No
nosso universo relativo, a Lei Única que a tudo rege, toma, aos nossos olhos, uma infinidade de aspectos
particulares em virtude de que só percebemos o mundo sob a ótica da separação entre sujeito e objeto.
Assim, a Lei Única aparentemente se subdivide em em leis menores e estas em outras menores ainda. Mas,
estas leis menores são apenas facetas de uma lei monista que tudo engloba.
É por isso que o princípio do todo no nosso universo é visto
subdividido em
três
aspectos e conseqüentemente regidos por três princípios:
Aspecto |
Princípio |
Estático |
Organismo |
Dinâmico |
Evolução |
Conceptual |
Monismo |
Baseado nestes três aspectos e
respectivos princípios, Ubaldi define o nosso
universo da seguinte forma:
O Universo é uma unidade orgânica em evolução. |
Neste esquema sobressai o conceito de ordem como
a norma
fundamental do universo.
Todas as coisas que existem no Universo são individuadas.
Cada individualidade é possuidora de características que
a faz diferente e singular em relação a todas as outras. É importante recordar que a
individualidade não é atributo apenas dos seres viventes, mas de todas as coisas que existem no Universo.
Para manter o Universo
unitário a Evolução emprega o Princípio das Unidades Coletivas que reunifica o sistema que
tenderia a dispersão em virtude da natureza separatista da individualidade.
A unificação se dá sem destruição da individualidade. Cada unidade, seja
ela simples ou coletiva, é estruturada de forma tríplice, e assim o universo se individualiza por unidades
trinas. Isto acontece porque a universal substância única (a eterna e indestrutível substância divina) se
apresenta sob triplo aspecto no processo criativo e em conseqüência todos seres e fenômenos têm estrutura
trina. Este é o Princípio da Trindade da Substância que tem alcance universal.
Reunimos na tabela abaixo os vários exemplos, apresentados por
Ubaldi, sobre o Princípio da Trindade da Substância.
Exemplos |
Estrutura Trina |
Lei Divina |
Pensamento, Vontade, Ação
|
Fases do Nosso Universo |
Espírito, Energia, Matéria
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Aspectos do Nosso Universo
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Estático, Dinâmico,
Conceptual
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Dimensões Espaciais |
Linha, Superfície, Volume
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Dimensões Conceptuais |
Tempo, Consciência, Superconsciência
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O Homem |
Corpo físico, Dinamismo vital, Inteligência
|
Inumeráveis exemplos poderiam ser acrescentados à tabela tais como
o do
ciclo da águas atmosféricas: evaporação, condensação, precipitação; estado físico da matéria: sólido,
liquido, gasoso; silogismo: tese, antítese, síntese; reinos da natureza: mineral, vegetal animal;
setores da atividade econômica: primário, secundário, terciário;
etc.
Diversas religiões revelaram a existência do princípio da trindade
na natureza da Divindade e na alma humana. Ubaldi relaciona algumas:
Religião |
Trindade Divina |
Trindade egípcia |
Osíris, Ísis, Horus
|
Trindade indiana |
Brahma, Avidya, Mahat
|
Trindade cristã |
Pai, Filho, Espírito
|
Três estados da alma |
Inferno, Purgatório, Paraíso
|
Estranhamente Ubaldi afirma que a Trindade indiana é Brahma,
Avidya, Mahat, o que contradiz com os textos induistas que estabelecem esta trindade como Brahma,
Vishnu, Shiva. Avidya na doutrina induista significa Ignorância, cósmica ou
individual, responsável pela não percepção da Realidade. Já o termo Mahat é definido como a mente cósmica
que denota a segunda categoria na evolução do universo. Como A Grande Síntese é um livro
inspirado
pelo Alto e, portanto, isento de erros, deve então existir uma explicação lógica para esta divergência.
Uma
possível interpretação seria a de considerar a triplicidade Brahma, Avidya, Mahat como equivalente
ao esquema trino do nosso universo decaído: Espírito, Energia, Matéria, e a seqüência Brahma,
Vishnu, Shiva, equivalente ao processo criativo original: Pensamento, Vontade, Ação.
Explicando: Podemos considerar Avidya e
Matéria como sendo o
mesmo estado da substância, pois quando a substância se torna matéria, o conhecimento e a sabedoria da fase
espírito se encontram mergulhados na Ignorância cósmica, ou seja, no modo de existir de Avidya.
Por sua vez, Mahat pode ser considerado equivalente à Energia visto que denota a segunda
categoria na evolução do universo. Como a evolução só existe no Universo decaído, Mahat só poderá
subsistir no Anti-Sistema tal como a Energia.
A primeira referência de Ubaldi ao
Princípio da Dualidade
aconteceu no capítulo 8 quando se referiu ao ciclo involutivo-evolutivo, onde cada semiciclo
representa
a
metade do ciclo completo. Em virtude da existência de uma lei de complementaridade, o ciclo
involutivo-evolutivo é dualista pois encerra dois movimentos opostos e complementares. Como o esquema
deste ciclo se
repete em todos os fenômenos, sejam eles do macrocosmo ou do microcosmo, cada individualidade
traz no seu interior esta contradição de opostos, reproduzindo a cada momento os dois grandes períodos
da criação: involução e evolucão. Ubaldi afirma: a individuação não é jamais uma unidade
simples, mas sempre um dualismo que, em seu aspecto estático, divide a unidade em duas partes, Mas,
pode-se perguntar, como conciliar, então, a idéia de individualidade com o conceito de dualismo já que a
palavra individualidade na sua mais completa acepção significa não dividido, indiviso, e dualismo,
segundo
Ubaldi, é cisão e oposição entre duas partes de uma individualidade? Estamos frente a uma possível
contradição entre dois conceitos? O indiviso é divisível? A elucidação deste paradoxo está na idéia de
polaridade, isto é, a unidade é constituída por dois pólos. Quando se pensa em pólos logo surge a
necessidade de uma ligação entre eles, pois não havendo tal vínculo não poderíamos falar de pólos. Um pólo
não pode, portanto, estar separado do outro em nenhuma hipótese. É semelhante a um imã onde o pólo norte e
o pólo sul são inseparáveis. Se dividirmos o imã ao meio obteremos dois imãs e nunca dois pólos separados.
Do mesmo modo se decompormos analiticamente as unidades coletivas
em suas
unidades menores, encontraremos sempre individualidades dualísticas.
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Sob o aspecto dinâmico o
dualismo se
põe em movimento oscilando de um pólo ao outro formando correntes de ida e volta. Na oscilação, um dos
pólos transporta-se inteiramente para a posição do outro e ao contrário. Transportar inteiramente significa
que o ser ou fenômeno só existe num pólo ou no outro e nunca existe dividido nos dois pólos ao mesmo tempo
Aqui surge a necessidade de conciliar o princípio da trindade com o princípio do dualismo.
Jamais poderíamos compreender como a individualidade possa ser trina na sua constituição e dual no seu
interior. Ubaldi nos esclarece: O princípio trinitário, sua fórmula estrutural, não passa de
conseqüência do principio de dualidade. (P. Ubaldi - A Nova Civilização do Terceiro Milênio).
Exemplificando: na trindade Espírito, Energia, Matéria a oscilação dualística dá-se
entre os extremos Espírito e Matéria. Na oscilação entre estes extremos nasce a fase intermediária,
no caso a Energia que é o traço de união e resultado das trocas. (...) essa nova individualidade
se destaca do binômio e permanece autônoma e independente, mas incompleta e à procura de sua metade
complementar, para juntas formarem novo binômio e, através da troca de correntes, novo ser intermediário.
(ibidem)
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Tomando o gráfico da figura 2
de A Grande Síntese e comparando-o com tabela ao lado podemos visualizar como o princípio da
trindade deriva do princípio da dualidade. Exemplo: na criação b
a oscilação entre os
extremos
-x e b produz g que será a base sobre a qual a próxima criaçao
(a
criação c no gráfico) desenvolverá nova oscilação entre g e a; esta oscilação retornará, por sua vez, b como base da criação d.
b na criação d encontra-se num estágio de amadurecimento superior a b na criação b. Este fato explica porque o oposto de b na criação b é -x, e na criação d o seu oposto é +x
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Esta oscilação entre dois extremos reproduz, em todo
lugar e a todo momento, em cada individuação,
o grande ciclo involutivo-evolutivo do Universo. A parte é cópia menor do Todo. Assim
se
compreende e se explica o conceito da Onipresença divina no espaço e no tempo em todos os pontos do
universo. A existência desta Lei da Dualidade é a razão porque vemos o mundo como uma coleção de coisas
com qualidades opostas (sejam elas materiais ou abstratas). Ubaldi apresenta um série de exemplos.
Facilmente poderíamos acrescentar uma infinidade de novas duplas nesta lista:
dia-noite |
trabalho-repouso |
branco-negro |
alto-baixo |
esquerdo-direito |
frente-atrás |
direito-avesso |
externo-interno |
ativo-passivo |
belo-feio |
bom-mau |
grande-pequeno |
Norte-Sul |
macho-fêmea |
ação-reação |
atração-repulsão |
condensação-rarefação | criação-destruição |
causa-efeito |
liberdade-escravidão | riqueza-pobreza | saúde-doença |
amor-ódio |
paz-guerra |
conhecimento-ignorância |
alegria-dor | paraíso-inferno | bem-mal |
luz-trevas | verdade-erro |
análise-síntese | espírito-matéria |
vida-morte |
absoluto-relativo |
princípio-fim |
capital-trabalho |
inspiração-expiração |
virtude-pecado |
altruísmo-egoísmo |
governo-povo |
Resumindo, Ubaldi afirma:Cada adjetivo, cada coisa possui seu
contrário; cada modo de ser oscila entre duas qualidades opostas.
Nos comentários do capítulo 11 haviamos dito que O
Universo é
simultaneamente unidade, dualidade e trindade. Assim, pelo que vimos acima,
podemos dizer também:
Cada
individualidade é
simultaneamente unidade, dualidade e trindade. |
O desenvolvimento de muitos fenômenos pode nos parecer
unidirecional porque estamos vendo apenas a metade da sua oscilação. Exemplos típicos são os períodos
históricos cujas longas durações esconde da nossa míope visão o ponto de inflexão da onda de retorno. O
mesmo pode ser dito sobre os períodos geológicos. Tudo é equilibrado no Universo devido ao princípio da
dualidade. Embora o equilíbrio seja instável devido ao ir e vir entre dois extremos, a estabilidade é
alcançada pela compensação entre impulso e contra-impulso. O desequilibrio aconteceria se o deslocamento
fosse numa só direção. A polaridade é que mantém íntegra a individualidade, que embora transformando-se
internamente, é sempre a mesma externamente.
Eis alguns exemplos relacionados por Ubaldi:
1)
No campo da
vida uma fase de atividade é seguida por uma fase de
assimilação que registra na consciência novas qualidades e habilidades. Assim, na vida humana, a dinâmica
juvenil é substituida, na velhice, pela passiva contemplação assimiladora.
2) No campo religioso às fases de revelações seguem fases analiticas onde o homem absorve os conceitos
revelados.
As fases de involução representam uma dissolução (e não uma
destruição) dos períodos criativos. A dissolução poderia ser comparada com a demolição de um edifício para
em seu lugar ser construido um edifício mais alto e mais moderno. Nada se perde, pois tudo aquilo que foi
aprendido na construção do velho prédio torna-se ponto de partida para uma construção maior,
empregando uma técnica mais refinada. Isto nada mais é do que o ciclo semente-fruto-semente... A cada
oscilação, a nova semente produzida conterá mais qualidades que a semente do ciclo anterior e, por isso,
produzirá um
fruto mais perfeito.
Depois de vários exemplos e consideraçoes, incluindo a
constatação de que a simetria existente nos seres e na
natureza é conseqüência da Lei da Dualidade, Ubaldi conclui o capítulo afirmando que na eterna luta ente o
bem e o
mal, entre Deus e o diabo, as forças do bem serão vencedoras pois o bem serve-se do mal para
progredir, compreende o mal e o constrange a seus fins. É devido a esta luta que se explica a
instabilidade das coisas no nosso Universo porque para construir mais alto é necessário demolir. Desta
forma esta oscilação entre o bem e o mal não é uma condenação mas sim o motor da evolução.
Pedro
Orlando Ribeiro http://www.monismo.com.br
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