Ubaldi ao escrever o livro Cristo não se preocupou em descrever qual foi o destino do corpo material de
Cristo. Seu enfoque da paixão, morte e ressurreição de Cristo é o oposto da abordagem consagrada pelos
relatos e mitos surgidos ao longo dos séculos.
Ubaldi encara a paixão de Cristo como um paradigma, um
exemplo que deverá ser repetido por todos nós para alcançarmos a salvação. Ele derruba a piedosa crença
de que Cristo pagou por nós os nossos pecados. Ele se posicionou sobre a redenção da seguinte forma:
Ora, o escopo da encarnação do Cristo não podia ser
o de redimir gratuitamente a humanidade, pois, de preferência, era o de com o seu exemplo ensinar-lhe
como se faz para redimir-se com seu próprio sacrifício. Então era necessária a descida a Terra, de um
ser menos distante do nível humano e não de um ser de dimensões acima dos limites que transcendem as
nossas medidas normais, isto é, constituído segundo um modelo absoluto, situado nos antípodas daquele em
que vivemos, que é o relativo. Como poderia ser proposto como modelo a imitar um ser de natureza
totalmente diversa da nossa que não oferece aquela similaridade que permite o irmanamento? Um tal
modelo estaria situado fora do processo evolutivo, enquanto no caso em questão era necessária a presença
de um Ser que a conhecesse, por tê-la percorrido, antecipadamente, a mesma via crucis da evolução que
cumpre ao homem trilhar e sobre a qual, aliás, já se encontra a caminho. Era em suma, necessário um
Cristo que, como nós, já tivesse experimentado as dores da evolução, pelo menos até o nosso nível, e não
um mártir extemporâneo descido do céu para em poucas horas de sofrimento, resolver o apocalíptico
problema da reintegração do AS no S, sem ter percorrido todo o caminho necessário, o mesmo que a todos os
seres cumpre percorrer. O não sujeitar-se a esta disciplina não passaria de uma tentativa de evasão da
linha estabelecida pela Lei para alcançar a salvação. Trata-se de um caminho longo que leva milhões de
anos para percorrer; trata-se da labuta tenaz de uma lenta maturação; estão em jogo fatos que não se
improvisam e problemas que não se resolvem com um rápido martírio, demasiadamente breve para servir como
uma escola capaz de operar uma verdadeira reconstituição espiritual da humanidade decaída. (P. Ubaldi -
Cristo)
Além de derrubar o mito da redenção gratuita, o trecho
acima abala também certas idéias de que o corpo de Cristo era feito de uma matéria fluídica mais
elaborada, diferente da matéria de que são feitos os corpos humanos. Se esta hipótese fosse verdadeira, o
exemplo da sua paixão não teria sido adequado pois, teria sido sofrida por um ser diferente de nós. Para
que haja sucesso na repetição de uma experiência é necessário que as condições sejam exatamente as
mesmas.
Sobre a crença na ressurreição do corpo material de
Cristo, Ubaldi é ainda mais contundente:
O Cristianismo, também ele, seguiu em alguns casos esta tendência
bem humana pela qual as coisas do espírito são concebidas em forma materialista. Foi assim que a vitória
de Cristo sobre a morte e a continuação da sua vida foi entendida principalmente no plano físico, como
ressurreição do corpo. Mas Cristo não era o corpo, era o espírito que não estava morto e que, tendo
ficado vivo, para permanecer como tal, não tinha necessidade de ressuscitar. Como se vê, o problema da
ressurreição de Cristo foi apresentado em forma totalmente materialista, identificando Cristo com o seu
corpo, e como se fosse necessária a sobrevivência deste para que ele pudesse ficar vivo, enquanto a vida
do espírito, na qual consiste verdadeiramente a pessoa, é independente da morte do corpo. Assim foi
entendido o fenômeno da sobrevivência de Cristo esquecendo-se que o seu verdadeiro ser é espiritual e não
físico. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais)
abraços,
Pedro Orlando Ribeiro