pós a demonstração, ocorrida nos capítulos
anteriores, do Princípio Único que abrange e domina toda a fenomenologia universal, o autor nos conclama a
uma tomada de posição em relação à existência ou não desta Lei única. Admitida a sua existência, não
poderíamos
deixar de concluir que há continuidade na atuação desta Lei nos fenômenos que ainda escapam ao nosso
entendimento, o que demonstrará
a existência de uma lógica comum no desenvolvimento de qualquer fenômeno,
conhecido ou desconhecido pela atual ciência humana. A nossa percepção dos fatos é limitada pela estrutura
físio-dinâmica-psíquica do nosso universo, assim, a aparente descontinuidade lógica existente entre
os fenômenos
materiais e espirituais, subsiste apenas nos estreitos limites da nossa mente.
Reconhecida a coerência no emprego do mesmo processo lógico nos
acontecimentos de ordem moral, fica evidente a existência de regras incondicionais de conduta ética
semelhantes às inflexíveis leis físicas. Quando se estabelecem leis, princípios ou regras busca-se uma
finalidade comum para todas as coisas (Teleologia), deste modo a existência da Lei Única determina
obrigatoriamente um
objetivo comum a todos processos fenomênicos. Há, portanto, um finalismo na determinação de qualquer
fenômeno natural.
A Teleologia Ubaldiana fundamentada pela Lei Única tem, portanto,
um telefinalismo único para todas as coisas. Esta concepção harmoniza com a idéia do Monismo, pensamento
central da
filosofia de Ubaldi. Como o Monismo significa a unidade da criação, haverá, em conseqüência, um destino
único
para a evolução dos seres, ou seja, a unificação final num sistema orgânico. Assim, é um contra-senso
considerar a existência de fenômenos
isolados da Lei do Todo, pois tudo é organismo. Por fazer parte do Todo, a coletividade humana é, por
conseguinte, submetida a esta Lei, não podendo, portanto, conforme afirma Ubaldi, isolar-se em seu
egoísmo.
Perante esta Lei Única não se justifica as divisões ideológicas
entre Materialismo e Espiritualismo que são, segundo Ubaldi, divergências transitórias que serão
superadas na síntese entre ciência e fé. Os primeiros passos desta síntese são as revelações trazidas por
este livro. A origem transcendente desta síntese é reafirmada aqui e, não poderia ser de outra forma, pois,
como dissemos nos comentários do capítulo 5, a causa desta nossa incapacidade em ver toda esta rede de
caminhos que convergem para a unificação, está na limitação de nossa mente racional que só raciocina por
meio do contraste de idéias, como se as coisas existissem de per si, sem a obrigatoriedade de serem parte de
um todo orgânico maior. Desta forma não conseguimos ir além das diferenças, não vemos o fundo comum que
unifica o universo.
Para tornar esta síntese de origem transcendente, inteligível à
nossa mente racional, Ubaldi realizou um difícil e árduo trabalho de adaptação. Embora ele
sempre afirmasse, por modéstia e humildade, que foi apenas um instrumento para recepção da obra, diminuindo
o seu trabalho para exaltar apenas a fonte emissora, ele tinha, no entanto, que estar apto para
compreender estes elevados conceitos abstratos afim de traduzí-los para uma linguagem compreensível ao nosso
entendimento. Para compreendermos que é necessário que
o instrumento tenha alcançado um alto grau de evolução espiritual para realizar esta monumental tarefa,
citaremos uma frase do próprio Ubaldi: O
que vemos não depende somente do objeto observado, mas dos olhos que usamos para observá-lo. assim, é
necessário ter "olhos espirituais", isto é, ter desenvolvido a capacidade intuitiva que o tornou capaz a
receber e interpretar esta revelação.
O ponto de partida de qualquer conceito científico é sempre fixado
em relação às
dimensões do nosso universo relativo que é delimitado por dimensões espaço-temporais. Como ficou evidente
com o surgimento da teoria da relatividade de Einstein, o espaço e o tempo absolutos não existem e, assim,
os pontos fixos que estabelecemos como pontos de partida para as nossas teorias não são imóveis. Desta forma
a nossa visão do mundo está sempre em mutação. Vemos apenas o fluir do rio da evolução, mas não vemos para
onde ele se dirige, pois estamos mergulhados no seio desta corrente e não conseguimos ver além do trecho que
estamos percorrendo. Somente um olhar abrangente situado acima das contingências humanas poderia ter
enxergado o princípio único que norteia todo o processo evolutivo e o significado teleológico da existência.
Uma visão desta natureza só podia se originar de um plano mental
superior, onde as sufocantes barreiras do espaço e do tempo já foram superadas pela dimensão intuitiva do
superconsciente. O autor conclui esclarecendo que não é somente pelo poder da mente que se alcança à
faculdade da intuição, é necessário, também, a sublimação paralela dos sentimentos, fato que já havíamos
comentado no capítulo 2.
Pedro
Orlando Ribeiro
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