Mensagem Original
1) Como Deus forma conceitos? Como Deus escolheu o que ia ser?
Como Deus já possuia em si, de forma acausal, a sabedoria, amor, onipotência e onsciência infinitas?
Porque Deus criou o Sistema dentro de si?
Resposta
Prezado amigo,
Vamos analisar a sua questão por partes.
1) Como Deus forma conceitos?
O substantivo Conceito deriva do verbo Conceber que significa formar (uma idéia) na mente; inventar, criar, idealizar conforme nos revela o Dicionário Houaiss.
Dessa forma, sua questão pode ser reescrita da seguinte forma: Como Deus criou? Creio que os significados acima estão bem relacionados, pois a primeira ação no ato de criar é de formar uma idéia na mente. Assim, os fundamentos de qualquer criação ou invenção, sejam elas de natureza material ou espiritual é a idéia. A conclusão é lógica pois Deus é em essência um Ser espiritual ou seja um Ser que opera unicamente com idéias. Deste modo, podemos concluir que Deus devido a sua exclusiva natureza espiritual só criou seres à sua semelhança, ou seja, seres espirituais.
Você, com muita razão, deve estar perguntando: Então como apareceu a matéria? Esse questionamento é respondido pela Teoria da Queda, desenvolvida por Ubaldi nos seus livros (principalmente no Livro Deus e Universo). Ubaldi, descreve o surgimento do SISTEMA (1ª criação), e a sua posterior queda no nosso universo material (ANTI-SISTEMA) (2ª criação). Os espíritos foram criados perfeitos e livres dentro de um organismo hierarquizado constituindo um Todo harmônico, sendo Deus o vértice desta hierarquia. Estes seres eram perfeitos porque foram criados da substância de Deus, cujo atributo principal é a perfeição. A criatura que vivia num sistema hierarquizado quis ser igual ao Deus criador, advindo daí a queda (2ª criação).
As explicações para este fenômeno da queda estão nos atributos fundamentais que caracterizam a individualidade: o egocentrismo e o amor. O egocentrismo subtende o conceito de liberdade e de separação. Já o amor representa a união, é a força reequilibradora da unilateralidade do egocentrismo. A perfeição de um Sistema hierarquizado está no equilíbrio harmônico entre estas duas forças opostas e complementares. É fácil concluir que num Sistema dito perfeito não se pode cercear a manifestação isolada de qualquer uma destas duas forças. Assim, num sistema perfeito, é direito da criatura a prática e o uso de seus atributos. Se o equilíbrio fosse determinístico não existiria a liberdade e nem o amor e, desta forma, o Sistema seria uma imposição escravagista. Como o Sistema é hierarquizado, o conhecimento da criatura era proporcional à sua posição no Sistema, o ser não poderia saber quais seriam as conseqüências do abuso.
Parte do Sistema se fragmentou em suas individualidades perdendo a sua característica orgânica. A queda não foi igual para todos pois se tratava de um sistema orgânico hierarquizado. Temos aí a explicação para a infinita diversidade dos seres que vemos no nosso mundo. Esta diversidade de individualidades vai desde o átomo ao homem evoluído. Como o Sistema é hieraquizado a queda não foi igual para todos, assim surgiu a matéria no ponto mais baixo da queda. A "criação" da matéria é, portanto, resultado da revolta. A matéria é, em outras palavras, um emborcamento das qualidades espirituais das criaturas. Conforme Ubaldi, esse emborcamento diante da realidade das coisas, nos mantém num estado que poderia chamar-se de contínua alucinação.
Outro ponto a considerarmos é a natureza última da Divindade. Creio que para compreender a razão porque Deus nos criou basta considerarmos que a essência última da Divindade é o Amor. É do princípio do Amor é que se derivou todos os outros princípios e tudo o que existe. Ubaldi no livro Deus e Universo esclarece: Antes que qualquer coisa tivesse princípio, fora do tempo, nascido depois, existia Deus que foi, é e será sempre o Todo, ao qual nada se pode tirar, nem acrescentar, mesmo em sua criação, que não pode estar acima ou além, mas sempre, como Sua emanação. Sua característica fundamental era o amor, qualidade pela qual se exprime a natureza de Deus, princípio de que derivam todos os outros, primeiramente a liberdade do ser e, depois, as outras como o bem, a bondade, a harmonia, o poder, o conhecimento, a beleza. a felicidade etc.
Vemos, assim, que o íntimo fundamento da criação é o AMOR. Ora, para que exista o Amor é necessário que exista dois termos o amante e o amado, ou, se colocarmos em termos teológicos, Criador e criatura. O Amor busca a complementaridade. Assim, creio eu, que foi esta a razão porque Deus destacou do Seu seio, por Amor, seres feitos à Sua imagem e semelhança, para amá-los. Desta forma surgiu o Sistema orgânico hierarquizado. O Sistema é Hierarquizado porque no caso do Amor entre as criaturas seria um absurdo a existência de dois entes perfeitamente iguais, ou seja clones de si mesmos. Mesmo se admitíssemos que esta hipótese absurda fosse verdadeira, como seria possível a existência de Amor entre um ser e sua imagem espelhada?
2) Como Deus escolheu o que ia ser?
Penso que você quis dizer: Como Deus escolheu o que ia ser a criação? pois, seria absurda a questão Como Deus escolheu o que ELE iria ser? já que Deus é Eterno e, portanto, não tem principio e nem fim, isto é, Deus é ATEMPORAL. A dimensão tempo é um produto da queda. Deus É , logo, nunca podemos dizer Deus foi ou será. Feita essa ressalva, podemos afirmar que a criação é fundamentada no AMOR conforme descrevemos no parágrafo anterior. Então conclui-se que a motivação de Deus para criar é o AMOR pois sua essência última é o AMOR.
3) Como Deus já possuia em si, de forma acausal, a sabedoria, amor, onipotência e onsciência infinitas?
Suponho que ao usar a expressão forma acausal você quis dizer que os atributos divinos que enumerou não tiveram uma causa, uma origem. De fato esses atributos não podem ter uma origem pois Deus é Eterno, de acordo com o acima exposto.
4) Porque Deus criou o Sistema dentro de si?
Sendo Deus infinito em todos seus atributos, ELE não poderia criar o Sistema fora de Si devido a Sua infinitude.
Esse fato nos leva a inferir que o Mal também está dentro de Deus. Parece um absurdo essa afirmação, mas, se considerarmos o conceito de emborcamento que descrevemos num dos parágrafos anteriores, poderemos concluir que O Mal é um emborcamente do Bem e, portanto uma alucinação das criaturas decaídas. Pode-se dizer que devido ao emborcamento vivemos um pesadelo. Os místicos Orientais declaram que vivemos uma Grande Maya, ou seja uma Grande Ilusão. O filosofo Platão nos mostra no Mito da Caverna que o que vemos afinal é apenas uma aparência da realidade.
abraços,
Pedro Orlando Ribeiro