A Grande Síntese

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Comentários e Observações sobre o Cap. 39 de A Grande Síntese

PRINCÍPIO DE TRINDADE E DE DUALIDADE

    No nosso universo relativo, a Lei Única que a tudo rege, toma, aos nossos olhos, uma infinidade de aspectos particulares em virtude de que só percebemos o mundo sob a ótica da separação entre sujeito e objeto. Assim, a Lei Única aparentemente se subdivide em em leis menores e estas em outras menores ainda. Mas, estas leis menores são apenas facetas de uma lei monista que tudo engloba.

    É por isso que o princípio do todo no nosso universo é visto subdividido em três aspectos e conseqüentemente regidos por três princípios:

Aspecto Princípio
Estático Organismo
Dinâmico Evolução
Conceptual Monismo

    Baseado nestes três aspectos e respectivos princípios, Ubaldi define o nosso universo da seguinte forma:

O Universo é uma unidade orgânica em evolução.

    Neste esquema sobressai o conceito de ordem como a norma fundamental do universo.

    Todas as coisas que existem no Universo são individuadas. Cada individualidade é possuidora de características que a faz diferente e singular em relação a todas as outras. É importante recordar que a individualidade não é atributo apenas dos seres viventes, mas de todas as coisas que existem no Universo.

     Para manter o Universo unitário a Evolução emprega o Princípio das Unidades Coletivas que reunifica o sistema que tenderia a dispersão em virtude da natureza separatista da individualidade. A unificação se dá sem destruição da individualidade. Cada unidade, seja ela simples ou coletiva, é estruturada de forma tríplice, e assim o universo se individualiza por unidades trinas. Isto acontece porque a universal substância única (a eterna e indestrutível substância divina) se apresenta sob triplo aspecto no processo criativo e em conseqüência todos seres e fenômenos têm estrutura trina. Este é o Princípio da Trindade da Substância que tem alcance universal.

    Reunimos na tabela abaixo os vários exemplos, apresentados por Ubaldi, sobre o Princípio da Trindade da Substância.

Exemplos Estrutura Trina
Lei Divina Pensamento, Vontade, Ação
Fases do Nosso Universo Espírito, Energia, Matéria
Aspectos do Nosso Universo Estático, Dinâmico, Conceptual
Dimensões Espaciais Linha, Superfície, Volume
Dimensões Conceptuais Tempo, Consciência, Superconsciência
O Homem Corpo físico, Dinamismo vital, Inteligência

    Inumeráveis exemplos poderiam ser acrescentados à tabela tais como o do ciclo da águas atmosféricas: evaporação, condensação, precipitação; estado físico da matéria: sólido, liquido, gasoso; silogismo: tese, antítese, síntese; reinos da natureza: mineral, vegetal animal; setores da atividade econômica: primário, secundário, terciário; etc.

    Diversas religiões revelaram a existência do princípio da trindade na natureza da Divindade e na alma humana. Ubaldi relaciona algumas:

Religião Trindade Divina
Trindade egípcia Osíris, Ísis, Horus
Trindade indiana Brahma, Avidya, Mahat
Trindade cristã Pai, Filho, Espírito
Três estados da alma Inferno, Purgatório, Paraíso

    Estranhamente Ubaldi afirma que a Trindade indiana é Brahma, Avidya, Mahat, o que contradiz com os textos induistas que estabelecem esta trindade como Brahma, Vishnu, Shiva. Avidya na doutrina induista significa Ignorância, cósmica ou individual, responsável pela não percepção da Realidade. Já o termo Mahat é definido como a mente cósmica que denota a segunda categoria na evolução do universo. Como A Grande Síntese é um livro inspirado pelo Alto e, portanto, isento de erros, deve então existir uma explicação lógica para esta divergência. Uma possível interpretação seria a de considerar a triplicidade Brahma, Avidya, Mahat como equivalente ao esquema trino do nosso universo decaído: Espírito, Energia, Matéria, e a seqüência Brahma, Vishnu, Shiva, equivalente ao processo criativo original: Pensamento, Vontade, Ação.

     Explicando: Podemos considerar Avidya e Matéria como sendo o mesmo estado da substância, pois quando a substância se torna matéria, o conhecimento e a sabedoria da fase espírito se encontram mergulhados na Ignorância cósmica, ou seja, no modo de existir de Avidya. Por sua vez, Mahat pode ser considerado equivalente à Energia visto que denota a segunda categoria na evolução do universo. Como a evolução só existe no Universo decaído, Mahat só poderá subsistir no Anti-Sistema tal como a Energia.

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    A primeira referência de Ubaldi ao Princípio da Dualidade aconteceu no capítulo 8 quando se referiu ao ciclo involutivo-evolutivo, onde cada semiciclo representa a metade do ciclo completo. Em virtude da existência de uma lei de complementaridade, o ciclo involutivo-evolutivo é dualista pois encerra dois movimentos opostos e complementares. Como o esquema deste ciclo se repete em todos os fenômenos, sejam eles do macrocosmo ou do microcosmo, cada individualidade traz no seu interior esta contradição de opostos, reproduzindo a cada momento os dois grandes períodos da criação: involução e evolucão. Ubaldi afirma: a individuação não é jamais uma unidade simples, mas sempre um dualismo que, em seu aspecto estático, divide a unidade em duas partes, Mas, pode-se perguntar, como conciliar, então, a idéia de individualidade com o conceito de dualismo já que a palavra individualidade na sua mais completa acepção significa não dividido, indiviso, e dualismo, segundo Ubaldi, é cisão e oposição entre duas partes de uma individualidade? Estamos frente a uma possível contradição entre dois conceitos? O indiviso é divisível? A elucidação deste paradoxo está na idéia de polaridade, isto é, a unidade é constituída por dois pólos. Quando se pensa em pólos logo surge a necessidade de uma ligação entre eles, pois não havendo tal vínculo não poderíamos falar de pólos. Um pólo não pode, portanto, estar separado do outro em nenhuma hipótese. É semelhante a um imã onde o pólo norte e o pólo sul são inseparáveis. Se dividirmos o imã ao meio obteremos dois imãs e nunca dois pólos separados. Do mesmo modo se decompormos analiticamente as unidades coletivas em suas unidades menores, encontraremos sempre individualidades dualísticas.

oscilação

     Sob o aspecto dinâmico o dualismo se põe em movimento oscilando de um pólo ao outro formando correntes de ida e volta. Na oscilação, um dos pólos transporta-se inteiramente para a posição do outro e ao contrário. Transportar inteiramente significa que o ser ou fenômeno só existe num pólo ou no outro e nunca existe dividido nos dois pólos ao mesmo tempo Aqui surge a necessidade de conciliar o princípio da trindade com o princípio do dualismo. Jamais poderíamos compreender como a individualidade possa ser trina na sua constituição e dual no seu interior. Ubaldi nos esclarece: O princípio trinitário, sua fórmula estrutural, não passa de conseqüência do principio de dualidade. (P. Ubaldi - A Nova Civilização do Terceiro Milênio). Exemplificando: na trindade Espírito, Energia, Matéria a oscilação dualística dá-se entre os extremos Espírito e Matéria. Na oscilação entre estes extremos nasce a fase intermediária, no caso a Energia que é o traço de união e resultado das trocas. (...) essa nova individualidade se destaca do binômio e permanece autônoma e independente, mas incompleta e à procura de sua metade complementar, para juntas formarem novo binômio e, através da troca de correntes, novo ser intermediário. (ibidem)

gráfico da linha quebrada tridual.gif

    Tomando o gráfico da figura 2 de A Grande Síntese e comparando-o com tabela ao lado podemos visualizar como o princípio da trindade deriva do princípio da dualidade. Exemplo: na criação b a oscilação entre os extremos -x e b produz g que será a base sobre a qual a próxima criaçao (a criação c no gráfico) desenvolverá nova oscilação entre g e a; esta oscilação retornará, por sua vez, b como base da criação d.

    b na criação d encontra-se num estágio de amadurecimento superior a b na criação b. Este fato explica porque o oposto de b na criação b é -x, e na criação d o seu oposto é +x

    Esta oscilação entre dois extremos reproduz, em todo lugar e a todo momento, em cada individuação, o grande ciclo involutivo-evolutivo do Universo. A parte é cópia menor do Todo. Assim se compreende e se explica o conceito da Onipresença divina no espaço e no tempo em todos os pontos do universo. A existência desta Lei da Dualidade é a razão porque vemos o mundo como uma coleção de coisas com qualidades opostas (sejam elas materiais ou abstratas). Ubaldi apresenta um série de exemplos. Facilmente poderíamos acrescentar uma infinidade de novas duplas nesta lista:

dia-noite trabalho-repouso branco-negro alto-baixo esquerdo-direito frente-atrás direito-avesso externo-interno
ativo-passivo belo-feio bom-mau grande-pequeno Norte-Sul macho-fêmea ação-reação atração-repulsão
condensação-rarefação criação-destruição causa-efeito liberdade-escravidão riqueza-pobreza saúde-doença amor-ódio paz-guerra
conhecimento-ignorância alegria-dor paraíso-inferno bem-mal luz-trevas verdade-erro análise-síntese espírito-matéria
vida-morte absoluto-relativo princípio-fim capital-trabalho inspiração-expiração virtude-pecado altruísmo-egoísmo governo-povo

    Resumindo, Ubaldi afirma:Cada adjetivo, cada coisa possui seu contrário; cada modo de ser oscila entre duas qualidades opostas.

    Nos comentários do capítulo 11 haviamos dito que O Universo é simultaneamente unidade, dualidade e trindade. Assim, pelo que vimos acima, podemos dizer também:

Cada individualidade é simultaneamente unidade, dualidade e trindade.

    O desenvolvimento de muitos fenômenos pode nos parecer unidirecional porque estamos vendo apenas a metade da sua oscilação. Exemplos típicos são os períodos históricos cujas longas durações esconde da nossa míope visão o ponto de inflexão da onda de retorno. O mesmo pode ser dito sobre os períodos geológicos. Tudo é equilibrado no Universo devido ao princípio da dualidade. Embora o equilíbrio seja instável devido ao ir e vir entre dois extremos, a estabilidade é alcançada pela compensação entre impulso e contra-impulso. O desequilibrio aconteceria se o deslocamento fosse numa só direção. A polaridade é que mantém íntegra a individualidade, que embora transformando-se internamente, é sempre a mesma externamente.

     Eis alguns exemplos relacionados por Ubaldi:

1) No campo da vida uma fase de atividade é seguida por uma fase de assimilação que registra na consciência novas qualidades e habilidades. Assim, na vida humana, a dinâmica juvenil é substituida, na velhice, pela passiva contemplação assimiladora.
2) No campo religioso às fases de revelações seguem fases analiticas onde o homem absorve os conceitos revelados.

    As fases de involução representam uma dissolução (e não uma destruição) dos períodos criativos. A dissolução poderia ser comparada com a demolição de um edifício para em seu lugar ser construido um edifício mais alto e mais moderno. Nada se perde, pois tudo aquilo que foi aprendido na construção do velho prédio torna-se ponto de partida para uma construção maior, empregando uma técnica mais refinada. Isto nada mais é do que o ciclo semente-fruto-semente... A cada oscilação, a nova semente produzida conterá mais qualidades que a semente do ciclo anterior e, por isso, produzirá um fruto mais perfeito.

    Depois de vários exemplos e consideraçoes, incluindo a constatação de que a simetria existente nos seres e na natureza é conseqüência da Lei da Dualidade, Ubaldi conclui o capítulo afirmando que na eterna luta ente o bem e o mal, entre Deus e o diabo, as forças do bem serão vencedoras pois o bem serve-se do mal para progredir, compreende o mal e o constrange a seus fins. É devido a esta luta que se explica a instabilidade das coisas no nosso Universo porque para construir mais alto é necessário demolir. Desta forma esta oscilação entre o bem e o mal não é uma condenação mas sim o motor da evolução.

    Pedro Orlando Ribeiro
    http://www.monismo.com.br