Neste capítulo a obra alcança o ponto onde termina a descrição das fases g e b e começa o estudo da fase a . O aparecimento da vida no nosso planeta acontece através do transformismo da eletricidade, a forma mais evoluida da fase b . Após um longo tempo, a matéria e a energia interagindo-se de forma coordenada construiram um ambiente adequado para propiciar o nascimento da vida. Vida é psiquismo, assim até as espécies mais primitivas possuem capacidade psíquica embora de tipo muito rudimentar. É na fase a que se inicia a marcha para a paulatina conquista da autonomia da criatura que passará a ter a liberdade de escolha, fato inexistente nas fases g e b .
Como nos indica a citação bíblica, a vida se iniciou no ambiente aquático dos oceanos pré-históricos sob a forma de minúsculas formas de vidas como são os procariotes (bactérias, vírus, cianofíceas), os seres vivos mais primitivos. São células que não possuem núcleos individualizados e são desprovidas de organelas. Os procariotes através de milhões de anos de evolução e de íntimas transformações fizeram a vida alcançar o mundo ético e intelectual da humanidade atual. De um começo modesto e humilde, de maneira lenta e gradual, a vida se estabeleceu sobre o planeta constituindo uma biosfera que se sobrepôs aos mundos da energia e da matéria, tomando-os como suporte para se lançar em direção ao mundo espiritual onde, na sua fase mais evoluída, não mais existirá as fases primitivas (g e b) da substância universal. No atual estágio evolutivo da humanidade, a evolução, em na sua mais íntima acepção, significa desmaterialização, não mais evolução de formas orgânicas porquanto, chegando o homem no ápice dessa fase, a evolução começa a tornar-se do tipo espiritual. Como da geosfera surgiu a biosfera, assim também, conforme nos revelou Teilhard de Chardin, está surgindo a noosfera acima da biosfera. Marchamos do mundo da concretitude para o mundo do abstrato onde domina as idéias sem base material. Foi por esta razão que Ubaldi escreveu: O que é sólido não é o concreto, como se crê, mas o abstrato. O espiritual, porque se encontra em cima, subtrai-se ao vórtice do transformismo que tudo arrasta. (Pietro Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo).
Neste ponto Ubaldi reafirma o caráter monista da obra ao se referir a convergência do caminho trilhado pelo pensamento humano no campo da pesquisa científica com o caminho da fé resultante das revelações religiosas. O século XX consagrou a busca racional dos cientistas como paradigma ideal, no entanto, os profetas bíblicos, os artistas geniais, os místicos como Francisco de Assis são exemplos de como a verdade pode ser alcançada empregando a inteligência com outro enfoque diferente do método racional da ciência. Mas nenhum destes caminhos leva separadamente a plena realização pois quando o lado racional do homem tem a a absoluta primazia, surge o frio erudito e não o sábio amorável. Caso contrário se predominar exageradamente o lado fideístico-emocional surgirá o visionário em lugar do idealista consciente.
Neste capítulo, centro e ápice do livro A Grande Síntese, o autor deslumbrado pela luz do conhecimento alcançado por sua consciência, não resiste ao chamamento do pensamento unificador da evolução e derrama numa prece sublime a sua incondicional adesão ao Amor Divino que preenche o Universo e a vida. Mas, se considerarmos a sua afirmação de que cada concepção parcial tem que reentrar no Todo podemos desdobrar esta prece em duas visões complementares: a da fé e a da razão. Assim,´podemos traduzir os conceitos fideísticos desta oração em linguagem racional coerente com a dissertação científica que vimos acompanhando nos capítulos anteriores. Para isso, desenvolvemos abaixo, em duas colunas paralelas, os dois aspectos que pode tomar uma mesma visão.
FÉ |
RAZÃO |
Adoro-te, recôndito Eu do universo, alma do Todo, Meu Pai e Pai de todas as coisas, minha respiração e respiração de todas as coisas. Adoro-te, indestrutível essência, sempre presente no espaço, no tempo e além, no infinito. |
O Universo é um organismo monista individualizado por um EU central, DEUS, que é imanente em todas as coisas (respiração de todas as coisas) e é onipresente em todas as dimensões, isto é, no espaço, no tempo e na consciência de cada ser do nosso Universo e também em infinitos Universos cujas dimensões estão aquém e além do nosso. |
Pai, amo-te, mesmo quando Tua respiração é dor, porque Tua dor é amor; mesmo quando Tua Lei é esforço, porque o esforço que tua Lei impõe é o caminho das ascensões humanas.
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Ascensão significa subida. Toda subida implica numa descida anterior, ou seja antes da Ascensão houve uma Queda, por isso o esforço para subir provoca sofrimento e como Deus é imanente (como vimos acima) em todas criaturas, Ele as acompanhou na Queda e participa do esforço e da dor das criaturas, pois Ele é alma (respiração) de tudo o que existe e, portanto, não poderia ficar separado da dor da sua criatura. |
Pai, mergulho em tua potência, nela repouso e me abandono, peço à fonte o alimento que me sustente. Procuro-te no âmago onde Tu estás, de onde me atrais. Sinto-Te no infinito que não atinjo e donde me chamas. Não Te vejo e, no entanto, ofuscas-me com Tua luz; não Te ouço, mas sinto o tom de Tua Voz; não sei onde estás, mas encontro-Te a cada passo, esqueço-Te e Te ignoro, no entanto, ouço-Te em toda a minha palpitação. Não sei individuar-Te, mas gravito em torno de Ti, como gravitam todas as coisas, em busca de Ti, centro do universo.
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Somos regidos por uma Lei Única (Deus) que nos fornece as condições para que a vida se mantenha e cresça. Aqui vemos que devido a imanência de Deus, o Anti-Sistema, produto da Queda, continua imerso no Sistema perfeito tendo em vista a dualidade das situações descritas nesta prece: não sei onde estás, mas encontro-Te [...] não Te ouço. mas sinto o tom de Tua voz [....] etc.. Fato este que revela o Princípio da Dualidade que governa o nosso Universo decaído, já que, sob o aspecto dinâmico, o dualismo se põe em movimento oscilando de um pólo ao outro formando correntes de ida e volta, o que explica a divisão da percepção do suplicante entre o ser e o não-ser. |
Potência invisível que diriges os mundos e as vidas, Tu estás em Tua essência acima de toda a minha concepção. Que serás Tu, que não sei descrever nem definir, se apenas o reflexo de Tuas obras me enceguece? Que serás Tu, se já me assombra a incomensurável complexidade desta Tua emanação, pequena centelha espiritual que me anima integralmente? O homem Te busca na Ciência, invoca-Te na dor, Te bendiz na alegria. Mas na grandiosidade de Tua potência, como na bondade de Teu amor, estás sempre além, além de todo o pensamento humano, acima das formas e do devenir, um lampejo do infinito.
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Neste trecho a prece se refere aos dois aspectos da Divindade: a Transcendência e a Imanência. Deus no seu aspecto Transcendente está além do pensamento humano e das formas. Este é o aspecto absolutamente abstrato da essência Divina. No seu aspecto Imanente a Divindade é a centelha espiritual que anima as criaturas e as formas do nosso Universo. |
No ribombar da tempestade está Deus; na carícia do humilde está Deus; na evolução do turbilhão atômico, na arrancada das formas dinâmicas, na vitória da vida e do espírito, está Deus. Na alegria e na dor, na vida e na morte, no bem e no mal, está Deus; um Deus sem limites, que tudo abarca, estreita e domina, até mesmo as aparências dos contrários, que guia para seus fins supremos.
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Neste parágrafo o texto aprofunda o conceito da Imanência. Deus está presente em tudo o que existe, seja nos seres materiais como o átomo ou nas individuações da energia (no ribombar das tempestades...) ou ainda nos seres vivos. Ele também está presente nos seres abstratos que pertecem somente ao domínio das idéias sem base material, como é o caso da alegria e da dor, do bem e do mal. Parece estranha esta afirmação que Deus coexiste com o mal e a dor, mas é preciso compreender que sendo Deus infinito em todas as dimensões, assim, por irrefutável lógica, nada pode ficar fora do seu seio, pois o infinito de Deus não tem limites seja no campo da matéria ou das idéias abstratas.
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E o ser sobe, de forma em forma, ansioso por conhecer-Te, buscando uma realização cada vez mais completa de Teu pensamento, tradução em ato de Tua essência. Adoro-Te, supremo princípio do Todo, em Teu revestimento de matéria, em Tua manifestação de energia; no inexaurível renovar-se de formas sempre novas e sempre belas; eu Te adoro, conceito sempre novo, bom e belo, inesgotável Lei animadora do universo. Adoro-Te grande Todo, ilimitado além de todos os limites de meu ser.
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Aqui o texto nos revela que estamos percorrendo o trecho evolutivo
g ® b ® a , ou seja, matéria, energia e espírito (conceito, Lei) que são os aspectos que a Substância Divina assume no nosso Universo.
Fato este que mostra que tudo no nosso Universo é trino, pois a Substância Divina se reveste de matéria que por sua vez é animada pela Sua manifestação na forma energia e tudo é regulado pela Lei Divina (espiríto)
que abrange tudo o que existe.
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Nesta adoração, aniquilo-me e me alimento, humilho-me e me incendeio; fundo-me na Grande Unidade, coordeno-me na grande Lei, a fim de que minha ação seja sempre harmonia, ascensão, oração, amor.
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O ponto culminante desta prece é a unificação da criatura com seu Criador (fundo-me na Grande Unidade) que nada mais é que a manifestação da Lei das Unidades Coletivas cuja função é a reunificação dos seres, que foram separados pela Queda, no Sistema (na Grande Unidade). |
Pedro
Orlando Ribeiro http://www.monismo.com.br
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