Olá amigo:
Para tentar responder a sua colocação devemos nos reportar ao segundo parágrafo da Mensagem de Natal, que foi a primeira comunicação recebida por Ubaldi. A leitura deste parágrafo nos fornece uma primeira indicação: Não perguntes meu nome; não procures individuar-me. Não poderias; ninguém o poderia. Não tentes uma inútil hipótese. Sabes que sou sempre o mesmo. (P. Ubaldi – Mensagem de Natal).
Por que esta recusa em se identificar? Parece que não se trata de uma simples atitude de modéstia, pois há, em seguida, uma afirmação incisiva de que somos incapazes de realizar esta tarefa. Mas, note-se que a expressão "não procures individuar-me" pode nos indicar a razão desta impossibilidade. Em outros livros de Ubaldi como a As Noúres e Ascese Mística vamos encontrar uma explicação para o fato.
No livro As Noúres, Ubaldi descreve o fenômeno inspirativo que o tornou apto a receber os livros As Grandes Mensagens e A Grande Síntese. Segundo sua descrição sobre o desenvolvimento de fenômeno, ficamos cientes de que a fonte originária tem um caráter abstrato, não podendo ser compreendida pelo comum pensamento antropomórfico humano: O centro genético das emanações noúricas não possui nem os caracteres do mundo dinâmico nem os conceptuais do mundo psíquico humano, mas está situado numa dimensão superconceptual de caráter abstrato, onde se encontram os princípios universais. A fonte não vibra, não irradia vibrações no sentido por nós conhecido, sejam elas embora de pensamento; não transmite ondas-energia na dimensão espaço-tempo, mas emana um quid absolutamen¬te imaterial, um impulso, uma potência que não se pode definir com os atributos das dimensões do nosso universo. Dessa sua dimensão mais elevada, a emanação deve descer; essa potência deve precipitar-se sobre a dimensão conceptual do pensamento humano e a chamada recepção não pode realizar-se senão em virtude dessa descida. (P. Ubaldi – As Noúres).
Há uma redução de dimensões para que este pensamento abstrato das altas esferas alcance o nosso limitado entendimento que está constrangido dentro de barreiras de tempo e espaço. Assim, a clareza do pensamento original é embaçada pelos nossos limites dimensórios, que nada mais são que agentes desagregadores da unidade do pensamento conceitual originário e, deste modo, se explica a nossa visão fragmentada da realidade fundamental.
Esta percepção fragmentada nos induz a pensar que nas altas esferas espirituais subsiste em todos os fenômenos o separatismo reinante no nosso mundo. Veja bem porque eu sublinhei a expressão "em todos os fenômenos": foi para chamar a atenção que num universo decaído como o nosso, todas as coisas parecem ter existência independente uma das outras. Esta ilusão nos leva a conceber erroneamente que estes altos níveis evolutivos são estruturados da mesma forma que o nosso. É fácil ver que pelo caráter unificador da evolução, o separatismo vai desaparecendo a medida que subimos na escala evolutiva. Esta tendência a unificação tem caráter geral e engloba todos o fenômenos e, portanto, a individualidade humana, como a concebemos no nosso nível, vai se fundindo em unidades individuais maiores por ação da Lei das Unidades Coletivas.
Quanto mais se ascende evolutivamente, o pensamento torna-se livre das amarras da matéria se constituindo em correntes de pensamento (noúres) em virtude da força unificadora da evolução: ...somente em nosso mundo involuido em que o pensamento é continuamente estorvado em sua circulação pelas resistências da matéria, ele se possa conceber aprisionado, separado na forma da individualidade humana. (P. Ubaldi – As Noúres).
O trecho a seguir retirado do livro As Noúres detalha o que foi dito acima:
Pode-se, agora, melhor compreender o que já foi dito sobre o problema da individualidade do centro transmissor, o que já foi por outrem percebido, isto é, que essa voz inspirativa "não deve ser entendida como um ser invisível individual, mas como uma emanação de energias espirituais fundidas num feixe". (Ferder, "O Ciclo Progressivo das Existências").
Quando a inspiração toca um certo nível, não mais se pode falar de uma entidade como centro psíquico, num sentido pessoal humano, não se pode definir nem limitar a fonte a um nome; pode-se apenas indicar a direção de proveniência e falar de planos de evolução e de correntes noúricas que os percorrem e definem.
Foi nesse sentido que falei de Cristo como centro de emanação, fonte de revelação, corrente de pensamento sempre presente que governa o mundo. Somente esta concepção cósmica do Cristo, muito superior à histórica e humana, pode dar-nos o sentido de Sua divindade e de Sua presença, atividade e função histórico-social.
Para compreender em profundidade como se dá o fenômeno da unificação, é importante a leitura do capítulo IX, intitulado Diagrama da Ascensão Espiritual, do livro Ascese Mística. A figura gráfica que se encontra neste capítulo nos fornece uma imagem bem intuitiva sobre o fenômeno da unificação espiritual.
Abraços,
Pedro
Orlando Ribeiro
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