Para que cada fenômeno avance na evolução, é necessária a consolidação das suas bases, resultante da repetição e revisão do passado. (P. Ubaldi - História de um Homem)
Sob pena de trair o supremo escopo da vida, que é o de subir, a forma de luta que é a guerra não pode ser abandonada enquanto o homem não tenha aprendido a transformá-la em formas superiores de luta, dirigidas a fins superiores. É necessário que a humanidade tenha primeiro a força de transportar-se, inteira, para um plano mais alto. Hoje, a guerra e o amor se equilibram no recíproco esforço corretivo. Se esta força do amor, que conserva e multiplica, não fosse corrigida pela destruição seletiva e reconstrutora da guerra, terminaria igualmente na estagnante podridão da morte. Não basta multiplicar os homens, com o amor. É necessário refazer os povos, com a guerra. Proteger e prolificar não podem ser mais do que um meio para atingir o fim, a que só a luta conduz: destruir para reedificar. (P. Ubaldi - História de um Homem)
Por homem comum, ou normal, ou qualquer, entendemos o tipo dominante, modelo em série, com a sua psicologia uniforme. Esse, não há dúvida, existe na prática. É o homem da rua, o que constitui o público anônimo e amorfo, um tipo a que se reduzem todos os outros, no momento e pelas exigências da normal convivência social. É o homem da mediana cultura dos jornais, simplista, restrito aos elementares impulsos animais, envernizado de alguma erudição e educação; o homem que vegeta, luta pela mulher e pelo amor, pelo necessário e pelo supérfluo, permanecendo no campo material. É o homem que pensa por si e pelos seus, movido pelos instintos fundamentais da vida, incapaz de vibrar ante as altas paixões do espírito. O homem que não sabe caminhar senão em rebanho, que não sabe pensar senão em si, que não sabe fazer senão aquilo que todos fazem. Ele é feito de muitos homens diversos, de muitos tipos de gradações. Ele é como a expressão pública dominante, à qual todos se equiparam, pelas necessidades da vida prática, nas relações sociais. Homens, até mesmo, de alta percepção, homens de todos os níveis, assumem, pela necessidade prática, a expressão desta psicologia dominante, que resume os traços do maior número prevalecente. Ela é um meio de se entenderem, é a unidade monetária das trocas e contatos comuns, um ponto prático de referência. É a psicologia das ruas, comum a todos, como um hábito que todos devem adquirir quando descem à rua. É a psicologia corrente, que faz a opinião pública e o uso, a que todos se adapta, para poder existir: a religião, a imprensa e todas as derivações da vida pública. (P. Ubaldi - História de um Homem)
Judas via as coisas do ponto de vista da terra e Cristo, do ponto de vista do céu. Partindo desta base, é lógico que Judas se considere traído por Cristo, tanto quanto Cristo se poderia considerar traído por Judas. Se as metas eram opostas, era fatal o encontro das forças e a tragédia da traição. Judas aspirava a uma grandeza terrena e por isso seguia Cristo. Quando percebeu que o Mestre não trazia senão bens espirituais, quando descobriu que a grandeza que se poderia esperar de Cristo não era terrena, mas apenas celeste, então Judas se desiludiu e, na sua lógica, sentiu-se no direito de se considerar traído e, portanto, de se vingar, restituindo a traição recebida. Esta é a psicologia do mundo, que deseja alcançar os seus fins e não admite outros. A base da traição é esta anteposição de uma finalidade a outra e esta diferente valorização das coisas. (P. Ubaldi - História de um Homem)
O mundo preocupa-se com outras coisas. O seu gênio construiu a máquina e agora está certo de que com ela ganhou mais um escravo que lhe torna mais cômoda a vida. E a máquina é quem manda e se faz servir. O homem criou a máquina, mas não criou ainda o juízo para servir-se dela, o que é muito mais difícil. E corre, freqüentemente só por correr, para servir à máquina que corre. (P. Ubaldi - História de um Homem)
O pensamento das leis da vida exprime sem discutir, por assomos, não com demonstrações e arrazoadas, mas com fatos. O mundo é uma realidade concreta; cada um de seus pensamentos se revela em forma de ação. Não se diz - vive-se. Obedece-se sem pedir explicações. As leis da vida fazem-se obedecer e não se preocupam de fazer-se compreender. E cada um vai pelo seu caminho, com seus riscos e suas metas instintivamente, irresistivelmente, com suas boas razões para segui-lo, mesmo que não o compreenda. (P. Ubaldi - História de um Homem)
A lógica da terra se exerce através de "três leis" que todos vivem, inclusive os que as ignoram e as negam, e que se encontram presentes sempre e em qualquer lugar como linguagem universal da vida. Essas leis não são somente uma norma; são uma imposição concreta que fala e obriga à obediência através dos três instintos fundamentais: a "fome, o amor , a evolução".
A "fome" é a lei fundamental que preside à conservação individual, que implica, impõe e justifica o egoísmo a que está confiada a função básica da vida: proteger-se contra tudo e sobreviver a qualquer preço. A vida funciona por unidades egocêntricas que jamais abdicam. Aumentando, a fome se torna o centro de todos os outros apetites e o egoísmo o centro de todas as aspirações. Esta é a primeira, irrevogável e fundamental posição da vida, que é egocêntrica e afirma: "eu sou".
O "amor" é a segunda lei, continuação e complemento da primeira. O egoísmo cinde- se e se prolonga em outro instinto, que preside à conservação da espécie. Aqui, o indivíduo não luta para proteger a si mesmo, mas para proteger seus filhos. É a segunda posição da vida, já não individual mas social, nascendo a família como primeiro núcleo, e partindo do menos para o mais - família, cidade natal, região, nação, raça, humanidade. E a coletividade humana, posição egocêntrica mais vasta, afirma: "nós somos ".
A "evolução" é a terceira lei. Como a segunda não aparece depois de satisfeita a primeira, também a evolução não pode atuar senão depois de satisfeitas as duas primeiras. Esta lei, a última a aparecer, continua, completa e coroa as duas precedentes. Segundo ela, o indivíduo não luta pela sua conservação, nem pela da espécie. Superando o problema da proteção, trava-se a batalha da seleção do melhor, para que a espécie atinja formas de vida sempre mais altas. É a terceira posição da vida, posição coletiva, dinâmica, que diz: "nós avançamos". É, portanto, a lei da evolução, seleção e expansão e por meio dela a humanidade se mantém em marcha pelos caminhos do progresso.
Estas três leis correspondem às três dimensões do espaço - linha, superfície e volume. São como os três planos de um edifício: não se podem edificar os andares superiores sem ter edificado primeiro os de baixo. Os três instintos correspondentes surgem e agem sucessivamente, sempre após a satisfação dos precedentes que são a base. (P. Ubaldi - História de um Homem)
Portanto, também o super-homem deve lutar pelo que é, na defesa das coisas superiores que ele representa. O espírito de sacrifício, a piedade, o altruísmo evangélico encontram um limite neste dever. Aquele que têm qualidades não têm o direito de sacrificar seu rendimento para o prazer dos que não merecem tal sacrifício, porque, assim fazendo estariam privando dos resultados aqueles que o merecem. O amor ao próximo se torna defeito quando se desenvolve no sentido destrutivo e não construtivo. É verdade que a dor é a grande mestra da vida, mas não basta sofrer - é preciso sofrer utilmente. A resignação estupidamente passiva, o desperdício das próprias energias na suportação paciente de contrariedades é inútil porque moralmente improdutiva. Não é virtude, mas culpa. Não se tem o direito de se consumir para se suportar um choque, nem se sacrificar um nobre trabalho para se renunciar ao necessário. A vida deseja rendimento e não sufocação das qualidades. A dor deve ser escola e instrumento de ascensão e não suicídio. (P. Ubaldi - História de um Homem)
As leis da vida não admitem que o egoísmo, agindo na defesa do ser, ceda lugar ao altruísmo que é a sua negação, a menos que, em compensação, se consiga adquirir um rendimento que supere ou ao menos valha aquilo que se perde. Um sacrifício louco, um altruísmo simplesmente destruidor, uma perda de utilidade que não consegue ressurgir em alguma reconstrução, é um erro biológico, um condenável ato antivital.(P. Ubaldi - História de um Homem)
A ascensão espiritual nem sempre é retilínea e que muitas vezes ela não se consegue senão por ação e reação, como as oscilações de um pêndulo entre o bem e o mal. (P. Ubaldi - História de um Homem)
Não acreditava em certas bondades outonais, em certas tardias conversões com as quais o homem pensa poder tornar-se melhor e merecer a salvação. Esta tem que ser o resultado de lenta maturação, de um caminho que tem de ser percorrido inteiro. Não se podem aplicar, no campo das severas mas justas leis do espírito, o sistema da abreviação e do arrivismo que dá resultados no mundo. O céu não se violenta pela força e não se conquista com a astúcia, como se dá com as coisas da terra. Estas brutalidades não conseguem subir até lá em cima: permanecem em seu reino. É preciso ter trabalhado no tempo próprio e vãs devem ver as tardias invocações piedosas, pois que a lei divina é verdadeiramente justa. Converter-se e trabalhar no fim já é muito, mas é apenas começar; urge trabalhar e concluir. (P. Ubaldi - História de um Homem)
O vértice de exaltação do mundo é justamente o desequilíbrio que exige compensação. É a preparação lógica e natural da agressão do mundo (Domingo de Ramos) (P. Ubaldi - História de um Homem)
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