Prezada amigo,
Realmente, num primeiro momento ficamos embaraçados neste dilema que surge no
nosso entendimento, pois somos levados a concluir que no fim - após a recuperação da queda - as criaturas
tornaram-se mais perfeitas do que eram antes no Sistema. Haveria, portanto, um acréscimo na perfeição
absoluta do Sistema, já que as criaturas, tanto as decaídas como as que permaneceram no Sistema,
aumentariam seus
conhecimentos individuais. Ora, o Sistema que é ABSOLUTAMENTE perfeito não pode aumentar a sua
perfeição
pois o Sistema é Infinito e ao infinito não se pode acrescentar nada.
Assim. podemos concluir que não sendo possível esse acréscimo de perfeição,
somos obrigados a concluir que o Sistema retornará a sua situação anterior e, em consequência, a
perfeição das Criaturas será igual a perfeição que possuiam antes da queda. Fato que comprova a sua
afirmação de que não existe evolução no Sistema.
Mas, como explicar o "acréscimo de conhecimento" da criatura sem que esse
aumento seja computado na perfeição do Sistema?
Creio que, numa primeira explicação, podemos concluir que esse "conhecimento"
já existia no seio do Sistema se lembrarmos que ele (o Sistema) é INFINITAMENTE sábio, ou seja, o Sistema
é ONISCIENTE e portato nenhum conhecimento "extra" pode lhe ser acrescentado.
Ubaldi confirma essa assertiva: A queda não se verificou ao acaso, por si
mesma. A Lei, ou seja, o
pensamento de Deus, previra-lhe a possibilidade; prova-o o fato de haver determinado o seu decurso e suas
conseqüências, mesmo antes da sua ocorrência. Sem dúvida, devia haver na Lei, princípios que, mais tarde,
ao se verificar a queda, teriam regulado a descida involutiva e, também, a posterior subida evolutiva,
como no-lo demonstra o seu evidente telefinalismo. (P. Ubaldi - O Sistema - Cap. 20)
Assim, podemos concluir que o processo criativo já continha no seu
desenvolvimento a determinação de que as criaturas deveriam passar pela livre escolha entre permanecer no
Sistema jungidos pela força do amor Divino ou recusar o convite amoroso de Deus, pois, o amor não pode
ser imposto obrigatoriamente. É óbvio que sem liberdade de escolha o Amor não existiria. Se assim não
fosse o Amor não seria amor mas sim uma imposição escravagista.
É bom frisar que o conhecimento e a inteligência da criatura antes da queda,
era proporcional a sua posição dentro do Sistema original, mas participava do conhecimento total por
pertencer a um organismo perfeito, isto é, através do funcionamento harmônico do todo.
Desta forma pode-se concluir que o completo conhecimento só é alcançável no seio de um sistema perfeito.
Isto significa que a criatura fazia parte de um Sistema orgânico maior e, como ser individual, só poderia
ter uma perfeição relativa à sua posição na hierarquia do Sistema, o que nos leva ao conceito de
conhecimento especializado. Neste conhecimento especializado é que reside a perfeição da criatura
individual. A perfeição absoluta é alcançada pela interação orgânica, horizontal e vertical, com as
outras criaturas e com o vértice centralizador do Sistema, Deus.
Para que não subsistam dúvidas é necessário deixar bem claro o que seja um
Sistema orgânico. A palavra
organismo deriva do verbo organizar que nos leva a idéia de ordenamento. Quando se ordenam os componentes
de um conjunto significa que se está estabelecendo relações entre os elementos desse conjunto. Estas
relações, como numa matriz matemática, se dão nas direções horizontal e vertical. Daí se observa que a
noção de hierarquia é intrínseca a concepção de organismo. Os dois parâmetros que definem o Sistema são o
Egocentrismo e o Amor. A separação e a liberdade são os atributos do Egocentrismo e a união e a
cooperação são os atributos do Amor. Dessa maneira, contrabalançando o Amor que une com o egocentrismo
que divide, chegou-se à estrutura hierárquica do Sistema.
Pela Lei das Unidades Coletivas o Sistema é formado por sub-sistemas menores e
estes por outros menores e assim sucessivamente ad infinitum. Como cada sub-sistema ao se
relacionar com
os outros faz surgir o Sistema, que nada mais é que um tecido de uma urdidura complexa, cuja trama - em
virtude da liberdade de cada criatura - forma vivos desenhos mutantes. Mas há mais a compreender:
qualquer organismo tem um centro para onde tudo converge para se estabelecer a unidade do Sistema.
Considerando que o Universo funciona sob um modelo fundamental único que é
repetido em todo particular, podemos ter uma idéia, embora de uma maneira aproximada, de como funciona o
Sistema Absoluto, - onde Deus é o vértice e o centro de convergência - tomando como exemplo o organismo
humano, onde o cérebro físico (ou o eu individual no sentido psicológico) representa esta centralidade.
Qualquer órgão do corpo é perfeito dentro da sua especialização. O estômago é perfeito no que tange a sua
função digestiva, o coração também o é em virtude de sua função no sistema circulatório.
Além desta perfeição individual participam indiretamente da perfeição total do
organismo através do funcionamento harmônico do todo. Fica, portanto, evidente que a perfeição
individual, considerada isoladamente, nada significa se não estiver inserida na perfeição de um organismo
maior. A perfeição do estômago e do coração não teria sentido se não participasse da perfeição maior do
organismo humano. Aqui podemos fazer um salto conceitual e compreender o que seja Monismo: o Universo
só
tem significado lógico se encararmos o conjunto e não as suas partes isoladamente. Fica aqui
claríssima a
férrea lógica do mandamento de Cristo: Amai o próximo como a si mesmo.
A própria ciência matemática define que dado um número N, por maior que
seja N, sempre teremos: |