A Grande Síntese

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Comentários e Observações sobre o Cap. 1 de A Grande Síntese

CIÊNCIA E RAZÃO

    Este capítulo, que é o primeiro de uma extensa obra que o seguirá e o desenvolverá em detalhes, pode ser uma precioso incentivo para meditarmos sobre os rumos que o século XX imprimiu à nossa vida.

     Inicialmente o autor afirma que o desenvolvimento humano está sujeito a leis preestabelecidas. É uma declaração ousada e revolucionária sugerindo que estamos jungidos a um fatal determinismo. É uma afirmação que derruba a arraigada crença mecanicista que nega todo tipo de finalismo ou de qualidade oculta para a determinação dos fenômenos naturais, isto é, que os fenômenos que acontecem no nosso universo não têm uma trajetória e um alvo prefixado.

    A ciência pode concluir que no fundo se trata apenas da manifestação de um desesperado desejo de encontrar uma finalidade para nossas vidas, pois já observou que a evolução da vida neste mundo se procede por tentativas, alternando-se entre erros e acertos, e não com a segurança de um plano pré-organizado e que, portanto, não se pode prever para onde se dirige a evolução.

    Esta é uma objeção aparentemente irrefutável, mas se observarmos com mais atenção o andamento da evolução do universo, podemos perguntar porque então o universo no seu conjunto não se descambou para o caos pois as chances de erros e acertos são as mesmas: 50% para cada uma. Assim podemos pensar que 50% de todos os infinitos fenômenos evolutivos de qualquer magnitude que aconteceram no nosso Universo, desde de o seu princípio até aos nossos dias, teriam sido de natureza errônea. Esta conclusão nos levaria a conceber que qualquer lei científica, seja da física, da química ou de qualquer outra ciência, não operariam com 100% de eficiência. Não seria difícil imaginar que num determinado ponto do espaço a lei da gravidade funcionaria intermitentemente. Num momento atuaria de forma precisa e em outro se omitiria. Este pensamento pode ser estendido para qualquer fenômeno de qualquer natureza. Num Universo onde ocorrem a cada átimo do tempo trilhões e trilhões de interações fenomênicas, o acúmulo dos infinitos erros gerados pela lei das probabilidades teriam o levado no mínimo para um estado caótico ou no máximo ele nem existira. No Universo, apesar do processo de tentativas, todas as leis naturais funcionam com 100% de acerto e estas leis se coordenam entre si de forma que o Universo é um organismo equilibrado que indica a existência de um telefinalismo no seu funcionamento.

    Este determinismo nos leva a perguntar: então não existe livre-arbítrio, somos meras marionetes num vasto jogo de forças cósmicas? A resposta final para esta pergunta só será compreendida após a leitura dos livros básicos da filosofia Ubaldista: A Grande Síntese, Deus e Universo e O Sistema, veremos então que foi o nosso livre-arbítrio que nos levou a este universal processo de tentativas permeadas de erros e acertos.

    O autor, logo no segundo parágrafo, ao afirmar que Em qualquer campo, a nova idéia vem sempre do Alto nos sinaliza que existe um ponto (o Alto) de onde emana esta diretriz que impede que o processo de tentativas e erros nos conduza ao caos. Este ponto pode ser encarado como o alvo a que se projeta a trajetória da evolução. Desta forma quando o acúmulo de erros se torna preponderante, desce do Alto novas diretrizes para restabelecer o equilíbrio e recolocar a evolução na prefixada linha diretriz.

    Ao longo dos séculos a história humana sofre um redirecionamento rítmico periódico. Este ritmo, como veremos em capítulos posteriores, tem o compasso de 3:2. Este compasso indica que há no processo evolutivo três fases construtivas seguidas de duas destrutivas. Destarte o aparente processo de tentativas torna-se um vir-a-ser periódico e em conseqüência pode ser entendido como um ciclo determinístico, onde há 60% de possibilidade de acertos e 40% de possibilidade de erros. O diferencial de 20% representará no cômputo geral da evolução uma tendência determinística no sentido dos acertos superarem os erros. É um jogo de cartas marcadas em que a banca (os acertos) ao longo do tempo ganhará fatalmente a parada dos apostadores (os erros).

    Os 40% representam o livre arbítrio, ou seja, a liberdade de escolha que tudo e todos somos possuidores. O livre arbítrio é portanto relativo e suas escolhas erradas serão retificadas a longo prazo. O acumulado deste diferencial de 20% representa o conhecimento e a experiência adquiridos ao longo da história do universo. Conhecimento e experiência que se traduzem na forma da evolução e do progresso que vemos acontecer apesar dos aparentes recuos.

    O século XX desenvolveu basicamente a ciência. Este foi um desenvolvimento construtivo no sentido do conhecimento puro mas também destrutivo no que tange a sua aplicação e utilização. Num primeiro momento todo o conhecimento obtido foi empregado de forma destrutiva. O exemplo mais conhecido é o da energia atômica que foi usada como arma de destruição antes de ser empregada para fins pacíficos.

    Com o olhar concentrado na matéria a ciência descuidou-se dos aspectos morais e espirituais. E não poderia ser de outra forma pois a evolução conduz à conquista de novas qualidades, um setor de cada vez. É natural, portanto, que o progresso numa determinada direção anule o que foi realizada em outra. A vida não pode proceder à criação de demasiadas coisas e avançar por diversas estradas ao mesmo tempo. Assim, quando tudo se torna ciência, técnica, trabalho produção, industrialização e mercado, as qualidades espirituais tendem a atrofiar-se. Hoje o homem especializou-se na conquista daquele tipo de valores, mas, obedecendo à mesma lei, assistirá à reação representada por uma espiritualização em um plano racional e científico mais positivo e aceitável do que o fideístico atual. (Pietro Ubaldi - Um Destino seguindo Cristo).

    Assim esta visão unilateral lançou a ciência num beco escuro, sem saída, como afirma Ubaldi neste capítulo. Mas, apesar do tom apocalíptico deste primeiro capítulo, não devemos perder as esperanças, pois se o atual ciclo histórico terminar de forma destrutiva, por outro lado, por força das leis preestabelecidas - uma Lei, invisível para vós, todavia mais forte que a rocha - um novo ciclo construtivo obrigatoriamente se abrirá.

    O fim de um ciclo sempre representa um impasse - o beco escuro, sem saída - por isso a Lei começa a agir, primeiramente na forma da revelação de uma nova idéia que balizará o desenvolvimento do novo ciclo. Este livro - A Grande Síntese - e os demais livros da obra constituem esta revelação. Neste primeiro momento é apenas uma idéia pura, no segundo momento (o atual) a idéia lutará para se impor e conquistar o terreno e finalmente se estabelecerá de maneira concreta na forma de uma nova civilização.

     Uma nova ciência deve surgir em virtude do desenvolvimento de uma nova capacidade de ver o universo. Este novo olhar deve se voltar para a essência das coisas. A ferramenta desta nova visão é a intuição.

     A intuição é a maneira instantânea de compreender as coisas. A intuição será o próximo degrau da evolução do pensamento e será produto da interação entre Razão e Sentimento, o casamento da Fé com a Ciência. O pensamento racional por si só é fragmentário: a Ciência, sua maior conquista, é constituída por compartimentos estanques, faltando-lhe a unidade do conhecimento. O Sentimento, por sua vez, tem a propriedade holística de encarar os fatos embora sem compreender os detalhes e sem a capacidade de julgamento. Hoje já se fala em lado esquerdo e direito do cérebro ao se referir as duas modalidades de pensamento. Sim, podemos afirmar que existe dois tipos de pensamento: o racional e o intuitivo. Toda grande descoberta se iniciou por um pensamento intuitivo e só posteriormente foi desenvolvido e detalhado pelo pensamento racional. Esta capacidade já existe embrionariamente em todos nós. Quem já não teve um lampejo de uma compreensão instantânea e total sobre um determinado assunto sem precisar recorrer a nenhuma elucubração racional? Em geral, todos, mais ou menos, possuem intuição, mas de um modo vago e sumário, sem a crítica e a precisão de um método. (P. Ubaldi - Problemas do Futuro)

    A obra Ubaldiana foi composta inteiramente pelo método intuitivo e em seguida trabalhada de forma racional. Quem pensa que o recebimento deste imenso volume de conceitos foi uma doação gratuita, caída do céu, está redondamente enganado. O fenômeno intuitivo deve ser completado com um estafante trabalho intelectual para adequar o pensamento sintético a forma racional humana, para que possa ser entendido pelas massas. Não se pode confundir o método da intuição com o da mediunidade passiva: O contato é ativo e consciente e não somente de tipo conceitual. O pensamento que nos invade em estado inspirativo é profundo, está no íntimo das coisas e dos fenômenos, não em posição estática, mas em incessante dinamismo, não só dirigindo tudo, mas também potencializando o funcionamento. Assim, aquele pensamento não aparece só como conceito, mas é sentido também como vida... (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo)

    A evolução marcha para a unificação de todas as coisas usando o amor como amálgama para realizar a sua tarefa. A intuição pode ser vista como a unificação do pensamento analítico racional e, portanto, é obvio que para alcançarmos esta síntese do pensamento é preciso - como afirma o ultimo parágrafo deste capítulo - sentir esse liame de amor com todas as outras formas da vida. Creio que este deve ser o fundamento para alcançarmos a compreensão desta obra magistral que ora iniciamos a leitura. Caso contrário o aprendizado será estéril.

    Pedro Orlando Ribeiro
    http://www.monismo.com.br