustivamente, procurando analogias para explicar o inexplicável. Guardadas as devidas proporções, parecia o próprio Mestre, há 2.000 anos, buscando explicar aos homem do Seu tempo, o que era o Reino dos Céus, ou Reino de Deus, através das célebres parábolas e semelhanças.

Os temas principais de toda a sua Obra, acham-se contidos nos livros A GRANDE SÍNTESE e DEUS E UNIVERSO, escritos na Itália, e O SISTEMA e QUEDA E SALVAÇÃO, escritos no Brasil.

A descrição cuidadosa de Ubaldi relativa à evolução do próprio fenômeno e à técnica empregada como método de pesquisa, encontram-se nos livros AS NOÚRES, ASCESE MÍSTICA e HISTORIA DE UM HOMEM, totalizando quase 900 páginas, sem esquecer UM DESTINO SEGUINDO CRISTO, onde Ubaldi faz um estudo do se caso parapsicológico, editado em 1984, portanto, postumamente.

Muito propriamente, definiu-se o método de pesquisa de Ubaldi de: "intuição sistemática, racionalmente controlada". INTUIÇÃO, porque os conhecimentos são adquiridos, não através do raciocínio, que oferece o produto de erudição e distilações lógicas, mas por uma percepção que permite obter a concepção global do Universo.

SISTEMÁTICA, porque, mercê de contínua maturação e treinamento, conseguiu estabilizar e dominar esta modalidade de pesquisa e trabalho, que, apesar de ter sempre existido, caprichosamente foge ao controle humano, chegando e partindo, indiferentemente da vontade de quem a usa.

RACIONALMENTE CONTROLADA, porque os resultados obtidos são continuamente fiscalizados pelo crivo da razão.

Como teria, porém, Ubaldi conseguido e sistematizado o seu método de trabalho, de modo a nos dar essa Obra colossal sobre o conhecimento humano, sendo homem simples e até certo ponto sem preparo para as coisas deste mundo? Que processos de preparo e elaboração sofreu o seu espírito, até que estivesse pronto para escrever uma A GRANDE SÍNTESE, obra esta já cognominada de O Evangelho da Ciência?

No estudo que faz da própria personalidade, Ubaldi considera indiscutível a existência de um destino que guiou a sua vida desde o nascimento, como um encadeamento de causas e efeitos, que se pode perquirir, remontando muito antes do momento em que o indivíduo nasce.

Espírito aberto à indagação, considera absurdo negar "a priori", até mesmo as influências astrológicas, no destino de um homem. Não entende, porém, o destino como um cego fatalismo, um fato inexoravelmente imposto. Considera a existência de um impulso anterior, que se pode e está em nós corrigir, através da força da nossa vontade sempre presente, que modifica a trajetória daquela massa impulsionada pelos instintos, indiscutível subconsciente, que às vezes se impõe à nossa vontade, antes que a própria consciência desperte.

O período dos 25 aos 45 anos, foi para ele de grandes sofrimentos, lenta e profunda maturação espiritual, conseguida a poder de estudos, de renúncia material e desenvolvimento moral, culminando no fim desse período, no Natal de 1931, com a recepção da primeira das Grandes Mensagens, a Mensagem de Natal. Logo após, no verão de 1932, começa a escrever A GRANDE SÍNTESE, seguindo-se, numa reação em cadeia, a sua monumental produção literária.

Quase todos os grandes líderes intelectuais que a humanidade tem recebido para auxiliar o homem a encontrar o caminho da evolução, em todas as épocas, passaram por experiências e conflitos semelhantes aos suportados por Ubaldi nessa fase de sua vida. Sem dúvida predestinado aos grandes vôos do pensamento, tinha que fortalecer as asas do seu espírito para ir ao encontro das emanações mais puras, de onde jorram sublimes as verdades necessárias a impulsionar o pensamento humano para planos mais elevados.

Buscou compreender o funcionamento orgânico do Universo, e, já sentia, pela intuição que desabrochava, que o Universo devia ser um sistema de Leis, e encontrar a chave desse sistema, seria encontrar a verdade. Relegando as vias da razão à um segundo plano, obtém pela intuição, continuamente usada como método de estudo e pesquisa, a solução, ao menos para si, do problema do conhecimento.

Diante da revelação então obtida, compreende o significado do seu destino e o trabalho que o espera. Depois de compreender é necessário atirar-se à vida prá tica e seguir a rota então traçada. Era-lhe um imperativo agir. O farol indica, mas não percorre o caminho. O pensador arrisca-se a permanecer um teórico: quanto mais pensa, mais foge à ação. O problema então não era mais compreender, mas arder e consumir- se. As concepções deviam transformar-se em sensações, o conceito de Deus, em sensação de Deus.

Na trajetória do seu desenvolvimento espiritual-inspirativo, após a compreensão e a necessidade de agir, surgia a terceira estrada, todas elas ligadas por um nexo profundo, e convergindo para um mesmo ponto: a dor, que ele chamou de irmã e mestra. A dor dos grandes inspirados não tem, porém, um caráter negativo ou maléfico, como poderia parecer aos nossos olhos. Preparando o caminho para as profunda introspeccões, ela acorda e desenvolve as qualidades do espírito até então latentes. Diz-nos Ubaldi em A GRANDE SÍNTES: "Cada um sofre conforme o nível em que se encontra: um maldizendo, outro espiando e outro bendizendo e criando. Das três cruzes iguais do Gólgota, partiram três dores diferentes. Somente justiça e amor é a reação dos Grandes".

A dor foi assim o agente ativo que o levou a encontrar-se a si mesmo. Foi o estímulo mais enérgico que o forçou a compreender o próprio "eu" e a operar a sua transformação e ascensão.

O fator complementar da sua formação foi a doença, a qual o acompanhou durante 20 anos. Estranha, porém, era a sua doença, porquanto de difícil diagnóstico. Ele não tinha lesão alguma; todos os orgãos estavam em perfeito estado, portanto, teoricamente, devia estar bom. A sua doença era fruto da vida espiritual demasiado intensa que não se adaptava ao ambiente humano. Em decorrê ncia, o seu organismo espiritual não se adaptava ao seu corpo físico, com o qual se encontrava em contínua desavença.

A sua doença não se poderia considerar como tal, segundo o consenso comum. Era a pseudo-doença da evolução, era o pseudo-patoló gico que induz a tantos em erro, com a febre resultante da intensa maturação do espí rito, ocasionando desequilíbrio nas transformações biológicas. Era, pois, inútil pretender que a medicina compreendesse e curasse o íntimo dissídio fí sico-espiritual do seu ser e fosse possível acalmar o seu tormento.

Quando tudo, porém, está maduro, o fenômeno se precipita rápido e irresistível como uma explosão. Igualmente, quando a solução está saturada, o acréscimo da menor partí cula é bastante para pricipitar o soluto. Apenas as forças do destino o fizeram tocar o fundo do abismo, transformaram-se num golpe para elevá-lo e salvá-lo. Apura-se, então, a sua sensibilidade psíquica, a sua percepção espiritual. Na noite de Natal de 1931, escreve:

"No silêncio da noite santa, escuta-me. Põe de lado todo o saber e tuas recordações; põe-te, tu mesmo, de parte e esquece tudo. Abandona-te à minha voz, inerte, vazio, no nada, no mais completo silêncio do espaço e do tempo. Nesse vazio, ouve minha voz que te diz - esquece-te e fala: Sou eu.

E assim nasce o escritor, o inspirado, o filósofo. Surge A GRANDE SÍNTESE, um monumental templo de construção religiosa e cientí fica, trazendo-nos o Monismo, conceito de um Deus que é a criação. Seguem-se dez mil páginas de produção literária fecunda e profícua.

A GRANDE SÍNTESE foi escrita por Ubaldi nos verões de 1932 à 1935. Foram quatro anos de super- produção intelectual, de intenso drama interior, de hipertensão, de sublimação psíquica e espiritual. Naqueles escritos, oferece o fruto total de seu próprio ser, naquela fase de sua maturação, atingida no caminho evolutivo. Se esta obra possui assim, um caráter exterior e visível de revelação de conceitos, mesmo emitidos com antecipação no tempo para efeito de aproveitamento para a realidade da vida, por outro lado, possui também um caráter interior para o autor, vivido no silêncio e na solidão, representando a história da maturação do seu espírito, para que pudesse atingir aquele momento - talvez esperado e preparado a milênios - momento de sua maior realização.

Voltemos porém, a considerar o fenômeno inspirativo. Este, pela sua natureza é complexo, porque nele intervém elementos morais, espirituais e biológicos, cuja solução implica na dos mais vastos problemas do universo. É, porém, fenômeno concreto, cuja explicação não pode ser reduzida, sem mutilação, a simples hipótese vibratória de transmissão e recepção de ondas. Deve ser enfrentado com objetividade, fria análise científica, mas com profunda introspecção simultânea, para penetrar e solucionar o problema do supra-normal. Ubaldi, nos oferece assim, os seus estudos sobre o fenômeno, como útil colaboração à ciência da alma, que deverá ser a ciência do futuro.

O fenômeno inspirativo, por ser um fenômeno essencialmente evolutivo, de sensibilização, ocupa um campo muito vasto. Inicia-se nas comunicações através dos sentidos comuns, nos níveis de mais alta racionalidade. Atravessa depois os que escapam a eles, chamados de extra-sensoriais, estudados pelo moderna parapsicologia, alcançando depois níveis superiores, mais evolvidos, onde estariam situados os fenômenos místicos. Neste campo, não devemos nos colocar preconcebidamente em relação a fatos ou palavras, habitualmente usados de maneira indiferentes. Importa o conceito que exprimem, importa compreender o fenômeno, ainda que as expressões sejam algo insólitas para alguns.

Citemos Ubaldi, em A GRANDE SÍNTESE:
"Começai por deixar de negar essa incompreensível intuição, e ela vos aparecerá. A intuição é esta psiquê mais profunda que se manifestará, aparecerá em vós, por lei natural de evolução, por uma fatal maturação que está próxima.
Deixareis de lado para os fins da vida prática, aquela psiquê exterior e de superfície, que é a razão, porque tão só com esta psiquê interior, que está na profundeza do vosso ser, podereis compreender a realidade mais verdadeira, que se encontra na profundeza das coisas. Somente entre seme-lhantes é possível haver comunicação, e, para compreender o mistério que existe nas coisas, deveis saber descer ao mistério que está dentro de vós.
"Isto não o ignorais totalmente; olhai aturdidos para tantas coisas que afloram de uma vossa consciência mais profunda, sem conseguir encontrar-lhes as origens: instintos, tendências, atrações, repulsões, intuições. Aí nascem irresistivelmente, todas as grandes afirmações de vossa personali-dade. Aí encontrareis o vosso Eu verdadeiro e eterno; não o Eu exterior, aquele que, vós que estais num corpo, mais sentis, que é filho da matéria e com ela morre. Este Eu exterior, esta consciência clara, no contínuo volver da vida, se expande, aprofunda-se em direçã o àquela consciência latente, que procura emergir e revelar-se. Os dois pólos do ser, consciência exterior clara e consciência interior latente, tendem a fundir-se. A consciê ncia clara experimenta, assimila, imite na latente os produtos assimilados através dos movimentos da vida: distilações de valores, automatismos, que constituirão os instintos do futuro. Assim, a personalidade se expande com estas permutas incessantes e realiza-se a grande finalidade da vida. Quando a consciência latente tenha se tornada clara e o Eu conhecer-se todo a si mesmo, nesse dia, o homem terá vencido a morte".

Esta intuição, que como vimos poderemos chamar de psiquê interior, ou consciência latente, alcançada por evolução biológica-psíquica, é o instrumento de trabalho de Ubaldi, que dela faz uso contínuo, de modo sistemático, conseguida através de uma vida inteira de total dedicação.

Em todos nós existe esta faculdade intuitiva, tanto que muitos conhecimentos são por nós adquiridos através dela, apenas que, por falta de té cnica, disciplina estrita, ou condições adequadas para que ela possa emergir, a intuição funciona de modo intermitente, indo e vindo, indiferentemente da vontade do sensitivo. Fato, porém, importante, constatamos no funcionamento da intuição. Ela é incompatível com o pensamento lógico raciocinante, o qual somente deverá ser usado em seguida, numa segunda etapa, após a recepção da idéia pura, na fase conceptiva, para controle dos conceitos obtidos.

Descrevendo o fenômeno no livro AS NOÚRES, Ubaldi explica que, os primeiros contatos com as fontes de inspiração são obtidos por um preparo de ambiente em hora adequada, geralmente a noite, cuja finalidade é a harmonização. Música suave, e em torno, silêncio completo. Luzes moderadas em tom menor; ao redor, tudo escuro. Lentamente, as coisas perdem o seu perfil sensório. Lentamente também, vai perdendo a sensação física do corpo, embalado pelos complexos sons rítmicos, num estado de tranqüilidade confiante. Atravessada esta fase, desperta além da vida normal, num outro estado de consciência. Seu estado não é de sono, nem de passividade, nem inconsciência, porque todas as sensações da vida retornam com maravilhosa e nova potencialização de todas as faculdades de sua personalidade. O pensamento regressa, mas com uma sensação de potência titânica, com uma profunda lucidez de visão, com uma rapidez vertiginosa de concepção, despojado de palavras, em sua essência. O seu novo olhar já não é interceptado pela forma, mas penetra diretamente na substância, buscando o conceito genético, o princípio que anima e governa as coisas. Terminada a visão e a registração, o processo se inverte numa descida: é o retorno à consciência humana.

Diz ainda Ubaldi, no mesmo livro citado:
"Assim como o transe lúcido e consciente é preparado por uma fase de adormecimento, do mesmo modo termina por uma fase de despertar. Essa sonolência e esse despertar, entretanto, referem-se à minha consciência normal, pois, em face da minha outra consciência, os termos simplesmente se invertem. Para que uma possa despertar é necessário que a outra adormeç a. Evidentemente, a volta ao estado normal, dá-me vivíssima sensação de enfraquecimento intelectivo, de redução da personalidade, de queda em dimensões mais involvidas, em que tudo está comprimido entre barreiras e encerrado em limitações: há uma sensação de gigante abatido".

Completando essa explicação do fenomeno inspirativo, no capítulo O meu caso parapsicológico, do livro UM DESTINO SEGUINDO CRISTO, Ubaldi nos apresenta o seguinte relato:

"Na minha registração inspirativa, tenho sempre observado que a técnica do funcionamento do pensamento é neste caso diferente do pensamento que uso no estado normal, para os trabalhos mentais comuns da vida. O primeiro é um pensamento expontâneo, automático, que foge ao controle de análise, independente de minha vontade de pensar e esforço de raciocínio para compreender. Parece assim que os dois tipo de pensamento sejam antagônicos e se eliminem, porque a intervenção consciente do pensamento cerebral, paralisa o funcionamento do pensamento intuitivo.
Assim, para melhor recepção, é útil ocupar-me e, então, distrair a atenção, por exemplo, com a boa música harmoniosa e elevada, ou olhando reproduções de quadros de alta concepção, ou de paisagens com tons agradá veis.
Tudo isto prova, experimentalmente, a possibilidade de um pensamento não cerebral, elaborado no inconsciente sobre o plano espiritual, independente dos meus elementos de memorização e de uma precedente preparação mental consciente".

A História é plena de relatos de visões, audições, etc., de origem extra- sensorial, e a humanidade muito tem se beneficiado seguindo os rumos deixados pelas intuições dos gênios, misticismo dos santos e inspirações dos artistas. A Ciência para progredir mais, deve também procurar despertar, educar e desenvolver essa faculdade mais profunda que é a intuição. A ciência somente vale como meio de ascensão da vida, e como tal deve ser usada. Quão poucos cientistas, para compreender um fenômeno, pensaram em procurar atingir sua própria purificação moral!

A pureza moral, a pureza de espí rito, de intenção, é condição primeira para se conseguir a sensibilidade do instrumento de indagação, que somos nós mesmos, e que nos abre a porta para novas conquistas. Quando o instrumento está preparado, pelo fenômeno de ressonância, automaticamente, ele está apto e pronto para registrar, por sintonia ou harmonização vibratória, diretamente da fonte comunicante à qual indagar, à semelhança de uma transmissã o-recepção radiofónica. Esta é a base da recepção inspirativa.

Rapidamente, o aspecto técnico do fenômeno poderia ser focalizado da seguinte maneira: qualquer fonte de emanação irradia em torno de si um impulso que transmite. Chamemos esta fonte de centro transmissor. Verifica-se por lei geral, em todos os planos de evolução, este fenômeno de expansão cinética, que é um princípio de unidade e amor, que coliga em suas partes e elementos, todo o Universo. Para entender também este aspecto técnico, importa haver compreendido o Universo, escalonado como é em suas fases evolutivas, que significam planos ou níveis de existência, de sensibilidade, de concepção. As fases mais concebíveis, por serem as mais próximas do nosso Universo são: matéria, energia e espírito. O universo físico (matéria) evolve para universo dinâmico (energia), que evolve para universo psíquico (espírito); mais além, evoluciona para planos superpsíquicos, que, atual e normalmente, constituem para o homem um inconcebível. Pois bem, a passagem por evolução de um plano a outro, provoca mudança de dimensão ou unidade de medida. Aquele princípio de irradiação que acima referimos, lança, nas várias dimensões de evolução, emanações, que, ao encontrarem um centro sensível, podem ser registradas. Este segundo centro é o centro receptor.

O fenômeno corresponde, por analogia, no plano inferior do universo dinâmico, à transmissã o acústica e, num nível relativamente mais elevado, à transmissão radiofó nica através das ondas hertzianas, que são uma forma mais evolvida de ondas acústicas. A menos de uma constante, que seria o fator de multiplicação de transferência entre os diversos planos evolutivos, a diferença entre o caso inspirativo e o símile acústico ou o radiofónico, é que no inspirativo, os dois termos do fenômeno se situariam em planos diversos de evolução e, portanto, em duas dimensões diferentes. Na recepção radiofónica, o período final é acústico como o inicial, embora a transformação sofrida na transmissão e na recepção, em vibração elétrica e a de retorno, por ser esta mais rápida e dominar um campo espacial mais amplo.

No fenômeno inspirativo-conceptual, o centro gerador da emanação se situa evolutivamente acima do mundo dinâmico e do psíquico, estando situado numa dimensão superconceptual de caráter abstrato, onde se encontram os princípios universais. Ele não irradia vibração alguma no sentido em que conhecemos, mas emana um "quid" imaterial, um impulso, uma potência que não se pode definir com os atributos das dimensões que conhecemos. Somente após uma transformação dimensional no sensitivo, de tal modo que haja repetição do impulso originário, a comunicação pode ser obtida. Devemos considerar também que o sensitivo deve possuir sensibilidade e potência suficiente para alcançar e sintonizar a dimensão evolutiva do centro gerador-emissor. Este processo poderia ser comparado a um transmissor que pensasse diretamente em ondas hertzianas e depois sofresse, dentro do próprio transmissor, uma transformação involutiva em energia mecânica, e, por fim, sonora, para ser percebida no plano sensório.

Sendo o Universo orgânico e regido por um princípio unitário, não é difícil a compreensão do fenômeno inspirativo, através de analogias como a apresentada. A obtenção do mesmo, porém, implica no conhecimento das leis que o regem, de modo a estabelecer as condições para a comunicação. Desse modo, sendo o fenômeno por nós estudado, uma sintonização entre dois centros, transmissor e receptor, a condição principal para que ele se dê é que exista afinidade entre ambos, os quais se comunicam regidos pelo princípio de ressonância. Esta somente se dá, quando exista capacidade de vibração em uníssono, o que sucede por sua vez, apenas quando os dois centros se encontrem no mesmo nível evolutivo, isto é, de sensibilização, de perfeição moral e potência perceptiva conceptual.

Para efetuar a transformação dimensional, o receptor, no caso o sensitivo, o inspirado, como queiramos denominá-lo, tem de dominar uma amplitude perceptiva ampla, em que sua sensibilidade é posta à prova através de mutação interior rápida, agilidade de deslocamento ao longo da linha de evolução, presteza de adaptação às sucessivas focalizações das várias visões percebidas, mantendo-se sempre consciente de modo a relacionar e conservar a própria lucidez e potência de análise. O inspirado não deve ainda fechar as porta atrás de si, mantendo unidas a sua superconsciência e a consciência clara normal, a fim de que seja possível, após haver subido evolutivamente, descer involutivamente para transmitir à sua consciência comum, o conteúdo da sua visão. Realiza, nas profundezas do seu Eu, o laborioso esforço de redução do superconsciente inconcebível, ao consciente concebível. Sem essa descida evolutiva, não saberia expressar-se, e, se conseguisse, seria julgado um louco. Deve ainda possuir memória precisa nos complexos estados pelo qual passa; ter igualmente qualidades de auto-análise e introspecção para analisar e interpretar o fenômeno, permitindo-lhe apresentar o método intuitivo na pesquisa sistemática do inexplorado científico.

Eis aí, sucintamente apresentado o método de trabalho de Ubaldi e a técnica por ele empregada. Em verdade, tudo não é tão simples como foi exposto, porém, complexidade não é motivo de perplexidade. O homem possui em si, ainda latente, um potencial, aguardando apenas um pouco mais de maturação, que o conduzirá a conquistas científicas que ultrapassam a ficção.

Vimos, com esta exposição, trazer notícias um pouco mais aprofundadas, sobre a realidade do espírito e de alguns fenômenos que lhe são concernentes. Subjetivos e abstratos, é verdade, mas realidades incontestes porque fatos concretos, vividos e sentidos por mais um sensitivo-inspirado, o qual dedicou toda a sua vida à pesquisa supranormal, com o mais estrito critério científico.

Forneceu a nós e a posteridade, um completo edifício filosófico-científico e religioso.

A grande massa humana, distraída por tradição secular em torno dos motivos imediatos da vida, necessita de um impulso inicial para ser levada ao caminho certo. Sendo ele apontado por alguém que sobre ela possua influência, aumenta dia a dia a corrente dos que ingressam numa concepção mais evoluída de vida. Quem já traz em si a intuição segura do caminho, cedo o encontra. Nossos olhos, entretanto, se voltam para a multidão de seres que estão em busca de diretrizes e darão crédito a quem se impor à sua confiança pelos títulos honoríficos da ciência. Esses líderes intelectuais têm em torno de si um imenso rebanho a conduzir e precisam achar a direção certa.

Concitamos para tanto, os estudiosos e os intelectuais, a tomarem contacto com estes conceitos, admitindo-os, pelo menos, como hipótese de trabalho.

Muita Paz à todos. Muito obrigado.

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