A Grande Síntese

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Comentários e Observações sobre o Cap. 30 de A Grande Síntese

PALINGENESIA

     Palingenesia significa novo nascimento, recriação, regeneração. Palingenesia vem de duas palavras gregas: Palin, de novo, gênese, nascimento. No nosso mundo vemos as coisas nascerem e transformarem e por isso acreditamos que isto possa acontecer também no absoluto, isto é, cremos que Deus possa criar fora de si, acrescentando algo a si mesmo. Se pensarmos com mais cuidado veremos que esta crença é absurda. Deus por definição é um ser infinito em todos seus atributos, logo nada Lhe pode ser acrescentado. É por esta razão que os teólogos se referem a Deus sempre no presente: Deus É. Nunca se pode dizer Deus foi ou será.

    No absoluto não existe tempo nem movimento ou transformação como concebemos no nosso mundo relativo. Medir Deus com a nossa pobre razão seria como uma gota d'água conter em si todo o imenso oceano. Assim, transferirmos nossos limitados conceitos para a Divindade, acreditamos que os pálidos reflexos luminosos de nosso mundo possa ofuscar a deslumbrante luz de um Sol infinito.

    Medir é comparar duas coisas ou objetos, o que mostra o caráter dualístico do ato de medir. O absoluto é uno e, portanto, não há como ser medido. Desta forma começamos a compreender que não pode haver o aparecimento de uma coisa absolutamente nova no seio de um Sistema perfeito, se isto acontecesse o Sistema não seria perfeito e significaria um arrependimento e um refazimento da perfeição, o que seria um contra-senso, um disparate. É por esta razão que Ubaldi afirma: Sobrenatural e milagre são conceitos absurdos diante do absoluto.

    O conceito de milagre traz em si a idéia de superamento de leis e princípios que regem nosso universo. O absoluto é imóvel em relação ao espaço e ao tempo, assim, a idéia do "novo", do superamento de princípios só existe no relativo. Princípios que julgamos terem sido superados são apenas um mero artigo de uma lei mais vasta e mais perfeita. Estes superamentos podem ser entendidos como uma progressiva aproximação da compreensão de uma lei mais completa. Como o conhecimento absoluto é infinito sempre existirá à nossa frente um campo inexplorado, por mais que se alargue nossa percepção dos pormenores desta Lei maior,

    Estas constatações nos levam a conclusão de que a nossa compreensão da essência da Divindade será sempre infinitamente aquém da sua verdadeira realidade. Desta forma o conceito definido pela palavra Palingenesia é aplicável somente ao nosso mundo relativo. Deus é imutável, não está, portanto, sujeito a retornos, a renascimento ou a qualquer mudança na sua essência.

    A concepção humana de criação está vinculada ao esquema dualístico que rege o nosso universo decaído. É, portanto, uma criação exterior que resulta na separação entre o agente criador e o objeto de sua criação. Deus como é o Todo, não pode criar fora de si. O que plasma o mundo é uma realidade interior (imanência Divina) e não as perecíveis criações materiais humanas, cujas decadências e extinções periódicas podemos observar ao longo da história das civilizações humanas.

    Mas, no meio de tanta destruição material, permanece as conquistas espirituais da ética e da ciência em virtude da imanência Divina no nosso mundo. É sobre estas bases imateriais que são construídas as novas civilizações, mais perfeitas que as anteriores. As conquistas espirituais não se perdem como acontece com as materiais. É por esta razão que Ubaldi afirmou:

     O que é sólido não é o concreto, como se crê, mas o abstrato. O espiritual, porque se encontra em cima, subtrai-se ao vórtice do transformismo que tudo arrasta. (Pietro Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo).

    Pedro Orlando Ribeiro
    http://www.monismo.com.br