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Trechos do Livro "Princípios de uma nova Ética" de Pietro Ubaldi

A idéia de Deus que o homem possui, herdada do passado, é sobretudo do todo-poderoso, que por isso pode fazer o que quer, arbitrariamente violando à vontade as leis que Ele próprio estabeleceu para o funcionamento da fenomenologia universal. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Essa lei foi escrita pelo próprio Deus no funcionamento do Universo, através da Sua criação, e toda a fenomenologia a realiza; tudo e todos têm de lhe obedecer se não lhe querem sofrer as reações. Mas a maravilha é que o primeiro a querer obedecer-lhe é o próprio Deus, e com isso mais não faz que livremente obedecer à Sua própria vontade, por Ele codificada na Sua Lei. Ora obedecer a si mesmo não é obedecer, mas mandar. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Ora, queremos salientar aqui que nada é mais absurdo que essa idéia da ausência de Deus, que nos permite imaginá-lo afastado, longínquo, e assim mais facilmente enganável, quando, na verdade, a lógica exige e tudo nos fala da Sua presença viva e contínua entre nós, no funcionamento orgânico do todo, tudo dirigindo, de perto vigiando, controlando, velando e realizando. Esse fato acarreta importantes conseqüências no terreno da ética, porque um Deus tão próximo penetra toda a nossa vida por dentro e por fora, é uma atmosfera em que todos estamos mergulhados, que todos respiramos e da qual não há possibilidade de nos separar. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Quem manda não é o homem, mas a Lei, e que, quem ensina é a dor e fá-lo não com palavras, mas com fatos, deixando cada um acreditar e pregar o que quiser, mas fazendo pagar sempre o que merece. Não há pois necessidade de impor à força idéias, nem mesmo a salvação, já que isso excita o instinto de agressividade, provocando reação e luta, o que é um convite para a animalidade funcionar. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A verdadeira ética não depende do homem, mas de Deus. Ela está acima de tudo e de todos, escrita na Lei e dentro da própria natureza das coisas, daí não pode fugir. Então, por que lutar contra os inferiores, se isso só serve para lhes excitar as reações e enganos? (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Sobre a cabeça dos povos que conseguem engordar no bem-estar está suspensa por um fio a espada de Dâmocles duma guerra destruidora da humanidade e da sua civilização. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O que de fato hoje prevalece é o materialismo religioso, isto é, só uma aparência formal de religião praticamente atéia na substância, o que representa a última fase da decadência. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Antes de ter o dever de obedecer, o ser tem o direito de saber, em proporção ao seu merecimento, desenvolvendo com o seu esforço a sua capacidade de entendimento. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A Lei exige que o indivíduo possua e pratique a ética do nível evolutivo ao qual pretende pertencer, cumprindo os respectivos deveres. Não é possível ficar em posições sociais não merecidas, sem cumprir a função evolutiva que a vida confia a quem nelas se encontra. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Não há progresso para os preguiçosos, não há elevador, mas só as nossas pernas para subir o monte da evolução. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Nos níveis mais baixos o educador precisa ser antes de tudo um domador, se não quer ser devorado por seus alunos. O nível do ensino depende do nível destes, ao qual o mestre tem de se proporcionar. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A humanidade está hoje completamente fora de rota. Ideais e religiões caíram em completo descrédito. A maioria é religiosa por fora, mas atéia por dentro. A ciência não resolve. Um homem capaz de fazer o mal, mas que sabe ir à Lua e a planetas diversos, permanece sempre um homem capaz de fazer o mal, e dessa vez em qualquer parte do sistema solar. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

As ideologias se baseiam na modificação dos sistemas exteriores da vida, sem transformar os elementos humanos que a constituem. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Um homem desonesto permanecerá sempre um perigo social, qualquer que seja o partido ou a religião a que pertence. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Hoje, justos e injustos estão misturados em todos grupos. Pode haver ótimos elementos nos piores grupos, assim como péssimos no seio dos melhores. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O processo evolutivo não consiste em destruir o elemento força, mas em apertá-lo cada vez mais com os princípios da Lei, e em canalizá-lo para o caminho que leva à realização dos objetivos da Lei. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O primeiro passo do involuído é de colocar suas qualidades inferiores ao serviço do ideal. A finalidade pode justificar os meios, somente quando o indivíduo não pode deixar de empregar meios tão atrasados, porque outros melhores na sua natureza ele não possui. De outro modo, que trabalho superior poderia realizar o involuído? Usando os métodos do seu plano de vida, os únicos que ele conhece, vai subindo os primeiros degraus da sua evolução para o plano de vida do evoluído. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Nunca deveríamos esquecer, quando a agressividade dos inferiores leva ao emprego da força, que naquele momento descemos ao nível biológico deles, que é o do animal. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Confraterniza-se somente numa dor comum. Se alguém chora pelos outros, é porque com isso está chorando também por si mesmo. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Para que uma moral superior possa ser entendida pela maioria atrasada, é indispensável seja aplicado a seu respeito o único raciocínio que ela pode entender, isto é, o do seu prejuízo e respectivo medo, e o da sua vantagem e relativa esperança. É tal ética, baseada na forma mental de quem só é sensível ao sofrimento ou a satisfação individual, que deriva a presença de sanções, sejam materiais (cadeias), nas leis penais, sejam espirituais (inferno), nas religiosas. Esta é uma necessidade imposta pela natureza do primitivo, que só com tais meios pode ser educado. Infelizmente muitas vezes a ferocidade das leis é devida a ferocidade dos indivíduos. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O sentido moral é o fruto de uma longuíssima experiência de punições recebidas pela reação dos lesados. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Para eles (os involuídos), então, as leis civis e religiosas representam somente um obstáculo a vencer, um inimigo do qual defender-se, um dos tantos empecilhos a superar na luta pela vida. Tudo é perfeitamente lógico na forma mental do primitivo. Conforme a sua ética elementar a habilidade do indivíduo está em saber superar essas dificuldades, impostas pelo inimigo que manda. Então as leis têm de ser conhecidas não para lhes obedecer, mas para as enganar. Eis como a desordem se vai insinuando dentro da ordem, como a mentira vai roendo as instituições sociais, até o ponto, quando tais elementos são maioria, de destruir uma nação. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

No mundo atual o uso da força ficou lícito somente entre nações em guerra, mas não entre indivíduos, que então recorrem a astúcia. Assim por exemplo, se um involuído apercebe que, com a mentira, mostrando-se fraco, vítima de injustiça, apesar de ser de natureza oposta, ele consegue com tal método ganhar explorando a piedade dos bons, não há na sua forma mental razão para que não se regozije pela bela descoberta e não procure praticar em seu proveito tão rendoso truque. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Eis que por fim é o biótipo dominante que impõe sua psicologia de luta, que expressa a lei do seu plano, às religiões que tem de a aceitar, se querem subsistir num mundo de rebeldes, que mais do que serem iluminados e convencidos, precisam antes de tudo de serem domesticados. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

No terreno internacional não existe disciplina entre as nações que julgam legítimo satisfazer seus desejos com as guerras, praticando a lei da força que, para o indivíduo, no terreno particular, é proibida. Assim as unidades coletivas estão mais atrasadas do que ele. Quanto maiores elas são, tanto mais tempo e trabalho é necessário para elas se civilizarem. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Vivemos num universo que funciona conforme um plano preestabelecido, que vai se desenvolvendo em momentos encadeados um no outro, sucessivamente, por uma férrea conexão lógica. Não há fenômeno que assim não esteja vinculados a infinitos outros. O que acontece a cada um de nós neste momento é resultado último de impulsos que se movimentaram a milhões de séculos e agora chegam daquele passado longínquo até nós, trazidos na onda do tempo. É assim que não é possível entender e resolver qualquer caso particular, se não o soubermos orientar no plano universal. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Toda vitória e grandeza é um trono que se levanta sobre um cemitério cheio de mortos ou uma prisão de escravos. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Hoje se fala de paz intensificando a corrida armamentista. Primeiro a astúcia diplomática, e atrás dela, prontas as armas, para saltar em cima da outra parte, logo que essa der um sinal de fraqueza. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Nos tempos modernos as culpas da Inglaterra foram punidas pela Alemanha com as duas últimas guerras, com as quais ela perdeu seu império colonial. Depois, os crimes da Alemanha foram punidos pelos Estados Unidos, que agora estão ameaçados se serem punidos pela Rússia, cujo poder eles próprios criaram com as suas mãos para vencer a Alemanha. Se a Rússia vencer, depois chegará a China para punir seus crimes, e assim por diante. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Quando escolhemos um dado método de ação, nele fatalmente ficamos presos até às últimas conseqüências. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Para saber qual deve ser na vida a nossa conduta com as suas conseqüências, estabelecendo assim as nossas responsabilidades, é necessário conhecer a estrutura de nossa personalidade e qual é a linha de nosso destino, dois problemas que não se podem resolver senão em função um do outro. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Podemos conceber o consciente como suspenso entre duas zonas de inconsciente: uma evolutivamente inferior, que chamamos de subconsciente; e outra, evolutivamente superior, que chamamos de superconsciente. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Nem tudo o que constitui a nossa personalidade está contido na parte consciente, como nem todas formas de luz estão contidas no espectro visível. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

No biótipo comum do homem médio o consciente abrange a parte livre e responsável da semeadura das causas, a parte acordada e ativa da conquista de novos estados de consciência, onde para esta finalidade se realiza o trabalho de experimentação da vida; enquanto o subconsciente representa o trabalho já realizado, cujos resultados ficaram definitivamente adquiridos e fixados nos instintos, o superconsciente representa o trabalho ainda a realizar, para fixar na personalidade os seus resultados na forma de novas qualidades adquiridas. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A evolução psíquica e a evolução orgânica morfológica estão ligadas, porque constituem o mesmo processo evolutivo. Uma não pode ser isolada da outra, porque a evolução morfológica não representa senão a expressão exterior da evolução do princípio espiritual, que constrói para si mesmo, regendo-o, o seu organismo físico. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A sombra pode ser um efeito ou uma conseqüência da luz, mas não a luz um efeito ou uma conseqüência da sombra. O que existe primeiro é a luz, da qual depende a existência da sombra, e não a sombra da qual depende a existência da luz. No plano das primeiras causas, quando não há outro positivo anterior, o negativo não pode ser antecedente do positivo. Do conceito do nada não pode ser derivado o conceito do existir. Não pode de um pai que não existe nascer um filho que existe. No terreno do absoluto, onde se trata de substância e não de mudança de forma, o não-existir não pode gerar o existir. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O ambiente e a educação não mudam o tipo fundamental da personalidade que, apesar de ser no seu aspecto exterior filha dos seus antepassados, contém sempre qualidades suas que a diferenciam dos outros. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Com as suas qualidades a personalidade revela seu passado. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Quem ensinou aos animais a andar e voar, às feras as regras da luta, a cada um uma técnica sua particular proporcionada ao ambiente e meios de defesa, aos fracos a estratégia da fuga ou da astúcia, às fêmeas as providências da maternidade e da criação, tudo para que o indivíduo, como a espécie, possa sobreviver? Tudo isso não pode ter sido aprendido senão em semelhantes vidas precedentes. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Entre indivíduos do mesmo nível não ocorre choque de sistema, e a compreensão é fácil; mas o choque é vivo entre indivíduos de níveis evolutivos diferentes, que praticam sistemas e falam linguagens diferentes. Então cada um, não entendendo nada do outro, o condena. Mas na realidade a imensa maioria encontra-se no mesmo nível animal e, por isso, o indivíduos se entendem até chegar a um pensamento comum, que é, o que se chama subconsciente coletivo, pelo qual é possível realizar uma concordância, como acontece nos hábitos sociais, nas eleições do sistema representativo, na aceitação e aplicação das leis civis e religiosas, etc. Disto se segue que a vida coletiva se baseia mais no subconsciente, isto é, obedece mais uma ética empírica instintiva do que a princípio racionais, produtos da inteligência. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Mas, que verdades pode conter o subconsciente, senão as elementares da vida, as necessárias para vencer na luta para a sobrevivência? Trata-se então, somente da sabedoria da força ou da astúcia, que, na verdade, sempre se encontra em nosso mundo. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O que a massa humana aprendeu nas suas vidas precedentes não é senão o que a história nos conta que fizeram os homens do passado... Ela aprendeu a mentir e a desconfiar, o que constitue boa parte da vida social. Ela aprendeu a temer o próximo, que representa um natural inimigo. Eis que o estudo psicológico da primeira origem das nossas idéias nos dá a chave para entender a nossa vida social. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A sensibilidade, o conhecimento, a capacidade de entender do indivíduo, o seu tipo de vida e destino, dependem de sua natureza, que corresponde ao nível evolutivo em que vive e funciona o seu eu. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O primitivo que vive no nível do subconsciente, fala e entende somente a linguagem das emoções. Ele pode ser sugestionado por impressões, não convencido pelo raciocínio. Ele não age por entendimento seu, mas por imitação do que fazem os outros. Ele não se interessa pelos efeitos a longo prazo, mas só pelos resultados imediatos.(...) O nosso mundo zombaria de um governo sem tribunais, polícia e cadeias, como de uma religião sem inferno ou seus equivalentes. O biótipo desse nível obedece apenas ao mais forte, que tem o poder nas mãos e que por isso lhe pode fazer bem ou mal. O fraco não merece respeito nenhum, merece pelo contrário ser escravizado. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O biótipo mais adiantado, que deveria ser o homem, se chama civilizado, vive no nível do consciente e fala e entende a linguagem da razão. Mais que sugestionado por impressões, ele pode ser convencido pelo raciocínio.(...) Para dirigir esse homem não basta o medo do fracasso ou a esperança de vantagem, mas é necessário convencê-lo de que tudo representa, na verdade, o seu interesse e corresponde a um princípio de equidade. A vida para ele não é mais mistério, que a ciência começa a desvendar. Tal homem controlado pelo pensamento não pode mais ser dominado pela força, como o biótipo precedente, mas a respeita pela vantagem material que pode usufruir, porque ela representa um poder econômico, bélico, político, social. Assim os impulsos fundamentais da vida permanecem os do nível precedente. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O biótipo ainda mais adiantado: o homem superior, excepcional em nosso mundo, vive no nível do super-consciente e fala e entende a linguagem da verdade. Ele não age, porque sugestionado por impressões, ou somente pelo raciocínio, mas pelo conhecimento que possui pelo sentido da verdade. (...)Acima da linguagem dos sentidos e da mente, ele entende a linguagem das coisas, das quais intui por visão interior o sentido profundo. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

No nível do subconsciente ou plano animal, o que dirige a vida são os instintos fundamentais: a fome que garante a continuação do indivíduo; o sexo que garante a continuação da raça. Estes são os instintos fundamentais, os quais dirigem o ser primitivo que vive neste nível, esta é base das paixões elementares que o movimentam. Quando ele satisfaz a fome e o sexo, fica satisfeito, não entende nem procura outra coisa, porque atingiu seu objetivo principal: viver. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

No nível do consciente, acima destes dois instintos básicos, inicia-se no primeiro caso a construção e se levanta o edifício da propriedade, da riqueza e correlativas proteções legais, das posições sociais, das honras, do poder religioso e político, como aumento e acréscimo ao redor do eu; e no segundo caso levanta-se a construção do edifício da família, para a defesa da mulher e dos filhos, estabelecendo direitos e deveres na conduta, na propriedade, na herança etc. (...) Estamos no nível do egoísmo e da luta, de todos contra todos, cada um querendo dominar. A guerra é o estado normal, a família é um castelo armado contra as outras famílias, naturalmente rivais e inimigas, que é preciso vencer para não ser vencido. O grupo familiar fica, desta forma, unido por seu egoísmo, que neste plano representa a base da vida. Constroem-se, assim, e ficam unidos os grupos nacionais, em que os povos se unem para se armar contra outros povos. Esse é o estado atual da humanidade, que só chegou a organizar, racionalmente, no nível do consciente os instintos fundamentais, que movimentam o ser no nível do subconsciente. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A verdadeira revolução biológica só aparece no nível do superconsciente. Para maior clareza damos um exemplo prático, escolhendo como modelo um ser verdadeiramente superior que foi Francisco de Assis... Com os três votos básicos da sua regra, ele quis despedaçar os correspondentes instintos fundamentais do homem, a eles contrapondo como virtudes três impulsos opostos. Ao 1º instinto, o de possuir, ele contrapôs a regra da pobreza; ao 2º instinto, o do sexo, contrapôs a regra da castidade; ao 3º instinto, o do egocentrismo dominador, contrapôs a regra da obediência. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O que representa o mais poderoso argumento para um ser superior, pode passar completamente despercebido para um inferior. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Para ser entendido pelos biótipos do nível do subconsciente, teria sido necessário traduzir as visões em termos emocionais de medo, esperança, entusiasmo, estimulando com representações bem perceptíveis pelos sentidos. (...)Quem fala, se quer ser compreendido, tem de falar a linguagem dos ouvintes. Isto de fato é o que acontece em nosso mundo, quando se trata de convencer as massas populares. Daí a necessidade do uso das imagens e das representações do rito das religiões. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O instinto do involuído é o de reduzir tudo dentro dos limites da sua forma mental. O que não cabe dentro da sua cabeça, para ele passa desapercebido, e é como inexistente. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O campo dominado pela consciência vai-se cada vez mais se ampliando com a evolução, como foi se comprimindo com a involução, até chegar à pedra. É assim que onde o evoluído percebe um mundo imenso, o involuído fica cego e surdo, nada percebendo. Onde um cientista, um pensador, um artista é arrebatado por pensamentos e emoções profundas, e impelido às mais enérgicas reações, um homem comum fica inerte e adormece pelo tédio. Há coisas preciosas à porta da sua casa, maravilhas estão batendo para entrar, e ele não responde e retorna às misérias do seu mundo pequeno, porque só sabe entender estas. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Eis que é possível conhecer qual será o tipo de destino, quando conhecemos o tipo de personalidade. Temos antes de tudo um destino biológico geral, porque pertencemos à raça humana, o qual estabelece os vários períodos e duração de nossa vida; um destino econômico e social, dependente da posição e ambiente em que nascemos; um destino, poder-se-ia dizer clínico, que marca com antecedência a nossa pré-disposição a esta ou àquela doença, conforme o organismo físico que recebemos dos nossos pais; por fim, acima deles, temos o que se poderia chamar um destino psicológico e espiritual, em que se revela a verdadeira personalidade e o poder do eu. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Os menores problemas particulares não podem ser resolvidos, senão depois de atingida a solução dos problemas universais, que nos orienta na pesquisa. O nosso mundo procura soluções isoladas, mas problema nenhum é solúvel isoladamente, num universo onde tudo é ligado e comunicante, regido por uma só lei, fundamentalmente unitária. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Pode ocorrer que um indivíduo não viva somente num dado nível biológico, sujeito ao correlativo tipo de destino, mas viva numa fase de transição de um nível para outro, na qual lutam para concretizar impulsos que provêm dos planos inferiores, juntamente com outros dos superiores. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Em nosso mundo aparecem as funções do consciente racional, mas estas são usadas em favor do subconsciente animal. Existem grandes descobertas científicas, testemunhos do valor da inteligência humana, mas o uso delas é para fazer guerras, matar, destruir, obedecendo os instintos da animalidade. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Eis então que o bem-estar no ócio tira todo valor à vida do indivíduo, que não pode deixar de sentir que não vale nada, porque não sabe fazer e não quer fazer nada. É assim que, pela dita lei de justiça, as que parecem ser as melhores posições sociais, as que a maioria inveja, muitas vezes são as piores, porque roídas por dentro por essa desvalorização do indivíduo, devido à sua vida inútil no bem-estar. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O tipo de existência que nos deram nossos pais e o seu ambiente é a conseqüência da escolha feita pelo indivíduo ao nascer, porque por lei de afinidade ele foi levado a se aproximar dos indivíduos que possuíam as qualidades afins àquelas por ele adquiridas nas suas vidas precedentes. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Assim, como em sua vida embrionária, o ser vai repetindo em resumo seu passado fisiológico, da mesma forma depois, na sua vida extra-uterina, ele repete seu passado psicológico. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Observando as qualidades que hoje possuímos como elementos constitutivos de nossa personalidade, sobretudo as mais expontâneas e instintivas que emergem do subconsciente, podemos reconstruir o nosso trabalho que em nós as gravou, conhecendo desta forma, o tipo de experiências vividas em nosso passado, que como resultado nos levaram à atual estrutura de nossa personalidade; poderemos, por fim, conhecer o conteúdo de nossas vidas passadas. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

"Onde hoje há uma dor, aí esteve no passado o nosso correspondente pecado contra a Lei”; para conhecer o nosso futuro, seria necessário conhecer também o mesmo princípio da Lei: “Onde hoje se comete um pecado contra a Lei, aí estará no futuro a nossa correspondente dor, penitência encarregada de corrigi-lo". Dada a estrutura do organismo do todo, ninguém pode cindir a complementaridade que liga os dois elementos, culpa e sofrimento. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

É preciso entender que o processo de construção da personalidade é único, canalizado dentro do universal processo evolutivo, sujeito as regras estabelecidas; entender que é orientado dentro de um plano pré-ordenado e necessariamente orientado para um telefinalismo. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Não há dúvida de que, apesar de nossa liberdade de introduzir na trajetória de nosso destino impulsos novos que o possam modificar, esta lei que estabelece o percurso de uma trajetória, uma vez que ela foi iniciada num dado sentido, representa no fenômeno um impulso de tipo determinístico, ao qual todo o processo fica inexoravelmente sujeito. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O futuro antes de tornar presente, já está comboiado ao longo de uma linha marcada, que o prende antes do seu nascimento. O efeito está envolvido, enredado no seio da sua causa, como o feto no seio materno, como a planta na sua semente. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Nascemos aprisionados pelo nosso passado, seja como indivíduos, seja como sociedade, constrangidos a andar de novo nos trilhos já percorridos, que no terreno da vida de contínuo escavamos com os nossos pés. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Um contínuo bem-estar na paz é anti-evolutivo. Ela pode ser sinônimo de inércia, a posição de um mundo estático, que envelhece e apodrece na rotina, na repetição. Mas aqui não falamos de destruir a luta e o correlativo esforço criador, mas de abandonar essa forma involuída de luta, que não sabe atingir a renovação senão por meio da destruição. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Os atávicos produtos do subconsciente terão de se modificar gerando novas qualidades, porque experiências apocalípticas estão prontas para corrigir os velhos instintos, ensinando uma nova lição. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Poder-se-ia então definir o fenômeno biológico como um processo de transformação da energia em conhecimento, pensamento, inteligência ... A sabedoria da velhice é o equivalente psíquico dos valores dinâmicos da juventude. Nada se destrói, tudo se transforma. Quando o indivíduo tem esgotado suas energias por ter experimentado bastante, está rico de novas qualidades, que valem o que ele perdeu como energia. Na velhice o consciente adormece, se cristaliza de novo na inércia, mas o seu trabalho de toda a vida ficou filtrado no subconsciente, do qual estará sempre pronto a ressurgir para dirigir o ser no futuro automaticamente, quando o consciente não estiver acordado para realizar o trabalho de continuar, no futuro, a construção realizada no passado. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Há na natureza humana verdades fundamentais que todos aceitam como axiomas que, pela sua evidência, não precisam de demonstração para ser entendidos e admitidos. Por que isso? Como é que todos espontaneamente concordam nestes pontos? Isto acontece porque tais verdades ficam impressas no subconsciente como frutos das experiências passadas. Muitas das idéias que dirigem o mundo não são frutos de lógica e raciocínio, mas de instintivos impulsos do subconsciente. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O surgir da consciência é um efeito e não é causa do amadurecimento. E de fato, em nossa própria vida, vemos que o destino não nos explica o porquê. Só age e atua. A explicação do porquê cabe ao indivíduo encontrá-la. E ele não a pode encontrar senão quando tornar-se bastante evoluído, para entender o que a Lei exige dele. Ela nada explica, mas o fustiga sempre, até ele entender. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Como de tantos destinos, que progridem juntos dentro de uma mesma lei geral que os abrange, pode cada um desenvolver livre e completo no seu devido caminho, sem ser torcido pela proximidade dos outros? Na realidade temos muitos destinos diferentes, que se desenvolvem um perto do outro, mas cada um seguindo seu caminho particular conforme a lei do seu desenvolvimento. Como nesta rede os fios condutores de tantos destinos não se misturam, cada um recebendo o que mereceu segundo a justiça, e dela ninguém pode fugir...E como tantos destinos diferentes, ao invés do caos, em conjunto, acabam construindo como numa tapeçaria um desenho coletivo maior. No qual cabe e se cumpre o menor de cada indivíduo separadamente? Como se pode conciliar a rigidez da lei de causa e efeito, o seu férreo encadeamento, no qual se baseia o desenvolvimento de nosso destino, com a necessidade de convivência recíproca entre destinos assim entrelaçados? E isto sem que um destino cometa violência contra a liberdade dos outros, a ela se impondo a força. Se, pelo princípio de justiça, pagar as conseqüências atende uma necessidade absoluta, sem possibilidade de confusão, empréstimos ou escapatórias, cada um tem de assumir suas responsabilidades com pleno respeito a seu próprio livre arbítrio, sem que qualquer outra pessoa possa ser responsável em seu lugar. Cada um tem de pagar pelas suas culpas e não pelas dos outros, tem de ser premiado por suas virtudes e não pelas dos outros. Pela justiça de Deus, tudo o que nos acontece na vida deve ter sido merecido por nós, a causa deve estar em nós mesmos. É em nosso passado que temos de procurá-las e não nos outros. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Observando como se processa a evolução, vemos que ela procede por tentativas... Essas tentativas, porém, se representam uma incerteza de oscilação nas experiências, a amplitude delas está contida dentro do trilho pré-estabelecido pela lei que dirige o plano geral do desenvolvimento do ser. Trata-se, então, de uma amplitude limitada, de uma pequena liberdade de cometer erros, mas fechada dentro de uma ordem maior, a da Lei que, se os admite, logo os corrige e endireita pela dor. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

No cumprimento de um destino há uma tendência que, se é irresistível, ao mesmo tempo é suscetível de adaptar ao ambiente, ao momento, à pressão dos impulsos dos outros destinos que se vão desenvolvendo juntos e que também se querem realizar. No cumprimento de um destino há uma necessidade absoluta de realização, mas ela não é rígida e mecânica, mas uma vontade contínua, uma pressão constante, implacável, impulsionando para se realizar, de modo que está pronta para isso, logo que o ambiente o permita. Ela funciona por tentativas, mas com a maior tenacidade, aproveitando todas as oportunidades. Eis, então, que na férrea atuação da lei de causa e efeito penetra uma elasticidade de adaptação às circunstâncias do momento. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O passado está dentro de nós, amadurece conosco, definindo o trajeto de nosso destino, e nos acompanha no presente e no futuro, nos ajudando ou nos perseguindo, como merecemos. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A culpa está na fraqueza congênita, conseqüência do passado, que é a que estabelece uma predisposição para dados ataques, uma atração que representa um convite para dados tipos de agressão. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Apesar de que todos se movimentam ao longo do mesmo caminho da evolução, o de cada um é diferente do dos outros, porque a evolução leva ao aperfeiçoamento pela especialização, não para afastar os indivíduos uns dos outros, mas para depois junta-los em unidades coletivas, em que eles cooperam como elementos complementares. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

De uma ação em excesso nasce uma reação em forma de carência. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Elementos fundamentais da psicodiagnose serão: 1o) estabelecer qual é o nível evolutivo do indivíduo, porque disto depende a lei biológica à qual esta sujeita a sua vida. A medicina, para tratar um involuído, é bem diferente daquela que é necessária para tratar um evoluído. 2o) estabelecer perante que tipo de indivíduo o psicanalista se encontra, qual foi o caminho específico que aquele ser escolheu na sua evolução, isto é, o tipo de sua especialização, para individualizar claramente a sua personalidade. 3o) estabelecer qual é o tipo e o percurso do destino do indivíduo, estudando o processo de construção de sua personalidade na estratificação que revela o crescimento do eu. 4o) observando os produtos do subconsciente, estabelecer qual é a natureza dos impulsos instintivos que hoje dele emergem como retorno do passado, para assim chegar a conhecer de que tipo e série de experiências o estado presente é conseqüência. Será deste modo possível descobrir quais foram as causas que nos escapam no passado, o conhecimento das quais nos é necessário para tratar os efeitos que agora temos de enfrentar. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Poder-se-ia dizer que nosso passado nos escraviza, porque lança o eu numa dada direção, assim congelando em determinismo nosso livre arbítrio, até que, em novas vidas, consigamos libertar-nos da escravidão desse determinismo. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Assim cada um, com as suas qualidades do passado, coloca-se na posição que lhe pertence. Agora podemos compreender como a primeira causa do que nos acontece se encontra antes de tudo dentro de nós. Seria suprema injustiça de Deus que aos outros fosse entregue o poder de nos infligir um destino por nós não merecido. Se aos outros fosse dado o arbítrio de modificar o nosso destino à vontade, eles poderiam alterar o caminho da evolução, destruindo a responsabilidade do indivíduo e a justiça de Deus. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Quando um indivíduo possui certas predisposições, por se ter construído com dadas qualidades, é fatal que mais cedo ou mais tarde, entre as inúmeras forças com as quais ele na vida terá de se encontrar, acabam funcionando aquelas que serão atraídas por afinidade, ou que pela Lei serão impulsionadas a compensar os pontos negativos, de carência, reequilibrando o desequilíbrio que esta representa. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O conteúdo do subconsciente da atual maioria humana o prova o cinema, o tipo de crônicas nos jornais, de romances mais difundidos, dos quais o público mais gosta. Basta falar de crimes, processos policiais, roubos, sexo, na forma inferior de violência e vício que muitos se interessam. O que se encontra no fundo da alma humana é a lembrança da recente experiência da fera. Tudo isto revela quais são os instintos ainda dominantes, que com tais meios procuram desabafar com a fantasia, agora que as leis de um mundo mais civilizado proíbem que tais impulsos se concretizem nos fatos. Assim, a mente se satisfaz com tais substitutos, que revelam sua natureza, sempre pronta, a se satisfazer com fatos, logo que desaparece o freio da ordem, disciplina mantida com a força. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Pode haver micróbios patogênicos também no ambiente psíquico, e às vezes pode ser necessário esterilizar tal ambiente, assim como o doente. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Os sofrimentos do indivíduo podem depender de sua incapacidade a se adaptar aos valores e medidas que a maioria faz para si, seja isto por defeito, porque ele é atrasado demais, seja por excesso, porque ele é muito adiantado. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Às vezes um indivíduo pode parecer doente, enquanto ele só se encontra em fase de deslocamento de um nível biológico para outro, envolvido numa crise de crescimento, que não é doença, mas trabalho criador bem sadio. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Quem não possui força, não possui direitos. O povo somente tem direitos quando se organiza e a unidade do número o torna o mais forte. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A ciência descobriu leis particulares, sem levar em conta que, funcionando elas dentro de uma lei maior, universal, que a todas abrange e coordena, não é possível entendê-las no seu verdadeiro valor, nem colocá-las em ação no terreno da prática, no estado de incerteza de quem não conhece o problema. Como cada fenômeno menor se processa em função de fenômenos maiores, assim cada problema particular não pode ser resolvido, senão em função do conhecimento do problema universal e de sua solução. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A originária psicanálise do prof. Sigmund Freud recebeu sucessivas modificações e desenvolvimentos por Adler, Rank, Jung, Stekel etc. Freud viu na personalidade humana, antes de tudo, o elemento sexo, aceitando seus impulsos como fator fundamental. Seu seguidor Jung lhe respondeu que: “o cérebro não pode ser somente um apêndice das glândulas genitais”. Assim, a concepção feminina da personalidade humana, baseada no instinto sexual, foi por Jung substituída pela concepção masculina baseada na vontade de domínio. Cada um dos dois cientistas viu um dos dois aspectos fundamentais e complementares do mesmo fenômeno, portanto, não se contradizendo, mas completando-se. A personalidade humana é um conjunto de dois elementos ou aspectos: macho e fêmea, isto é, espírito de luta, para a função biológica da conquista, e espírito de bondade e amor, para a função biológica da proteção e conservação. O primeiro impulso executa a tarefa da defesa para a afirmação e sobrevivência do indivíduo, o segundo impulso assegura a continuação da raça.(...) Mas, eis que o próprio Jung se encaminhou para uma concepção mais vasta, referindo-se aos princípios gerais de uma lei superior. No seu livro: “O arquétipo é uma presença eterna”, Jung explica o seguinte: (...) “que as neuroses do homem moderno nascem de ofensas que o consciente gerou nos arquétipos. Então esses reagem do inconsciente, perturbando o equilíbrio psíquico do indivíduo. Atinge-se a cura, ajudando o doente a individuar os símbolos do seu próprio subconsciente”. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Já uma nova tendência revolucionária da medicina psicossomática sustenta que existe um liame, entre distúrbios emotivos e distúrbios físicos. Eis então que a própria medicina apoiando-se na psicanálise, procura entender por novos caminhos o significado da doença, afirmando que o indivíduo adoece porque naquele ponto houve uma culpa dele, pela qual se colocou numa posição errada, contra as leis da vida. Culpamos os micróbios, o regime, o ambiente, mas estes podem ser só as causas próximas, secundárias, enquanto as verdadeiras, as fundamentais, são mais longínquas e profundas. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Então, a própria doença representa o tratamento da doença, que assim seria um mal como julga a ciência, mas tal só na hora de sua gênese pelo erro, mas que, mas na hora do amadurecimento atual do processo, seria um mal saudável, um curativo necessário. Então suprimi-lo, como faz a medicina, só como efeito, sem conhecer as causas para eliminar, significa sufocar o natural descarregar-se do mau impulso, que assim fica comprimido, porque impedido de se desabafar, constrangido a se concentrar até chegar a uma nova explosão, que lhe é indispensável, devido ao impulso equilibrante da Lei. Isto muda os atuais conceitos de doença e seu tratamento. Se fecharmos esta válvula de segurança que é a doença, esta acabará explodindo de novo. (...) Mas não é o que está acontecendo no mundo atual, no qual ao lado de tantas descobertas e doenças vencidas, surgem sempre novas em formas diferentes? (...) A conclusão deste parágrafo é que a doença não pode ser “definitivamente” eliminada senão pelo método da penitência e correlativa lição, aprendida para não errar mais, transmitida ao subconsciente, que a retém para o futuro. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Há qualidades individuais, cuja presença a hereditariedade pais-filhos, antepassados-descendentes, não basta para explicar. Todo o processo evolutivo não pode ficar confiado somente à transmissão do organismo físico, pelo fato de que a reprodução se faz na juventude, quando os pais possuem um mínimo de experiência adquirida, enquanto, para que a evolução possa assegurar a sua continuidade e acumular os frutos de seu trabalho, a reprodução deveria realizar-se na velhice, ao fim da vida, quando os pais possuem o máximo de sabedoria a transmitir. . (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Kant afirmou que passar da forma de vida, a do ser vivo, à forma de vida, a do ser que chamamos morto significa: "uma metamorfose da percepção sensória em percepção espiritual. Isto é o que constitui o outro mundo. Não se trata de um lugar diferente, mas só de uma diferente maneira de perceber". (Kant’s Vorlesungen über Psychologie). Eis que Kant intuiu a presença de duas formas de percepção opostas. . (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O ser existe em duas posições, a do dia e a da noite, isto é: no período de encarnado num estado acordado no que respeita a matéria e adormecido no que respeita o espírito; e no período de desencarnado num estado adormecido no que respeita a matéria e acordado no que respeita ao espírito. . (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Um desencarnado é um adormecido a respeito dos vivos, o qual acordará em nosso mundo da matéria pelo seu nascimento físico. Um encarnado é um adormecido a respeito dos mortos, o qual acordará no mundo espiritual pela sua morte. Com esta inversão de posições é possível para o ser um trabalho contínuo, alternativamente num dos dois lados, ao mesmo tempo que ele descansa do outro. . (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

No estudo da personalidade humana, é necessário levar em conta também tais auto-sugestões por nós mesmos impressas no subconsciente no período pré-natal, porque depois no período da vida física elas poderão ressurgir do subconsciente em forma de impulsos instintivos e idéias inatas, enxertando-se irresistíveis na parte determinística de nosso destino. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Só o evoluído sabe viver em estado de lucidez no período de desencarnado, o involuído, nesta fase, fica ignorante, como ele o era em vida. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Com a evolução se torna sempre maior a reserva de sabedoria armazenada no inconsciente, de modo que a de um evoluído pode ser imensa, apesar de não emergir na consciência normal, no período de vida material. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Como nas doenças físicas, também nas nervosas, o fato delas serem ou não contagiosas, depende da predisposição do indivíduo, a qual se encontra nos pontos onde ele antes já tinha recebido outro choque com relativa ferida ou trauma psíquico. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Carl Gustav Jung nos seus contatos com Sigmund Freud, fez a psicanálise dele, chegando a conclusão que o complexo de Édipo fosse o complexo do próprio Freud, que este tomava como base das suas teorias. Conforme o julgamento de Jung, a psicologia freudiana teria sido uma psicologia neurótica. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O problema do tratamento dos complexos e neuroses não é fácil e, na prática, requer sagacidade e adaptações ao caso particular. Mas em linha geral esse trabalho se pode dividir em duas partes fundamentais 1) a parte negativa, cujo objetivo é a destruição do velho, que esteve errado, extraindo assim a causa da doença. Trata-se de arrancar o dente estragado, que dói. 2) a parte positiva, cujo objetivo é a substituição do velho pelo novo, um novo que não está errado, enchendo com um conteúdo certo o vazio produzido pela destruição precedente. É um erro perigoso, na qual caíram as religiões na sua perseguição da natureza humana inferior, o de destruir a vida embaixo, esmagando-a sem substituí-la por formas de existências mais adiantadas. Qualquer destruição é elemento negativo, antivital, que pode ser tolerado só como condição de progresso. Não basta arrancar o dente estragado que dói; é preciso substituí-lo por outro, com o qual o indivíduo possa comer. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A destruição do que é inferior, sem uma contemporânea substituição pelo que é superior, é somente negatividade suicida, contra a qual a vida tem razão de se rebelar, defendendo-se com as suas reações, porque a perda causada pela destruição não é compensada por uma paralela construção positiva. Nestes casos uma tentativa de sublimação pode excitar revolta ou adaptações torcidas, desvios, ao invés de superações, o que é descida e não subida. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Tais indivíduos (os involuídos) fazem isto em perfeita consciência (a do seu nível), assim convencidos, conforme sua forma mental, de ser honestos e religiosos, de possuir e praticar a verdade. Por isso, em nome dela, concordam em condenar quem quer levar a sério os ideais, o condenam porque ele exige dos outros o que para eles é inaceitável, porque inconcebível. O evoluído diz: “mas acabai com esta vergonha de adaptações para entrujar a Deus, praticando uma religião de mentiras e uma moral só de interesse”. O involuído responde: “mas eu não engano ninguém, sou sincero e honesto, é assim que se pratica a religião. Temos o dever de levar em conta as necessidades concretas da vida e de não nos matar vivendo fora da realidade, nas nuvens. Para ser bom religioso, bastam as formas exteriores. Nós as praticamos. Então somos religiosos”. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Ora, quando um indivíduo entra a fazer parte de nossa sociedade, logo se coloca junto dos que possuem a sua forma mental, assim se agrupando com seus semelhantes. Os seus impulsos expontâneos, frutos de sua experimentação nas vidas passadas, o que constitui a sua sabedoria, lhe dizem qual a verdade que ele tem de escolher entre as que encontrou no mundo. E ele, com segurança e em consciência, escolhe a verdade que mais lhe convém, aquela verdade temporária e relativa que, para ele, corresponde a seu temperamento, representa a verdade absoluta. Entre os indivíduos do mesmo tipo biológico, logo surge um entendimento recíproco porque, pela sua idêntica forma mental, eles escolhem a mesma verdade, a concebem da mesma forma, falando a mesma linguagem. Assim eles se unem por afinidade, para funcionar em série, seguindo os mesmos princípios e métodos. "Diz-me para onde vais e te direi quem és". É o impulso de atração que instintivamente liga entre si os semelhantes. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Estes são os dois modelos que a vida nos oferece em nosso planeta com respeito ao fenômeno do sexo, inclusive a raça humana. Deste fato é que derivam neste terreno dois tipos fundamentais de ética:


1) A ética masculina da força, de natureza sexófoba.
2) A ética feminina do amor, de natureza sexófila.

Trata-se de dois aspectos inversos e complementares da ética humana do sexo e a razão dessa sua estrutura. A história da humanidade desenvolveu-se seguindo ora um, ora outro, destes dois tipos de ética. E houve e há povos e raças do 1o tipo, com a respectiva forma mental, amarrados a ética sexófoba; e houve e há povos e raças do 2o tipo, com a respectiva forma mental, amarrados a ética sexófila. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A história oferece-nos períodos masculinos e femininos. Assim, o ser humano vai oscilando alternadamente de um pólo a outro do fenômeno. Ora prevalece, desenvolvendo-se um lado, ora outro, enquanto seu contrário fica à espera. Trata-se de posições e qualidades opostas e complementares. O povo ou o tempo que desenvolve uma, não pode desenvolver a outra. Assim elas têm de funcionar em rodízio, uma de cada vez. Nos períodos de paz, o ser trabalha em sentido feminino (requinte, sexualidade, arte, exterioridade religiosa etc.). Nos períodos de guerra o ser trabalha em sentido masculino (agressividade, conquista expansão política e comercial, inteligência e progresso no conhecimento etc.). No primeiro caso o modelo é a mulher, e o homem torna-se efeminado (como no século XVIII). No segundo caso o modelo é o homem, e a mulher se masculiniza (como no tempo atual de emancipação e independência feminina). No 1o caso é o espírito feminino que domina tudo, inclusive o homem. No 2o caso é o espírito masculino que domina tudo, inclusive a mulher. (...)Os dois polos do dualismo lutam um contra o outro para prevalecer. Logo que um, por ter funcionado, se esgota, o outro leva vantagem sobre ele, e ao contrário. Oscilação que é, porém, também compensação, porque o que se perde de um lado se ganha do outro, e ao contrário. Não se pode existir na plenitude de uma posição, sem que isto gere um vazio correspondente na posição oposta. Não se pode triunfar em cheio, em ambos os pólos opostos ao mesmo tempo. (...)Deste modo, nesta forma alternativa, progride o trabalho para ambos os opostos, trabalho que cada um dos dois tipos complementares compensa e corrige o outro, porque, se assim não fosse, o principio feminino sozinho acabaria apodrecendo na estagnação da inércia, enquanto o principio masculino sozinho não compensado pelo seu oposto, acabaria destruindo tudo. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Nada há de verdadeiramente positivo e construtivo, e nada de negativo e destrutivo em sentido absoluto; mas cada um dos dois elementos é tal somente em relação ao outro, seu oposto. Na substância, ambos sempre cumprem uma função útil a favor e em vantagem da vida, porque cada um, destruindo o que o outro constrói, constrói o que o outro destrói. Isto quer dizer que onde o macho como lutador, destrói com as guerras as vidas que a mulher constrói, acontece também que com a vitória e o trabalho ele constrói os recursos que, para viver, gerar e criar filhos, a mulher destrói. E ao contrário, isto quer dizer também que onde a mulher, para viver, gerar e criar filhos, destrói os recursos que o macho com a vitória e o trabalho constrói, acontece também que com a geração a mulher constrói as vidas, que o macho com as lutas destrói. Tudo isto nos mostra que dentro da natureza existe uma proporção, como uma equivalência entre a massa vital e os recursos que a sustentam. (...)Com esse método a vida estabelece o equilíbrio demográfico em relação aos recursos disponíveis. Método corretivo equilibrador a posteriori, automático, porque se trata de coletividades que ainda não atingiram o estado orgânico, enquanto nas sociedades animais que o atingiram, a geração é regrada a priori em proporção aos meios de subsistência. Isto acontece por exemplo nas famílias de abelhas e formigas, como unidades orgânicas, mais adiantadas do que a sociedade humana. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Temos até aqui explicado qual é a origem da ética sexófoba. O principio geral é que, quando um indivíduo ou povo tem de fazer um esforço que lhe é necessário para vencer na sua luta pela vida, neste esforço ele tem de concentrar suas energias, canalizando-as todas para essa finalidade, evitando todo o desperdício, e por isso desinteressando-se da sexualidade que enfraquece. Eis por que, quem tem de lutar, deve tornar-se sexófobo. (...)Vigorando sempre o principio geral acima desenvolvido, ele pode agora aplicar-se também a um esforço de tipo diferente, dirigido para outros objetivos, o qual leva sempre, como todo esforço, à ética sexófoba. Encontramos essa ética ligada não somente ao esforço da conquista bélica, de tipo militarismo imperialista, mas conexa também a outros dois diferentes tipos de esforço: 1) o econômico, trabalho produtor de riqueza; 2) o espiritual, para atingir a sublimação pela superação evolutiva. O primeiro caso é o da nação norte-americana. O segundo é o do Cristianismo. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Vejamos agora, a respeito da ética do sexo um caso bem mais importante: o do Cristianismo. A sua evidente moral sexófoba responde sempre ao mesmo principio do esforço necessário para realizar qualquer conquista. Vigora então, também neste caso que parece tão diferente, o mesmo principio biológico fundamental pelo qual, quando a luta pela vida o exige, é necessário canalizar neste sentido as energias, para que elas não sejam desperdiçadas por outros caminhos, sobretudo o erótico. Neste caso também, se a forma é diferente, a substância é a mesma. Podemos assim compreender quais foram as primeiras origens e explicar o fenômeno dessa atitude sexófoba do Cristianismo, nas suas formas de catolicismo, protestantismo etc. (...)Desta vez o grande inimigo a vencer, contra o qual se lança o instinto de luta e agressividade, não são outros povos ou o ambiente hostil, mas a própria natureza humana, ainda submersa na animalidade. Então, o conteúdo fundamental que explica, justifica e valoriza o principio sexófobo dentro do Cristianismo, é o conceito de sublimação espiritual. Nem se pode dizer que isso seja biologicamente errado. Pelo contrário, o processo de espiritualização interessa de perto à vida, porque ela significa progresso ao longo do caminho da evolução, que nos seus níveis mais elevados se resolve em espiritualidade. A bondade do objetivo não pode, porém, impedir que a tentativa para realizar tal transformação evolutiva fosse executada com os meios disponíveis que o homem tinha ao alcance das mãos, isto é, com sua forma mental de lutador, e com seus inferiores instintos animais. Aconteceu assim que, para superar a animalidade, ele começou agredi-la a fim de destruí-la, praticando contra ela uma guerra em que os instintos inferiores funcionavam em cheio, e assim confirmando-a e fortalecendo-a sem quererem, em vez de elimina-la. (...)Assim o resultado final foi que, para vencer a animalidade o que foi chamado a funcionar plenamente foi a animalidade. (...)Nasceu assim, por esse impulso de agressividade e psicologia de perseguição, o conceito de amor-culpa, de sexo pecado. O instinto de luta (sexofobia), prevaleceu sobre o instinto do amor (sexofilia). (...) Assim, para atingir a sublimação do amor, foi estimulado e reforçado o instinto de agressividade, que sobre o outro levou vantagem. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

É perigoso esquecer que atrás dos bastidores das aparências exteriores e das teorias religiosas e filosóficas, há uma invencível realidade biológica, que reage, se ofendermos as suas leis, que não é lícito ignorar sem depois ter de pagar as conseqüências do erro. Mas é essa realidade a chave que nos explica o porquê de tantos fatos que depois, sem sabermos como, aparecem na vida. O fenômeno da sexofobia tem as suas razões e raízes profundas na estrutura das leis biológicas e da psique humana, levada por seu egocentrismo (tudo só para si) à rivalidade ciosa na posse, e por isso pronta a lutar contra todos os outros. Isso sobretudo na posse sexual, pela lei de seleção, reservada aos mais fortes. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O subconsciente é uma mina secreta de impulsos inferiores, assimilados na vida animal do passado, sempre pronto a aparecer no intelecto, disfarçados na forma mais nobre para satisfazer a consciência e, assim, sendo admitidos, conseguirem desafogar-se. (...)É possível atingir um acordo universal por espontâneo consentimento coletivo, quando este se refere a uma idéia que tem suas raízes profundas no subconsciente das massas, onde os indivíduos funcionam em série e é fácil assim chegar à aprovação da maioria. Esta aprovação em geral não é resultado raciocinado do conhecimento, mas um produto descontrolado do subconsciente. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Aconteceu assim que dentro do Cristianismo, vestido com a nova roupa de Cristão, ficou o biótipo guerreiro Romano enfraquecido, acrescido do bárbaro do Norte, não enfraquecido, ambos grandes lutadores que, não podendo oferecer senão o que tinham, isto é, o seu instinto de agressividade, o deixaram prevalecer também no terreno do Cristianismo, na forma de perseguição sexófoba. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

É o peso enorme da maioria que, seguindo o seu subconsciente, estabelece as correntes de pensamento e os pontos de concordância, determinando o que é verdade. E quando a verdade chega à realidade, feita por revelação, a massa humana a interpreta, a transforma, a adapta para si, porque de outro modo ela não seria utilizável. Se o Cristianismo quis sobreviver, teve de aceitar essa adaptação: trabalho despercebido, absolutamente de boa fé, porque frutos dos impulsos instintivos do subconsciente, em que a sabedoria da vida, fora do conhecimento consciente dos seres humanos, procurou resolver o contraste num compromisso de adaptação. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Do ideal religioso ficou somente o seu aspecto antivital, de virtude negativa, de moral opressora, porque a destruição do inferior não foi compensada com a construção do superior, nada o substituindo. Difícil e longo é o trabalho de domesticar no homem o animal, e o Cristianismo encontra-se ainda no começo. (...)O anseio de sublimação, em vez de ser incremento de vitalidade em favor do espírito, pela imaturidade da maioria dirigida como agressividade antivital contra o corpo, acabou, sem querer, canalizando as energias comprimidas pela falta de desafogo sexual, no sentido da ferocidade perseguidora, da doença mental, dos complexos psicológicos, dos instintos torcidos, dos desvios e substitutos eróticos, em lugar de as canalizar no sentido da subida. (...)Teria sido melhor enfrentar o problema da sublimação dos instintos com mais inteligência e sinceridade, para resolvê-lo honestamente, com conhecimento, levando em conta as exigências fisiológicas. Assim, para suprimir tudo, exigindo demais, o ser se enredou nas areia movediças do fingimento. Desenvolveu-se aperfeiçoou-se o método da hipocrisia dos aparentemente puros, com a qual, por caminhos oblíquos, se vai evadir, às escondidas, da agressividade sexófoba dos pregadores de virtude. Explica-se, assim, como nasceu o tipo de moral vigorante no mundo atual, herdada desse passado, pela qual os sinceros ingênuos, caindo no erro visível, são condenados, enquanto os astutos, que sabem representar a comédia da virtude, vão para o céu. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A atitude de ferocidade repressiva era natural e passava despercebida na Idade Média, porque era proporcionada à insensibilidade da maioria, e não chocava como hoje nos choca a nós, que a percebemos porque nos encontramos na posição diferente de mais sensibilizados. Por isso, só hoje nasceu aquela diferença, que é o que permite a percepção. O conceito de sublimação dos sentidos se tornará sempre mais compreensível, à medida que a humanidade for evoluindo. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Já falamos noutro lugar que a ética é relativa e em evolução. É lógico, então, que nossa ética seja diferente da ética da Idade Média, porque o plano evolutivo em que o homem vive hoje não é o do passado. Como somos diferente, a psicologia medieval hoje nos aparece feroz, e compreendemos que ela é contraproducente, o que naquele tempo não se concebia que o fosse, porque ela parecia bem natural para os que possuíam aquela forma mental. Ninguém se escandaliza e ofende do que corresponde sua natureza, mas somente isso sucede quando encontramos numa posição diferente. Pela mesma razão, a idéia de um inferno eterno, que noutros tempos era necessária porque o ser irracional não obedecia senão pelo receio do próprio dano, hoje convence cada vez menos e por isso se torna tanto mais contraproducente, quanto mais o homem aprende a raciocinar. Não é com a severidade das punições, quer civis, quer religiosas, que se pode eliminar o mal e civilizar o mundo. Temos visto quais os resultados que produziu o sistema de terror, civil e religioso, na Idade Média; a humanidade evoluiu não graças a ele, mas apesar dele. A imposição gera reação defensiva, não educa, gera por defesa a mentira, não a sinceridade e a verdade, produz a revolta, não a colaboração. A obediência obtida com a força, é a traidora do escravo que odeia o patrão, e espera qualquer oportunidade para rebelar. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A universal luta pela vida não é brincadeira, é uma necessidade terrível para todos. Cada fraqueza pode custar a vida. Não condenamos o Cristianismo. Mas reconhecemos que ele não podia fazer mais do que fez, porque não há religião que possa permitir ao homem sair de súbito do seu nível de evolução sem ter de obedecer às leis que nele vigoram. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A nossa sociedade atingiu o triunfo desse método (astúcia) no frívolo século XVIII em que, com o maior respeito formal pela religião e com pleno triunfo do poder da hierarquia eclesiástica, com a mais hipócrita homenagem aos ideais religiosos e o puritanismo sexófobo, a classe privilegiada, fervorosa em todas práticas edificantes, praticava uma feroz exploração dos pobres e, debaixo da moral oficial, uma vida de livre licenciosidade. Esse foi o século mais corrompido, em que, porém, se construíram mais igrejas e capelas, quase para cobrir com a plenitude exterior, o vazio interior. Triunfo da hipocrisia, com a qual foi possível conciliar as duas exigências opostas: a de ficar de posse de um ideal, mas colocando-o, longínquo, no céu e no futuro, bem afastado, para ele não incomodar, e a exigência de vencer na luta, o mais facilmente possível, conduzindo-a às escondidas, coberta de ideais, com aparência evangélica. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Como para as doenças há prontamente médico e farmácia, para os pecados as religiões oferecem todos os remédios. A função deles é exatamente de limpar pecados, de modo que, para sua difusão e prosperidade, a abundância de pecadores e pecados é útil, assim como, para a prosperidade dos médicos e farmácias, é útil a abundância de doentes e doenças. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

É necessário imparcialmente reconhecer o direito de a vida atingir, com todos os meios, custe o que custar, a sua finalidade, que é a geração da quantidade, que lhe é necessária para dela depois, com a seleção, tirar a qualidade, que faz a evolução. Não está contra as leis da vida que, para a maioria ainda imatura, os esforços que a sublimação espiritual requer representam um impecilho, um peso do qual se deve libertar. Não se pode exigir que um involuído obedeça às leis superiores, que estão fora da sua forma mental, porque situadas acima do seu nível de evolução. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Em cada plano de existência a vida raciocina de modo diferente. Amanhã, numa humanidade mais evoluída, a vida quererá aplicar princípios mais adiantados, quais são os da sublimação espiritual. Mas hoje, estes, para a involuída humanidade atual, para a maioria imatura, podem representar uma negação antivital, contra a qual a vida reage defendendo-se. Na obra de Deus não se pode dizer que coisa alguma não seja perfeita, enquanto estiver cumprindo a sua função . Se nos aparece de maneira diferente, é porque não entendemos o seu lugar e sua função. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A natureza pouco interessa a vida e o bem estar do indivíduo. A sua finalidade é a seleção de uma raça de fortes e, por isso, o sacrifica. (...)O raciocínio da vida não é o do homem. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Uma nova ética não se pode encontrar a não ser subindo a um plano de vida superior, onde o ser funciona com outra forma mental, aquela que é necessária para agir com inteligência e consciência. Mas isto não é fácil, porque se trata de subverter e renovar a psicologia radicada através de milênios no subconsciente, e intervindo no próprio âmago da vida, onde se realiza o fenômeno da evolução. Levantar o homem de um plano de existência para outro, significa realizar uma transformação biológica profunda. Até que isto aconteça, será difícil aplicar estas teorias acompanhadas das qualidades necessárias, e por isso não cair em outras conseqüências tristes. Tudo o que podemos agora fazer é demonstrar a necessidade lógica de algumas soluções, que poderão ser realizadas num longínquo futuro, por uma humanidade mais inteligente e honesta. Até então a atual terá de ficar, como é lógico, na sua posição presente e sofrendo as suas conseqüências. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O Cristianismo teve de iniciar uma luta titânica contra a animalidade humana, bem enraizada e poderosa, luta realizada em tempos muito mais ferozes do que os nossos, quando a forma mental, os pontos de referência e os problemas eram diferentes dos atuais. Mas também o Cristianismo não pôde deixar de ser arrastado pelo progresso que tudo renova. Não lhe é possível, porém, correr demais, para não se destacar das massas lentíssimas nos seus movimentos evolutivos. Por isso não pode operar transformações rápidas demais, nem tornar-se pioneiro do novo, o que poderia parecer revolução, e na massa gerar desordem. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Quando toda a humanidade está mergulhada num nível inferior de evolução, a pregação de uma teoria nova não pode assumir o poder de subverter as leis biológicas, deslocando de uma só vez os seres daquele seu plano de vida para outro mais adiantado. (...)Por isso o evangelho é uma meta longínqua, ainda a atingir, e não uma forma de vida atual. No presente estágio da evolução da humanidade vigoram leis bem diferentes do que as da biologia muito mais evoluída do Evangelho; e o Cristianismo, para iniciar o trabalho lento de civilizar o homem de maneira a que ele chegasse até lá, não teve outra possibilidade a não ser a de assumir, ele também, os métodos da ética de luta, os únicos compreensíveis naquele ambiente. Foi assim que o Cristianismo, para sobreviver, teve de adaptar às condições do mundo, usando os métodos deste, impondo-se à força como regra de disciplina, antes de tudo organizando-se na Terra como hierarquia de lutadores, providos de recursos materiais e armas espirituais. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Nos castos, inertes, e nas pedras não há impulso algum para sublimar; os frígidos não possuem o calor do amor que é indispensável para se tornarem santos. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O caminho para Deus, não está nos atritos da luta, mas na harmonização, porque a vida evolui da desordem para a ordem e não ao contrário. Por isso é necessário não contrapor, mas harmonizar espírito e corpo, moralidade e sexo, misticismo e sentidos, ideal e instintos. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A humanidade dos séculos passados, muito mais grosseira, ignorava os nossos problema psicológicos, tal qual Freud no-los revelou, demonstrando como nascem tantos complexos que alteram a estrutura da personalidade. A humanidade atual está se tornando neurótica, precisando assim de uma ética menos grosseira e mais inteligente, menos agressiva e mais benévola. A civilização é uma forma de ascensão em benefício da vida, de modo que não pode deixar de tudo suavizar com o tempo. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Não se pode menosprezar a função do sexo como elemento equilibrador na formação e na saúde psíquica da personalidade. Um dos aspectos fundamentais do valor da obra de Freud é o ter demonstrado a grande importância da influência do sexo na vida individual e social, é a intuição clara do prejuízo que a harmonia do indivíduo e da coletividade recebeu com a moral sexófoba. Essa se reduziu por fim num desabafo de instintos de agressividade contra a mais poderosa benéficas e cristãs das forças da vida, que é o amor, com todas conseqüências morais, sociais e patológicas, daí decorrentes. Freud num escrito seu declara: "Todo o nervosismo do nosso mundo contemporâneo é devido à ação deletéria da repressão sexual, típica da nossa civilização". O tema central da doutrina freudiana é de fato: "a origem sexual de quase todas as neuroses". (...) Parece que a civilização cristã tenha trazido consigo o desenvolvimento de uma quantidade de formas psico-patológicas individuais e sociais. Freud descobriu as chagas que havia debaixo das aparências, com que o homem moderno procura cobrir essa sua falência. Mas infelizmente Freud limitou-se a ficar no terreno curativo, e não entrou no das reformas sociais, porque isto lhe teria sido muito mais difícil, pela resistência que a própria humanidade opõe a toda reforma de idéias que se encontrem profundamente assimiladas no subconsciente. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

As ideologias políticas, os diversos sistemas em que se divide o mundo, em substância são só formas diversas do mesmo egoísmo e espírito de agressividade para chegar ao domínio em favor de algumas classes escolhidas. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Não é o alto nível econômico e o padrão de vida, nem é o poder político, ou a supremacia bélica, ou o domínio do mundo, que podem sanar o mal, mas só um amor que nos encha de simpatia para com todos os seres e nos devolva a perdida alegria de viver. (...) A atual tendência do mundo para concentrar tudo na conquista bélica ou na superioridade econômica, igual princípio de luta ao qual obedecem hoje as duas maiores potências do mundo, o Brasil poderia contrapor uma contribuição sua e única no planeta, a da bondade e do amor. A Europa já viu bastante o resultado da aplicação das teorias do herói da força, o super-homem de Nietzche. A nova mensagem é a de viver em paz e amizade com todas as criaturas do universo. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Hoje, o trabalho que mais interessa a vida, não é de esmagar uns aos outros para selecionar o mais forte, mas o de fazer a humanidade um corpo coletivo unitário, como sociedade orgânica. Quando se construiu a sociedade orgânica das células que constituem o corpo humano, esse resultado não foi atingido inventando-se sistemas ideológicos e com métodos organizadores exteriores, mas antes transformando a natureza dos elementos singulares componentes para torna-los aptos a viver, com todas as qualidades necessárias, não mais num estado de desordem como indivíduos separados, mas no estado orgânico, em que as células se encontram no corpo humano. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Se nestes capítulos falamos de sexofobia, foi porque o fenômeno do amor tem uma significação profunda, universal. Dele depende a solução do problema da convivência social. Ele é um dos mais vivos e urgentes a resolver, porque da sua solução depende a pacífica colaboração entre os semelhantes, acabando-se os atritos da luta, de que nascem os sofrimentos. Ninguém pode viver sozinho. Quanto mais a humanidade evolui, tanto mais se organiza e funde os seus elementos. A coexistência se consolida cada vez mais e torna-se problema vital em todos os campos: política, indústria, religião, família, cultura, trabalho etc. O problema das relações sociais é um problema de reciprocidade e compreensão. Neste sentido a máquina social, hoje, funciona muito mal, fato que custa lutas, resistências, duras reações, choques e dores para todos. Com isso pagamos, como é justo, o nosso erro. Constituiria uma vantagem incrível tornarmo-nos suficientemente inteligentes de maneira a sabermos evitar o erro, que tão caro nos custa. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

O fato é que a humanidade é um todo psicológico, dentro do qual fica tudo o que nele nasce, Ali as vibrações nervosas circulam como o sangue no corpo humano. Para a vida de todos e de cada um, é necessário que o sangue circule. Conforme as células sejam sadias ou doentes, ele traz saúde ou sofrimento. Mas é sempre preciso comunicar, seguindo os caminhos do grande corpo coletivo; e para comunicar têm de ficar abertos os canais de circulação. A bondade os abre, a agressividade os fecha. Fazer o bem é vital, fazer o mal é antivital para todos. No primeiro caso despertaremos confiança e todas portas se abrirão. No segundo caso despertaremos desconfiança e todas as portas se fecharão. Então, o próximo será constrangido a colocar-se em posição de ataque e defesa, ele se movimentará no sentido da luta e, uma vez movido o primeiro passo neste sentido, este impulso negativo continuará repercutindo, tudo destruindo no seu caminho, até que um oposto impulso de amor o vença, o neutralize, o apague, a ele se substituindo com a sua positividade salvadora. Assim cada um vai enviando mensagem e esperando resposta . Mas como é possível receber boas respostas de más mensagens? Todos gostariam de receber confiança e amor, mas às vezes estão transmitindo o oposto. Seria necessário levar em conta o que temos de pensar a respeito dos outros, para receber dos outros o que quereríamos que eles pensassem a nosso respeito. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

A ilusão de nossa ignorância está em acreditar que o mal possa ser lançado só contra os outros, sem que ele repercuta em nós. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

Logo que na Terra surge uma força, eis que aparece sua contra-força, que a equilibra. Mas ao invés de dizermos "eu", dizemos "nós", então também os outros são levados a dizer "nós". Eis a concórdia e a paz. A mansidão nos outros nos tira a vontade de lutar, porque não há mais motivo para isso. Há leis psicológicas que os inteligentes podem usar melhor ainda do que se faz quando se usa uma técnica de box. (P. Ubaldi - Princípios de uma nova Ética)

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