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Crucificação

Pedro Orlando Ribeiro

Mensagem Original

    Caro amigo:

    Meu nome é Luiz Cláudio e como já havia informado em e-mail anterior, participo de um grupo de estudos das obras de Pietro Ubaldi em Goiânia. Agradecemos sua preciosa colaboração ao nos enviar materiais elucidativos para que pudéssemos solucionar nossas dúvidas. Sem querer ser inconvenientes, gostáriamos de mais uma vez formular algumas dúvidas:

    1- Nas religiões cristãs tradicionais, ouvimos que Jesus é "o cordeiro imaculado". Entendemos por isso que, "imaculado" sugere a idéia de sem máculas, ou seja, um ser puramente sistemico, sem mancha alguma do anti-sistema. Vindo até nós por Amor! Ao objetarmos sobre a possibilidade de injustiça, podemos responder que DEUS, o EU SOU de todos os Universos, também sofreu uma grande injustiça pois, mesmo sendo bom e perfeito, acompanhou os espíritos revoltados até o anti-sistema e, em seu aspecto imanente, continua preso nas dimensões da matéria junto com suas criaturas. No livro "Cristo", Pietro Ubaldi sugere a idéia de que Jesus poderia ter resgatado as últimas dívidas perante a Lei de Deus com a crucificação. E, após isto, estar apto a ingressar definitivamente no Sistema. No entanto ele mesmo afirmou: "Eis que estarei convosco até a consumação dos séculos". Aguardamos ansiosos seu pronunciamento a respeito do assunto.

    2- Sabemos que poucos ou nenhum mensageiro da Verdade sofreu a crucificação tal qual Jesus sofreu. Ao refletirmos sobre este fato, deduzimos que: o que causou a crucificação de Jesus, não foram as verdades cheias de sabedoria e amor, das quais ele era portador mas, a sua postura ao afirmar que era o filho de Deus, O Caminho, A verdade, A vida. Ou seja, ao assumir uma postura única que importunou as autoridades judaicas. Tanto que ele foi acusado de blasfemo. Ora, Francisco de Assis, Buda, Francisco Cândido Xavier, - todos eles, acreditamos ser espíritos de alta condição espiritual - colocaram-se numa postura passiva, de humildade. Deixaram seus exemplos e suas visões da verdade e nos parece que não sofreram agressões tão severas quanto as que sofreu Jesus. Bem, Jesus sendo o Mestre dos Mestres, certamente sabia que ao assumir uma posição ativa, canalizando para si os títulos da Verdade, do Caminho e da Vida - "Ninguém vai ao Pai senão por mim" - confrontaria automaticamente com a opinião das autoridades religiosas da época e com isto atrairia reações violentas. A pergunta é: Por que Jesus assumiu tal postura mesmo sabendo das consequencias? Qual a lógica? Não poderia deixar sua mensagem pacifica e humildemente como Francisco de Assis? Desde já agradecemos sua paciência e boa vontade cristã.

    Atenciosamente,
    Luiz Cláudio

Resposta

    Prezado amigo:

    O Universo é unitário e, portanto, o Anti-Sistema não separou propriamente do Sistema. O que aconteceu foi um emborcamento de parte da criação, que apesar desta posição invertida, continua dentro do Sistema infinito. É por esta razão que no Anti-Sistema convivem o Bem atributo do Sistema e o Mal que é próprio do Anti-Sistema. Se o Anti-Sistema estivesse fora do Sistema só haveria, no seu seio, o mal que não seria contrabalançado pelo bem e em consequência não existiria a evolução. O ser decaído nunca abandonou o Sistema. Devido ao emborcamento ele sofre de uma contínua alucinação e vê o Universo de forma distorcida. Quando, por evolução, este ser consegue enxergar a verdadeira realidade, como foi o caso de Cristo, não significa que ele mudou de "lugar". As dimensões espaço e tempo são partes desta alucinação, deste modo a criatura que escapou à atração do mal apenas passa a vibrar num diapasão diferente. Lembre-se que matéria, energia e pensamento na verdade são apenas modos diferentes de vibração da Divina Substância Ùnica que preenche todo o Universo. Cristo através de sua Paixão superou as forças do mal, unificando-se com a Divindade e, assim, continua junto com as criaturas decaídas, agora na forma espiritual, pois particípa da Imanência Divina. Ele está sempre presente. Somos nós que não o vemos pois a nossa visão ainda está distorcida pela alucinação gerada pela queda espiritual. Foi por esta razão que declarou: Eis que estarei convosco até a consumação dos séculos."

    Esta visão distorcida da realidade foi muito bem exemplificada simbolicamente pelo filósofo Platão (427AC - 347AC). no famoso Mito da Caverna - Imagina uma caverna subterrânea provida de uma vasta entrada aberta para a luz e que se estende ao largo de toda a caverna, e alguns homens que lá dentro se acham desde de meninos, amarrados pelas pernas e pelo pescoço de tal maneira que tenham de permanecer de costas para a entrada da caverna, imóveis, e por isso, podem olhar somente para a frente, pois as ligaduras não lhes permitem voltar a cabeça. Atrás deles arde um fogo bruxuleante a uma certa distância e entre o fogo e os acorrentados são movimentados bonecos e objetos cujas sombras são projetadas na parede da caverna que fica em frente aos homens amarrados. Como estão nesta posição desde que nasceram, as sombras projetadas são para eles a realidade pois imobilizados não podem olhar para trás e ver a esplendorosa luz que brilha na entrada da caverna.

    Assim, o emborcamento da queda nos sujeita a ver somente as sombras de uma resplandecente e maravilhosa realidade Crística que sempre esteve permanentemente ao nosso lado.

    Em relação a segunda parte de sua questão podemos dizer que para escapar do Anti-Sistema é inexorável a que todos passem pela "crucificação", não somente Cristo. A "crucificação" não se realiza somente na cruz, ela pode acontecer de diversas maneiras, desde dos sofrimentos físicos até aos sofrimentos morais. Desta forma, todas estas personagens que citou devem ter passado por um tipo de "crucificação". Francisco de Assis, também foi "crucificado" como nos conta Ubaldi no livro A Nova Civlização do Terceiro Milênio, no capítulo intitulado São Francisco no Monte Alverne: Em tais fenômenos há ritmo de períodos característicos e fases opostas em equilíbrio. Como aconteceu a Cristo, antes de seu martírio físico no Gólgota, houve na noite precedente, o martírio moral do Getsêmani; assim, com Francisco antes de sua crucificação pelos estigmas, houve, certamente, uma crucificação de dor no espírito.

    A necessidade de todos passarem pela crucificação é explicado de forma lógica por por Ubaldi: A crucificação explica-se como a desesperada resistência da negatividade do Anti-Sistema contra um ser que lhe escapa porque pertence quase todo à positividade do Sistema. A crucificação revela os métodos destrutivos próprios do Anti-Sistema que quer aniquilar o que até aquele momento lhe pertenceu, antes que cedê-lo ao Sistema. (P. Ubaldi -Cristo)

    Em outro dos seus livros ele é bem explicito sobre a inevitabilidade da crucificação para todas as criaturas: Amor e dor. Amor é a lei de Deus, com que, na origem, estava feita a criação. Dor é impulso oposto, negativo, introduzido pela criatura rebelde com a sua revolta. Constituem eles as duas leis opostas, do Sistema e do Anti-Sistema. São seus símbolos as duas traves que formam a cruz: a horizontal, estática, negativa em face da ascensão, feita para apoiar-se, representando a dor, lei do Anti-Sistema; a vertical, dinâmica, positiva como ascensão, feita para subir em direção ao céu, representando o amor, lei do Sistema. Os dois encravam-se unidos na mesma cruz, firmando o que é a inexorável lei da evolução: sacrifício. Por isto, sobre o mundo rebelde, eleva-se a cruz como símbolo de salvação, porque só com a própria crucificação a humanidade poderá salvar-se.(P. Ubaldi - A Grande Batalha)

     Todos estes luminares da Santidade apesar do caráter de humildade se posicionaram moralmente contra as hipocrisias deste mundo ao revelarem com seus exemplos de vida uma conduta reta o que acaba por desmascar aqueles que usam o Evangelho para disfarçar a própria maldade. O seguinte comentário de Ubaldi é bem ilustrativo: Por vezes acontece, nestes casos, de usar-se um Evangelho invertido. Este, de fato, prega a paciência e o perdão, desarmando o homem no terreno humano. Coisa ótima para quem se move contra aquele, no mesmo terreno. Levanta-se então a bandeira do Evangelho por ser, este o melhor meio para desarmar o inimigo. E se este não se deixa assim desarmar, deixando-se esmagar, pode-se encontrar nisto uma nova razão para condená-lo, frente aos nobres e santos ideais que este, com, grande escândalo dos seus críticos, demonstra evidentemente não respeitar. Então, em nosso mundo, onde tudo pode ser invertido e falsificado, alcança-se este "esplêndido" resultado: o de que as virtudes e os ideais que deveriam tornar o homem melhor, vêm a ser usados como termo de confronto para mostrar os defeitos do próximo e para acusá-lo em causa disto. Tal é a natureza do involuído, tal é o seu instinto que ele procura satisfazer, tal é o caminho para o qual o impele o espírito de agressividade de que está saturado o seu ambiente, pelo que tudo, em suas mãos, torna-se arma de luta para vencer e dominar. (P. Ubaldi - A Grande Batalha)

     Ubaldi também foi inúmeras vezes "crucificado" durante a sua vida. Para comprovar esta afirmação basta ler os livros História de um Homem e A Grande Batalha.

    O drama da crucificação é muito mais longo do que o descrito pelos Evangelhos: Ele enfrentou o inimigo e fez primeiro aquilo que todos deverão fazer e farão para cumprirem e resolverem o ciclo involutivo-evolutivo. Ele tem o direito de se colocar como exemplo e cabe-lhe a função de modelo, porque a sua paixão não se reduz a de poucas horas que nós nos limitamos a comemorar, mas se projeta nos milênios que cada um de nós deve viver. Ela se condensa num cálice bem mais amargo, o qual consiste em ter de sofrer todas as provas, fadigas e dores do AS, absorvidas hora por hora, até assimilar toda a lição.(P. Ubaldi - Cristo)

    abraços,
    Pedro Orlando Ribeiro

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