Caros Amigos,
Sou obrigado a vos
falar em italiano porque não consegui, ainda, o domínio completo de vossa língua.
Há cerca de dois meses que estou percorrendo a vossa grande terra e, durante esse tempo, tive a
oportunidade de constatar um acolhimento entusiástico às minhas humildes palavras. Eu me
apresso, porém, em vos afirmar: não sou eu a quem deveis louvar. Eu sou, simplesmente, o
instrumento; eu recebo; nada é de minha criação. Se eu pudesse, nesta noite, dar-vos
uma idéia concreta da "Voz" que me fala eu vos apontaria, em primeiro lugar, a imagem que
está no quadro aqui exposto ( No salão estava exposto um quadro reproduzindo a imagem de
Cristo tecida em fios de seda. O quadro foi feito por uma médium - que não sabia tecer -, sob
inspiração mediúnica, e por ordem expressa do Alto, ofertada ao prof. Pietro Ubaldi ).
Esta é a figura que eu sinto presente dentro de mim sem poder vê-la fisicamente e a sua
expressão me dá, neste momento, a sensação viva da sua presença neste
recinto.
O assunto da conferência que será lida, a
seguir, prende-se muito ao grande problema da reencarnação - doutrina que aqui é aceita
por todos e com grande fé -, mas que na Europa é assunto controverso. Eu me comprometo, no
próximo livro, a demonstrar cientificamente esta grande Lei e essa demonstração
será tão convincente que será aceita, sem discussão, por qualquer mente capaz de
raciocinar, assim como acontece com a demonstração do teorema de Pitágoras - ou outros
semelhantes -, cuja evidência é absoluta.
A
primeira concepção, que me nasceu no cérebro, sobre a reencarnação, foi
há muito tempo. Eu tinha aproximadamente 26 anos e vivia em dúvida completa, pois, já
golpeado profundamente pela dor, não conseguia atinar com as suas causas. Eu atribuía aos
erros cometidos por mim, ou por outros, mas isso não contribuía para eliminá-la.
Investigava a filosofia, os vários sistemas filosóficos, porém, da mesma forma,
não conseguia alívio algum. Estudava o espírito das religiões e, todavia,
também isso não proporcionava consolação.
Então, por acaso - digo acaso, mas por certo era obra da
Providência -, caiu em minhas mãos o "Livro dos Espíritos", de Allan Kardec.
Eu era jovem, desorientado, não tinha, ainda, passado pela experiência dos grandes problemas da
vida. Li o livro com grande interesse e vos confesso que, em certo ponto, exclamei: Achei!... Eureka!
Poderia ter eu repetido, encontrei, encontrei finalmente a solução que eu procurava e que me
esclareceu! Ela foi a primeira semente que deu origem ao meu
adiantamento espiritual e daquele dia em diante foi se tecendo a trama luminosa do esclarecimento de tal
forma que, ampliando-se, ele penetrou a ciência, a filosofia, a religião, os problemas sociais
e os problemas de todo gênero. Devo, então, confessar-vos, precisamente aqui, nesta noite e
neste local, que a Allan Kardec devo a primeira orientação e a solução positiva
do problema mais complexo que, mais de perto, me interessava, considerando minha condição de
ser humano. Com grande prazer recebi esta primeira
orientação. Sem ela eu deveria trabalhar, quem sabe, vinte, trinta anos, ainda. Este primeiro
jato de luz me veio há quarenta anos precisamente e hoje esta luz se completa no que eu ofereç
o, como eu disse antes, não criado de mim, mas recebido em conseqüência do esforço
desenvolvido para ampliar o campo de aplicação daquela grande idéia, alcançando
o seu objetivo final concretizado nos setores social, religioso, filosófico, etc. E é interessante observar que, em conseqüência
disso, eu, sem o saber, era espírita há quarenta anos! Eu vos afirmo isso porque na Itá
lia não há espíritas e vindo ao Brasil não fazia idéia, não
conhecia nada deste grande mundo que eu encontrei aqui e que me atordoou pela sua organização,
pela sua fé, pela sua vastidão. Na Europa não temos idéia disto. Eu estava,
portanto, e estou convosco há muito tempo. Somente hoje vejo e reconheço que em certa parte do
mundo, longe da Europa, existe a mesma fé que eu já havia encontrado sozinho. Ora, o fato de
tê-la encontrado sozinho, ou de recebê-la isoladamente é a prova evidente de que todos
estamos dentro da verdade. Eu não recebi esta verdade de uma escola ou de uma doutrina. Eu a senti
nascer em mim. Esta concordância, que coisa prova? Que a verdade é una, una para todos, assim
como na Terra qualquer indivíduo que abra os olhos vê que o sol existe igual para todos. Isto
foi uma grande prova para mim, e creio que ela o possa ser também para vós. Esta noite é a última em que eu falo em São
Paulo. Andei por vários Estados. Fui até Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais. Estive em
cerca de vinte cidades no Estado de São Paulo. Encontrei em toda a parte uma grande fé, uma
grande assistência social. Bela realização! Isto me entusiasma! Encontrei nos lugares de
cura não só a ciência, mas, sobretudo, a fé. Agora, curar os doentes não
só com os processos materiais, como se faz na Europa, mas aquecendo a alma deles com o Evangelho,
explicando-lhes a causa das suas dores e ensinando-lhes o verdadeiro caminho para superá-las
partindo, em primeiro lugar, da alma, e não considerando, como o faz a ciência materialista
moderna, o nosso corpo como agregado de células - ou como o corpo de qualquer animal -, isto é
grandioso! Admirei este fato! E falarei na Itália e na Europa, protestando contra o interesse
materialista que lá se imprime a todas ou a quase todas as instituições de cura dos
doentes de todas as espécies. Esta noite, então,
encerro o ciclo das minhas conferências e vos transmito o meu adeus. Daqui a pouco - um mês,
mais ou menos -, voltarei para a Itália. Lá encontrarei o inverno. Voltarei ao meu quarto
solitário em Gubbio, onde tenho vivido muitos anos, onde escrevi muitos livros que hoje vós
ledes. Naquela quarto, em um canto, existe uma pequena mesa onde eu penso, recebo e escrevo sozinho.
Encontrarei a solidão e o frio. E também tristeza - uma grande saudade, como vós dizeis
-, uma grande nostalgia, uma grande vontade de vos rever e de vos abraçar. E espero que este meu
desejo tão intenso precipite o momento em que eu possa realizá-lo. Observai, portanto, que a minha gratidão pela vossa bondade
é imensa. Vós me recebestes com grande amor, eu o senti. E restituí o amplexo - com o
qual vós me enlaçastes -, com o meu abraço fraterno. Desejaria estreitar-vos em
coração, um por um. Mas como fazer se sois tantos!... Mas espiritualmente o faço porque
com o espírito se pode faze-lo. Retirado naquele quarto escreverei outros novos volumes mas com uma
fé mais intensa porque hoje eu sei que um povo inteiro me compreende e esta compreensão me
ajuda. Antigamente eu escrevia sozinho, sozinho com "A Sua Voz", sem auxílio dos meus
semelhantes porque na Itália eu não sou muito conhecido. Estas coisas lá não
são tão compreendidas. Pratica-se um espiritismo diverso, um espiritualismo com outra
orientação que, no momento, não vos posso explicar. Eu sou sozinho na Itália.
Mas, aqui, o vosso afeto me enterneceu tanto que eu escreverei com ardor redobrado; a minha palavra
será mais quente, mais potente. Devo completar o meu
10° volume "Deus e Universo" que é de potencialidade que me aturdiu, que me esmaga,
porque, posso afirmá-lo, é super-científico. É literatura de caráter
teológico, mas de uma teologia nova que esclarece proporcionando explicações racionais
e científicas. Utilizando-se, por fim, das equações matemáticas explica
exatamente o que é o pensamento de Deus antes e depois de nossa criação. Explica os
conceitos fundamentais da Bíblia, a queda dos anjos e o significado do pecado original, a origem e o
fim do bem e do mal, bem como a solução final do dualismo que é a lei que preside o
universo que eu sinto que é um universo plasmado na matéria da qual nós devemos, com
grande esforço, sair, evoluindo para chegarmos até Deus, nossa meta, nosso centro, nossa
última e suprema felicidade. Continuarei o meu trabalho mas
devo, aqui, vos agradecer pelo vosso amor que me ajudará de um modo extraordinário. Eu vos
agradeço a vossa bondade ensinando-me a amar - coisa de que nunca me esquecerei -, esta grande terra,
o Brasil, que é, eu vo-lo afirmo, a minha segunda pátria.
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