|
|
Comentários e Observações
sobre o Cap. 3 de A Grande Síntese
AS PROVAS |
O que fundamenta a convicção da verdade? Convenceria-nos da verdade a férrea lógica de uma fórmula matemática que a demonstre por A+B? Ou então um prodígio sobrenatural mudaria as nossas convicções? Provavelmente não! A convicção da verdade está relacionada com nossa forma mental. A certeza da verdade nos vem da afinidade entre o nosso habitual modo de pensar e o conceito ideológico em causa. Como existe uma infinidade de indivíduos com mentalidades diferentes, eles tomarão como verdadeiras somente as idéias que têm a igual freqüência vibratória com o seu padrão mental.
Poderíamos dizer, então, que apenas alguns estão com a verdade e a maioria estaria errada? Não, a verdade é relativa e progressiva, ou seja, cada nível evolutivo tem uma visão da verdade cujo grau de pureza varia com sua altura na escala da evolução. Assim o que é verdadeiro para um nível inferior pode ser encarado como uma grosseira aproximação da verdade para quem está acima e a verdade deste nível superior seria considerada como uma onírica fantasia pelo inferior. Desta maneira seria necessária uma infinidade de provas diferentes (sejam elas lógicas ou em forma de milagres) para alcançar uma universal aceitação de uma determinada ideologia.
Poder-se-ia afirmar, no entanto, que a lógica é absoluta e portanto aqueles que a conhecem e a praticam seriam os donos da verdade. Ledo engano, a ciência da lógica também é relativa. A Física Newtoniana de espaço e tempo absolutos é hoje concebida como uma aproximação da Física Relativista de espaço e tempo relativos. E o que é lógico hoje amanhã será considerado como uma aproximação de outra verdade que superará a atual. Na realidade tudo é progressivo no nosso Universo: As nossas verdades não expressam outra coisa senão a maneira pela qual são vistas e concebidas para cada um, num dado momento. Elas são, portanto, relativas ao observador e progressivas no tempo. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais)
Ora, se a verdade é relativa ao observador como afirma Ubaldi, então poderíamos pensar que este capítulo sobre As Provas é supérfluo pois somente aqueles que tem pureza de ânimo e sinceridade de intenções e que se afinam com os conceitos de A Grande Síntese, dariam o trabalho de ler uma obra tão complexa.
No livro Deus e
Universo, Ubaldi afirma: Não se deveriam dizer estas coisas abertamente ao mundo
involuído de hoje, porque ele está sempre pronto a dar-lhes uma interpretação às avessas,
satânica. Não se deveria dar ao público a solução dos mistérios aqui obtida por intuição,
inacessível pela via racional, solução que deveria ser, pois, naturalmente proibida. Poder-se-
ia repetir: "não atireis pérolas aos porcos, a fim de que não as pisem com os pés e se voltem
contra vós para dilacerar-vos". Por isto tais coisas são ditas em livros de complexa concepção,
que os cérebros preguiçosos e ignorantes repelem e que a maioria dificilmente penetra,
justamente para que poucos as conheçam, mas as possam encontrar prontas quando hajam
amadurecido.
Poderíamos
concluir então que as admoestações deste capítulo seriam desnecessárias pois estas obras são para que poucos as conheçam, mas as possam encontrar prontas quando hajam amadurecido.
Devem, portanto, existirem outras razões que expliquem esta posição do autor.
Creio que a explicação está no fato de que o
Cristianismo foi implantado por Cristo em posição de antagonismo contra o mundo,assim
qualquer idéia nova quando contraria interesses fortemente estabelecidos provoca a reação dos
seus representantes. Assim, por exemplo, a crucificação de Cristo aconteceu porque a elite
dirigente do povo judeu (o Sinédrio) temia que o povo lhe arrebatasse o poder, pois Cristo
desmascarava a sua hipocrisia, conforme podemos ver nos Evangelhos. O mesmo aconteceu na
perseguição e martírio dos primeiros cristãos em Roma. O poder imperial temia que os escravos
se revoltassem em virtude das promessas do Cristianismo sobre um novo reino de justiça.
Da mesma forma quando as
revolucionárias idéias de Ubaldi expostas neste livro, tornarem uma ameaça para os depositários
das verdades estabelecidas, sejam elas científicas ou religiosas, muitos se aproximarão com
duplo fim, para demolir ou especular no intuito de defenderem seus interesses ou vantagens.
O autor é conhecedor da técnica da descida dos ideais e por isso prevê as inevitáveis reações
que surgirão no futuro por parte daqueles que estão armados para recusar qualquer prova.
Assim se explica o tom admoestatório deste capítulo.
Pedro
Orlando Ribeiro http://www.monismo.com.br
|
|