A Grande Síntese

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Comentários e Observações sobre o Cap. 11 de A Grande Síntese

UNIDADE DE PRINCÍPIO NO FUNCIONAMENTO DO UNIVERSO

    O autor, em harmonia com o caráter cíclico de todos os fenômenos, volta, neste capítulo, a abordar o assunto do capítulo 6: o Monismo. Devemos nos habituar a estes retornos que acontecerão ao longo de toda a obra. A Grande Síntese pode ser considerada como um sistema equilibrado, orientado, ritmado e periódico. O objetivo destes retornos é o de aprofundar e ampliar os temas já desenvolvidos anteriormente. Assim, a nossa compreensão sobre o Monismo é alargada com base nos novos fatos expostos neste capítulo.

    Procuremos superar a nossa limitação mental de só ver as coisas sucessivamente para compreender o significado da afirmação: (...)o universo contém, a cada instante, cada uma, e todas, fases do transformismo. A cada instante ele (o universo) é todo, completo e perfeito em todos os seus períodos de ida e volta.. O transformismo neste caso se trata do ciclo involutivo/evolutivo a®b®g®b®a. Do ponto de vista estático as fases são:a, b, g e as transformações sobre o aspecto dinâmico são:

  • a®b
  • b®g
  • g®b
  • b®a

    Assim, em todos lugares e a cada momento, todas estas fases e transformações ocorrem simultaneamente. Qualquer fenômeno do universo, do menor ao maior, contém em si, concomitantemente, todas estas fases e transformações. Podemos, deste modo, compreender o que seja a onipresença de Deus. Esta onipresença não é apenas a extensão de Deus cobrindo todo o Universo mas é a presença total e completa de Deus em cada ponto deste Universo, pois Deus é indivisível. Para entendermos este conceito é preciso atentar para o seguinte trecho do primeiro parágrafo: Deus está, assim, onipresente em cada manifestação. Se assim não fora, como vos seria possível a observação dos fenômenos que, certamente, não teriam podido esperar na eternidade para existir e mostrar-se a vós, exatamente no instante em que também nascestes e se desenvolveram em vós os sentidos e uma consciência que se dirigem a ele? Diferentemente da teoria das formas de Platão, onde o conhecimento do significado antecede ao do significante, Ubaldi afirma aqui que o significado já "está" no significante em virtude da onipresença divina. Eis um exemplo simples: Ao observarmos que um objeto é maior que outro já existe abstratamente em nossa consciência a noção conceitual de maior ou menor.

    Desta forma é fácil concluir que temos dentro de nós o infinito e a eternidade. Compreende-se agora, o significado profundo do antiqüíssimo preceito: Conhece-te a ti mesmo que as portas do infinito se abrirão para ti. Em virtude desta onipresença divina há, portanto, uma unidade de princípios no funcionamento do universo, visto que a unidade de princípios é um reflexo do princípio único emanado da Divindade. Esta unidade de princípios é o que se denomina de Monismo.

    Pela onipresença divina fica caracterizada a unidade global do todo. Se a essência de qualquer individuação fenomênica é a substância divina, existe, então, obrigatoriamente, um mesmo padrão estrutural para toda a criação. A bíblia afirma isto de maneira singela: Também disse Deus: façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.

    Desta forma, o princípio da trindade da substância encontra-se, então, em toda individuação fenomênica em sua forma estática a, b, g e dinâmica g®b®a. Os três exemplos apresentados por Ubaldi mostram a unidade de princípios que governa os diversos fenômenos que compõem o nosso universo.

    O primeiro exemplo mostra que independentemente da grandeza do fenômeno os fundamentos são sempre os mesmos. Há, portanto, uma unidade de princípios. Guardada as proporções entre o átomo e o cosmos astronômico verifica-se que os princípios que regem as interações entre átomos são os mesmos que coordenam os movimentos astronômicos. No livro Problemas do Futuro , Ubaldi sintetiza esta idéia com a seguinte afirmação: O universo é um organismo de estrutura harmônica constituído conforme um esquema unitário, pelo que o modelo fundamental, que o individualiza no seu conjunto, é repetido em todo particular, que assim é individualizado à semelhança do todo. Já na mais remota antiguidade - no antigo Egito - os ocultistas afirmavam a mesma coisa, só que de forma velada: O que está embaixo é como o que está no alto, e o que está no alto é como o que está embaixo, no milagre de uma só coisa.

    O segundo exemplo também mostra a repetição em toda individuação fenomênica do princípio único da centralidade de Deus na criação, em torno do qual tudo gira e para o qual tudo gravita. Quando se fala de criação, não se trata ainda da criação de nosso universo que conhecemos, mas de uma originária criação, da qual derivou depois a atual (P. Ubaldi- O Sistema). Após a queda (2ª criação) o conceito de centro permaneceu disperso numa infinita multiplicidade de centros, assim todo organismo tem um centro e uma periferia Os elementos existem não mais em relação direta com o centro Deus, mas apenas cada um em relação com o seu pequeno centro (ibidem). Assim, o átomo tem o núcleo e as órbitas eletrônicas; o sistema solar tem o sol e os planetas. Até os sistemas sociais seguem este esquema como podemos ver no caso de governo e povo, capital e trabalho, teoria e prática, ciência e tecnologia, etc. O estudo desta polaridade será amplamente desenvolvido por Ubaldi ao tratar da Lei da Dualidade, tema recorrente ao longo de toda a sua obra.

    O terceiro exemplo mostra claramente a estrutura tripla do homem, reflexo do princípio da trindade original da criação. Desta forma qualquer fenômeno do nosso universo se apóia nesta triplicidade estrutural. Até fenômenos que a primeira vista nos parecem não conter todas as três fases, se olhados com atenção mostram esta triplicidade, como é o caso do pensamento humano que julgamos independentes das fases matéria e energia. Como dissemos anteriormente o pensamento para se manifestar depende do suporte físico do cérebro e da manifestação da energia nervosa. No nosso universo o pensamento só acontece e se movimenta nas dimensões físicas cerebrais, embora possa existir universos sucessivos ao nosso onde o pensamento já se desembaraçou das dimensões espaço-temporais, como veremos no capítulo 37 que aborda o tema da Sucessão dos Sistemas Tridimensionais.

    O estudo deste capítulo nos proporcionou uma visão abrangente do Monismo. Podemos assim resumir os seus aspectos:


R E S U M O
ASPECTOS DO MONISMO
Descrição
Unidade Há uma unidade de princípios que governa todos os fenômenos, não importando sua altura ou grandeza. O macrocosmo repete o microcosmo.
Dualidade A unidade fenomênica é polarizada, isto é dividida interiormente em duas partes inversas e complementares.
Trindade Toda unidade fenomênica é tríplice na sua constituição.

    É importante entender o significado que Ubaldi dá a palavra fenômeno, largamente empregada em seus textos: Por fenômeno, entendo uma das infinitas formas individuadas da substância, o seu devenir e a lei do seu devenir. Por exemplo: um tipo de corpo químico, de energia, de consciência, em seus três aspectos - estático, dinâmico e mecânico. Fenômeno é a palavra mais ampla possível, porque compreende tudo, enquanto é e se transforma de acordo com sua lei. Em meu conceito, ser jamais significa estase, mas eterno devenir. (A Grande Síntese - Capítulo 22)
O dicionário Aurélio define fenômeno da seguinte forma: (Filos.) Tudo que é objeto de experiência possível, i. e., que se pode manifestar no tempo e no espaço segundo as leis do entendimento.

    O que é surpreendente nesta concepção de Monismo é o fato que os seus conceitos de unidade, dualidade e trindade se combinam harmonicamente sem se contradizerem. Ao longo da obra, o leitor atento encontrará inúmeros temas díspares entre si, que no entanto têm estes conceitos como fundamento comum. Deste modo podemos afirmar:

O Universo é simultaneamente unidade, dualidade e trindade.

    Pedro Orlando Ribeiro
    http://www.monismo.com.br