Vimos que a evolução avança com regressos
contínuos, compensados depois por maiores progressos, tal como ficou explicado em A Grande Síntese, pelo
gráfico que traça o desenvolvimento da trajetória dos motos fenomênicos na evolução do cosmo. Ora, a
atual fase materialista, no desenvolvimento do pensamento humano, representa aquele movimento que,
naquele gráfico, é expresso por um período de envolvimento, que resulta menor diante do maior
desenvolvimento de toda a trajetória; e assim, não obstante os seus contínuos regressos, esta continua
sempre avançando. Por isso, a ciência materialista continuará a avançar, assumindo agora a tarefa, já não
mais desempenhada pela religiões, de fazer progredir o pensamento humano. Não é destruição, é progresso.
A função da ciência não é matar a fé, mas de fecunda-la com a razão e com a observação, de demonstrá-la,
dando as provas de seus enunciados, que já agora se tornaram, em sua forma primitiva demasiadamente
imprecisos e elementares, para poderem ser aceitos pela forma mental moderna mais evoluída. (P. Ubaldi -
O Sistema)
Ninguém pode deter o progresso que, apesar
dos conflitos, continua a avançar sempre impassível. Trata-se de uma lei irresistível da vida. Basta
esperar. (P. Ubaldi - O Sistema)
Em cada ato nosso, repetimos o mesmo
comportamento: primeiro concepção da idéia, depois ação, e finalmente a sua manifestação na realização
concreta que, na forma, exprime a idéia. Por isso, não podemos dizer a razão pela qual Deus tenha querido
existir como Trindade, mas assim podemos explicar-nos a razão pela qual nós funcionamos dessa maneira.
Dado que o universo é construído segundo esquema de tipo único, que repetem em todas alturas e dimensões,
repetimos em cada ato nosso aquele princípio da Trindade, o único que pode esclarecer-nos sobre essa
estrutura de nossa maneira de agir e daquela sua forma de existir. É precisamente aquele primeiro modelo
da Trindade, que vem repetido em todos os atos criadores de cada ser inteligente. (P. Ubaldi - O
Sistema)
Apareceu-me Deus como uma esfera que
abraça o todo, isto é, como conceito abstrato de esfera, existente além do espaço e cuja superfície está
situada no infinito. Deus está no centro e domina toda a esfera, existindo também em cada ponto seu. Deus
não pode ser definido, porque no infinito Ele simplesmente "é". Deus significa existir. Ele é a essência
da vida. Tudo o que existe é vida, isto é, Deus. E Deus é tudo o que existe, que é vida. Deus é o ser,
sem atributos e sem limites. O nada significa o que não existe. Ele não pode existir em si mesmo, por si
só, mas só como uma função do existir, como uma sua posição diversa, da mesma forma que a sombra não pode
existir por si mesma, mas só em função da luz, e o negativo não é concebível senão como contraposição ao
positivo.
Nós, como tudo o que existe, estamos em Deus, porque nada pode existir fora
de Deus, nada lhe pode ser acrescentado nem tirado. Mas, como veremos, nós humanos, com os outros seres
de nosso universo físico, encontramo-nos existindo numa posição particular, que é semelhante à da sombra
em relação à luz. Como sobra fazemos parte do fenômeno luz, ou seja, fazemos parte do Tudo-Uno-Deus, mas
como sombra, isto é, negativo, no polo oposto ao positivo da mesma unidade. Assim, diante do absoluto,
encontramo-nos no relativo; diante do imóvel, no contínuo transformar-se; diante da perfeição, numa
condição de imperfeição sempre em movimento para atingir a perfeição; diante da unidade orgânica do todo,
encontramo-nos fragmentados e fechados em nosso individual egocentrismo de egoístas; diante da liberdade
do espírito, encontramo-nos prisioneiros no cárcere da matéria e de seu determinismo; diante da
onisciência de Deus, estamos imersos nas trevas da ignorância; diante do bem, da felicidade, da vida,
somos presas do mal, da dor e da morte.
Explicamos isto, para fazer compreender como, existindo nós em um mundo, que
em relação a Deus está emborcado do lado negativo, só sabemos conceber Deus como uma negação de tudo o
que constitui nosso mundo. Pelo fato de que somos sombra, só poderemos conceber Deus como a sombra
concebe a luz, isto é, como o contrário de si mesma. Para poder atingir o positivo, seria indispensável,
portanto, chegar a negar todo o próprio negativo, ou seja, dizer: Deus não é tudo o que nos aparece e
existe como real; como para chegar à luz, mister seria tirar fora toda a sombra. Este nosso mundo da
matéria, percebido pelos nossos sentidos, não é Deus. Este ou aquele fenômeno ou forma, em seu aspecto
contigente, não é Deus. Mesmo se Deus está em tudo o que nós somos e vemos, tudo isto, por si só, não é
Deus. Ele está além de todo fenômeno e forma, de toda posição do particular. Se se pudesse definir o
infinito, a definição de Deus deveria estar para nós, primeiro, no negativo, isto é, como negação de tudo
o que para nós, em nossa posição, ao contrário, existe.
Todavia, há um fato. A sombra não é, absolutamente completa. Ela contém sem
dúvida, reflexos da luz. Isto porque no atual plano de sua vida, o ser humano já percorreu certo trecho
do caminho da evolução, ou seja, já subiu uma certa parte do caminho da descida e com isto reconquistou
um pouco da perfeição originária. Ora, as definições comuns de Deus, em sentido positivo, foram obtidas
com o elevar-se à potência infinita, as mínimas quantidades de perfeição reconquistada pelo homem ou
intuída como futura realização a conquistar, isto é, os pálidos reflexos contidos na sombra. (P.
Ubaldi - O Sistema)
Num sistema equilibrado, o desenvolvimento
exagerado, para além da ordem leva a uma contração correspondente; cada expansão indevida, é corrigida
por uma diminuição proporcional. (P. Ubaldi - O Sistema)
Eis então que esta visão se nos abre
diante dos olhos, com aquele gigantesco drama, que foi chamado a queda dos anjos. Não foi uma queda em
sentido espacial, mas foi demolição de valores, inversão de qualidades, descida de dimensões, ou seja,
contração de tudo isto, através de uma progressiva inversão de valores positivos originários, até que se
tivessem todos transformado no sentido negativo. Esta queda significa transformar gradativamente todo
Sistema em Anti-Sistema. A descida é gradual e se prolonga até atingir a profundidade do abismo,
representada pela completa inversão de valores, ponto em que o Sistema, com todas as suas qualidades,
resulta completamente invertido no Anti-Sistema, com as qualidades opostas. Nesse trajeto, a luz vai
ofuscando até se tornar treva completa, o conhecimento até se tornar ignorância, a liberdade do espírito
até se tornar escravidão na matéria, a felicidade até se tornar em dor, a vida transforma-se toda em
morte, o bem em mal, a ordem do organismo do Sistema até sua completa inversão no pólo oposto do ser no
fundo da descida, no completo caos do Anti-Sistema. (P. Ubaldi - O Sistema)
Os involuídos sabem fazer bem as guerras e
vencê-las, são muito fortes no terreno da luta pela vida, mas são impotentes diante do problema da busca
da verdade. É preciso compreender este principio geral de que a verdade não se conquista - como as
coisas humanas - pela força ou pela astúcia, mas sim pelo amor. A verdade não está escrita, mas fechada
no pensamento de Deus, e só se revela a quem mereça conhecê-la, porque esse dará a garantia de saber usá-
la bem. A verdade abre suas portas e se deixa conquistar pela sinceridade e pureza de intenções, pela
humildade do pesquisador e pelo desejo de conhecer o bem. (P. Ubaldi - O Sistema)
Com a agressividade polemística não se
difunde nem, muito menos, se descobre a verdade, antes pelo contrário ela fica sufocada e negada, pois
tudo que não é amor não pertence ao Sistema, mas ao Anti-Sistema. (P. Ubaldi - O Sistema)
A lei de Deus rege todos os fenômenos, e
não há religião nem filosofia que lhe possa alterar o funcionamento. Tanto no mundo espiritual como no
material, há fatos positivos que como tais a todos se impõem, independentemente de nossas crenças.
Galileu não podia impedir que a Terra girasse em redor do Sol, nem fazer que o Sol girasse em redor da
Terra, só porque a Bíblia podia fazer supor que assim aconteceria. (P. Ubaldi - O Sistema)
Nenhum fenômeno ocorre ao acaso, mas
sempre de acordo com uma sua lei que o guia e individualiza. Assim o desenvolvimento de cada processo
lógico tem uma lei sua, como a tem o desenvolvimento de cada processo dinâmico, ou químico, ou orgânico
etc.. Em cada fenômeno as causas se continuam em seus efeitos até às conclusões. Nenhum momento do
"tornar-se" universal se move por acaso loucamente, mas dentro de margens que lhe disciplinam o
transformismo, coordenando-lhe ao de todos demais fenômenos, no seio do funcionamento do grande organismo
do todo. (P. Ubaldi - O Sistema)
O pensamento de todos não pode deixar de
estar enquadrado automaticamente no pensamento universal, de que constitui justamente um momento. Nossas
liberdades de pensamento são relativas, contidas em margens que assinalam a estrada, que leva o incerto
caminho de nossa ignorância, em direção à ordem da Lei, dentro da qual são permitidas apenas oscilações
no relativo.
Estudando, portanto, essas leis e a teoria que as explica, ao mesmo tempo que a discutimos, demonstramos
a existência de um organismo e percebemos que nós mesmos fazemos parte dele, até chegar a ver em que
ponto seu estamos situados. Assim a construção teológica e filosófica que aqui expomos, não é um edifício
de conceitos, criados pela mente de um pensador que projeta nele a sua personalidade, elevando a sistema
uma forma mental particular sua; não é somente uma construção teórica, mas é o funcionamento vivo do
todo, observado enquanto está funcionando, enquanto nós mesmos estamos funcionando dentro dele. (P.
Ubaldi - O Sistema)
A ignorância é fruto da queda, fruto que
se anula com a subida, e nós estamos justamente realizando esse trabalho de anulação da ignorância.
Parece-nos que nos movemos ao acaso, e por tentativas. Assim parece a nossa ignorância e, relativamente a
nós, é verdade. Mas na ordem de Deus já estão assinalados os planos da subida e a posição do ser, mesmo
no que respeita ao conhecimento, ao longo desses planos. Em nossa agitação confusa, não podemos seguir
outro caminho senão o que já foi traçado. (P. Ubaldi - O Sistema)
Dissemos que Deus não pode ser definido.
Definir quer dizer limitar, delinear, em relação a certos pontos de referência. Ora, o infinito não pode
ser limitado e não existem pontos de referência para o absoluto que abarca tudo. (P. Ubaldi - O
Sistema)
Deus deve ser justo, isto é, imparcial,
sem favoritismos e dádivas não razoáveis e injustas, porque não merecidas. Surge assim a idéia de uma
ordem e de uma lei que a dirija. Um chefe, que tem o direito de comandar e para com o qual se tenha o
dever de obediência, não pode ser um déspota caprichoso que abuse do poder que tem nas mãos. Compete, em
primeiro lugar, a quem personifica a lei, representar sua perfeita atuação na ordem e na disciplina. Só
quem jamais transgride pode ter o direito de exigir a obediência. E se esta Lei representa apenas o
próprio pensamento e vontade de Deus, com isto Ele obedece apenas a Si mesmo em perfeita liberdade. (
P. Ubaldi - O Sistema)
A criação não produziu apenas uma simples
multiplicidade, mas um verdadeiro organismo. Daí nasce a necessidade de admitir-se uma presença de uma
ordem, e portanto de uma lei que discipline os movimentos de todos elementos constitutivos do Sistema,
lei que representa a continuação da autoconsciência da Divindade que, como pensamento central situado no
topo da hierarquia, a dirige e, dessa forma, dirige todo o Sistema.
Só assim o Tudo-Uno-Deus podia apesar de tão grande transformação, permanecer idêntico a si mesmo. (P.
Ubaldi - O Sistema)
Não é o povo que escolhe, elegendo um
chefe (os sistemas eletivos não o são em absoluto), mas é o chefe que, por ser o mais poderoso, conseguiu
vencer todos os outros pretendentes, e se faz livremente escolher pelo povo, em grande parte sugestionado
e inconsciente. Não é o governo que serve o país, mas em muitos casos o governo é que se serve do país
para manter-se no poder. (P. Ubaldi - O Sistema)
Uma unificação que se baseia no
constrangimento e no esmagamento, permanece sempre ameaçada pela revolta de outros egoísmos, que tentam
conquistar o primeiro lugar, usando o mesmo método e seguindo os mesmos princípios. O fato de que
permanecemos ainda no terreno do Anti-Sistema, implica que esteja pronto a cada momento a voltar o motivo
da revolta, do egoísmo separatista, próprios da criatura decaída que ainda não se regenerou. É assim que
se explica porque, apesar de tantas tentativas de unificação e tanta força e astúcia para mantê-las de
pé, elas se encontram sempre a ponto de cair: porque nas organizações desse tipo, a revolta está sempre
latente, e deve ser contida constantemente por uma força maior. Logo que essa cesse, tudo desmorona. Por
isso, diz o Evangelho que "quem usa da espada, perecerá pela espada", e que a violência só pode ser
vencida pela não-resistência. A violência atrai a violência. Tão logo surge na Terra uma unidade nascida
desses princípios, contra ela nasce outra unidade inimiga. Este fato só se explica com estas
considerações. E também se explica porque todas as construções humanas, desmoronando-se, são superadas
por outras. Caem assim impérios, as revoluções substituem uma ordem social por outra, um após outros ruem
todos os governos, os partidos são feitos e refeitos, e os próprios homens se lançam a um e a outro numa
contínua reorganização. Tudo se baseia na força, seja de armas, seja econômica, seja de número, mas na
força. E todos se apegam a esta, porque é a única defesa no Anti-Sistema. Todos se apegam a esta porque
sabem que, se falharem, estão perdidos. (P. Ubaldi - O Sistema)
O útil não consiste em vencer um inimigo,
pois logo surgem outros, num inferno permanente; e sim vencer o sistema da força e sair do Anti-Sistema.
(P. Ubaldi - O Sistema)
Não podemos atribuir às forças do mal um
poder próprio absoluto, uma existência autônoma independente, mas apenas um poder e uma existência em
função das forças do bem, que são mais fortes, das forças de Deus que regem o Sistema e o Anti-Sistema:
portanto, também o mal lhes deve obedecer. Os poderes rebeldes da desordem estão, pois, subordinados aos
poderes obedientes da ordem, e como tais não podem deixar de dar sua contribuição, embora de forma
invertida, no negativo, como resistência, como banca de exame e de experiência para a vitória do bem.
Satanás, é mister bem compreendê-lo, só é inimigo de Deus aparente e superficialmente. Em sua substância,
em profundidade, ele é escravo de Deus. (P. Ubaldi - O Sistema)
Só no Anti-Sistema podem reinar a
imperfeição, a ignorância, a incerteza. E por isso, só aqui pode existir o livre arbítrio, pois a escolha
só é possível onde ainda não se conhece o caminho melhor, o qual só pode ser um, o único perfeito.
Em última análise, no Sistema como no Anti-Sistema, sendo tudo regido por Deus, a Sua perfeição exige que
tudo seja determinístico. Quando o ser desmorona na matéria, ele perde a consciência e todas as demais
faculdades diretivas. Então a Lei o substitui completamente em tudo e ele fica totalmente sujeito ao
determinismo escravo a que também está sujeita matéria. Evolvendo, o ser desperta sua consciência, o que
significa reencontrar a Lei, compreendê-la e perceber cada vez mais o prejuízo e o absurdo de revoltar-se
contra ela. Isto também significa começar a colaborar, reentrando assim pouco a pouco na ordem, o que
quer dizer assumir cada vez mais funções diretivas de operário da Lei e de instrumento de Deus.
Então com a
experiência da queda, acontece que, quanto
mais se evolui, tanto mais a liberdade se
torna liberdade de obedecer à Lei e sempre
menos vontade de a ela desobedecer. De modo
que a liberdade suprema das criaturas, no
sistema perfeito, nós só a podemos entender
como liberdade de obedecer a Deus
espontaneamente, por livre adesão, vivendo
perfeitamente harmonizados em Sua ordem.
(P. Ubaldi - O Sistema)
A convicção da verdade é outra coisa, não
pode ser obtida através do estudo da filosofia. A convicção resulta do temperamento, da experiência e das
reações daquele; é um estado pessoal ao qual se procura reduzir tudo, adaptando a ele até as verdades que
se julgam absolutas, as das religiões. E quando o próprio tipo biológico está situado no plano animal, a
própria verdade continua sendo animal, e não há erudição filosófica que a possa mudar. Nem sequer as
religiões conseguem transformá-la, senão em pequena dose. O involuído continuará assim, mesmo que seja o
mais erudito do mundo. Poderá dissertar a respeito de tudo, mas o único sistema filosófico que continuará
acreditando com convicção será o do ventre e o do sexo, o de sua vantagem imediata. A verdade só pode ser
atingida por amadurecimento biológico, que é o único que nos pode levar à compreensão, pois é ele que nos
abre os olhos da alma. (P. Ubaldi - O Sistema)
A civilização em última análise é apenas
uma especialização zoológica atingida pela evolução no plano humano, sob a direção de uma atividade
biológica nova e especial: o psiquismo. Esta qualidade aparece apenas nesta fase de amadurecimento
evolutivo, ao passo que antes era imperceptível, quase invisível no processo ascensional da vida. Ela
estava apenas latente, embrionária e de fato não aparecia como valor importante. Eis que, com o homem, o
psiquismo assume um poder preponderante na evolução, um poder tão decisivo que tornou o homem consciente
do fenômeno da evolução, até o ponto não só de compreendê-lo, como de assumir a direção dele. Aqui
assistimos uma emersão decisiva do psiquismo no consciente, psiquismo que até agora dirigira a fisiologia
e a morfologia, mas escondido no inconsciente, fora do domínio direto do homem, e que só agora aparece em
plena evidência. No animal, o psiquismo - nele ainda inconsciente - para enfrentar o ambiente, produz,
plasmando a matéria celular do organismo físico, alguns órgãos determinados, que funcionam como
instrumentos. Eles permanecem ligados ao corpo, que só dispõe de certa quantidade de espaço útil. Não é
fácil modificar e renovar esses instrumentos, que representam órgãos especializados, e além disso não
podem ser multiplicados além das possibilidades do organismo físico. Uma vez que um órgão se tenha
desenvolvido para executar determinada função, terminado o longuíssimo processo de formação pelos
caminhos da adaptação e da evolução biológica, ele permanece tal qual foi construído, e não é fácil mudá-
lo, mesmo que não corresponda mais às necessidades e utilidades do indivíduo. Este permanece preso aos
meios que ele mesmo se criou, não pode libertar-se deles nem pode facilmente construir outros melhores.
Com essa sua técnica na formação dos órgãos, o animal permanece um ser especializado, sendo difícil para
ele sair de sua especialização.
No homem a coisa se passa diversamente, porque ocorreu um fato novo: apareceu
o psiquismo que pode conscientemente dirigir a construção de novos instrumentos ou órgãos externos e
independentes do corpo, para serviço próprio. Esse novo meio permitiu ao homem superar os limites
evolutivos que dificultam a transformação do animal, fechado em sua especialização. Chegados a certo
ponto da evolução, a sabedoria que a guia para o telefinalismo preestabelecido, ao invés de trabalhar
escondida no subconsciente do animal, aparece visível em novo órgão ou instrumento, que é o sistema
nervoso que se cerebraliza em funções psíquicas. Entra assim a vida em novo caminho, iniciando novo
método para realizar-se: abandona o sistema da construção e elaboração de órgãos especializados, muito
lento e limitado, rompe os diques e cria um organismo não especializado, mas que adquiriu o poder de
construir fora de si quantos órgãos especializados ou instrumentos que lhe possam ser necessários e úteis
para os objetivos de sua vida. (P. Ubaldi - O Sistema)
Com as mãos, órgão não-especializado, o
homem construiu para si as primeiras máquinas. Depois construiu outras máquinas para construir máquinas e
assim por diante, aperfeiçoando cada vez mais a sua técnica. Dessa forma está até construindo órgãos
artificiais para aperfeiçoar os que ele já possui em seu próprio corpo, ou para supri-los quando
defeituosos ou ausentes. Não se exclui a possibilidade de que um dia o homem se apodere a tal ponto dos
segredos da técnica da vida, que consiga construir artificialmente um organismo físico ou, se lhe convier
mais, os meios com que possa realizar a sua vida de entidade espiritual no plano físico, em formas
diferentes das utilizadas pela vida até aqui, com essa finalidade. (P. Ubaldi - O Sistema)
Discutiu-se se nasceu primeiro o órgão ou
a função. Em princípio não existia nem um nem outro. Na primeira origem existe apenas um impulso interior
para subir, em forma de desejo instintivo, no qual se revela a lei de regresso às origens. Aquele
telefinalismo de que falamos é uma força ativa de atração. Surge assim o desejo. Ele exprime esse impulso
interior, individualiza-o no caso particular, na forma que deve ser atingida naquele dado momento e
posição da vida. A matéria orgânica é forma regida por esse impulso interior, e por isso ela lhe obedece,
deixando-se plasmar por ele. Então o desejo começa a plasmar uma primeira tentativa, um esboço do órgão,
com os materiais que toma do ambiente, material passivo, que obedece, em virtude da lei da vida, àquele
impulso animador. Com esses materiais, aquele desejo se reveste de uma primeira forma rudimentar, que
constitui a sua primeira expressão. Nasce desse modo um primeiro esboço provisório, à espera de que a
tentativa se reforce, consolidando o seu tipo, se ele corresponder às condições do ambiente e às
exigências da vida. Ele é a expressão do íntimo pensamento que a dirige; é o resultado de uma luta do
pensamento criador com a matéria inerte, para plasmá-la a seu modo. A luta é feita por ensaios,
resistências, adaptações, tentativas. Esta é a forma por que se realiza a criação no plano material, por
obra do espírito. O pensamento, desde a primeira criação feita por Deus, demonstrou sempre possuir poder
criador.
Depois de formado, este primeiro esboço tenta um primeiro funcionamento
experimental. Com isto ele experimenta o ambiente, adapta-se, fixa os resultados adequados, aperfeiçoa-
se. Esse aperfeiçoamento do esboço leva a um aperfeiçoamento maior no funcionamento, o que também permite
que o órgão se desenvolva e aperfeiçoe cada vez mais. Dessa forma, o órgão e o funcionamento, escorando-
se mutuamente, guiados e sustentados pelo impulso interior da vida em direção ao telefinalismo, se vão
construindo e aperfeiçoando, até que daí nasça o órgão novo completo. (P. Ubaldi - O Sistema)
Observemos outro fato, que também nos
prova o poder criador do pensamento e o movimento da evolução no sentido da espiritualidade. Por um
fenômeno paralelo ao que agora examinamos, segundo o qual a matéria orgânica é dirigida e plasmada pelo
impulso interior, animador das formas da vida, acontece que as idéias dominantes na existência de um
homem permanecem impressas em seu rosto, os seus traços físicos exprimem, dessa maneira, em síntese, a
sua história vivida: dores, alegrias, lutas, vitórias, as notas fundamentais da personalidade, reforçadas
ou corrigidas pelas novas experiências. Dessa maneira, um rosto pode representar uma biografia. Para
aprender a lê-la, observemos o significado das várias partes do corpo humano.
Pode dividir-se em três planos: 1) Parte inferior: dos pés ao ventre, que constitui a animalidade. 2)
Parte média: peito e coração, que representa o sentimento. 3) Parte superior: cabeça e cérebro, que
representa a alma e a personalidade.
O rosto humano pode igualmente dividir-se em três planos correspondentes
àqueles, começando de baixo. 1) O maxilar e a boca que exprimem, quando muito desenvolvidos, a
animalidade voraz e egoísta, a avidez e a sensualidade bestial. 2) Os olhos que exprimem o sentimento do
coração, emotividade passional, que pode tomar parte na vida inferior tanto quanto na superior, que o
rosto nos revela. No primeiro caso, os olhos exprimem astúcia, egoísmo, avidez, sensualidade. No segundo
caso, inteligência, generosidade, bondade, assim como sexualidade sublimada ao plano de amor espiritual.
3) A fronte, que manifesta o poder e o domínio atingidos no campo do pensamento, da bondade, do espírito.
(....) Com tais critérios, qualquer pessoa poderá, ao olhar sua imagem, ler nela a própria história,
destino e valor. (P. Ubaldi - O Sistema)
O que desmoronou com a involução não foi o
número das individuações ou criaturas: esse permaneceu o mesmo, igual; o que desmoronou no caos foi a sua
ordem, o que se desfez foi seu estado orgânico, que caiu no estado desorgânico. (P. Ubaldi - O Sistema
)
A tarefa da evolução é justamente a de
executar a reorganização do caos. Dessa forma, o princípio da individuação muda no sentido em que mudam
as dimensões da unidade elementar, ou seja, do eu. Este fato, pelo qual cada um dos momentos do todo
tende a fundir-se com outros, organizando-se em grupos cada vez maiores, não é um fato estéril de simples
soma de unidade. Neste caso não temos 2 + 2 = 4, e sim 24 = 16. Isto no sentido em que se alcança não
somente uma quantidade maior, mas ainda mais: uma qualidade superior, de valor maior. A própria física
nos ensina que o valor dos fenômenos e do espaço muda em relação às suas dimensões. O que vale para uma
não vale para a outra, os princípios que se aplicam ao infinitamente pequeno não valem para os do
infinitamente grande, nem para os do meio, que está entre os dois. (P. Ubaldi - O Sistema)
Na nova lei, a do grupo, os indivíduos se
fundem por homogeneidade de caracteres. Eles sobrevivem não como elementos separados, mas como uma
síntese resultante de sua fusão, o que transforma o tipo de sua individuação. Trata-se de existências
diferentes, situadas em dois planos diversos do edifício da evolução. O segundo é mais vasto, complexo e
aperfeiçoado; é portanto mais poderoso e resistente. Uma coisa é o átomo, outra coisa a matéria; uma
coisa é a célula, outra um organismo; uma coisa é o homem, outra um povo ou humanidade; uma coisa é a
mentalidade de um indivíduo, outra uma corrente de pensamento e de psicologia coletiva. (P. Ubaldi - O
Sistema)
A vida lança-se com o homem, em seu novo
caminho da evolução psíquica e espiritual. O grande trabalho criador que hoje lhe é confiado é o
desenvolvimento da consciência, em todos os sentidos, quer racional na pesquisa científica, quer
inspirativo na arte, quer espiritual na fé e nas religiões, quer sentimental nas relações de amor ao
próximo, quer moral numa nova ética melhor e mais inteligente, não mais filha do terror e da luta pela
vida, mas uma compreensão iluminada das exigências materiais e espirituais da vida.
Podemos imaginar o futuro da humanidade na forma de uma mente cada vez mais iluminada. O próprio órgão
cerebral terá de aperfeiçoar-se anatomicamente. A estrutura química, mecânica e biológica do encéfalo
terá de atingir um grau de complexidade e requinte que permita o funcionamento de novas zonas de
consciência, ainda adormecidas hoje, ativando neurônios ainda não utilizados. (P. Ubaldi - O Sistema
)
Observando, em sentido mais vasto, vemos
em cada fenômeno um princípio de ordem que o protege, o mantém e quer melhorá-lo; e há um princípio de
desordem que o agride, estraga-o, quer fazê-lo retroceder à destruição. Verificamos a presença de uma lei
de bem, lutando para agir contra uma lei de mal. Por isso, o progresso em todas as coisas, é dado pelo
impulso de subida, contra o impulso contrário que quer a descida, ou pelo menos a paralisação. A
evolução, por fim, consegue vencer, mas emergindo dessa contínua luta. Assim, apesar de tudo, o progresso
avança. Apesar de estar sempre minado pelo impulso contrário, consegue, finalmente, realizar-se.
Onde estão situadas as origens desses impulsos contrários? Só a teoria da queda pode dar-nos a explicação
desse fato. Os dois impulsos provêm um do Sistema e outro do Anti-Sistema. A evolução representa a subida
do segundo, que não quer morrer, para o primeiro, que deve nascer. E o Sistema só pode nascer matando o
Anti-Sistema, o qual só pode sobreviver se deixando matar pelo Sistema. O seu terreno de luta é o domínio
do ser. A evolução representa o regresso ao Sistema e o extermínio definitivo do Anti-Sistema. No plano
humano, o Sistema é representado pelas leis da ética e o Anti-Sistema pelos instintos da animalidade.
Assim se explica esse contraste. (P. Ubaldi - O Sistema - Cap. 16)
A queda não se verificou ao acaso, por si
mesma. A Lei, ou seja, o pensamento de Deus, previra-lhe a possibilidade; prova-o o fato de haver
determinado o seu decurso e suas conseqüências, mesmo antes da sua ocorrência. Sem dúvida, devia haver na
Lei, princípios que, mais tarde, ao se verificar a queda, teriam regulado a descida involutiva e, também,
a posterior subida evolutiva, como no-lo demonstra o seu evidente telefinalismo. (P. Ubaldi - O
Sistema - Cap. 20)
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