Prezado amigo:
Esta dúvida surge porque estas duas palavras parecem significar a mesma coisa, isto é: que Deus é a soma de tudo quanto existe. Mas, veremos adiante que o conceito de Monismo é mais amplo do que o de Panteísmo. Esta confusão é explicável porque a tendência normal é o de analisar estes dois conceitos sob o ponto de vista do Anti-Sistema. Mas, se considerarmos que vivemos num mundo dualista, produto da queda de um Sistema perfeito e unitário no Anti-Sistema imperfeito, onde a unidade se fragmentou em unidades menores, poderemos compreender a diferença que existe entre os conceitos de Monismo e Panteísmo.
O trecho: "agora passais ao MONISMO, isto é, ao conceito DE UM DEUS QUE É A CRIAÇÃO." que você extraiu de A Grande Síntese mostra que Deus é a essência da criação. E não poderia ser de outra forma, pois se admitirmos que Deus é infinito e por conseguinte nenhuma coisa poderia existir fora Dele. Se admitíssemos que Deus pudesse criar fora de Si, Ele não seria infinito e portanto poderia existir uma coisa maior que Deus, o que seria um absurdo; deste modo Deus não seria Deus. Assim o que chamamos de panteísmo é a imanência de Deus nas criaturas. Outra qualidade atribuída à Divindade é a Onipresença, e para ser onipresente é necessário que Deus esteja no âmago de todas as criaturas, desde às microscópicas como o átomo até nos Universos de Universos.
O panteísmo é rejeitado por muitos porque o tomam como uma profanação da perfeição divina ao admitir que a matéria bruta, como as pedras, possa conter a essência divina. Isto acontece porque não conhecem ou não aceitam, por soberba, a Teoria da Queda dos Anjos. A este respeito Ubaldi comenta: O panteísmo é justamente condenado porque consiste, frequentemente, em crer que todas as coisas e criaturas sejam Deus por si mesmas. Mas, esta é apenas uma interpretação materialista do panteísmo. (P. Ubaldi – O Sistema)
Agora preste atenção na seguinte passagem do livro Deus e Universo: Nessa primeira criação "perfeita", as criaturas, centelhas em que o incêndio divino se dividiu por Amor (criação), continua "Uno" , porque estão fundidas em um só organismo unitário – Deus - Que se cindiu para dar por Amor o ser às criaturas espirituais, mas cindiu-se apenas no Seu interior, permanecendo como um Todo orgânico, uno e indivisível, do qual as criaturas, espíritos perfeitos, fazem parte. [....] A criação puramente espiritual ocorreu no Seu seio, no Todo-Uno e nele permanece. Deus quis multiplicar-se em infinitos seres, permanecendo "uno".
Isto significa que existe dois aspectos na substância divina: a Imanência que já examinamos sob o nome de Panteísmo e a Transcendência, isto é, Deus permanece UNO mantendo seu EU distinto das criaturas (transcendência) e ao mesmo tempo permanece nas criaturas (imanência). Compreendemos agora porque o conceito de Monismo é mais amplo que o do Panteísmo, pois engloba dois aspectos, Imanência e Transcendência.
Para que fique bem claro é necessário compreender que Deus não se divide em dois, um Deus Transcendente e um Deus Imanente. Na realidade transcendência e imanência são apenas aspectos diferentes de um mesmo Deus: “Mais exatamente, a imanência e o dualismo transcendência - imanência nasceram no ato da criação. Somente se costuma chamar imanência à presença de Deus no nosso universo decaído, porque somente este percebemos, ao passo que a imanência abrange também o universo feito de puros espíritos, conservado perfeito. Em outras palavras, a imanência não é senão a permanência do Criador na Sua criação, pelo que Deus permaneceu presente, quer no sistema, quer no anti-sistema. (P. Ubaldi - Deus e Universo)”. Se admitíssemos esta hipótese dualista sobre Deus estaríamos incorrendo num tremendo absurdo, pois: Dualismo não significa apenas cisão em duas partes, mas oposição das duas partes, uma contra a outra. (P. Ubaldi - Queda e Salvação). Cisão e oposição não são atributos da Divindade, pois Imanência e Transcendência são ASPECTOS da substância divina e não subdivisão da mesma.
Eis a explicação de Ubaldi: A esta altura, poder-se-ia, contudo, objetar: existem, então, dois Deuses? Respondemos: existirão, talvez, duas Terras, porque a nossa tem dois pólos? Existirão, porventura, dois seres em um homem porque é feito de alma e corpo?
Panteísmo - Novas Dúvidas
1) Pelo que pude depreender de sua resposta e da leitura do texto citado, o panteísmo é um componente do Monismo. Isto que dizer que Deus é a Criação, todavia, a criação não é Deus, seria isso?
Seria mais apropriado empregarmos a palavra imanência em vez de panteísmo pois o termo imanência se relaciona com transcendência através do sufixo -ência cujo significado é ação ou resultado da ação. É bom lembrar que o agente desta ação é a Substância divina. A palavra ação deve ser compreendida, neste caso, como manifestação de um ASPECTO da divindade. Imanência e transcendência são, portanto, os aspectos (aparências) que a Substância única aparece ao nosso entendimento. Como estamos falando de coisas espirituais devemos ter em conta que os conceitos de imanência e transcendência são entes abstratos e não materiais.
Em última análise a Substância divina é pura vibração: [...] poder-se-ia dizer que o universo é inteiramente feito dessa primordial Substância conceptual que é o pensamento de Deus, e qual um infinito oceano vibrante, em cujo seio, porém, cada individualização do ser não vibra da mesma forma. (P. Ubaldi – Deus e Universo). Em linguagem musical poderíamos dizer que as individuações vibram em diapasões diferentes constituindo uma polifonia. A harmonia coordena esta diversidade sonora de forma a resultar numa sinfonia absolutamente perfeita. Cada nota desta sinfonia “encaixa-se” num lugar apropriado ao seu particular padrão sonoro (especialização). Assim, o conjunto das notas como cada nota em particular são da mesma natureza, isto é, são vibrações sonoras. Por analogia podemos compreender que Deus é a criação e a criação é Deus porque Deus e as criaturas têm a mesma natureza: são puras vibrações espirituais. Eis porque Cristo pôde dizer: "Vós sois Deuses". (P. Ubaldi – Deus e Universo).
Em resumo: imanência e transcendência, nos seus fundamentos, são modos diferentes de vibração espiritual da Substância Divina. Vê-se, então, que quando se emprega um denominador comum (no caso a vibração) fica mais fácil compreender as sutilezas que diferenciam as noções de imanência e transcendência. Podemos concluir então que atrás do dualismo imanência-transcendência resplandece o unitário pensamento divino: o MONISMO.
2 Se olharmos o panteísmo ao contrário ele esta certo, ou seja, se pensarmos que Deus é formado das partes (ideia panteísta) dá a entender que as partes vieram antes de Deus, o que é um erro; porém é o contrário a parte é que é a presença de Deus.
Talvez nem antes nem depois. A 1ª criação talvez nem tenha existido. Deus pode ter sempre existido na sua forma orgânica, mas não há como comprovar esta suposição. Veja como Ubaldi se referiu a esta hipótese:
Não há necessidade de imaginar em Deus o chamado fenômeno interior de auto-elaboração, quando Deus poderia sempre ter existido no seu estado orgânico perfeito. Daí poder-se concluir também que não houve nenhuma criação verdadeira. Esta ideia de criação seria então apenas uma imaginação do homem, uma construção do tipo mitológico para explicar a origem das coisas que via, origem devida ao fenômeno da queda. (P. Ubaldi - A Técnica Funcional da Lei de Deus)
Pedro
Orlando Ribeiro