Não é verdade que não é tanto em si mesmas que as coisas interessam, quanto pelas vibrações que despertam em nós? Não tanto pelas suas pulsações intrínsecas, quanto pelas sensações que fazem brotar em nossas almas? As coisas do mundo, inertes e iguais para todos, estão em seu lugar. Parece que somente o nosso olhar as anima e seja belo apenas vê-las, não na sua nua realidade objetiva, mas refletidas no tormento de nossa alma viva. Neste espelho parece que se revestem de uma beleza nova. A interpretação de quem as sentiu profundamente nos guia em face das coisas mais simples e comuns, a uma nova interpretação, inesperada, possuída da magia de dar de si uma nota que reconhecemos, mas que, todavia, não sabíamos achar. (P. Ubaldi - Fragmentos de Pensamento e de Paixão)
Se o amor no mundo animal é função quase exclusivamente orgânica, no homem, enriquecido pela evolução de novas faculdades, adquire qualidades de ordem nervosa e psíquica. O fenômeno do amor complica-se; à função animal, que biologicamente foi a principal, se sobrepõe, como um crescimento ou uma incrustação, um feixe de funções novas que transformam todo o fenômeno, tornando a sua estrutura mais completa, e como sempre acontece na evolução, ampliam seu campo de ação. Para maiores poderes, porém, maiores perigos, o que os seres menos evoluídos ignoram. Observando, neste campo, as correntes que a evolução abre dentro da massa humana, vemos hoje a tendência no amor para aperfeiçoar-se e sensibilizar-se, tendência que, aspirando a outra forma de super-amor espiritual, oferece, simultaneamente, o perigo de perder-se em degradação neurótica, em erotismo sexual. A humanidade encontra-se defronte do dilema: ou bem materializar, mais do que elevar, o amor, caindo em formas de prazer nervoso mais intenso, porém de baixo erotismo antivital, ou bem dominar a sua paixão e guiá-la, orientando a evolução para as formas de amor espiritual do super-homem.(P. Ubaldi - Fragmentos de Pensamento e de Paixão)
O que é esta pequena psicologia humana diante das forças imensas do Universo? Sem que o saiba, é a estas forças que obedece a psique coletiva. O empuxo mais ativo, o que determina os acontecimentos humanos, deriva sempre dos imponderáveis. Estes nascem e desaparecem, não se sabe como É um erro grave dos assim chamados homens de ação o desconhecimento das forças invisíveis e imponderáveis da vida, das quais estão dependentes. Nosso mundo percebe somente as causas próximas; mas as crises e os revezes nascem de causas remotíssimas que correspondem a um maravilhoso mecanismo de leis, ainda ignoradas e não tidas em conta pelo homem. É pueril acreditar na possibilidade de uma preparação imediata e próxima dos sucessos, quer sejam coletivos, quer individuais. Tudo responde a uma lei, a um equilíbrio, a uma justiça. O destino de todas as coisas segue um caminho lógico que não é possível improvisar. (P. Ubaldi - Fragmentos de Pensamento e de Paixão)
A luta pela vida, na forma brutal usada pela sociedade civil moderna, não é de nenhum modo uma lei inflexível da natureza. As guerras, as rivalidades comerciais, a competição individual e coletiva de todas as espécies não são mais do que a conseqüência da baixa lei animal, preferida sempre pelo homem, dada a sua psicologia. Não é certo seja necessário que toda a coletividade compreenda e siga uma lei mais elevada para que resulte possível a cada indivíduo realizá-la. A lei sempre existirá, e mesmo quando apenas um a siga, ela está sempre pronta a se lhe manifestar, ainda que toda a humanidade a ignore.(P. Ubaldi - Fragmentos de Pensamento e de Paixão)
A obra de educação é verdadeiramente o ato de fraternidade. O educador representa a força do bem, fazendo-se canal para a sua descida desde o divino, mesmo quando a involução humana o constringe a adotar formas de coação. A educação é bondade, mas não deve jamais permitir que a ignorância dos involutos satisfaça o seu mais forte instinto, que é transformar bondade em fraqueza a fim de poder subjugar. Nestas condições a bondade tem o dever de armar-se com as garras afiadas à mostra para a sagrada proteção do bem. A culpa é somente da involução humana que lhe impõe, para afirmar-se, os métodos fortes da disciplina, desenvolvendo-se, desta maneira, na imensidade da luta do bem contra o mal. Esta é a áspera e dura realidade do esforço pedagógico. Existe para cada alma um peso específico inviolável, sempre pronto a manifestar-se e que escava abismos inacessíveis e distâncias terríveis. Quem está por baixo agarra-se, como quem se esteja afogando, desesperadamente, àquilo que está no alto para arrastá-lo à própria baixeza e fazê-lo afogar-se consigo. (P. Ubaldi - Fragmentos de Pensamento e de Paixão)
O significado e o objetivo da educação não é nivelar, mas selecionar. É descobrir o melhor para encorajá-lo, a fim de utilizá-lo e não mutilá-lo, reduzindo-a às proporções do medíocre. (P. Ubaldi - Fragmentos de Pensamento e de Paixão)
O homem não se convence pelo raciocínio. A lógica, justamente porque é ato reflexo, pode bem pouco diante das vozes profundas da vida, as hereditárias, instintivas, que reagem ao contrário dos contágios psíquicos bons ou maus. (P. Ubaldi - Fragmentos de Pensamento e de Paixão)
O empuxo mais ativo, o que determina os acontecimentos humanos, deriva sempre dos imponderáveis. [....] É pueril acreditar na possibilidade de uma preparação imediata e próxima dos sucessos, quer sejam coletivos, quer individuais. Tudo responde a uma lei, a um equilíbrio, a uma justiça. O destino de todas as coisas segue um caminho lógico que não é possível improvisar. (P. Ubaldi - Fragmentos de Pensamento e de Paixão)
A industrialização agrária trabalha fazendo prevalecer os critérios econômicos. O proprietário rural já é um contador que calcula a sua renda e deve fazê-lo, instigado por várias causas estranhas a agricultura, tais como o risco na colocação da produção, a concorrência dos mercados mundiais, as oscilações de cambio, a dependência para com os países estrangeiros, a fim de obter matérias primas necessárias a indústria de adubos etc. Estas pressões econômico não se pode isolar, porque se intromete no processo vital, que é fundamental. Se o ignorarmos, se o violentarmos, destruiremos também o resultado econômico. O material é vivo, impondo por este motivo exigências que a industrialização agrária tende a ignorar e a descuidar, arcando com as conseqüências. Trata-se de fenômenos vitais trabalha-se com organismos e todo o solo é um organismo que possui vida. Nesta existe qualquer coisa de imponderável que foge a toda orientação materialista, qualquer coisa que é de origem espiritual. Um trabalho agrícola depende de fenômenos biológicos que vão da unidade coletiva de microorganismos, que é o húmus, até às plantas que vegetam, aos animais que se nutrem, ao homem que vive da terra. Hoje, busca-se transformar em problema aritmético terrenos, plantas, animais e homens. Hoje, desejamos considerar a terra como uma equação química de elementos nutritivos, isto é, terreno subnutrido mais adubos é igual a terreno mais produtivo. Concepção simplista, unilateralidade de visão econômica, negligência de muitos fatores para que a equação corresponda à realidade. Da mesma forma para a pecuária. Uma vaca não é mecanismo para transformação de forragem em leite e carne. Com esse critério, os organismos animais são forçados à produção intensiva, sob a pressão de um regime alimentar intensivo. A natureza suporta pouco o trabalho excessivo. Sobrecarregada, qual máquina, desorganiza-se, assim como " inexplicavelmente " se enfraquece e se torna estéril o animal. A terra perde a sua capacidade produtiva; os animais nascem mal e doentes, organicamente tarados: partos difíceis, tuberculose, aborto epizoótico, esterilidade. O critério econômico nos fez esquecer o supremo equilíbrio da natureza, as leis profundas que fixam os limites de cada existência. A exploração indevida de uma função somente se pode obter com o preço da depressão de outra função. O animal não é máquina de produção e de renda. Por mais agnóstico que se queira ser, não se podem violar as imprescritíveis finalidades da vida. (P. Ubaldi - Fragmentos de Pensamento e de Paixão)
Se olho para o alto, buscando uma força auxiliar que já tenha iniciado esta obra e possa dar garantias de continuá-la no campo da idéia e da ação, não vejo senão a sabedoria providencial e salvadora de uma lei - a lei divina da vida. (P. Ubaldi - Fragmentos de Pensamento e de Paixão)
O futuro do mundo não é como o concebeu Wells - hipertrofia do progresso mecânico - mas a afirmação dos valores do espírito na coletividade. (P. Ubaldi - Fragmentos de Pensamento e de Paixão)
Assim como hoje nenhum ser humano suportaria os sistemas penais fundados na tortura, assim, um dia, não haverá interesse ou vantagem, por mais forte que seja, que obrigue a humanidade a fazer uso das guerras. Estas não desaparecerão, graças a acordos internacionais, que não modificam a mentalidade humana, mas somente em virtude da nova sensibilidade que dará ao homem civil o terror por qualquer ato de violência. A ciência, por seu lado, aumentará a tal ponto o poderio de destruição que o homem será constrangido a desistir da violência, que redundará sempre em dano coletivo e total. (P. Ubaldi - Fragmentos de Pensamento e de Paixão)
Ninguém se encontra, sempre, neste mundo, no posto exato de maior rendimento em relação as suas qualidades. A maior parte das energias se desperdiça nos atritos da luta, razão pela qual o que interessa não é a utilização imediata da capacidade adquirida, mas a criação e a aquisição de novas qualidades, através de novas experiências Se olharmos mais profundamente, encontrar-nos-emos no melhor posto, no de melhor rendimento diante do futuro. A verdadeira construção não está mais no efêmero triunfo dos resultados exteriores, senão em nossa alma, como qualidade adquirida e como produto eterno.(P. Ubaldi - Fragmentos de Pensamento e de Paixão)
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