O Conceito de
Tempo na Filosofia Ubaldista
Pedro Orlando Ribeiro
Oconceito de Tempo na filosofia Monista é um dos assuntos mais
difíceis de serem compreendidos, pois Ubaldi emprega a palavra Tempo em dois sentidos. Trata-se de uma nova
abordagem conceitual deste tópico e ainda não existem vocábulos que diferenciem claramente entre si os dois
significados. Outro obstáculo é a atual forma de nossa consciência, inadequada para compreender temas que se
situam além do nosso universo dimensional.
Nos capítulos iniciais de A
Grande Síntese, Ubaldi alerta para esta diferença de conceitos para a palavra Tempo: Por tempo entendo, o
ritmo, a medida do transformismo fenomênico; isto é, um tempo mais amplo e universal
que o tempo no sentido restrito - medida de vosso universo físico e dinâmico - e
desaparece no nível a; um tempo que existe onde haja um
fenômeno e subsiste em todos os níveis possíveis do ser, tal como um passo que assinala o caminho da eterna
transmutação do todo.
Vamos tentar compreender o que significa
tempo restrito e tempo universal. É importante estarmos cientes de que
vivemos num Universo decaído por motivo da queda no Anti-Sistema de parte das criaturas do Sistema perfeito
original. Esta queda se deu na forma de desmoronamento do Sistema orgânico em infinitos universos onde as
criaturas ficaram escalonadas hierarquicamente em sentido inverso da sua posição original na hierarquia do
Sistema. Quem estava mais em cima caiu mais embaixo e vice-versa. Estes infinitos Universos são trifásicos
como o Sistema original. Cada fase destes universos têm a sua dimensão própria. As dimensões também se
agrupam de 3 em 3 (o devenir das dimensões é cíclico). Assim, a dimensão espacial
inerente a matéria, evoluiu da dimensão linear, passando pela dimensão superficial e concluiu o seu ciclo na
dimensão volumétrica. Concluída esta tríade passa-se a gênese progressiva da dimensão conceptual através do tempo, da consciência e da
superconsciência.
O tempo, primeira dimensão conceptual
toma a forma de consciência própria, linear por analogia com a dimensão linear do espaço. Este é o tempo que
Ubaldi denomina tempo restrito. É uma consciência que sabe apenas do seu progredir
no tempo (tempo universal). É uma consciência ainda primitiva que não se eleva a
julgamentos porque ainda não percebe a existência de outros fenômenos paralelos. Este tipo de consciência é
propriedade das forças que têm conhecimento apenas do seu transformismo.
Com o surgimento da dimensão seguinte, a consciência (razão)
correspondente à superfície na dimensão espacial, o tempo (restrito) começa a desaparecer ao ser dominado e
absorvido pela consciência. Embora o pensamento analítico ainda seja seqüencial no tempo, podemos pensar em
termos de passado, presente e futuro. Não podemos viajar fisicamente no tempo mas podemos dominá-lo através
do pensamento. Com o surgimento da superconsciência (intuição) no futuro, a concepção será uma visão global
instantânea de tudo o que agora nós concebemos sucessivamente, por conseguinte o tempo (restrito) desaparece
por completo e o pensamento torna-se sintético e instantâneo. Assim, esta dimensão tempo relativa a energia
desaparecerá em universos que seguem ao nosso na linha evolutiva. Ele também não existe em universos que
precedem o nosso. Ubaldi a este respeito escreveu:
A evolução
corresponde a um conceito de libertação dos limites que sufocam, dos liames que estrangulam, é um conceito
de expansão cada vez mais amplo do nível físico ao dinâmico e ao conceptual. Por isso, é subida, progresso e
conquista. Embaixo, nos graus subfísicos, o ser está apertado em limites ainda mais angustiosos do que são o
tempo e o espaço que atormentam vossa matéria; no alto, nos graus superpsíquicos, não apenas caem as
barreiras de espaço e de tempo - tal como já ocorre em vosso pensamento - mas desaparecem também os limites
conceptuais, que hoje circunscrevem vossa faculdade intelectiva. (P. Ubaldi - A Grande Síntese)
Já o chamado tempo universal marca com seu
ritmo o transformismo (involutivo-evolutivo) também desaparecerá quando terminar a grande marcha evolutiva,
isto é, quando a fração cindida do Anti-Sistema for reabsorvida pelo Sistema, reconstituindo-se em unidade
no absoluto: "A eternidade, despedaçada no tempo, se refaz no uno imóvel, integro, indiviso, e nela a
corrida de transformismo, lançada em busca da perfeição, se detém diante da perfeição atingida. Então o
tempo volta a ser imóvel, sem mais transformismo, e se faz eternidade (P. Ubaldi - Deus e Universo)".
Compreendido o conceito de tempo na filosofia monista ubaldista,
surge-nos outro conceito mais difícil de compreender: a eternidade. Como é um conceito que
está além da nossa mente relativa só podemos vislumbrar alguns de seus atributos:
O absoluto não fica cindido pelo tempo que passa, mas simplesmente
"é", sem tornar-se, livre da concatenação: ... causa-efeito, efeito-causa... Então, ele é totalmente
concomitante, todo presente, todo visível. Nossa divisão entre passado, presente e futuro é apenas uma
posição relativa a nós, dada pelo transformismo, condição necessária da evolução, que é a nossa lei. (P.
Ubaldi - Profecias).
Outro ponto aparentemente paradoxal é a idéia
sobre a imobilidade do eterno Sistema Absoluto (O Nirvana dos Budistas). Ubaldi nos esclarece: Que
significado devemos dar ao conceito de imobilidade do sistema? Explicamos ser o Tudo-Uno-Deus, depois de
ocorrer a criação, um organismo em funcionamento. Ora, um organismo em funcionamento não pode ser imóvel.
Devemos então precisar, com maior exatidão, o significado do conceito de imobilidade neste caso. Pode,
portanto, a imobilidade significar apenas uma mobilidade ordenada em perfeita obediência à disciplina da
Lei. O que chamamos movimento foi, então, um estado ou tipo diferente de mobilidade, isto é, não mais um
movimento regular de ordem, mas um movimento irregular de desordem, em revolta à ordem precedente, fora da
disciplina da Lei e independente dela. Foi um movimento anárquico e desarmônico de rebelião, nascido do seio
do movimento regular e harmônico do Sistema. Em conseqüência, por isso mesmo, houve uma expulsão do sistema
pela própria natureza, para a periferia daquele movimento ordenado; e nessa periferia, esse novo movimento
tentou reorganizar em posição invertida, na forma de Anti-Sistema. (P. Ubaldi - O
Sistema)