A Grande Síntese

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Comentários e Observações sobre o Cap. 29 de A Grande Síntese

O UNIVERSO COMO ORGANISMO, MOVIMENTO E PRINCÍPIO

     Como vimos nos capítulos anteriores, o desenvolvimento dos conceitos básicos da grande Lei que governa o nosso Universo demonstram que os seus fundamentos são simples, mas, ao tomarmos conhecimento da Lei dos Ciclos Múltiplos aspecto dinâmico da Lei das Unidades Coletivas, sentimos a imensa complexidade que pode alcançar o Todo.

    Para compatibilizar os conceitos com o nosso limitado entendimento, o autor foi obrigado a apresentar uma síntese a duas dimensões, isto é, como um corte transversal de uma realidade tridimensional. O diagrama em forma de espiral da trajetória dos movimentos fenomênicos deveria na realidade ter ser sido apresentado na forma esférica, isto é como um helicóide (vórtice).

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    Pela figura abaixo podemos ter uma pálida idéia da complexidade da lei dos ciclos múltiplos (na realidade são vórtices), do entrelaçamento de seus movimentos que não se misturam, nem se entrechocam. Cada vórtice tem o seu ritmo próprio e segue seu caminho independente dos outros mas, ao mesmo tempo, em harmonia com outros vórtices desenvolvem vórtices maiores

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    É preciso salientar que comumente isolamos cada um dos três aspectos, material, dinâmico e conceitual, da nossa realidade. Por esta razão não conseguimos enxergar a imensa complexidade que existe nas coisas, não vemos a organicidade que as unificam.

    Essa tendência a unificação é universal, fruto da ação do princípio das unidades coletivas (no aspecto material) e do princípio dos ciclos múltiplos (nos aspectos dinâmico e conceitual). Por este motivo não se encontram na natureza corpos simples isolados. Sempre encontramos unidades múltiplas em qualquer fase. Nestas unidades maiores sobressai a especialização dos componentes singulares, embora prevaleça as características unitárias do todo. Unidade que é simbolizada na concentricidade das volutas da espiral em torno de um centro, no caso da espiral planar, ou em torno de um eixo na visão tridimensional do vórtice.

    Quando se fala de organismo é necessário evidenciar o caráter hierárquico de sua estrutura, pois, sem este ordenamento ele não seria um organismo mas apenas um amontoado incoerente de partes justapostas. A hierarquia estabelece as relações de coordenação entre os componentes singulares. Embora, na comum mentalidade humana, o conceito de hierarquia seja entendido apenas no sentido restrito da relação comando-obediência, existe, no entanto, uma graduação de seres situados em diferentes níveis evolutivos, conseqüência da maior ou menor consciência que cada individuação tem do todo.

    Por força da evolução este sistema hierarquizado não é estático, há movimento como nos sugere o dinamismo implícito na imagem da espiral ou do vórtice. Hoje vivemos limitados pelos nossos sentidos, que são adstritos as dimensões do nosso Universo. Mas, a evolução superará estas restrições e alcançaremos novos sentidos que nos levarão a universos seqüenciais ao nosso, onde a limitação tempo-espacial não existe mais. São universos superpsíquicos nos quais não há restrições ao concebível.

    Ainda que não saibamos, somos células de formadoras de ciclos maiores que o da vida humana e, participamos do funcionamento e da evolução do Universo.

    Nosso universo emergiu de um universo inferior e caminha para universos superiores. Desta forma existem universos que antecedem e universos que seguem ao nosso. Podemos, baseados no gráfico da figura 2 de A Grande Síntese e, em outras descrições de Ubaldi, elaborar um quadro, embora incompleto, da seqüência dos universos mais próximos do nosso. Na tabela abaixo, construida de acordo com a figura citada, o nosso universo é o Universo C. Note-se que em harmonia com o principio da Trindade da Substância os universos também se agrupam de forma ternária. São os Superuniversos que denominamos de:

1- CONJUNTO DE UNIVERSOS DE DESENVOLVIMENTO MATERIAL
2 - CONJUNTO DE UNIVERSOS DE DESENVOLVIMENTO CONCEPTUAL
3 - CONJUNTO DE UNIVERSOS DE DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL

Superuniversos Universos Fases Classe
Dimensional
Dimensão
Específica
CONJUNTO DE UNIVERSOS
DE
DESENVOLVIMENTO MATERIAL
(Superuniverso Material)
UNIVERSO
?
? ? ?
? ? ?
? ? ?
UNIVERSO
?
? ? ?
-y 1ª dimensão espacial linha
-x 2ª dimensão espacial superfície
UNIVERSO
A
-y 1ª dimensão espacial linha
-x 2ª dimensão espacial superfície
g 3ª dimensão espacial volume
CONJUNTO DE UNIVERSOS
DE
DESENVOLVIMENTO CONCEPTUAL
(Superuniverso Conceptual)
UNIVERSO
B
-x 2ª dimensão espacial superfície
g 3ª dimensão espacial volume
b 1ª dimensão conceptual tempo
UNIVERSO
C
g 3ª dimensão espacial volume
b 1ª dimensão conceptual tempo
a 2ª dimensão conceptual consciência
UNIVERSO
D
b 1ª dimensão conceptual tempo
a 2ª dimensão conceptual consciência
+x 3ª dimensão conceptual superconsciência
CONJUNTO DE UNIVERSOS
DE
DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL
(Superuniverso Espiritual)
UNIVERSO
E
a 2ª dimensão conceptual consciência
+x 3ª dimensão conceptual superconsciência
+y 1ª dimensão hiper-conceptual ?
UNIVERSO
F
+x 3ª dimensão conceptual superconsciência
+y 1ª dimensão hiper-conceptual ?
+z 2ª dimensão hiper-conceptual ?
UNIVERSO
G
+y 1ª dimensão hiper-conceptual ?
+z 2ª dimensão hiper-conceptual ?
? 3ª dimensão hiper-conceptual ?

    No quadro acima vemos que o produto máximo do desenvolvimento de cada superuniverso são os seguintes:

1 - Superuniverso Material: matéria g cuja dimensão é o volume
2 - Superuniverso Conceptual: superconsciência +x cuja dimensão é a superconsciência (intuição)
3 - Superuniverso Espiritual: (desconhecido) cuja dimensão é a consciência mistica unitária (veja o livro Ascese Mística)

    Segundo Ubaldi, o princípio único que mantém unidos e compactos os organismos, toma as seguintes formas adaptadas à substância em que se revela nestes superuniversos:

1 - Superuniverso de desenvolvimento Material: coesão
2 - Superuniverso de desenvolvimento Conceptual: atração (simpatia)
3 - Superuniverso de desenvolvimento Espiritual: amor

    Estes universos não são compartimentos estanques, eles se interpenetram, cada novo universo repete no seu início as últimas fases do universo precedente. Há, portanto, um ritmo e uma continuidade no processo evolutivo. Mas, é necessário compreender, como nos informa Ubaldi, que há contigüidade destes Universos, mas não em sentido espacial, mas de afinidade, de semelhança de caracteres, de comunhão de qualidades, de trabalho...

    No caso particular do nosso Universo (Universo C da tabela) a substância assume três aspectos: Estático, Dinâmico e Mecânico(1). Estes aspectos nos mostram que o nosso universo é simultaneamente organismo, movimento e princípio:" Os seres existem como individuações; movem-se segundo a evolução, seguindo o princípio que os rege" Desta forma, fica evidenciado que o princípio é mais importante que o movimento pois o guia. Por sua vez o movimento vale mais que a forma pois, a move e a transforma.

    O princípio por superar os outros aspectos contém em si, de forma embrionária, todas as formas antes do surgimento destas. Por este raciocínio, percebe-se que nenhuma coisa ou fenômeno surge do nada pois já preexiste no estado de princípio. Em conseqüência podemos concluir que não existe o nada absoluto, pois qualquer coisa que surge ou transforma já estava à espera na forma de germe. É semelhante a Teoria das Idéias de Platão (427AC - 347AC). Segundo esta teoria, as idéias são realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de que as coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes . Platão, porém, não desenvolveu o conceito de evolução e nem explicou o paradoxo porque as coisas são imperfeitas no nosso universo. Universo que foi criado por uma Entidade infinitamente perfeita e que, portanto, não poderia gerar a imperfeição, pois não tem em si a semente da imperfeição. Ubaldi, entretanto, expôs nos livros Deus e Universo e O Sistema a explicação para esta aparente contradição através da Teoria da Queda.

    Como tudo é individuado no Universo, cada coisa já contém em si aquilo que deverá atingir (O tipo preexiste ao ser que o atravessa,). Desta modo, passado, presente e futuro são posições relativas à situação hierárquica do ser na escala evolutiva do Todo. Como tudo já preexiste na forma de princípios, o que é futuro para um determinado nível evolutivo é passado para seres situados em níveis mais altos. Muitos podem estar perguntado como conciliar o livre arbítrio que cada ser parece possuir com este inexorável determinismo dos processos evolutivos. Este tema será amplamente desenvolvido por Ubaldi em capítulos posteriores e mais extensamente nos livros Problemas do Futuro (Cap. 8), Deus e Universo e O Sistema. Mas para que o leitor já tenha uma idéia de como Ubaldi resolverá esta oposição entre estas posições contraditórias, as citações a seguir nos esclarecem:

    Eis que em todo caso o livre-arbítrio, está fechado num determinismo macroscópico que aparece imediatamente logo que se suba das pequenas diferenças individuais até colher as características comuns que reúnem em uma só lei todos os elementos componentes. Ela é a LEI DOS GRANDES NÚMEROS, própria da massa e não do indivíduo, revelada estatisticamente. Assim se explica como, sob o determinismo da velha Física Mecanicista Clássica, se esconde uma APARENTE livre desordem (P. Ubaldi - Problemas do Futuro)
    A liberdade está sempre enquadrada no determinismo da unidade superior, e que é livre somente enquanto é elemento inferior componente de uma outra unidade superior que, relativamente ao inferior é sempre determinista. Assim em toda UNIFICAÇÃO se verifica uma reordenação determinista.(P. Ubaldi - Problemas do Futuro).

    Assim, o livre-arbítrio explica porque na visão bíblica da Escada de Jacó, os seres sobem e descem e porque no gráfico da espiral há os períodos de retorno involutivo. A evolução caminha tortuosamente por respeitar o livre-arbítrio da criatura. As forças evolutivas através de uma sábia coordenação de impulsos contrários, por imperceptíveis gradações, faz com que o conjunto avance progressivamente. É por esta razão que a intuição popular captando inconscientemente este fato se expressou pela máxima: "Deus escreve certo por linhas tortas". Também o pensamento racional humano alcançou esta compreensão ao criar o princípio da Dialética definido por Hegel como a natureza verdadeira e única da razão e do ser que são identificados um ao outro e se definem segundo o processo racional que procede pela união incessante de contrários - tese e antítese - numa categoria superior, a síntese.

    O progresso evolutivo dá-se, portanto, em função da unificação orgânica das singularidades fenomênicas em unidades maiores pela ação da Lei das Unidades Coletivas cujo motor é a interação dinâmica entre impulsos opostos. É por isso que no nosso mundo tudo funciona num eterno ciclo criativo/destrutivo. Vida e Morte se alternam, mas tudo evolui.

    Pedro Orlando Ribeiro
    http://www.monismo.com.br

Nota 1: Mecânico: (Filos.) Relativo a processo em que cada momento é determinado por condições antecedentes invariáveis. Portanto, nos textos Ubaldianos, o aspecto mecânico se refere às Leis e Princípios que regem o Todo.