A Grande Síntese

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Comentários e Observações sobre o Cap. 42 de A Grande Síntese

NOSSA META - A NOVA LEI

    A medida que evoluímos, a nossa compreensão sobre a Lei única que governa o Universo vai-se ampliando progressivamente. Isto não significa que a Lei mude ou seja substituída por outra. O que muda realmente é o nosso entendimento que estava obscurecido pela queda espiritual. A cada plano evolutivo a nossa percepção se amplia e em conseqüência enxergamos além das aparências do nível anterior. Alcançamos uma maior consciência da Lei e começamos a ver com maior profundidade os seus artigos. Assim o nosso comportamento poderia ser classificado de amoral pois ignorávamos certos pontos da Lei. Mas a evolução que é um despertar, nos revela que a conduta moral de um determinado nível evolutivo é uma grosseira aproximação de normas mais complexas e sintéticas. Assim, por exemplo, os dez mandamentos da Lei mosaica foram enunciados com ênfase negativa: "não terás, não farás, não tomarás, não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás, não cobiçarás etc.". (P. Ubaldi - Queda e Salvação) pois visavam a rude mentalidade de um povo de pastores semi-bárbaros. Mas a evolução da nossa capacidade intelectiva nos trouxe a lei de Cristo, expressa de forma afirmativa: Amai o teu próximo como a ti mesmo. Este novo preceito é uma visão mais evoluída da Lei. Se alguém ama ao próximo, obviamente nunca precisará ser lembrado daquelas proibições porque a sua natureza intrínseca é incapaz de praticar qualquer coisa que prejudique o seu semelhante. Houve, portanto, um salto qualitativo ao se reformular a idéia expressa pela Lei.

    É por isso que já na primeira linha deste capítulo, Ubaldi revela que a expressão Nova Lei tem o sentido de despertamento de um conceito pré-existente que jazia latente no nosso inconsciente. O tema deste capítulo aborda, portanto, a efetiva passagem, neste terceiro milênio, da antiga lei animal do mais forte, sintetizada no preceito olho por olho; dente por dente, para a lei de justiça anunciada por Cristo no sermão da Montanha. Estes preceitos permaneceram, até agora, exteriormente imóveis, porém trabalhando de forma invisível e subterrânea na mente coletiva. Mas, cumprido esse trabalho preparatório, eis que seu resultado explode e se manifesta. Esta é a hora da explosão em que se passa a um nível evolutivo mais alto. Esta passagem é de intenso movimento e de mudanças radicais, tomando aspecto revolucionário. O mundo encontra-se hoje a executar um desses saltos à frente. (P. Ubaldi - Pensamentos)

    Ubaldi anuncia de forma categórica o surgimento na nossa época da Nova Civilização do Terceiro Milênio. Porém, para o nosso entendimento parece uma coisa impossível, pois temos diante dos olhos um mundo conturbado e caótico onde prevalece a luta de todos contra todos, o esmagamento do próximo sob o argumento de que temos o dever da sobrevivência acima de tudo. O anseio das multidões é o de arrasar e pisotear tudo aquilo que proíbe a satisfação de seus instintos animalescos. A contenção destes instintos gera um desgastante ambiente de luta de todos contra todos, pois a sua plena satisfação invadiria o espaço existencial do próximo tornando impossível a existência das sociedades humanas. Para superar esta atmosfera de luta é necessária uma mudança radical nos costumes humanos. É indispensável uma radical mudança interior, na consciência de cada homem, e não apenas normas exteriores que quase sempre é resultado da imposição do domínio do mais forte sobre o mais fraco. Por isso o mais fraco reage por meio da simulação, fingindo seguir os preceitos estabelecidos mas, no entanto, procurando burlar o seu cumprimento. Daí nasce a hipocrisia, a mentira, a desconfiança que domina o cenário da vida humana. Desta forma até os conceitos revelados pelas religiões são usados como instrumentos na luta para subjugar o próximo.

    É mais importante transformar a alma humana do que impor castigos, que na realidade nada resolvem pois provocam na alma do punido, na maioria das vezes, reações da mesma natureza e qualidade à da pena aplicada. É por isso que Ubaldi preconiza o método da educação para inscrever na mente de todos a convicção de que uma conduta reta proporciona melhores e mais duradouros resultados na vida de cada um.

    O momento atual é propício a esta mudança de atitude, pois a evolução da humanidade alcançou um patamar onde o espírito racional começa a predominar sobre as paixões e instintos que foram as molas propulsoras da evolução no passado. Um novo mundo desponta nesta nova concepção de encarar as relações humanas. Estas transformações acontecem como conseqüências do desenvolvimento científico que está criando uma atmosfera racional em torno da consciência instintiva. Não mais se justifica a luta cruenta entre povos e civilizações. Hoje o mundo começa a compreender que é precária a solução destes conflitos quando se emprega o método da força bruta. Na verdade acontece apenas uma opressão temporária das forças rivais que inevitavelmente ressurgirão mais fortes no futuro.

    Ubaldi preconiza um sistema de leis que atuam nas motivações porque são estas que determinam as direções que tomarão as nossas ações. Este novo sistema de leis só será incorporado ao nosso comportamento quando formos conscientes de suas reais qualidades no direcionamento de nossos atos. O ambiente humano, em virtude dos avanços científicos, torna-se cada vez mais racional e, essa racionalidade crescente nos levará a compreender a necessidade de adotarmos estes preceitos de forma espontânea, e só assim a humanidade sobreviverá às terríveis tempestades que estão se armando no nosso futuro. A sua mensagem é clara e não deixa dúvidas: A humanidade está na encruzilhada, e não há mais possibilidade de fugas: ou compreender, ou exterminar-se.

    Os princípios desta nova Lei já existem - estão contidos na Boa Nova de Cristo - e, desse modo, não precisam ser improvisados. Para estabelecer o reinado desta Lei é preciso, portanto, a abertura de nossos corações para as claridades do Evangelho que Cristo divulgou a dois mil anos. Ubaldi nos surpreende ao revelar que todos os caminhos levam a consecução deste desiderato, sejam pelo caminho da fé ou o da ciência materialista. Há convergência de resultados nestes dois processos. Desta forma ele propõe a nos mostrar que é possível, também, chegar ao espírito através dos métodos racionais da ciência materialista.

    Embora possa nos parecer que o abandono de todas as armas, como preconiza Ubaldi, seja um contra-senso onde impera a luta de todos contra todos, no entanto, esta é a única saída para transformarmos o infernal ambiente terrestre num mundo de justiça e paz. Vivemos enclausurados no nosso egoísmo separatista semelhantes aos castelos armados da idade média. A chegada das idéias renascentistas derrubaram os muros e aterraram os fossos dos castelos e das cidades medievais iniciado uma nova era de progresso material para a humanidade. Este fato histórico tende a repetir, agora, no plano espiritual. Naquela época houve um ampliação do espaço com a derrubada das muralhas e também pela descobertas de novos continentes. Podemos dizer, então, que houve uma revolução espacial, isto é, a humanidade começou a dominar a primeira das três dimensões (o espaço) da trindade da substância ( espaço, tempo, consciência). Analogamente, nos séculos XIX e XX aconteceu uma revolução no domínio do tempo com a ampliação da velocidade de interação entre os grupos humanos devido ao progresso tecnológico nos transportes e pelo surgimento da comunicação instantânea entre os povos. Com isto, a humanidade expandiu o seu domínio sobre a segunda dimensão da trindade: o tempo. (1),

    Agora, no século XXI, estamos prestes a dar o terceiro passo para completar o ciclo da evolução das relações humanas que também repete o físio-dínamo-psiquismo,(2) visto que qualquer fenômeno no nosso universo está em harmonia com o processo criativo original. Este procedimento é um fluxo dinâmico - uma onda segundo Ubaldi - que se movimenta e se transforma conforme o esquema dado pela fórmula: g®b®a. Desta maneira é fatal o surgimento de uma terceira revolução que estabelecerá uma aproximação entre os homens no sentido espiritual (dimensão Consciência). Esta aproximação acontecerá na compreensão de que tudo aquilo que fere ou maltrata o nosso semelhante, cedo ou tarde, repercutirá sobre todos, pois a vida é um tecido contínuo de trama imbricada sendo, portanto, uma unidade monística. Esta é a explicação racional que demonstra a utilidade e a necessidade da aplicação da Lei maior de Cristo: Amai o próximo como a ti mesmo.

    Da compreensão racional da existência da unidade da criação surgirá espontaneamente um novo comportamento coletivo baseado no colaboracionismo fruto de uma nova consciência universal unitária e, desta forma, será superado o atual método de luta de todos contra todos e será implantada a Nova Lei preconizada por Ubaldi neste Capítulo.

    Pedro Orlando Ribeiro
    http://www.monismo.com.br