|
|
Sr. Pedro Orlando, Enviei há algum tempo os capítulos 96, 97 e 98 de A Grande Síntese para uma lista de discussão, em que se discute no momento sobre a política e sua importância no contexto mundial. Achei interessante a argumentação histórica da resposta e gostaria de sua opinião, enquanto reflito a respeito. Eis a resposta que recebi: A história ensina mais que os textos. E a análise de um texto não prescinde do seu contexto... são as PRECAUÇÕES que me ocorrem, a partir da leitura dos textos generosamente oferecidos à nossa reflexão pelo irmão Quillfeldt. Perdoem-me o caráter incisivo dessa apreciação, mas tanto quanto uma análise, ainda superficial e relativa, me sugere, o pensamento de Pietro Ubaldi sobre política, escrito e publicado no momentoso da ascensão do totalitarismo na Europa de 1937, constitui-se numa apologia do Estado fascista. Tenho presentes as palavras de Benito Mussolini: "Nosso Estado não é um Estado absoluto, e menos ainda absolutista, alienado dos homens e só armado de leis inflexíveis, como, ademais, devem ser as leis. Nosso Estado é um Estado orgânico, humano, que quer ajustar-se à realidade da vida. (...) O corporativismo é a economia disciplinada e, portanto, também controlada, porque não se pode conceber uma disciplina que não tenha um controle. (...) O corporativismo supera o capitalismo e supera o liberalismo criando uma nova síntese. (...) Não cabe dúvida de que, dada a crise geral do capitalismo, em todas as partes se imporão soluções corporativas, porém para realizar o corporativismo pleno, completo, integral, revolucionário, se necessitam três condições: Um partido único, em virtude do qual junto à disciplina econômica se ponha em ação também a disciplina política e haja por cima dos interesses contratantes um vínculo que a todos una, a fé comum. Não basta. Ademais do partido único, se necessita um Estado totalitário, quer dizer, um Estado que absorva em si, para transformá-las e fortalece-las, todas as energias, todos os interesses, todas as esperanças de um povo. Não basta ainda. Como condição terceira, última e muito importante: se necessita viver em um período de elevadíssima tensão ideal. Nós vivemos neste período de elevada tensão ideal." (Excertos de "A doutrina fascista", discurso pronunciado ante a Assembléia do Conselho Nacional de Corporações, em 14 de novembro de 1933.) Tocando, em muitos momentos, no mesmo diapasão, a teoria biológica do poder em Pietro Ubaldi soa racista, segregacionista e totalitária: senão vejamos: "Como a Revolução Francesa, momento crítico e longamente preparado nos séculos, concretizou à luz da existência histórica a subida da burguesia produtiva, assim a futura revolução maior da humanidade, filha de uma maturação substancial biológica, trará à luz a subida de uma intelectualidade consciente. Não compreendo como intelectualidade aquela miscelânea mental entulhada, cultura moderna, fato externo que não proporciona virtude à personalidade, mas entendo-a como uma maturação de raça construtora de instintos mais altos, que tornem o homem um ser escolhido pela seleção para a função social do mando. A esta função de governo estará agregada, por qualidades inconfundíveis de raça e não por superposição de cultura e de títulos, uma elite insubstituível, tal como na natureza nenhuma célula de tecido muscular poderá substituir a célula à qual foram confiadas funções nervosas cerebrais. A base biológica da divisão do trabalho por especialização de capacidade é a única que pode justificar o conceito do futuro Estado orgânico..." (Pietro Ubaldi - A Grande Síntese - Cap.XCVII O Estado e sua evolução) Aldous Huxley, no seu "Admirável Mundo Novo" descreve com visão profética, e a moderna biotecnologia viabiliza com precisão científica, os cenários da vida em sociedade que essa concepção biológica da divisão do trabalho social engendra e projeta no imaginário social... quando assim:
"O Estado reunirá os cidadãos, por meio dos seus órgãos, em fecundo abraço produtivo.Os indivíduos que não se organizarem para valorizar-se neste novo poder coletivo, serão destinados à eliminação.(Pietro Ubaldi - A Grande Síntese - Cap.XCVII O Estado e sua evolução)
Cenários tão mais indesejáveis, quanto realistas nos dias que passam, quando nos aflige uma crise societária e transacional de dimensões planetárias. Nestas circunstâncias é bom lembrar... que a sabedoria prática é companheira da consciência, e a verdade se nutre do não-esquecimento!!!
A busca da consistência e da convergência do Saber científico e do Saber religioso deve afirmar-se em todos os campos... por isso que a ciência da história e da sociedade não lhes são alheias!
Paz profunda!
Xapanagodori
|
Pedro Orlando Ribeiro | |
Olá amigo: Sem querer polemizar, julgo que é aconselhável a leitura completa de toda a vasta obra Ubaldiana (24 volumes, cerca de 10.000 páginas) antes de se emitir qualquer comentário ou observação sobre a mesma. Leituras incompletas da obra podem nos levar a um julgamento apressado e errôneo das reais intenções do autor, assim sobre os temas abordados em sua mensagem - retirados de apenas 3 capítulos - é necessário ler com atenção redobrada as colocações de Ubaldi e ter em mente que o pinçamento de frases, isoladas do contexto total da obra, pode levar a comparações descabidas entre duas personalidades que são antípodas no campo moral: Ubaldi e Mussolini. Ao analisar um escrito, seja de quem for, é preciso conhecer o homem, sua biografia, sua ação e sobretudo os resultados alcançados pelo seu trabalho. O resultado final desta análise mostrará o perfil psicológico do homem honesto ou o do contumaz mentiroso. A obra de Mussolini, cujo objetivo principal era o poder pelo poder era baseada no engano e terminou onde devia terminar: na destruição. Ubaldi, por sua vez, renunciou a qualquer desejo de dominação sobre as pessoas, chegando ao ponto de renunciar uma grande riqueza material para viver pobremente e, no entanto, nos legou uma imensa herança espiritual, coisa quase sem precedentes na história da humanidade. A Sua obra filosófica é um monumento do conhecimento, o coroamento de todos os esforços empreendidos por diversos luminares da cultura, da ciência e da religião ao longo de toda a história humana.
Em respeito a sua solicitação, passo a analisar as diversas colocações do seu missivista.
Quando Ubaldi diz:
...maturação de raça construtora de instintos mais altos, que tornem o homem um ser escolhido pela seleção para a função social do mando. A esta função de governo estará agregada, por qualidades inconfundíveis de raça e não por superposição de cultura e de títulos, uma elite insubstituível... Ele se referia a qualquer raça ou nacionalidade, seja branca, preta, amarela, vermelha, ariana, hispânica, africana, cafuza, mestiça etc. Todas elas são dignas e todas fazem parte desta imensa sinfonia que é a evolução. Cada uma com suas qualidades próprias e em todas elas há homens de todas as naturezas, bons e maus, evoluídos e involuídos. Assim a maturação e seleção a que ele se refere acontecem e acontecerão em qualquer agrupamento humano.
Para que não paire dúvidas sobre o que afirmei acima veja este outro pensamento de Ubaldi:
"No nosso século de movimento e velocidade, assistimos a um contínuo desmoronar de barreiras. As paredes divisórias, erguidas pela ignorância humana, por mais que resistam, vão sendo paulatinamente demolidas. No campo político revela-se absurda e ofensiva para os excluídos a idéia de uma superioridade racial, como o é também a de uma absoluta superioridade racial, como o é também a de uma absoluta superioridade individual. Tanto mais perniciosa é semelhante idéia, quanto ela tende à escravização e ao extermínio de outras raças ou povos. Toda raça possui qualidades que não se formaram ao acaso e que têm uma função coletiva Cada povo pode oferecer uma contribuição útil à formação do novo organismo da humanidade. (P. Ubaldi - Ascensões Humanas) " Na Conclusão do livro A Grande Síntese ele é muito incisivo ao afirmar que os desníveis culturais e científicos que ainda vigem em nosso mundo serão superados:
Falei num momento crítico, numa curva da história, na aurora de nova civilização. Podereis não ouvir e não compreender, mas não podereis mudar a Lei. Se a civilização, agora, tem bases muito mais amplas que nos tempos do império romano e não é mais um simples foco num mundo desconhecido, ainda existem enormes desníveis de civilidade, de cultura e de riqueza. A Lei leva ao nivelamento e à compensação. Enquanto houver um só bárbaro na Terra, ele tenderá a rebaixar a civilização ao seu próprio nível, invadir e destruir, para aprender. As raças inferiores depressa desfarão a sua impressão sobre superioridade técnica européia; dela se apossarão para pular à garganta do velho patrão. Além do mais, existem na História recente, exemplos de admiráveis lideranças políticas surgidas das mais diversas raças como foram Ghandi, Martin Luther King e Nelson Mandela, cujas respectivas obras políticas aí estão a atestar que seus méritos não foram devidos à superposição de cultura e de títulos. Suas qualidades pessoais não foram determinadas pelo fato de pertencerem a nações ou etnias ricas e poderosas.
E por último é bom recordar que Ubaldi anunciou que
“O Brasil é verdadeiramente a terra escolhida para berço desta nova e grande idéia que redimirá o mundo.E o Brasil é a terra de mistura de raças, da mestiçagem, onde praticamente povos de todas nações do mundo estão aqui representados: Não é esse, com efeito, o temperamento deste país, em que pacificamente se misturam todas as raças, com seu sentimentalismo tolerante, com seu espirito antiexclusivista e anti-racista? Estas qualidades espontâneas, que já achamos existentes de fato, correspondem perfeitamente à missão que deve ter o Brasil, e a provam. Tudo concorda em cheio. É natural que a História escolha, para cada determinada tarefa, os indivíduos dotados das qualidades mais adequadas para executá-las, justamente porque a vida quer realizar, alcançando no terreno prático, todos os seus objetivos. E o Brasil pode fazer-se representante da vontade da vida, no terreno da bondade e do amor. É este um setor vazio do equilíbrio de todas as funções do organismo social da humanidade, e que outro povo poderia preenchê-lo? Não digo que não haja outros povos bons no mundo. Mas estão empenhados em outros trabalhos. Muitas vezes, mesmo, e pelo fato de serem melhores, que esta o mais sujeitos às opressões e às dores, porque na humanidade há também os encarregados da expiação e da prova do sofrimento.<(P. Ubaldi – Profecias) Comparar a ideologia corporativista fascista com o ideal de uma sociedade orgânica colaboracionista é uma temeridade. No fascismo o despotismo suprime a liberdade do cidadão e estabelece uma estrutura social em que reúne as classes produtoras em corporações sujeitas ao rígido controle do Estado, na tentativa de esconder a luta de classes sob o manto do autoritarismo. Seria como esconder o lixo debaixo do tapete. Já uma sociedade moldada no ideal colaboracionista tem como pressuposto básico a liberdade e a livre adesão de cada indivíduo e tem suas raízes profundamente implantadas no evangelho de Cristo cujo conceito basilar é o de “amar o próximo como a si mesmo”. A diferença básica entre estas duas concepções de vida social está no fato de que o fascismo pretendia modificar os sistemas exteriores da vida, sem transformar os elementos humanos que a constituem enquanto o ideal Ubaldiano está centrado na mudança interior, ou seja, a transformação da forma mental de cada homem, reconstruindo a vida coletiva a partir do indivíduo e não através de maquiagens exteriores nas instituições políticas. Sobre isto ele se expressa da seguinte forma:
Uma das inovações em que se baseia essa reconstrução consiste em substituir o princípio de autoridade (segundo o qual quem comanda se interessa, em primeiro lugar, em submeter seus dependentes para conservar o poder) pelo da inteligência, que implica pensamento e consciência, para se chegar à compreensão e cooperação. Em resumo trata-se de passar do estado de luta separatista ao orgânico colaboracionista. Isto em todos os campos da estrutura social onde haja quem comande e aquele que obedeça: na luta de classes, na política, no trabalho, na economia, na educação. na religião. Enfim, procurar o entendimento, reconhecendo as recíprocas necessidades e, assim, entrar em acordo para satisfazê-las melhor, o que não se pode fazer lutando para se esmagar mutuamente. O progresso consiste em substituir este outro método pelo velho. Hoje o espírito de luta invade tudo. Quem comanda peleja para manter a sua posição; quem depende se esforça para libertar-se de tal estado de sujeição. Há luta entre ricos e pobres; entre governantes e povos; entre patrões e empregados nas organizações de trabalho e produção; entre educadores, sejam eles professores, moralistas ou progenitores, e os seus discípulos; entre a autoridade religiosa e os seus fiéis etc. Sempre luta em cada campo. Ora, o novo homem, mais inteligente, acabará por compreender que a opressão excita reações às quais depois terá de resistir; o tempo e trabalho desperdiçados para litigar e as energias gastas neste atrito significam diminuição de riqueza, bem-estar, harmonia, educação e progresso moral e espiritual.
Esta é a grande transformação que a humanidade deverá iniciar neste final de século para preparar-se a pô-la em prática, plenamente, no próximo milênio. Condenado, pelo menos entre os indivíduos, o uso da força, antigamente base do Direito, continua a sê-lo no campo internacional. Desta fase atual, que já é um progresso perante o estado primitivo de pura violência, a humanidade passará a outra ainda mais avançada, na qual a mente será usada para fins mais altos que não sejam conquistar vantagens tecendo enganos e mentiras em prejuízo do próximo, o que significa usurpação, sem nada ter de eqüidade. (P. Ubaldi – Um Destino Seguindo Cristo) Para finalizar eis um exemplo de como o sentido de um texto pode ser torcido ao se isolar inadvertidamente parte do mesmo:
O Estado reunirá os cidadãos, por meio dos seus órgãos, em fecundo abraço produtivo.Os indivíduos que não se organizarem para valorizar-se neste novo poder coletivo, serão destinados à eliminação." Quem ler apenas esta passagem pensará certamente em genocídio tipo hitlerista, em assassinatos em massa etc. A leitura de todo o parágrafo esclarece a questão:
O Estado reunirá os cidadãos, por meio de seus órgãos, em fecundo abraço produtivo. Os indivíduos que não se organizarem para valorizar-se neste novo poder coletivo, serão destinados à eliminação. Se as velhas unidades econômicas, pequenas e isoladas, tinham a vantagem da independência recíproca que circunscrevia as crises, hoje, o progresso organizou relações e permutas mundiais necessárias que, se tornam o organismo econômico mais perfeito e compensado, também o deixa mais vulnerável. Essa vulnerabilidade impõe um regime de colaboração. Em sentido mais amplo, a especialização moderna de capacidade de funções dá ao indivíduo, involuído e isolado, probabilidades cada vez menores de sobrevivência. Quanto mais perfeito e diferenciado é o indivíduo, mais vulnerável se torna, mas, ele bem sabe e experimenta a necessidade de viver em coletividade. Essa sua fraqueza diante do homem primitivo, essa sua perda de adaptação é a força que mantém coesas as unidades coletivas, que por isso não estão dispostas a desagregar-se. Esta eliminação seria por seleção natural da vida, que retira as condições de sobrevivência das espécies que não conseguiram se adaptar as novas condições ambientais. E condições ambientais não se referem apenas ao meio físico mas também as condições morais. O ambiente psíquico analogamente ao ambiente físico pode tornar-se inadequado a seres incapazes de “respirar” nesta nova atmosfera psíquica. A grosso modo seria como tentar colocar um homem da idade da pedra para viver numa metrópole moderna, suas chances de sobrevivência seriam mínimas já que não sabe viver coletivamente. Como aconteceu com os dinossauros no passado, tudo o que se torna anacrônico é eliminado pelas forças evolutivas.
Pedro Orlando Ribeiro
|
Página Principal | Download | Biografia | Álbum Fotográfico | Relação dos livros | Links| Artigos | |