Página Principal | Download | Biografia | Álbum Fotográfico | Links | Artigos |

A Segunda Criação

Pedro Orlando Ribeiro

MENSAGEM ORIGINAL

    Amigo Pedro Orlando, estamos no estudo de A Grande Síntese e gostaria de tirar uma dúvida. No capítulo 14 final do primeiro parágrafo esta escrito:

    "Da imensa tempestade nasceu a matéria. Deus criou".

    Como eu já tinha lido "Deus e Universo", e "O Sistema ", aprendi que o Universo não é a verdadeira criação e que não podemos atribuir a Deus um Universo que demonstra ser o oposto da perfeição. "Não se pode sair do dilema: ou atribuir a esta obra a Deus, e Deus não é Deus; ou então atribui-la a outra causa; mas, em vista de no todo só existir Deus e Sua criatura, só nos resta atribuir esta obra à Sua criatura" (O Sistema). A dúvida: "Quem criou o Sol, o céu e o mar ? Fomos nós os co-criadores da criação primeira e única ?" Gostaria que me ajudasse nesta resposta.

    Um grande abraço e muito obrigado pela sua ajuda sempre esclarecedora !!!
Murilo.

RESPOSTA

Prezado amigo Murilo:

    Antes de mais nada é preciso termos em mente o ciclo involutivo-evolutivo para compreendermos como os temas desenvolvidos nos três livros básicos do pensamento Ubaldiano (A Grande Síntese, Deus e Universo e O Sistema) se relacionam com este ciclo.

    O livro Deus e Universo descreve a 1ª criação que deu origem ao Sistema perfeito e a queda de parte das criaturas no nosso mundo material (2ª criação), originando assim o semiciclo involutivo.
A Grande Síntese mostra a recuperação da queda, ou seja, o semiciclo evolutivo.
O livro O Sistema, por sua vez, funde as duas concepções numa única visão de conjunto.

    É importante lembrar que A Grande Síntese foi o primeiro livro a ser escrito. Em seguida foram escritos Deus e Universo e O Sistema. Estes três livros não foram publicados um logo após o outro, entre eles existem outros volumes cujos temas são aprofundamentos e exemplificações das teorias expostas nos dois primeiros.

    Uma vez que A Grande Síntese foi o primeiro livro a ser lançado, Ubaldi não poderia se referir a Teoria da Queda, pois este tema só foi desenvolvido no volume Deus e Universo, (o 10º da obra completa). É por essa razão que, para facilitar a compreensão do leitor, ele empregou a expressão bíblica Deus criou na frase: "Da imensa tempestade nasceu a matéria. Deus criou ". Na realidade, sabemos pela leitura dos outros dois livros que a matéria não "nasceu" e sim "involuiu " de uma fase superior: a energia e esta, por sua vez, é uma involução do pensamento. Da mesma forma podemos concluir que o Sol, o céu, o mar e tudo que existe no Anti-Sistema, até nós mesmos, os homens, são produtos da involução, pois todas as coisas do nosso Universo decaído são constituídas pela triplicidade matéria, energia e pensamento.

    Ubaldi planejou a sua obra filosófica sabendo de antemão que o leitor está mais interessado, em primeiro lugar, em compreender se existe uma diretriz e uma finalidade para a vida e, somente depois, perguntará sobre as causas que originaram este mundo, que lhe parece caótico. Assim, Ubaldi iniciou a obra descrevendo o semiciclo evolutivo, mostrando como se processa e desenvolve a evolução através do fluxo g ® b ® a. Embora se refira às fases de retorno ao descrever os famosos gráficos de A Grande Síntese (figuras 2 e 4), ele não demonstrou, neste livro, as causas primeiras que determinam a oscilação de todos os fenômenos entre fases construtivas e fases destrutivas. Estas causas só foram reveladas no livro Deus e Universo ao descrever a Teoria da Queda. Foi neste livro que ficamos cientes porque todos os fenômenos do Universo, até os mais insignificantes, funcionam sob um modelo único, isto é, todo o transformismo universal segue o mesmo padrão de funcionamento. Isto significa que o motivo da queda se repete no macrocosmo e no microcosmo, ou seja, do átomo aos universos de universos.

    O motivo da queda está presente até nas coisas mais corriqueiras do nosso dia a dia, por exemplo: o ato de caminhar é reflexo do ciclo involutivo-evolutivo, pois ao darmos o primeiro passo o corpo tende a cair para a frente ( semiciclo involutivo, repetição do motivo da queda), ao darmos o segundo passo, com a outra perna, recuperamos o equilíbrio (semiciclo evolutivo). No repetir incessante deste ciclo fechado acontece o deslocamento da pessoa de um lugar para outro. Outro exemplo que podemos citar é o da alimentação; ao alimentarmos destruímos os alimentos pela mastigação e pela digestão (semiciclo involutivo, destruição, queda) mas, através do metabolismo fisiológico é feita a renovação das estruturas celulares, e a produção da energia necessária às manifestações interiores e exteriores da vida, incluindo aí a energia nervosa que origina o pensamento (semiciclo evolutivo, construção).

    Outro ponto a salientar é que a 1ª criação originou um Sistema orgânico hierarquizado que nos indica que todas as criaturas não são iguais embora sejam semelhantes pois são feitas da mesma substância divina. Assim, pelo fato do Sistema ser hierarquizado, a queda não foi igual para todos, os que estavam mais em cima caíram mais embaixo. Houve, portanto um EMBORCAMENTO nas posições relativas das criaturas do Sistema no Anti-Sistema. Desta forma podemos supor que muitas caíram até o nível da matéria e outras podem ter caído um pouco acima em universos mais evoluídos que o nosso, onde já não existe a fase matéria. Assim esta hierarquia emborcada explica a diversidade dos seres existente no nosso mundo que vai do átomo (que é também uma individuação) aos corpos estrelares (sol) e planetários, às individuações da energia até ao homem e as formas imponderáveis como as idéias (noúres).

    Alonguei muito e fui além de uma simples resposta com o propósito de mostrar que qualquer fenômeno do nosso mundo pode ser explicado a partir de um conceito simples como o do ciclo involutivo-evolutivo, passando pela teoria da queda e pela noção de que tudo é individualizado e hierarquizado no Universo. É bom frisar que a expressão 2ª criação foi usada apenas para facilitar a compreensão pois na realidade o que aconteceu foi um transformismo involutivo e não propriamente uma criação.

    Concluindo podemos afirmar que não somos co-criadores do Sol, do céu e do mar mas sim individuações como eles com a diferença que estamos num nível evolutivo mais adiantado. Talvez seja por essa razão que São Francisco de Assis escreveu a seguinte oração onde fala do irmão Sol e da irmã Lua:

Cântico Das Criaturas

Altíssimo, onipotente, bom Senhor,
a Ti a glória, as honras, o louvor,
e todas as bênçãos.
A Ti só, Altíssimo, sejam dadas
e homem nenhum é digno de nomear-Te.

Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
especialmente o mestre irmão sol
que só por si madruga e que nos ilumina.
E ele é belo e radiante e com grão esplendor,
e de Ti, Altíssimo, ele é testemunha.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e as estrelas
que no céu criaste claras e preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento,
e pelos ares sombrios ou serenos ou com todo o tempo
que são das criaturas mantimento.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água
que é tão útil e é humilde e preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo
pelo qual de luzes se abre a noite
e é belo e alegre e é robusto e forte.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã a nossa madre terra
que nos sustenta e governa
e produz tantas frutas, coloridas flores, e as ervas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelos que por teu amor, perdoam
E suportam enfermidades e tribulações,
benditos aqueles que tudo suportam em paz
e que, por Ti, Altíssimo, serão coroados.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã a nossa morte corporal
da qual homem vivente algum há-de escapar,
ai daqueles que morrem em pecado mortal
Bem-aventurados aqueles que cumpriram a tua santíssima vontade,
porque a morte segunda não lhes fará mal.
louvade e bendizede o meu Senhor, e graças dade,
servide-O todos com mui grã humildade.

    Pedro Orlando Ribeiro     

Página Principal | Download | Biografia | Álbum Fotográfico | Links | Artigos