Neste
capítulo Ubaldi nos informa que todos os fenômenos, sejam eles de natureza material, energética ou
biológica derivam uns dos outros, impulsionados por um único princípio que partindo das caóticas e
poderosas energias das nebulosas astronômicas transformando-as, ao longo do tempo, nas frágeis, porém
complexas, energias biológicas. O homem, embora mais débil, supera qualitativamente estas desmedidas
forças primordiais através da sua consciência que é sustentada pela eletricidade, uma forma fraquissíma
de energia se comparada com as explosivas forças de natureza cósmica. Assim, a eletricidade é menos
potente do que as outras formas dinâmicas, no entanto, as supera em complexidade e sutileza. Este
aparente paradoxo da forma energética mais débil superar qualitativamente as formas dinâmicas mais
cinéticas é explicado, por Ubaldi, como resultado da organização das forças elétricas criando assim um
sistema de forças mais estabilizado e equilibrado, e desta forma mais fácil de conduzir e de ser
manejado.
Este equilíbrio gerou um estado de ordem que possibilitou o surgimento daquilo que denominamos de vida.
A vida é um dinamismo mais tranquilo diferente do dinamismo explosivo do mundo físico. Com a vida surgiu
uma ordem crescente e cada vez mais complexa que está desenvolvendo além do homem para as organizações
sociais e espirituais.
Vimos nos Comentários do capítulo 47 que tudo é cíclico no
Universo mas, apesar de todo fenômeno regressar às fases já percorridas, no entanto, há uma parte deste
fenômeno que não regressa ao ponto de partida. A explicação deste fato é que a trajetória do
transformismo não é um círculo perfeito. Na realidade o transformismo percorre uma trajetória
espiralóide. Trata-se, todavia, de espirais de pequenas aberturas e, por isso, o desenvolvimento dos
movimentos fenomênicos parecem desenvolver em ciclos fechados em virtude do lento e quase imperceptível
transformismo dos fenômenos naturais. Mas, basta observarmos com mais profundidade no tempo, que veremos
que a periodicidade, existente em qualquer fenômeno, nunca repete exatamente o mesmo ciclo.
Esta parte do transformismo em vez de regressar ao estado
inicial
evolui para formas e fases superiores. Assim, o conhecido fenômeno da entropia crescente (degradação
cinética) que acontece com as individuações do espectro energético se compensam das perdas de sua
potência transformando-a em novas formas energéticas cujas intensidades são menores que, no entanto, são
mais úteis e de fácil manipulação pela ciência e pela tecnologia. Assim, a eletricidade, última forma
radiante da energia, transforma em vida. Poder-se-ia então definir o fenômeno biológico como um
processo de transformação da energia em conhecimento, pensamento, inteligência. (P. Ubaldi - Princípios
de uma Nova Ética)
Há, portanto, continuidade entre as formas energéticas e as
biológicas, símile ao que ocorre também entre as formas da matéria e as da energia. O surgimento da
vida está, por conseguinte, no transformismo das trajetórias cinéticas de uma única substância. Fato
este já nosso conhecido através da formulação simbólica concebida por Ubaldi no capítulo 8:
Neste caso, como conclui Ubaldi, evidencia-se que as origens da
vida não é fruto de uma síntese de substâncias protéicas mas de uma contínua e profunda
transformação cinética de uma mesma substância ao longo de um tempo imensurável. A síntese de substâncias
protéicas é apenas um efeito exterior conseqüente do real transformismo interior que é puramente
cinético. Há, por conseguinte, um onipresente princípio que conduz deterministicamente esta
cadeia transformista de forma tal que tudo surja por filiação, sem saltos ou descontinuidade entre os
termos desta sequência.
Princípio ou lei é um ente abstrato, que na sua forma dinâmica
se torna vontade e ação e termina por concretizar-se na forma. Assim, o agente de qualquer transformação
é um pensamento diretor. Este pensamento diretor na fase evolutiva que chamamos de
vida é o psiquismo. A Biologia Ubaldiana não é centrada nas formas assumidas pelas diversas espécies
biológicas que povoam nosso mundo. Ao contrário de Darwin, Ubaldi coloca em primeiro plano o
desenvolvimento do psiquismo como a causa do transformismo das formas biológicas. Estas nada mais são que
os efeitos daquela causa.
Desta forma, a máxima Somos o que pensamos alcança
um significado mais profundo que vai além de um mero comportamento psicológico. Assim, nosso corpo
material é reflexo materializado da nossa forma mental consciente e inconsciente.
Em outros volumes de sua extensa obra Ubaldi volta a reafirmar de maneira clara esse fato:
A evolução morfológica não representa
senão a expressão exterior da evolução do princípio espiritual, que constrói para si mesmo; regendo-o, o
seu organismo no plano físico. (P. Ubaldi - Princípios de uma Nova Ética)
Tudo é espiritual antes de ser material. E o universal espírito
de causa e efeito nos diz que tudo aparece por derivação e filiação. Compreende-se assim como Cristo,
depois de ter curado os doentes, dissesse a um deles: Vai, não peques mais. (P. Ubaldi - Problemas do
Futuro
Matéria e Espírito são mundos comunicantes e conexos e tudo se
escreve nos arquivos da alma, e o que está escrito deve, cedo ou tarde alcançar o corpo e aí manifestar-
se (P. Ubaldi - Problemas do Futuro)
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Pedro
Orlando Ribeiro http://www.monismo.com.br
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