A
medida que evoluímos, a nossa compreensão sobre a Lei única que governa o Universo vai-se ampliando
progressivamente. Isto não
significa que a Lei mude ou seja substituída por outra. O que muda realmente é o nosso entendimento que
estava obscurecido pela queda espiritual. A cada plano evolutivo a nossa percepção se amplia e em
conseqüência
enxergamos além das aparências do nível anterior. Alcançamos uma maior consciência da Lei e começamos a
ver com maior profundidade os seus artigos. Assim o nosso comportamento
poderia ser classificado de amoral pois ignorávamos certos pontos da Lei. Mas a evolução que é um
despertar, nos revela que a conduta moral de um determinado nível evolutivo é uma grosseira aproximação de
normas mais complexas e sintéticas. Assim, por exemplo, os dez mandamentos da Lei mosaica foram enunciados
com ênfase
negativa:
"não terás, não farás, não tomarás, não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás, não cobiçarás
etc.". (P. Ubaldi - Queda e Salvação)
pois visavam a rude mentalidade de um povo de pastores semi-bárbaros. Mas a evolução da nossa
capacidade intelectiva nos trouxe a lei
de Cristo,
expressa de forma afirmativa: Amai o teu próximo como a ti mesmo. Este novo preceito é uma visão
mais evoluída da Lei. Se alguém ama ao próximo, obviamente nunca precisará ser lembrado daquelas
proibições porque a sua natureza intrínseca é incapaz de praticar qualquer coisa que prejudique o seu
semelhante. Houve, portanto, um salto qualitativo ao se reformular a idéia expressa pela Lei.
É por isso que já na primeira linha deste capítulo, Ubaldi
revela
que a
expressão Nova Lei tem o sentido de despertamento de um conceito pré-existente que jazia
latente no nosso inconsciente. O tema deste capítulo aborda, portanto, a efetiva passagem, neste terceiro
milênio, da antiga lei animal do mais forte,
sintetizada no preceito olho por olho; dente por dente, para a lei de justiça anunciada por Cristo
no sermão da Montanha. Estes preceitos permaneceram, até agora, exteriormente imóveis, porém trabalhando
de
forma
invisível e subterrânea na mente coletiva. Mas, cumprido esse trabalho preparatório, eis que seu
resultado
explode e se manifesta. Esta é a hora da explosão em que se passa a um nível evolutivo mais alto. Esta
passagem é de intenso movimento e de mudanças radicais, tomando aspecto revolucionário. O mundo
encontra-se hoje a executar um desses saltos à frente. (P. Ubaldi - Pensamentos)
Ubaldi anuncia de forma categórica o surgimento na nossa época da
Nova Civilização do Terceiro Milênio. Porém, para o nosso entendimento parece uma coisa impossível, pois
temos diante
dos olhos um mundo conturbado e caótico onde prevalece a luta de todos contra todos, o esmagamento do
próximo sob o argumento de que temos o dever da sobrevivência acima de tudo. O anseio das multidões é o de
arrasar e pisotear tudo aquilo que proíbe a satisfação de seus instintos animalescos. A contenção destes
instintos gera um desgastante ambiente de luta de todos contra todos, pois a sua plena satisfação
invadiria
o espaço existencial do próximo tornando impossível a existência das sociedades humanas. Para superar esta
atmosfera de luta é necessária uma mudança radical nos costumes humanos. É indispensável uma radical
mudança
interior, na consciência de cada homem, e não apenas normas exteriores que quase sempre é resultado da
imposição do domínio do mais forte sobre o mais fraco. Por isso
o
mais fraco reage por meio da simulação, fingindo seguir os preceitos estabelecidos mas, no entanto,
procurando
burlar o seu cumprimento. Daí nasce a hipocrisia, a mentira, a desconfiança que domina o cenário da vida
humana. Desta forma até os conceitos revelados pelas religiões são usados como instrumentos na luta para
subjugar o próximo.
É mais importante transformar a alma humana do que impor
castigos, que na realidade nada resolvem pois provocam na alma do punido, na maioria das vezes, reações
da mesma natureza e qualidade à da pena aplicada. É por isso que Ubaldi preconiza o método da educação
para inscrever na mente de todos a convicção de que uma conduta reta proporciona melhores e mais
duradouros
resultados na vida de cada um.
O momento atual é propício a esta mudança de atitude, pois a
evolução da humanidade alcançou um patamar onde o espírito racional começa a predominar sobre as paixões
e instintos que foram as molas propulsoras da evolução no passado. Um novo mundo desponta nesta nova
concepção de encarar as relações humanas. Estas transformações acontecem como conseqüências do
desenvolvimento
científico que está criando uma atmosfera racional em torno da consciência instintiva. Não mais se
justifica a luta cruenta entre povos e
civilizações. Hoje o mundo começa a compreender que é precária a solução destes conflitos quando se
emprega o método da força bruta. Na verdade acontece apenas uma opressão temporária das forças rivais que
inevitavelmente ressurgirão mais fortes no futuro.
Ubaldi preconiza um sistema de leis que atuam nas motivações
porque são estas que determinam as direções que tomarão as nossas ações. Este novo sistema de leis só será
incorporado ao nosso comportamento quando formos conscientes de suas reais qualidades no direcionamento
de nossos atos. O ambiente humano, em virtude dos avanços científicos, torna-se cada vez mais racional e,
essa
racionalidade crescente nos levará a compreender a necessidade de adotarmos estes preceitos de forma
espontânea, e só assim a humanidade sobreviverá às terríveis tempestades que estão se
armando no nosso futuro. A sua mensagem é clara e não deixa dúvidas: A humanidade está na encruzilhada,
e
não há mais possibilidade de fugas: ou compreender, ou exterminar-se.
Os princípios desta nova Lei já existem - estão contidos na Boa
Nova de Cristo - e, desse modo, não precisam ser
improvisados. Para
estabelecer o reinado desta Lei é
preciso, portanto, a abertura de nossos corações para as claridades do Evangelho que Cristo divulgou a dois
mil anos. Ubaldi nos surpreende ao revelar que todos os caminhos levam a consecução deste desiderato,
sejam pelo caminho da fé ou o da ciência materialista. Há convergência de resultados nestes dois processos.
Desta forma ele propõe a nos mostrar que é possível, também,
chegar ao espírito através dos métodos racionais da ciência materialista.
Embora possa nos parecer que o abandono de todas as armas,
como preconiza Ubaldi, seja um contra-senso onde impera a luta de todos contra todos, no
entanto, esta é a única saída para transformarmos o infernal ambiente terrestre num mundo de justiça e paz.
Vivemos enclausurados no nosso egoísmo separatista semelhantes aos castelos armados da idade média. A
chegada das idéias renascentistas derrubaram os muros e aterraram os fossos dos castelos e das cidades
medievais iniciado
uma nova era de progresso material para a humanidade. Este fato histórico tende a repetir, agora, no plano
espiritual. Naquela época houve um ampliação do espaço com a derrubada das muralhas e também pela
descobertas de novos continentes. Podemos dizer, então, que houve uma revolução espacial, isto é, a
humanidade começou a dominar a primeira das três dimensões (o espaço) da trindade da
substância (
espaço, tempo, consciência). Analogamente, nos séculos XIX e XX aconteceu uma revolução no
domínio do
tempo com a ampliação da velocidade de interação entre os grupos humanos devido ao progresso tecnológico
nos transportes e pelo surgimento da comunicação instantânea entre os povos. Com isto, a humanidade
expandiu
o
seu domínio
sobre a segunda dimensão da trindade: o tempo. (1),
Agora, no século XXI, estamos prestes a dar o
terceiro passo para completar o ciclo da evolução das relações humanas que também repete o
físio-dínamo-psiquismo,(2) visto que qualquer fenômeno no nosso universo está em
harmonia com o processo
criativo
original. Este procedimento é um fluxo dinâmico - uma onda segundo Ubaldi - que se movimenta e se
transforma conforme o
esquema dado pela fórmula: g®b®a. Desta maneira
é fatal o surgimento de uma terceira revolução que estabelecerá uma aproximação entre os homens no sentido
espiritual (dimensão Consciência). Esta aproximação acontecerá na compreensão de que tudo
aquilo que fere ou maltrata o nosso
semelhante, cedo ou tarde, repercutirá sobre todos, pois a vida é um tecido contínuo de trama imbricada
sendo, portanto, uma unidade monística. Esta é a explicação racional que demonstra a utilidade e a
necessidade
da aplicação da Lei maior de Cristo: Amai o próximo como a ti mesmo.
Da compreensão racional da existência da unidade da criação
surgirá espontaneamente um novo comportamento coletivo baseado no colaboracionismo fruto de uma nova
consciência universal unitária e, desta forma, será superado
o atual método de luta de todos contra todos e será implantada a Nova Lei preconizada por Ubaldi neste
Capítulo.
Pedro
Orlando Ribeiro http://www.monismo.com.br
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