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O CARMA

Trabalho elaborado por:
SÉRGIO GIULIETTO
Revisão de:
FERDINANDO RUZZANTE
NETTO
São Paulo, Abril/1995

Lei do Carma

INTRODUÇÃO

A palavra carma tem sua origem na raiz sânscrita "kri", que significa, literalmente, ação, ato. Sabe-se que toda ação provoca uma reação e esta por sua vez, condiciona ou impulsiona um novo e determinado tipo de ação, o qual provoca nova reação, e assim sucessivamente.

Somos o produto do nosso passado. Tudo o que temos ou não temos, tudo o que sofremos, que sabemos ou não sabemos, é resultado de nossas ações anteriores. Isto não significa que o nosso destino esteja traçado deterministicamente. Temos duas liberdades: a primeira consistiria na forma com que aceitamos os resultados de nossas ações anteriores e, a segunda, a liberdade que temos para nortear as nossas ações presentes, de tal forma que provoquem reações mais suaves no futuro.

O fenômeno cármico pode ser comparado com a imagem de um menino atirando pedras no espaço. A força com que uma pedra é atirada, o seu tamanho e a sua direção dependem da vontade, ou seja, do livre-arbítrio de quem a atira. A trajetória desta pedra no espaço depende do meio ambiente que atravessa e da lei da gravidade. Todo ser é livre para atirar uma pedra no tamanho, na forma e direção que quiser. Aí cessa a sua intervenção no fenômeno. A trajetória dessa pedra, a partir do momento em que ela sai da sua mão, já não lhe pertence e segue leis que fogem ao seu controle imediato, mas as conseqüências que esta pedra provoca em seu caminho são de inteira responsabilidade de quem a atirou.

Podemos, em determinado momento de nossa existência, desistir de atirar pedras ou aprender a atirá-las de forma útil e correta. Esta atitude não nos livrará das conseqüências das ações anteriores, porém será uma capitalização que renderá bons dividendos no futuro.

Exemplo: Vamos supor que entremos na posse de um terreno abandonado e nele queiramos plantar um pomar. Inicialmente, teríamos que ir limpando gradativamente o terreno, plantando nos lugares certos e de forma correta, as árvores frutíferas. Se plantarmos uma por dia, no fim de um ano teremos 365 árvores, que ainda não produzem frutos. A um observador desavisado que olhasse o terreno ao fim deste ano de plantio, nada ou pouca coisa teria mudado. Mas, se continuarmos o nosso trabalho, mais outro ano, mais outro século, mais outro milênio, ou por quanto tempo queiramos, dia virá em que todo o terreno se transformará em um útil pomar, resultado de um trabalho diário, constante, contínuo, pouco espetacular e singularmente eficiente.

Tudo isto nos leva a analisar o conceito de absolvição dos pecados, através do arrependimento e da confissão. A idéia é magnífica e certamente inspirada em planos mais elevados. Leva o indivíduo a libertar-se de uma carga mórbida de culpa que o paralisaria. Leva também a aceitação do destino atual, com suas dores e angústias, com a resignação que só os que sabem que estão errados podem ter. Leva ainda ao desejo e, com o tempo, ao fato, de evitar-se a repetição dos mesmos erros que, por sua vez, levariam a situação semelhante. A primeira conseqüência foi encampada pela moderna ciência da Psicanálise, aliviando tensões excessivas e angústias improdutivas. A  segunda  e  a  terceira conseqüências são as condições de liberdade que temos de aceitação do destino atual e a capacidade de, com nossas ações presentes, forjar um destino mais evoluído e inteligente no futuro.

Com estas noções preliminares expostas, podemos agora analisar um aspecto pouco difundido da Lei do Carma, ou seja, a possibilidade de existir um carma negativo e um carma positivo. Em primeiro lugar, todos os fenômenos da natureza se apresentam sob o aspecto dualístico de negativo e positivo, e o carma não é e nem poderia ser uma exceção. Em segundo lugar, é um absurdo imaginarmos Deus, ou as Leis que o representam, cobrando contas dos seres que cometem erros, proporcionais aos seus estágios evolutivos. Não podemos esquecer que a Lei do Carma é função da lei maior que é a Lei da Evolução, a qual rege todo o Universo criado. Assim sendo, desde que o ser aprenda a lição e pague os seus débitos "até o último centavo", seu carma está liberado. "Vá e não peques mais", foi a ordem dada a Maria de Magdala e a todos nós. Vá, o seu carma está liberado, e não peques mais, ou seja, não crie novo carma.

Assim, podemos concluir que o débito contraído com um determinado indivíduo pode ser resgatado em indivíduos diferentes. Exemplificando: não é por termos assassinado alguém em uma das encarnações anteriores que devemos ser assassinados nesta encarnação por esta mesma pessoa. Imaginemos que a Providência Divina seja um grande Banco, onde podemos sacar e depositar quantias em dinheiro. O dinheiro que sacamos, ou seja, o mal que fazemos, poderá ser pago na ajuda aos necessitados do presente. Se assim não fora, como pagaríamos o crime cometido contra Jesus? Ele mesmo nos deu a resposta: "amando ao próximo, como a si mesmo".

Outro conceito difundido de forma errônea, é a ligação que se faz entre carma e dor. Carma nem sempre é dor. Pode ser alegria do dever cumprido, da dívida resgatada, do irmão ajudado nas inúmeras formas que um irmão pode ajudar o outro. Quem está consciente de uma dívida e um dia pode pagá-la, este é um dia de alegria. Acontece que, neste planeta, nesta época, os credores são poucos e os devedores são muitos, confundindo-se o carma com resgate obrigatório e, portanto, doloroso.

Finalizando, podemos afirmar que não existe pessoas ou grupos cuidando da aplicação da Lei do Carma. Esta Lei, aliás como todas as Leis que regulam o funcionamento da Criação, funcionam automaticamente de forma independente de fiscalizações ou aplicações de terceiros. Como toda Lei, pode ser contrabalançada, adiada ou contestada, mas nunca iludida. Como exemplo temos a lei da gravidade, que pode ser contrabalançada por outro tipo de energia que a equilibre ou a supere, mas ela continua existindo e atuando (cessada a força que a contrabalança, imediatamente a gravidade agirá). Assim, também o Carma poderá ser contrabalançado e adiado, mas em qualquer dia, em qualquer lugar de qualquer tempo, deverá ser resgatado, até o último centavo, pois as Leis de Deus são sábias, iniludíveis, inelutáveis e trabalham pela evolução do homem, dos seres e de todas as coisas.

FUNCIONAMENTO DA LEI DO CARMA

Podemos distinguir três fatores no fenômeno cármico:
a. O agente,
b. O ato,
c. O efeito.
Agente é aquele que exerce uma ação. Deve ser analisado nos seus aspectos:
1. Nível evolutivo do agente,
2. Circunstâncias que levam o agente à ação, e
3. Meio ambiente em que o agente se movimenta

a1 O nível evolutivo do agente determina o que exatamente pode-se esperar dele. Tudo o que fizer acima deste nível é carma positivo. Tudo o que fizer abaixo, é carma negativo. Podemos ver então, que o carma é proporcional ao nível evolutivo de cada ser. Se fizermos uma escala de um a dez, situando no grau um o selvagem recém saído da animalidade e, no grau dez a figura de São Francisco de Assis, criaremos uma escala de valores que facilita a compreensão do fenômeno. Exemplo: Um determinado homem situado no grau quatro comete um ato de nível seis. Para ele é uma ação altamente  evolutiva  e  cria carma positivo. Outro homem, situado no grau oito, comete o mesmo ato, ou seja um ato de grau seis. Para ele é um ato anti-evolutivo e gerará um carma negativo.

A Lei de Deus é tão sábia que não exige nem um infinitésimo a mais do que um ser possa dar, mas também não aceita a metade de um infinitésimo a menos. O altruísmo no santo é instinto e o seu trabalho, sua luta, situa-se em níveis superiores, além da nossa concepção.

Podemos extrair duas marcantes lições do que acima foi exposto. Primeiro: Para podermos julgar, deveríamos ser grandes sábios, ao ponto de conhecer a exata posição evolutiva do agente. Como não somos, não devemos julgar. Os que são suficientemente sábios não julgam; eles compreendem e ajudam. Segundo: Confirmação de uma lei do espiritualismo que sobrevive no tempo e em todas as escolas, ou seja, que o espírito evolue sempre. Quando cometemos um ato abaixo do nosso nível evolutivo, o resultado é a dor, que obriga o ser a recuar e reencontrar o rumo correto. Mas, quando o ser pratica um ato, ou uma série de atos acima do seu nível evolutivo, a sua recompensa imediata é a subida para um nível superior, com novas responsabilidades e potencialidades. Não há involução, que é aparente, ou momentânea, mas apenas o recuo necessário para uma retomada de posição. É da Lei: ou evoluímos amando, ou evoluímos sofrendo, porquanto o essencial é evoluir.

a2 Quanto às circunstâncias que levam o agente à ação, podemos dizer que, até a justiça humana, tão deficiente em relação à justiça divina, leva em consideração as circunstâncias atenuantes e agravantes que envolvem uma determinada ação. Mais um motivo para "não julgar", pois é praticamente impossível determinar as circunstâncias que determinam uma ação, sem conhecer os seus antecedentes.

a3 Quanto ao meio em que se desenvolve a ação, trata-se de um fator decisivo. Um ato praticado em um determinado meio pode ser inofensivo e, este mesmo ato, praticado em outro meio, pode ser ofensivo.

b. Analisado o agente, podemos agora analisar o ato em si. Assim como o agente é ativo, o ato é neutro. Caindo da janela do décimo andar de um edifício, morrerá tanto o justo como o injusto, o sábio como o ignorante, o bom como o mau. O ato de cair é igual para todos. O que determina a diferença evolutiva entre os que cairam é o modo como cada um reage à queda.

c. Assim como o agente é ativo e o ato é neutro, o efeito é passivo. Uma vez lançada uma trajetória de um corpo no espaço, só uma outra força poderá modificar a sua direção e velocidade. Na passividade do efeito está a sua força. Quem pode contra quem não reage? Quem pode contra a água, que não opõe resistência, mas que tudo envolve? Quem pode contra uma muralha que não se mexe? Eis a explicação do "ahinsa", a não-reação!

Assim é a Lei de Deus. Tudo o que fizermos contra Ela, será contra nós mesmos. O mal, quem faz, o faz a si próprio e o bem, quem o faz, faz a todos e, principalmente, a si próprio.

FORMAS DA LEI DO CARMA

Como já foi dito, a grande e última Lei do universo é a evolução. O carma é o seu instrumento e o transformismo a sua manifestação. Tudo e todos crescem em direção evolutiva e morrem em direção contrária. O número que rege o transformismo é o número sete, de tal forma que o primeiro termo da série é "irmão", uma oitava acima, da série seguinte. Assim também são as notas do piano, os dias da semana, as vibrações ondulatórias, tais como a luz, o calor e outras, as séries cristalinas, os números atômicos e todos os fenômenos que definem o transformismo universal.

Podemos, assim, sempre dividir em sete, qualquer ser ou fenómeno que esteja em transformismo. Como exemplo, temos o ser humano que pode ser dividido em sete partes ou corpos sucessivos, que funcionam como camadas superpostas, contínuas e integradas.

Também o carma pode ser dividido em sete partes ou etapas. Esta divisão, porém, é apenas didática, não tendo, como não poderia ter, caráter absoluto. Um sugestão da divisão do Carma, de "baixo" para "cima", poderia ser a seguinte:

1- CARMA CONDICIONAL

É inerente à posição que o ser ocupa na escala evolutiva. Um tigre, bom ou mau, tem o carma próprio de ser tigre. Os homens, os santos, os Avatares, os sub-humanos, da mesma forma suportam o carma condicional. A única saída para este Carma é a própria evolução.

2- CARMA INDIVIDUAL

Está estreitamente ligado à idéia de remorso, funcionando pelo processo de auto-regulação ou auto-punição.

3- CARMA FAMILIAR

É o de grupos de espíritos que encarnam em uma mesma família, esporadicamente ou continuamente, visando vencer em grupos consanguíneos, os seus problemas evolutivos, ligados pelo amor ou pelo ódio.

4- CARMA GRUPAL

Trata-se de uma extensão do Carma Familiar. Já não são mais famílias com 10 ou 20 membros, mas sim grupos com centenas e até alguns milhares de membros que resolvem evoluir apoiando-se e amparando-se mutuamente.

5- CARMA RACIAL

Este é uma extensão do Carma Grupal, com a possibilidade especial de serem espíritos oriundos por miscigenação de outros planetas, os quais compõem na Terra uma raça com características, defeitos e virtudes à parte do contexto geral. Terão facilidades e dificuldades específicas, inerentes às suas origens.

6- CARMA PLANETÁRIO

É o conjunto das raças que habitam um planeta, em função das condições mesológicas deste planeta.

7- CARMA HUMANITÁRIO

É o carma dos Avatares que sustentam as humanidades. Exemplo máximo: JESUS. É um carma altamente positivo e sacrificial.

CARMA CONDICIONAL

O carma condicional refere-se à condição em que se encontra a individualidade na escala evolutiva. Como exemplos ao alcance da nossa imaginação, podemos citar a condição de sermos mineral, vegetal, animal, hominal e super-hominal. Além do nosso conhecimento sensorial, podemos citar os seres de evolução paralela a humana, tais como os elementais da Teosofia, os exús e orixás da Umbanda, os gnomos, as sílfides, as fadas, as salamandras e muitos outros, alguns prováveis, outros simplesmente possíveis. Além do nosso concebível, temos os seres em condição evolutiva superior a humana, com corpos de energia, ou ainda seres que são pensamento puro, ou os seres coletivos formados por harmonização vibratória e muitos outros que a nossa imaginação sequer alcança. Além disso, temos que admitir a hipótese de existirem seres em outras dimensões, diferentes da nossa e de seres que vivem e evoluem de forma diferente, em outros lugares deste imenso universo material.

A escala é longa, pois a variedade no Universo é imensa. No entanto, pairando acima da infinita variedade das formas, reina a lei da Involução-Evolução, que a tudo e a todos dirige, em todos os espaços, em qualquer tempo e em todas as dimensões.

Para o estudo comparativo, vamos, no entanto, nos restringir aos níveis condicionais com os quais temos contato sensorial direto.

No nível do reino mineral encontramos o espírito na condição mais involuida que podemos conceber. O livre-arbítrio é mínimo e o determinismo, representado pelas férreas leis que regem a matéria, é máximo. A consciência é apenas latente. Difícil é conceber que um átomo tenha espírito! No entanto, se qualquer parte ou condição do Universo existir sem a presença do espírito, chegaremos à conclusão absurda que Deus não é Todo, existindo algo fora Dele! Além disso, a matéria evolui, do Hidrogênio ao Urânio, em sete grandes grupos de valência. O Hidrogênio, por exemplo, evolui, por captação ou expulsão, de mais um eletron e mais um neutron, ao Hélio. O Hélio evolui para o Lítio e este para o Berílio, ao Boro, ao Carbono e assim por diante, até ao Urânio e outros elementos de peso atômico maior, produzidos artificialmente em nossos laboratórios. Nos últimos elementos da escala aparece, de forma mais acentuada, o fenômeno da radioatividade que nada mais é do que a matéria evoluindo para a energia. A energia, por sua vez, fecundando a matéria, evolui para o psiquismo ou vida, onde a consciência desabrocha e passa para o exterior do fenômeno.

Recomendamos o estudo da primeira parte do livro "A GRANDE SÍNTESE", de Pietro Ubaldi, onde a evolução da matéria à vida é exaustiva e cabalmente explicada.

Mas, é nos cristais que notamos mais claramente a presença do psiquismo no reino mineral. Os sete tipos de cristais conhecidos desenvolvem- se segundo eixos pré-determinados. Interpondo-se um obstáculo ao crescimento do cristal, ele contorna este obstáculo e depois de ultrapassá-lo, continua a desenvolver-se segundo eixos geometricamente perfeitos. Eis os rudimentos do psiquismo e da vida já manifestando a sua vontade e direção.

Temos ainda o interessante e elucidativo fenômeno dos vírus sob determinadas condições ambientais, retornando à forma de cristais, tão logo estas condições retornem ao estado anterior. Não podemos esquecer também, que o vírus é claramente um fenômeno vida, pois nasce, morre, se reproduz, alimenta-se e movimenta-se.

Já no reino vegetal o fenômeno vida é bem mais evidente. O vegetal nasce, cresce e morre. Alimenta-se e se reproduz. Estudos recentes levam a crer que os vegetais sofrem, o que nos leva admitir a existência de rudimentos de sistema nervoso no seu psiquismo. É também bastante conhecido o fato de que alguns ioguins conseguem fazer germinar algumas plantas em poucas horas, com auxilio do seu pensamento especialmente treinado, mostrando uma evidente sensibilidade psíquica na planta. Com raras exceções, o vegetal não se movimenta. Em compensação, tem uma qualidade paralela nos estágios superiores: quando mutilado não perde a vida e consegue refazer-se. Esta qualidade ainda persiste em algumas partes do corpos nos animais inferiores, como lagartos e vermes.

Existe ainda algumas formas intermediárias entre o vegetal e o animal, como por exemplo, o caso de certas bactérias que comportam-se ora como vegetal, ora como animal, pairando em uma zona fronteiriça entre os dois reinos.

No reino animal aparecem duas grandes novidades. A capacidade de locomoção e o sistema nervoso, que nas espécies superiores culmina no cérebro.

Podemos notar que nos animais superiores, tais como o boi, o cavalo, o cachorro, o macaco, o elefante, o golfinho e outros, já aparece uma individuação, ou seja, cada um começa a agir por conta própria, desligando-se paulatinamente da alma-grupo. Esta alma-grupo nunca deixa de existir totalmente, persistindo inclusive na fase humana, mas é muito mais clara e atuante nos formigueiros, cardumes, alcatéias e outros fenômenos de vida coletiva do reino animal.

Deste fato podemos inferir que, se tivermos que nos nutrir de animais, é preferível que nos nutramos de animais com alma-grupo acentuada, tais como os peixes, em vez de com os animais já individualizados, como o boi e outros.

No reino hominal o grande fator diferencial que surge é a conscientização. O animal sabe; o homem sabe que sabe. Como na história de Adão, quando percebe que está nu, ou seja, passa a ter consciência de si próprio. Verticaliza-se. Ganha a capacidade do pensamento abstrato. Amplia a capacidade de comunicação através da fala e da escrita. Organiza-se em grupos alicerçados no interesse coletivo. Ganha a capacidade (presente de grego!), de ser feliz e infeliz. Chora e ri. Espiritualiza-se através da arte e do amor. Cultua os seus mortos, o que já indica um sentimento de imortalidade. Balança, atemorizado, entre dois mundo, olhos no infinito, pés atolados no lodo da matéria. Rouba o fogo do conhecimento dos Deuses e por isso, como nos ensina a lenda de Prometeu, ganha também o suplício eterno. Ainda com a ferocidade herdada da sua condição anterior de animal, mas já com anseios de harmonia e paz.

Pela primeira vez, no breve trecho aqui percorrido, o ser influi no seu próprio destino procurando manejar, ainda que desajeitadamente, o leme da sua própria evolução. Ajudado por Irmãos maiores, assediado pelo seu passado, caminha o homem, semi-desperto, em direção ao seu destino final junto ao Criador, prêmio de tanta luta e sofrimento.

Queremos lembrar que poucos descreveram tão bem e de forma altamente científica e poética o aparecimento do Homem na Terra, como o Padre Teilhard de Chardin, no livro "O FENÔMENO HUMANO", sem esquecer o monumento científico-religioso: "A GRANDE SÍNTESE", de Pietro Ubaldi .

De passagem, podemos assinalar que o fenômeno da evolução não é só subida, mas também desemborcamento, assim como o fenômeno da involução não é só queda ou descida, mas emborcamento. Antes da queda, o ser era só Espírito, estando a matéria sob a forma de germe. No auge da queda, na matéria, o ser é todo material, estando por sua vez o espírito encerrado e sob a forma de germe, ou potencial. A evolução seria a exteriorização deste espírito e desemborcamento do ser. Sobre este assunto, para maiores esclarecimentos, recomendamos a leitura dos livros "DEUS E UNIVERSO" e "O SISTEMA", ambos de Pietro Ubaldi. Como exemplo de desemborcamento podemos citar o fato de o vegetal ter os seus orgãos de alimentação, as raízes, embaixo, e os seus orgãos de reprodução, em cima. Já no animal, ambos situam-se no mesmo nível. No homem a posição inverte-se, ou desemborca-se. O seu orgão de alimentação situa-se em cima e o de reprodução embaixo.

Já no reino super-hominal, dos gênios e dos santos, o fenômeno assume proporções novas. A sabedoria e a bondade já foram conquistadas e a luta evolutiva transfere-se para os planos superiores da intuição sintética e da ajuda missionária. Pouco podemos dizer sobre este plano, pois representa o futuro.

Finalizando, queremos reafirmar que o carma condicional não se refere a posição individual de cada um dentro da sua espécie, e sim, às injunções de toda espécie em relação à totalidade. O homem, pela sua própria condição de homem, seja santo ou selvagem, tem de alimentar-se, respirar, trabalhar, sobreviver, expandir-se, comunicar-se, nascer e morrer em corpo físico. Está sujeito aos acidentes de quem tem um corpo perecível, às doenças próprias da matéria, as limitações de velocidade de locomoção, a impotência perante o tempo e as restrições da capacidade mental próprias da condição humana. Nenhum peixe, por mais evoluido que seja em relação a sua espécie, pode viver fora d'água. Nem o mais santo entre os santos pode deixar de respirar a alimentar-se.

A única saída para o carma condicional é a mudança para um nível superior.

Assim está traçada a direção do esforço humano: Para cima, cada vez mais alto, no menor tempo possível, evoluindo na velocidade máxima suportável, tendo a dor e a paz interiores como limites finais.

CARMA INDIVIDUAL

O homem tem no carma individual a sua grande oportunidade de construir o seu destino.

No carma condicional, exposto anteriormente, e nos tipos de carma coletivo a serem expostos, o esforço de um homem tem repercussões somente a longo prazo, pois depende do esforço de terceiros. O carma é uma lei única, imensa, resultante basicamente da queda, ou seja, da involução dos espíritos. Desdobra-se porém, em várias formas ou camadas de manifestação. No aspecto de carma individual podemos afirmar que o resultado de uma ação é praticamente instantâneo.

Já vimos que o ser situa-se dentro de uma faixa no contexto evolutivo, ou seja, tem uma posição condicional em relação ao carma. Podemos analisar agora, a posição de um ser dentro da faixa do reino a que pertença. Por exemplo: Colocando o mais involuido dos humanos no grau zero e o mais evoluido no grau dez, criamos uma escala hominal de valores. Todos nós, humanos, situamo-nos em um ponto qualquer dessa escala. Em qualquer ponto que estejamos defrontamo-nos com duas leis, ou melhor, dois aspectos da lei do carma.

O primeiro aspecto é que, em função do nível espiritual de cada um, teremos determinada a condição em que viveremos. Assim, um ser violento encarnará em um meio violento. Isto à primeira vista, parece um contra-senso. Uma pessoa violenta encarnada em um meio violento, terá a sua violência exacerbada pela natural provocação e motivação do meio em que se encontra. Porém, o oposto é que não seria correto. Um violento encarnado no meio de pacíficos poderia praticar impune e continuamente as suas violências. No entanto, colocado em um meio onde a sua violência é imediatamente respondida por outra, o medo e a dor, dois grandes mestres, encarregar-se-ão de refrear esta violência. As vezes dá-se o oposto, ou seja, um ser menos evoluido encarna em um ambiente evoluido, como oportunidade extra. Assim, um ser violento pode encarnar em um ambiente pacífico, para ver se ele evolui pela bondade e pelo amor, e não pelo atrito.

Dessa forma, o mal com o mal se aniquila e, ao contrário, o bem com o bem se soma.

Aqui, já estamos dando uma pequena introdução no que podemos chamar de carma estatístico. Um homem que tenha praticado uma violência contra outro homem, não está obrigado, em outra encarnação, a receber de volta contra si, violência igual deste mesmo homem. Mas, por estar situado neste nível de violência agressiva, suas encarnações estarão condicionadas a se desenvolverem neste meio, e, é provável, estatisticamente, que neste meio venha a sofrer violências idênticas às anteriormente cometidas. Podem até serem provenientes do mesmo homem contra o qual foram cometidas anteriormente.

Isto nos leva ao segundo aspecto da lei do carma individual.

Este aspecto nos diz que, embora não estejamos obrigados a pagar ou cobrar "olho por olho, dente por dente", o mal e o bem que fazemos, sem dúvida, estamos ligados carmicamente com as pessoas que amamos ou odiamos. Assim, provavelmente, encarnaremos em um meio ambiente onde temos pessoas que são ou nossas amigas, ou nossas inimigas.

Citemos Pietro Ubaldi no seu livro "PROBLEMAS ATUAIS", capítulo VIII, pag.278 - 2a. Edição Fundápu, onde diz:

"Da mesma maneira que todos chegam à escolha sexual por instinto, sem saber o porque de certas preferências, ainda que razões profundas existam, assim também quase todos chegam à escolha da reencarnação por instinto, sem saber o motivo, embora existam razões específicas para isso. Não é por acaso que um espírito nasce aqui ou ali; a sabedoria da Lei guia tudo harmoniosamente, e, por meio dos instintos, sabe conduzir o indivíduo para onde deve ir, onde a sua ignorância lhe não permitia chegar. Ha equilíbrios de força que determinam o tempo, a raça, o país, a família, a mulher e, com isto, o ambiente em que o indivíduo deve nascer. Antes de mais nada, tudo isto obedece à natureza do biótipo espiritual, que deve encontrar terreno apropriado para nele colher os materiais, a fim de construir uma força adequada no plano físico. As atrações e repulsões são forças que constituem liames invisíveis, que mantém coesos os mais distantes elementos constitutivos do universo. Tudo se movimenta ao longo desses fios, formando uma rede que intimamente une tudo à tudo. Há trilhos invisíveis, de natureza dinâmica e psíquica, que guiam o caminho das almas para determinados pontos, de preferência a outros. O que as impele a seguir este trilho é, como na vida, o instinto, o desejo. Essas ansiedades representam o imã que atrai os seres para certos ambientes. Nascem de um estado de afinidade, de co-vibração, dando lugar a atos inconscientes, instintivos. Mas, as maiores atividades da vida, sabemo-lo, não são confiadas à sabedoria humana, demasiado fraca e pequena, para que se lhe possa confiar algo de importância. Mais do que à consciência do indivíduo, são elas confiadas à sabedoria das leis da vida, à uma maior consciência universal que, sabendo tudo, tudo dirige.

E, assim, está automaticamente pronto o impulso que conduzirá cada alma inconscientemente para o ambiente em que se vai reencontrar a si mesma, e portanto, também lá mesmo, as conseqüências de suas ações no passado. Está assegurada dessa forma, a continuidade e sucessão lógica das experiências na evolução, tudo harmonicamente, sem interrupções. Assegurada fica, assim, no mecanismo da transmigração, a conexão causal cármica. É desse modo que as almas, inconscientes do grande fenômeno que estão vivendo, vão sendo arrastadas, tudo ignorando, da mesma forma que os elementos componentes do átomo ao longo das trajetórias da vida, impelidas por essas forças, ora aquém, ora além do limite que separa os dois mundos da vida e da morte, atraidas pelo desejo, obedecendo a leis que não conhecem. Em fileiras, empurradas pelo divino impulso da vida, perseguidas pela dor para apressar o passo da evolução, de ilusão em ilusão, vão indo, errando cegamente e construindo destinos e provas tudo para aprender. Em fileiras imensas, em massas de humanidade, em falanges cósmicas, de mundo para mundo, vão sofrendo, lutando e aprendendo. Turbilhão tão grande quanto a nuvem de poeira cósmica estelar, até as mais longínquas galáxias, este universo espiritual, em equilíbrio com o universo físico, um universo imponderável que a ciência ainda não conhece. E tudo, num harmônico sentido evolutivo, ascende para Deus".

Assim, cada homem nasce no nível que lhe é próprio, tendo como companheiros de jornada aqueles com quem está ligado por laços de amor ou de ódio.

Chegando neste ponto de nossa explanação, podemos ressaltar e procurar entender a divisão entre personalidade e individualidade. Esta divisão, acenada em todas as escolas, em todos os tempos, foi redescoberta e exaustivamente explicada por Carlos Torres Pastorino, nos vários livros que escreveu e nos artigos da Revista Sabedoria, da qual era editor.

Este magnífico esclarecimento nos diz que o ser é composto de uma Individualidade e de uma Personalidade. A primeira é eterna e imortal. A segunda, é mutável e mortal. Tentando dividir, por questão didática, o ser humano em três partes, podemos sugerir:

1. Personalidade

A personalidade é composta do corpo Físico, corpo Etérico, corpo Astral e o corpo Mental Concreto. Os desencarnados não tem o corpo físico, porém, conservam o corpo etérico, por um tempo variável, relacionado com as condições de vida de sua última encarnação, perdendo-o, porém, em seguida.

Mesmo desencarnado, o ser tem a sua personalidade, que evoluirá em função do desenvolvimento da sua individualidade.

2. Individualidade

Seria composta de três corpos sem forma, que poderíamos denominar, na mesma ordem de, corpo Átmico, corpo Búdico e corpo Mental Abstrato.

A denominação de corpo é inadequada pois trata-se de regiões onde a forma já não mais existe. Poderíamos admitir que se trata de zonas vibratórias de energia pura.

3. Espírito Imortal e Imaterial

A análise das condições do Espírito Puro, chamado Jivatman pelos orientais, está além do nosso concebível. Trata-se de regiões de vivência das Centelhas Divinas, Seres Perfeitos que escapam à nossa concepção.

Quanto aos corpos ou zonas do ser, as denominações podem variar, em diferentes escolas, porém, não variam os atributos, que vamos analisar agora:

1. Corpo Átmico

É a região mais alta que pode ser alcançada pelo ser humano. É uma região de total sabedoria. Lá habitam os Avatares e condutores de humanidade. É o último degrau de onde ainda o ser pode encarnar-se, embora com muito sacrifício. É importante saber que todos os seres humanos têm corpo átmico. O que distingue os Avatares é o fato de terem consciência nesta região, o que não acontece com os que não chegaram neste estágio evolutivo. Estes têm o corpo átmico, com o qual trabalham e funcionam, mas não vivem neste plano. Exemplo: JESUS.

2. Corpo Búdico

É a região da grande devoção, por isso também chamado de corpo devocional. Lá habitam os santos, os amadores. Lá existe o amor puro, desinteressado e estendido à todos os seres da criação. Trata-se do amor que está acima do conhecimento e da inteligência e portanto, não raciocina, amando continuamente a todos e em todas as condições. É a região onde nascem e desenvolvem-se as religiões. Exemplos: MARIA, mãe de Jesus, FRANCISCO DE ASSIS e outros.

3. Corpo Mental

É a zona do pensamento, do raciocínio e do conhecimento. Divide-se em duas categorias: o mental abstrato e o mental concreto.

No mental abstrato temos a região onde produzem-se as idéias abstratas e genéricas. É a zona da matemática superior, das filosofias e das grandes invenções. Lá habitam os grandes Mestres que continuam encarnando na humanidade ajudando com as suas invenções e com suas filosofias, o desenvolvimento dos povos. Vibra no plano causal, registrando as causas e experiências, impulsionando os efeitos.

Estes três corpos acima descritos, átmico, búdico e mental abstrato, formam a individualidade que reencarna através dos tempos visando a evolução.

O espírito puro, o corpo átmico, o corpo búdico e a zona abstrata do corpo mental, forma o que os espíritas chamam genericamente de Espírito.

No plano mental abstrato habitam todos os filósofos e cientistas que ajudaram e continuam ajudando a humanidade. Exemplos: PLATÃO, PITÁGORAS, SÓCRATES, KARDEC, UBALDI, NEWTON, EINSTEIN, MARCONI, EDISON e outros.

No mental concreto temos já um corpo com forma. É uma das partes do que chamamos de "aura". Nos seres desenvolvidos mentalmente ultrapassa de muito o corpo físico. É a região onde desenvolve-se o pensamento e o raciocínio, porém, agora dirigidos para a resolução dos problemas quotidianos. A cor do corpo mental é amarela.

4. Corpo Astral

O astral é a região dos sentimentos e emoções. É lá que moram os amores, as paixões, as alegrias e tristezas, desejos e ambições, prazeres e dores morais, o ódio e enfim todos os sentimentos da esfera humana. A cor do corpo astral é azul.

O corpo mental concreto e o corpo astral formam o que os espíritas chamam de perispírito, com a cor verde, resultante da mistura do amarelo e azul.

5. Corpo Físico

É o corpo com vibração inferior a todos. É onde todos os outros são aprisionados na matéria densa e, através de lutas e dores, evolui o Espírito. Divide-se em corpo etérico e corpo físico.

O corpo etérico, também chamado duplo-etérico, é a sede das sensações chamadas "físicas" (dor, calor, prazer, etc.), que criam os impulsos, os quais, tornando-se habituais, formam os instintos. Sua cor é o vermelho e, em conjunto com o mental concreto e o corpo astral, forma o perispírito dos encarnados, com cores variáveis, geralmente de tons cinzentos.

O corpo físico é a condensação do corpo astral na matéria densa, onde repercutem todos os pensamentos, pois o corpo físico é apenas a materialização do pensamento do Espírito que ainda busca sensações e alimenta desejos de qualquer espécie. (ótima definição do Prof. Pastorino).

Temos pois, cinco corpos, dois subdivididos, formando sete faixas que se superpõem e se interpenetram.

Por isso, cinco é o número do homem e a estrela de cinco pontas é o seu símbolo. E, sete o número do transformismo. A zona concreta do corpo mental, o corpo astral e o corpo físico formam a personalidade.

A intuição é a ponte de ligação entre a mente e o intelecto, ou seja, entre a individualidade e a personalidade.

Tudo isto foi explicado visando diferenciar em vários níveis as ações que criam carma.

Podemos assim, criar carma negativo, ou em linguagem religiosa pecar, contra o corpo físico, contra o corpo etérico, contra a corpo astral e, assim por diante.

Os desacertos cometidos contra o corpo físico, neste mesmo plano serão pagos. Comemos demais, fumamos, ganharemos úlceras e problemas pulmonares. Da mesma forma, abusando das sensações sexuais, abusando de barbitúricos ou álcool, construiremos para nós, um corpo etérico desarranjado e incapaz de cumprir as tarefas que lhe são atribuídas.

No corpo astral, a sua cor, o seu tamanho, forma e força, dependem da elevação maior ou menor dos sentimentos que nele existem.

O corpo mental, por sua vez, como é óbvio, depende do nível e força dos seus pensamentos dominantes.

De tudo isto, já podemos deduzir um importante ensinamento: quanto mais alto o nível que produzimos um desacerto, maiores serão as correspondentes conseqüências.

Um erro contra o corpo físico, morre com ele e com ele é enterrado. Foi o que Jesus nos ensinou quando disse que é mais importante o que sai da boca (sentimentos e pensamentos), do que por ela entra (erros alimentares).

Um mau pensamento provoca invariavelmente um mau sentimento e, provavel-mente, u'a má ação.

Por isso foi dito que não devemos pecar por pensamentos (corpo mental), palavras (corpo astral) e obras (corpo físico), nesta ordem, ou seja, por pensamentos em primeiro lugar.

Neste nível, até a altura do mental concreto, nossos erros e desvios estão no nível da personalidade. Como a personalidade não reencarna, pois o que reencarna é a individualidade, as conseqüências que enfrentamos são indiretas. A individualidade toma conhecimento do erro e, ao elaborar novos corpos mentais, astrais e físicos para a próxima encarnação, o faz em relação direta com as ações e condições destes corpos nas encarnações anteriores.

Já os erros no nível da individualidade tem conseqüências diretas e muito maiores. É isto que Paulo de Tarso quis nos dizer quando afirmou que: "os erros contra o homem (personalidade) serão perdoados; porém os erros cometidos contra o espírito santo (individualidade), estes não serão perdoados". Os crimes cometidos contra a individualidade são os cometidos pelos filósofos, cientistas (corpo mental abstrato), que trabalham contra a evolução e os líderes religiosos (corpo búdico), que desviam as massas humanas da evolução e deturpam as religiões existentes.

No nível átmico, o único erro concebível é a falha parcial ou total de uma missão de um Avatar junto a humanidade, fato este altamente improvável.

Não podemos deixar de dar um pequeno esclarecimento. O que dissemos com relação a menor importância de erros nos níveis inferiores, não nos autoriza a cometê-los à vontade. Assim, maltratando o nosso corpo, ele adoece e, sem saúde, com dores, o ser humano terá mais dificuldades para ter bons sentimentos ou bons pensamentos. Além disso, encurtam a vida, diminuindo o tempo de trabalho e portanto, nossas possibilidades de evolução. Tanto isso é verdade que, o primeiro passo que os missionários dão para começar seu trabalho é um retiro, de tempo variável, (40 dias para Jesus, alguns anos para Paulo de Tarso e para João Batista), com jejuns (físico), orações (astral) e pensamentos em direção ao Alto (mental). E assim, com os corpos inferiores dominados, são ressaltados os corpos superiores, que nesses seres são altamente desenvolvidos, mas que podem ser abafados e aprisionados por corpos inferiores desarranjados e inadequados. Algumas missões podiam assim, ter se perdido, com grande dano para o espírito.

Finalizando este aspecto do Carma Individual, devemos lembrar que, a omissão também pode gerar carma negativo. Não praticarmos atos positivos acima do nosso nível não gera carma negativo, mas, omitirmo-nos em situações no nosso nível evolutivo, gera o que poderíamos chamar de carma por omissão, cuja conseqüência é não sermos ajudados quando precisarmos de auxílio em condições semelhantes.

Já dissemos que um homem em função do seu nível evolutivo, situa-se em um ponto qualquer de uma escala. Na verdade, ele não ocupa um ponto e sim uma faixa dentro dessa escala. Por exemplo: Um homem pode ter a mente desenvolvida e superior, e neste setor merecer nota sete; porém, pode ter um corpo astral, sede dos sentimentos, desequilibrado e ineficiente, merecendo nota quatro. Neste caso, toda a sua vida, seus problemas, suas forças concentrar-se-ão na tentativa de equilibrar e fortalecer este corpo astral.

De tudo isto podemos inferir uma técnica de evolução, através da reconstrução gradual da nossa personalidade. Para isto, em primeiro lugar, teremos que proceder, sozinhos ou com auxílio de terceiros, a uma auto-análise global da nossa personalidade, fazendo uma relação de todas as nossas deficiências e de todos os nossos pontos fortes. Temos que saber em que grau estamos em relação ao egoísmo, violência, despreendimento, conhecimento, inveja, luxúria, covardia ou coragem, resistência ao sofrimento, maturidade para o sucesso, enfim, às dezenas de atributos que diferem o nível de um homem. Devemos verificar os pontos fortes e os pontos fracos em relação ao nosso nível atual. Devemos também analisar os nossos impulsos, resultantes de atitudes anteriores de outras vidas e, nossas forças.

De posse desses elementos, devemos usar os nossos setores fortes em ajuda aos nossos setores fracos.

A técnica usual é a substituição pela repetição. Substituímos um mau hábito por um hábito menos ruim e repetimos este ato para que ele se fixe em nosso subconsciente. Exemplo: Um homem que tenha uma personalidade agressiva demais para o seu nível geral, sendo violento o tempo todo. Ele pode começar sendo pacífico uma hora por dia, ou um dia por semana, ou uma semana por mês. Repetindo a experiência continuamente, ele mostra ao corpo astral que pode, quando quer, por ordem da individualidade, agir de forma diferente. Com o tempo pode ampliar o período, de dez por cento do tempo, no começo, para vinte por cento, trinta, etc. Em um tempo relativamente curto, a sua personalidade mudará tanto que parecerá outra pessoa, um outro nascimento. E, realmente, é uma personalidade nova, gerada pela individualidade, que vem à luz, ao mundo dos homens. Para isso é preciso não sermos comodistas e tentar esforços condizentes com as nossas possibilidades. Atacar um ponto por vez, começando pelos menos importantes. Quem tentar virar santo em pouco tempo, corre o risco de descer ainda abaixo do nível do qual partiu.

"Natura non facit saltus". (A natureza não dá saltos)

Nem a evolução.

Sobre esta técnica de substituição por repetição, podemos nos reportar ao livro "A GRANDE SÍNTESE", capítulo LXV: Instinto e Consciência - Técnica dos Automatismos, de Pietro Ubaldi, onde podemos ler, logo no começo:

"... A economia que a lei do menor esforço impõe, limita a consciência humana ao âmbito onde se realiza o trabalho útil das construções. O que foi vivido e definitivamente assimilado é abandonado nos substratos da consciência, zona que podeis denominar de subconsciente. Por isto, o processo de assimilação, base do desenvolvimento da consciência, se realiza exatamente por transmissão ao subconsciente, onde tudo se conserva, ainda que esquecido, pronto a ressurgir, tão logo um impulso o excite, ou um fato o exija".

"... A transmissão ao subconsciente se faz, precisamente, através da repetição constante. Por isso dizeis que o hábito transforma um ato consciente em ato inconsciente e dele forma uma segunda natureza".

"... Podeis assim, pela educação, o estudo, o hábito, construir-vos a vós mesmos. Tão logo um ato é assimilado, a economia da natureza o deixa fora da consciência, porque, para subsistir, não mais precisa desta para o dirigir".

E, em outra passagem, no final do mesmo capítulo, diz Pietro Ubaldi:

"...Assim como a repetição de inúmeros atos de defesa deu ao animal o instinto da defesa, a prática constante da moral confere ao homem atitudes morais; o pensamento se desenvolve e a inteligência se enriquece. Tendes assim, um meio para poderdes continuamente retificar a vossa personalidade. Podeis vós mesmos plasmá-la para o bem ou para o mal, e desse modo, o vosso destino, resultante das qualidades assimiladas, constituído e cercado pelas forças que pusestes em ação, pode sempre sofrer retoques da vossa própria mão. Assim, o férreo determinismo, imposto ao vosso destino pela lei da causalidade, se abre, nas zonas das formações dirigidas para o futuro, num campo em que só domina o vosso livre arbítrio, senhor da escolha que, depois - salvo retificações ulteriores - vos prenderá, por sua vez, pela mesma lei de causalidade".

Assim, verificamos que somos os artífices do nosso futuro. Podemos ser amanhã, felizes ou infelizes, dependendo unicamente dos nossos atos de hoje. Podemos fazer o que quisermos. A Sabedoria e Deus, permitem que experimentemos tudo. Mas, colheremos, inevitável e inexoravelmente, os frutos correspondentes ao que plantarmos: rosas, ou espinhos.

"A cada um, segundo suas Obras", é da Lei.

E, nós arrematamos, repetindo as palavras de um guia espiritual, que se apresenta sob o nome de Tobias:

"Em uma chicotada, infeliz é o que segura o cabo do chicote".

A escolha é nossa, o caminho é nosso, portanto, o sofrimento ou a alegria resultantes, também é nosso.

Sejamos, pois, se, não bons, pelo menos, inteligentes.

Plantemos flores!

CARMA FAMILIAR

Pelo carma familiar, os seres são unidos entre si através de afetos e ódios, compromissos e débitos recíprocos, finalidades em comum. É muito provável determinados grupos de espíritos reencarnarem, através dos tempos, ligados por laços consanguíneos de família, ou por laços de matrimônio, adoção, parentesco por afinidade, amizades ou inimizades muito fortes, formando grupos familiares que se repetem através dos tempos, apenas com mudanças nas posições que ocupam.

Devemos recordar que o carma nem sempre tem aspecto negativo. No carma familiar pode acontecer de indivíduos de mesma propensão, como música, literatura, ciência, reencarnarem sempre no mesmo grupo familiar, mesmo dando-se mudança de paizes ou de continentes. Assim, o espírito, ao renascer no corpo físico, já encontra o ambiente próprio ao seu desenvolvimento, desde a infância.

Infelizmente, porém, a maioria das famílias estão ligadas por laços cármicos negativos, geralmente de ódio e débitos recíprocos. Duas pessoas casam-se movidas pela atração sexual, sendo, as vezes, inimigas de longa data, portanto, com obrigações de suportarem-se. Juntos, ferem-se e lapidam-se reciprocamente durante anos, aprendendo e evoluindo pelo sofrimento. Outras vezes o nosso inimigo do passado encarna-se como nosso filho, pelo qual mantemos natural e biológica ternura que visa contrabalançar a repulsa natural. Esta surge, mas é combatida pelo amor paternal e, mesmo que venha a se manifestar no futuro, como vemos nas brigas entre pais e filhos, alguma coisa sempre é conseguida para abrandamento da inimizade anterior. As vezes, famílias que dominaram e abusaram do poder em determinadas sociedades, sofrem expiação coletiva no mesmo meio social.

Enfim, os exemplos podem ser inúmeros, mas a característica principal do carma familiar é o fato de alguns espíritos atravessarem várias encarnações lapidando-se e ajudando-se mutuamente, visando, como sempre, a evolução de todos.

Finalizando o problema do carma familiar, não queremos que fique a impressão de que os indivíduos nas famílias são sempre os mesmos, reencarnando-se sucessivamente. O movimento é aberto, ora entrando nas famílias alguns indivíduos, saindo outros, criando-se intervalos neutros, afastamentos, reaproximações, mudança de posições, da mesma forma como acontece em qualquer associação humana.

O que devemos ter em mente é que o nosso familiar, consangüíneo ou não, é um elemento importante e necessário à evolução de todos, devendo, outrossim, a caridade começar em casa. Costuma-se dizer, popularamente, que os amigos são escolhidos por simpatia, ou o que seja, enquanto os parentes são impostos pelo carma.

CARMA GRUPAL

O carma grupal nos lembra diretamente a idéia de correntes. Correntes de pensamento, correntes de ação, e assim por diante. O carma grupal não é simplesmente uma extensão do carma familiar. No carma familiar, o amor e o ódio são agentes de ligação, enquanto no carma grupal o principal fator é a afinidade. Assim, as vezes encarnamos em ambientes familiares onde a afinidade é pequena e, no entanto, a ligação cármica é grande. Mas, em se tratando de grupos ou correntes, é fundamental a afinidade de propósitos, quer para o bem, quer para o mal e, de níveis, quer superiores, quer inferiores.

Assim, é possível um indivíduo estar ligado a um determinado agrupamento familiar e, ao mesmo tempo, também esteja ligado a uma corrente, sem que seus familiares estejam obrigatoriamente ligados a esta mesma corrente. O indivíduo terá assim, um carma familiar e, ao mesmo tempo, um carma grupal, coexistentes e, não raro, conflitantes.

Um grupo ou uma corrente gera carma negativo para o grupo todo, quando erra na função que tinha ou tem, em relação à evolução coletiva. Possuindo formação hierárquica, em um erro ou desvio da missão proposta, cada membro do grupo ou corrente, responderá proporcionalmente ao cargo ou nível ocupado dentro do grupo ou corrente.

Finalizando, queremos lembrar que o erro pode ser por omissão e que também existe a possibilidade de se criar carma positivo.

CARMA RACIAL

Se no carma familiar predominam as ligações de amor e de ódio e, no carma grupal predominam as ligações provenientes da afinidade, podemos dizer que o fator predominante no carma racial é a origem. As raças são como ramos de uma árvore que tem forma, tamanho e direção, independentes uns dos outros, mas sempre todos pertencentes ao mesmo tronco.

Para quem aceita a hipótese de o nosso planeta ter sido colonizado por civilizações extraterrestres, é possível admitir a origem das várias raças, nas diferentes civilizações que aqui vieram em diferentes tempos. Um livro interessante a respeito do assunto é "Os Exilados da Capela", do Comte. Edgard Armond.

Cada raça tem suas características próprias, suas deficiências e qualidades intrínsecas. Umas são mais agressivas e assim tem condições de equacionar os problemas econômicos do planeta. Outras são mais passivas, formando uma reserva de passividade e espiritualidade, pela meditação e pela prece.

Uma raça pode gerar carma negativo quando se omitir no cumprimento da missão que lhe foi destinada em relação a todo o planeta, ou quando exorbita suas funções permitindo que seus defeitos ou deficiências, tenham papel proeminente na sua forma de agir, principalmente em relação a outras raças.

As raças existentes em um planeta são complementares e equilibram-se como conjunto. Por isso qualquer tipo de racismo demonstra uma falta de conhecimento em relação ao funcionamento do conjunto.

Cada raça tem o seu espírito guia, chamado "Manú da Raça".

CARMA PLANETÁRIO

Por ampliações constantes, viemos do carma individual, passando pela carma familiar, grupal e racial, chegando ao que podemos chamar de carma planetário, ou seja, o carma que todo um planeta sofre em função da somatória dos acertos e desacertos de todos os componentes de um planeta, quer encarnados, quer desencarnados.

Assim como toda família tem seu chefe, todo grupo ou corrente o seu líder, toda raça o seu protetor, todo planeta tem um Avatar que zela e trabalha pela evolução de todos os seres que compõem o planeta. Os seus assessores diretos serão sempre aqueles que se situam acima de famílias, grupos ou raças e que trabalham visando unicamente o bem coletivo, quer no campo científico, como Einstein, Edison, Marconi, Chardin e tantos outros, quer no campo filosófico, como Kardec, Ubaldi, etc., quer no campo político, como Gandi, Kennedy e tantos outros, quer no campo religioso, como Francisco de Assis, João XXIII e em todos os campos em que o homem pode ser útil à coletividade.

Assim, sob a direção de Jesus, todos trabalham, cada um no seu posto, proporcional ao seu nível, visando a espiritualização do planeta.

CARMA HUMANITÁRIO

Se no carma planetário falamos de Jesus, no carma humanitário devemos falar de Cristo. Deste nível pouco podemos compreender, dada a distância evolutiva que nos separa do nível Crístico. De qualquer modo, deve existir alguma forma de carma ou seu equivalente, pois as leis universais repetem-se em todos os níveis, mudando apenas a apresentação externa.

Podemos apenas imaginar que nossas ligações com Cristo sejam semelhantes às ligações das psiquês de nossas células com nossa individualidade, isto é, ligações intensas e duradouras.

E, é provável que Cristo sofra com os nossos erros e não o oposto. "Jerusalém, Jerusalém, até quando vos sofrerei", disse o Cristo.

Este talvez seja o Seu carma: carregar a humanidade através dos tempos, sofrendo as dores de todos em geral e de cada um em particular.

F I M
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