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O Destino Final dos Espíritos

Pedro Orlando Ribeiro

Pergunta:

Lendo textos de Pietro Ubaldi, surgiu-me uma dúvida. O venerável escritor, em sua obra "Profecias", Cap. 7 , assevera o seguinte: "O grande drama do Apocalipse está em seu epílogo e fecha-se, em sua terceira parte, com a cena grandiosa da ressurreição dos mortos e do Juízo Universal. Satanás esta definitivamente derrotado. Diante do trono de Deus comparecem os mortos. Abre-se o livro da vida, em que tudo esta escrito e cada um é julgado segundo suas obras. O mar entrega os seus mortos. A morte e o inferno entregam seus mortos. Depois "... a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo; esta é a segunda morte. E aquele que não foi achado escrito no livro da vida, foi lançado no lago de fogo" (Ap. XX, 14 e 15). Há, pois, uma absoluta destruição final, em que são anulados também a morte e o inferno, uma segunda morte, última e definitiva, em que são precipitados todos os que não foram achados escritos no livro da vida. E a vida é Deus.

Então, isto significa os que não eram da parte de Deus e do bem. Eles são eliminados do sistema, anulados mesmo como espíritos. Esta não é a habitual morte do corpo, não é a normal decadência de todas as coisas, para renovar-se e evoluir. Não é a costumeira morte temporária, de que tudo ressurge. Esta é a segunda morte, a definitiva, do espírito."

Ocorre, contudo, que no Cap. 4 , da mesma obra, ele diz que: '' Prepara-se hoje, dessarte, fatalmente, a seleção, anunciada em 1931 na primeira mensagem de Sua Voz. Assim, os justos de qualquer religião ou raça estarão de um lado, e os injustos, do outro. Isto porque a hora chegou em que os involuídos serão expulsos para ambientes extraterrestres para eles proporcionados e adaptados, onde eles possam viver de acordo com seu baixo nível de vida, e assim libertar o planeta de sua imunda presença, porque este deve, de agora em diante, progredir para tornar-se a pátria duma humanidade mais evoluída."

Comparando essas duas passagens, estranhei o fato de, no primeiro trecho, ser defendida a tese de aniquilação dos espíritos injustos. Segundo a narração, os involuídos serão eliminados mesmo como espíritos, ou seja, haverá a destruição da centelha divina, da individualidade eterna, espiritual ("... não é a costumeira morte... Esta é a segunda morte,a definitiva, do espírito"). Contudo, no segundo trecho, temos uma outra tese, a qual relata a transmigração dos espíritos impuros a ambientes extraterrenos e não a destruição desses seres. Gostaria de saber qual das duas teses prevalece ou, ainda, qual seria a interpretação correta do primeiro trecho, extraído do capítulo 7, da obra "Profecias",caso tenha eu a entendido equivocadamente?

Resposta:

Você levantou uma possível contradição entre duas afirmações de Ubaldi no mesmo livro (Profecias). Nota-se que você é um leitor atento que não deixa passar nada e procura uma explicação para este aparente paradoxo. O tema é concernente a mais alta Teologia e, portanto, o que procuro demonstrar abaixo deve ser recebido com uma certa reserva já que não sou um teólogo. As minhas colocações devem ser tomadas não como uma verdade definitiva, mas sim como uma abertura para o debate.

Há nas duas afirmações uma evidente contradição sobre o destino final dos espíritos rebeldes: a eliminação definitiva dos espíritos insubmissos ou a transferência para um ambiente extraterrestre, onde retomarão o trabalho evolutivo a partir de um nível adequado às suas culpas.

A primeira hipótese tem os seus fundamentos na teoria da queda: Já dissemos sobre Deus criador, que a primeira criação dos espíritos puros produziu não uma simples multiplicidade, mas um verdadeiro organismo, um Sistema, com hierarquia de posições e distribuição de funções, como é indispensável em qualquer organismo ou sistema. A estrutura orgânica não foi apenas uma necessidade para contrabalançar o processo divisionista, de onde derivara a criação e que podia ameaçar a coesão da unidade do todo. O Sistema assumiu a estrutura orgânica sobretudo porque a criação de tantos seres diferentes se baseava no princípio do Amor, o qual foi a força que continuou a cimentá-los, o impulso que devia mantê-los unidos em sistema, o único possível num regime de absoluta liberdade. (P. Ubaldi - O Sistema).

Ora, se os seres foram criados num regime de absoluta liberdade é evidente que existia a possibilidade da revolta, que de fato acabou ocorrendo. Também podemos inferir que num sistema de liberdade absoluta esta revolta pode ser levada as últimas conseqüências, ou seja, a eliminação no final do ser rebelde. Mas, é preciso compreender o que seja um Sistema perfeito, como o que Deus criou antes da queda. Na citação acima sobressai três aspectos básicos da criação: amor, liberdade e organismo com hierarquia de posições. A liberdade é o princípio básico da individualidade (egocentrismo); o amor tem a função de contrabalançar a liberdade, pois, sem o ele não seria possível a existência de um organismo unitário perfeito. Vemos, assim, que a perfeição é o equilíbrio entre aspectos aparentemente contraditórios. Este equilíbrio foi rompido pela criatura usando a prerrogativa da sua liberdade em prejuízo do amor que cimentava o Sistema. Mas como a criação original era equilibrada por duas forças complementares o reequilíbrio tende a se restabelecer automaticamente (o que já vem acontecendo no atual período evolutivo). Fica claro agora que Deus havia previsto esta queda, pois criou um organismo perfeito capaz de curar a si próprio. Pode-se também concluir que as duas forças (amor e liberdade) se equivalem pois têm "módulos" infinitos, já que pertencem a um Sistema perfeito, equilibrado e infinito. Se admitíssemos que no final do ciclo evolutivo (recuperação da queda) possa haver a eliminação definitiva daqueles que permaneceram rebeldes, estaríamos admitindo que uma das forças básicas do Sistema (no caso a Liberdade) fosse superior em módulo a outra componente (amor) do binário original, o que constituiria um absurdo.

Desta forma fica esclarecido o verdadeiro significado da possibilidade da eliminação definitiva dos espíritos rebeldes: Teoricamente ela é verdadeira, já que deriva de uma força de módulo infinito, mas que na prática não acontecerá porque o perfeito equilíbrio de forças complementares impedirá que aconteça. É preciso compreender que o Universo é um sistema equilibrado e harmônico. Creio que assim é possível compatibilizar dois conceitos aparentemente contraditórios. Ambas as hipóteses são verdadeiras em termos lógicos. O que é preciso entender é que a razão é um instrumento ainda muito limitado. Com a evolução da razão lógica para um pensamento sintético intuitivo, o que nos parece contraditório agora, tornar-se-á perfeitamente harmônico.

Ubaldi no livro Deus e Universo confirma que esta possibilidade é apenas teórica: "...que probabilidade existe no sistema, que possa verificar-se, não para o sistema, que é invulnerável, mas para o indivíduo, de um desastre, qual seja a sua anulação pela revolta definitiva? Respondemos logo: Embora a destruição de um espírito seja possível, a probabilidade de semelhante destruição é praticamente teórica. É verdade que o sistema é construído de maneira que possa chegar até aí, mas não está na lógica das coisas que um espírito se deixe arrastar até esse extremo. As razões são as que seguem: ser destruído é contra o interesse e a felicidade do ser, é agir contra o princípio do "eu Sou" que o mantém em vida. É verdade que o rebelde, tendo-se colocado no negativo automaticamente propende para essa anulação. Mas a arma da revolta, ele crava na própria carne e, quanto mais ele a utiliza tanto mais intensifica a própria dor. Ele tem de suportar um esforço cada vez maior, uma luta sempre mais feroz para insistir nessa via dolorosa, para contradizer o seu próprio instinto de felicidade, para afastar-se do que constitui o centro para todos e também para ele - de Deus. Poderão impeli-lo por essa via de perdição o seu originário orgulho, o espírito de revolta. a força da inércia, como massa lançada em ricochete, o mal e o ódio do que ele está feito. Mas o fenômeno deverá também atingir um ponto de saturação, pelo qual o interesse egoístico deverá prevalecer, pois que a dor, intensificando-se sempre, superará o limite individual de tolerância, e uma existência de ódio e de mal, cada vez mais distante de Deus, centro de felicidade, acabará por tornar-se impossível. Este será o momento crítico da inversão de rumo, da direção involutiva para a evolutiva. Então o ser se porá no caminho da reconstrução, percorrendo-o, a dor irá diminuindo, e não aumentando como no oposto.

Finalmente podemos compreender que tanto o Apocalipse como Ubaldi estão corretos. O Apocalipse concentrou-se na verdade conceitual pura. Já Ubaldi se baseou na verdade dinâmica. Pensamento e ação: duas formas da mesma substância divina.

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